Giulia
A ideia de Dante estava me tirando completamente do eixo.
Por mais que eu pensasse sobre o assunto, eu me sentia suja apenas com o pensamento de aceitar me casar com ele.
Eu deveria realmente tentar salvar a minha mãe?
Talvez só aquele pensamento me levaria para o inferno, já que eu passei a vida toda me dedicando ao celibato que eu nem entendia e nem sabia se eu queria manter.
Eu deitei a minha cabeça no Travesseiro e fiquei pensando, será que eu deveria realmente aceitar o pedido de casamento de Dante? Será que ele não estava brincando comigo? O que será que aquele homem tão bonito viu em uma pessoa tão comum como eu?
Os afazeres da manhã estavam esgotando. Aquele pensamento não saía nunca na minha cabeça e, por mais que eu tentasse, os olhos de Dante vinham a mim como? As ondas do mar. Flutuando no azul infinito.
Eu não o amava. E aquilo era verdade, ele também não me amava. Eu deveria realmente tratar o único casamento que eu teria na minha vida, mesmo não planejando aquilo como uma transação financeira?
Aquele pensamento me assombrava..
Foi até o quarto da minha mãe esperando que ela tivesse algum conselho sábio sobre aquilo, mas como eu contaria para ela que um homem me ofereceu casamento em troca do tratamento? Ela jamais deixaria.
Minha mãe vivia dopada de remédios. Era difícil manter uma comunicação com uma pessoa que nem estava mais entre nós. A saúde dela ficava cada vez mais debilitada. Eu sabia disso. As escaras do corpo já eram visíveis. Ela m*l se dava ao trabalho de se virar na cama se eu não fosse até lá.
No quarto devagar e sentei ao lado dela. Fiz uma prece ao Deus que eu conhecia e pedi a ele que me desse uma luz em meio aquele quarto escuro para que eu tomasse uma decisão correta, salvar a vida da minha mãe e me casar com aquele homem mafioso. Ou seguir a minha vida dentro daquele convento esperando pela morte dela?
As lágrimas não me deixavam. Os meus olhos estavam marejados. É impressionante a capacidade que eu tinha de dramatização da minha vida. Mas naquele momento eu estava mesmo no fundo do poço emocional. Um fundo do poço que eu havia me livrado há tantos anos atrás. Quando eu entrei para o convento. Eu esperava que a minha vida fosse completamente diferente. Eu esperava que Deus iria salvar a minha mãe, mas na verdade, tudo queria salvar a minha mãe. Naquele momento era o dinheiro daquele homem. Ele era um anjo enviado por Deus, mas que maneira esquisita. Deus tinha de me provar que ele estava comigo. Eu deveria deixar. Que Dante me tocasse. Eu deveria ter filhos dele.
Aquele homem jamais aceitaria um casamento comigo que não fosse para ter algum benefício próprio e quando ele tivesse esse benefício eu me sentiria suja. Fora de um pacto que fiz tão nova, ainda assim, pela vida da minha mãe. Aquilo estava me doendo mais do que 1000 facas cortantes cortando meu coração, me dilacerava por dentro, ser feita de mercadoria. Mas naquela situação, o que eu poderia fazer? Como eu poderia viver sabendo que deixei a minha mãe morrer, mesmo tendo a possibilidade de salvá-la com todo o dinheiro da família Salvatore.
Ela acordou como se tivesse sonhando, olhou em volta do quarto e me deu um sorriso mais lindo que eu já havia visto em meses que ela estava naquele quarto, então ela olhou para mim e disse:
- o que foi raio de sol? Por que está tão aflita? - talvez os meus olhos cheios de lágrima entregando o meu estado de espírito.
- a mãe, que bom que você acordou, não é nada demais, não é nada com que você deva se preocupar.
- Giulia, eu estou doente, mas isso não quer dizer que eu deixei de ser a sua mãe nem por um segundo presa. Essa cama. Eu esqueci de todo o bem que você tem me feito. Então me diga, filha, o que está acontecendo?
- é complicado, mãe. O meu coração entrou em conflito e eu não faço a mínima ideia do que eu deva fazer. A decisão que eu tomar a partir de agora vai mudar a minha vida e a sua. E eu não sei bem para qual caminho devo seguir.
- você já se prendeu dentro desse convento para me ajudar. O que mais você poderia fazer para mudar o curso das nossas vidas? Você deveria pensar um pouco no que vai fazer quando eu partir. Pensou nisso só por um segundo? Pensou no que vai fazer quando eu deixar esse mundo? Eu não quero deixar para trás uma filha triste, beata de uma igreja que ela nunca quis fazer parte.
- que é isso, mãe? Eu sou feliz aqui dentro da paróquia. Eu só estou confusa.
- eu tive um sonho tão estranho quando eu estava dormindo. Sonhei que você estava vestida de noiva, o seu vestido era cravejado de pedras preciosas. Você se casava com um homem tão lindo e o seu futuro era cheio de amor e cheio de vida. Eu tinha oportunidade de ver os meus netos crescerem. E se desenvolverem. Foi tão lindo que eu nem queria acordar, eu achei que eu já estava no céu. Dói tanto em mim saber que o seu sonho sempre foi esse, que você está presa aqui com esse padre nojento para ter um mínimo de renda para pagar os meus remédios.
- não fala desse jeito, mãe. Você sabe que eu não me arrependo de nenhum sacrifício que fiz para que você continuasse viva. E se eu pudesse, eu faria +1000 acordo só para que isso continuasse acontecendo. A sua vida para mim é preciosa. Você me criou, você me alimentou, você me criou, mesmo sem o meu pai presente.
- eu não te criei como uma heroína, eu te criei porque te amo, porque você é parte de mim. E saber que uma pessoa tão especial para mim está sofrendo dentro de um lugar que não lhe cabe... É a pior das mortes.
- eu acho que a senhora já me deu a solução que eu precisava.
- e qual solução, filha? Vai finalmente me deixar aqui para morrer e descansar e vai seguir a sua vida em frente. Eu te juro, eu vou estar do céu te olhando em cada passo do caminho, mas eu não aceito mais que você viva nesse porão só para me manter com o mínimo de dignidade. Quando é que você vai ter a sua dignidade? Eu espero que a sua decisão seja sobre isso e não sobre mim. Eu não suportaria ter a carga novamente de ter arrasado com a sua vida, como arrasei com a vida do seu pai.
- o papai não morreu por sua causa, o papai morreu porque ele tinha que morrer.
- então está na hora de você deixar a mamãe morrer também.
- e se eu te dissesse que eu tenho a solução para deixar esse porão e ainda assim te manter viva na minha vida, para que você me veja num vestido lindo, cravejado de pedras e vejo seus netos crescerem?
Aquela parte era mentira, o fato de deixar Dante me tocar mesmo sem amor. Não fazia parte daquilo que eu acreditava ser o correto para mim. Eu queria ser amada e eu queria amar e me casando com ele. Aquela possibilidade não seria mais uma possibilidade para mim, eu sabia disso. Mas eu podia realizar o sonho da minha mãe. Eu podia deixar que ela me visse de noiva. Eu podia pagar os tratamentos dela e explicar para ela, com o tempo, que aquilo não passou de um acordo financeiro. Para mantê-la viva poder. Com ela pelo mundo, poderia nem ver a cara do Dante se eu não quisesse, e aquilo martelou mais forte dentro de mim à medida que a conversa avançava.
- eu confio em você, filha. Não teve uma vez na vida que você me decepcionou e eu não acho que você vai começar agora.
- preciso fazer umas ligações, mãe. Preciso resolver isso de uma vez por todas. Eu estou sendo assombrada com o peso dessa decisão. Eu não aguento mais viver com isso, eu não aguento mais viver aqui, você sabe, nunca foi o meu plano ser uma freira, mas também nunca foi o meu plano que a minha vida seguisse por um caminho tão tortuoso. Então eu vou procurar o melhor dos mundos. Tudo bem para você? Você vai me acompanhar aonde eu for?
- enquanto eu tiver fôlego nos meus pulmões, eu vou acompanhar você aonde você for, minha filha.
Eu segurei as mãos dela, que estavam frias. O mais forte que eu consegui, eu olhei nos olhos dela e deixei uma lágrima cair. Ao mesmo tempo que ela deixou uma lágrima cair por seus olhos. Eu dei um sorriso mais doce que eu consegui e me levantei daquela cadeira, esperando que eu tivesse tomado a decisão certa sobre aquilo. Eu me casaria assim. Com Dante Salvatore, eu salvaria minha mãe, deixaria que ela me visse naquele vestido cravejado de diamantes e faria o melhor que eu pudesse com o restante da minha vida. Eu poderia viver sem o meu amor. Eu poderia viver sem ter filhos. Eu poderia viver sem um casamento feliz, mas nunca poderia viver sozinha sabendo que minha mãe morreu. Porque eu não tomei a decisão de casar com um homem tão poderoso quanto o Dante.
E o que de pior poderia acontecer comigo, que já não havia acontecido?
Eu saí pelo corredor com meu coração pesado. Peguei o pequeno telefone da paróquia e disquei o número, esperando que ele atendesse o mais rápido possível. Queria tirar aquele peso dentro do meu coração. E quando eu ouvi a voz do outro lado da linha, eu fiquei paralisada.