Capítulo 2

1538 Words
— Não... - sussurrei ao ouvir as palavras de Nicholas. Meu coração batia dolorosamente acelerado dentro do peito, enquanto eu observava em expectativa e torcia para que Glinda conseguisse curar Nathaniel. Ela e as outras mulheres ainda entoavam o cântico, mas eu podia ver – mesmo sem querer admitir – que não estava funcionando. E quando todos pararam, em um silencio fúnebre, enquanto meu meio demônio ainda estava inconsciente, minhas pernas fraquejaram. — Não! - gritei sem conseguir me conter.   As mãos de Nicholas de repente estavam em mim, enquanto eu chorava exigindo que o trouxessem de volta, mas com um empurrão forte eu o joguei longe. Em algum lugar do meu cérebro eu sabia que não devia ter feito aquilo, pois ele só estava tentando me amparar, mas naquele momento não existia espaço para raciocinar.   Nathaniel estava imóvel. Eu conseguia ver que seu corpo subia e descia em uma respiração fraca, droga... eu podia ouvir as batidas do seu coração! Mas eu sabia, em cada poro do meu corpo, eu sabia que não duraria muito.   — Isso não pode estar acontecendo. - me neguei a aceitar que o destino seria tão c***l com a gente. Depois de tudo pelo que passamos...   — Rose... - Glinda tinha o pesar carregado em seu tom de voz e em seus olhos roxos. Pela primeira vez encarar aqueles olhos não faziam nada de bom com meu corpo. Eu só conseguia sentir a pena emanando dela. — Eu sinto...   — Muito? - completei rindo sarcasticamente, enquanto enxugava minhas lágrimas e forçava meu corpo a me levantar. Eu queimava novamente, mas agora era raiva. Ódio puro. Não nos deixaram em paz! E por conta dessa guerra estupida entre raças eu iria perde-lo. — Por um acaso, esse não era seu plano? - eu não a pouparia. Deixei que toda a raiva que eu sentia dentro de mim, deslizasse pelas minhas palavras como um veneno mortal e a atingisse completamente. — Você não estava nos usando esse tempo todo?  — Rose, eu... eu nunca... - Glinda não conseguia fazer suas palavras saírem. Aquilo não combinava com ela. O pânico em sua voz... Ter que se explicar para alguém... Eu não sentia pena alguma.   — Você sabia, não sabia? Sabia do meu passado, sabia das escolhas, sabia que se eu aceitasse Nathaniel, nunca haveria paz ou descanso para nós dois...  — Rose...  — Responde!  — Sim. - seu sussurro fez algo estalar dentro de mim. Me endireitei, respirando fundo, sentindo minhas veias queimarem e abraçando a raiva que estava dominando.   — Eu vou matar todos vocês. - murmurei olhando-a. Aqueles olhos roxos, que eu tanto tinha fugido, agora não tinham mais efeito nenhum sobre mim. Não tinham algum poder sobre meu corpo. Fiquei parada no lugar, enquanto observava seu corpo ser arrastado mais para perto. Eu não sabia como conseguia fazer aquilo, mas sabia que era eu quem estava fazendo. — Você nos usou. - minha voz saiu baixa e calma, quando Glinda estava a centímetros de mim.   Sua respiração saia entre cortada, e eu podia ver claramente que ela estava com medo. Sua pose tinha caído por terra, e agora a poderosa Glinda tinha se transformado em um bicho amedrontado. Antigamente eu não gostaria daquilo, mas agora eu estava saboreando seu medo.   — Não faça isso... - sua voz não passava de um sussurro. Em certo momento percebi que eu gostaria que ela sufocasse com suas palavras e observei em espanto, seu rosto avermelhar e a bruxa a minha frente sufocar. Eu senti quando um sorriso cruzou meus lábios e segurei em seu pescoço, somente para ter o prazer de apertar sua garganta. Pouco me importava se ela sofreria sem ar pelas minhas mãos ou pelos meus pensamentos. — Você não é assim...  — Talvez você tenha criado um monstro. - murmurei sem me importar se aquilo era verdade. — Não deveria ter brincado de Deus.  — Rose. - a mão de Nicholas não estava mais fria contra a minha pele. Não desviei os olhos, quando a vontade de lança-lo longe se apoderou de mim outra vez. Eu precisava pensar em Brenda. Eu não tinha perdido totalmente minha sanidade. — Não faça isso. Nathaniel não iria...  — Nathaniel, está morto! - rosnei em sua cara, direcionando minha raiva para ele e o que quer que ele tenha visto, o fez dar um passo para trás.   — Ele não morreu ainda. Tentaremos fazer de tudo para que isso não aconteça. - ri com amargura com suas palavras o obriguei meus dedos a soltar o pescoço da bruxa que estava prestes a desfalecer.   — Vocês estão perdidos. Não sabem... não sabem o que fazer para salva-lo. Você mesmo disse, Nicholas. Ele está morrendo aos poucos. - gritei saindo de perto da bruxa que desmontou a minha frente. Caminhei até onde Nathaniel estava deitado, seu ferimento tinha desaparecido, seu corpo perfeito estava intacto e se eu não soubesse que o que quer que tenha o atingido, estava acabando com ele por dentro, eu poderia jurar que ele estava bem. — Saiam daqui. Me deixem sozinha com ele, eu... - eu não sabia o que falar.   Não queria dizer que precisava me despedir. Não queria dizer as palavras em voz alta, pois na minha mente insana, aquilo se tornaria verdade. Eu não estava pronta para aceitar completamente que ele estava me deixando para sempre. Eu sentia que iria desabar a qualquer momento e eu não queria plateia para aquilo.  — Rose... - não olhei quando a mão de Nicholas escorregou sobre a minha, segurando e me passando algum tipo de conforto. Desde de quando eu acordei completamente, eu podia sentir absolutamente tudo ao meu redor, e naquele momento não era diferente. Eu sentia o medo das pessoas que estavam a nossa volta, e consequentemente do vampiro. Ninguém sabia no que eu tinha me transformado, nem eu sabia, mas estavam com medo de mim e confesso que até eu mesma estava temendo tudo isso. Essa raiva toda que ia e vinha a todo instante. — Você não está sozinha. Daremos um jeito.   Olhei para o Nicholas encarando seus olhos negros. Nicholas não tentou se afastar dessa vez, ele me olhava não com piedade, mas com tristeza, pois ele também estava o perdendo. Assenti, deixando que as lágrimas inundassem minhas vistas e seus braços me rodearam protetoramente. Era como se eu fosse a humana quebrável de novo.   — Tivemos tão pouco tempo, Nicholas. - sussurrei contra seu peito, deixando que os soluços escapassem sem controle. — Eu... eu...  — Eu sei... - seu queixo se encostou no topo da minha cabeça e eu funguei, tentando me acalmar. — Você acha que pode fazer algo?   — O que? - murmurei me afastando brevemente e olhando-o, mas ele tinha seus olhos em Nathaniel. — Como... como assim?  — Você quase matou a Glinda, Rose. - os olhos negros de Nicholas estavam em mim de repente e eu rosnei ao me lembrar da bruxa. Por algum motivo eu estava com uma raiva descomunal de Glinda. Nicholas sorriu minimamente. Ele não me repreendia, pelo contrário, me encarava com uma expressão levemente divertida, como se achasse graça em algo. — A toda poderosa, Glinda. E ela tremeu por sua causa. - ouvi um bufo feminino e meu corpo se retesou. Forcei-me a continuar encarando e ouvindo Nicholas. — Você não é mais uma humana. Você era um anjo e Nathaniel te transformou em algo. Nunca foi feito alguma coisa desse tipo. Um ser como você, nunca existiu. Mas claramente, você é poderosa. Acha que consegue usar isso nele? - seus olhos voltaram para um Nathaniel desacordado e eu senti meu coração falhar uma batida.   — Eu... eu não sei. - murmurei olhando para Nathaniel e dando um passo incerto em sua direção, depois outro e outro, até que eu estava a sua frente. Deixei-me cair de joelhos e peguei sua mão na minha. Estava fria e naquele momento eu quis chorar novamente.   Me obriguei a engolir as lágrimas, enquanto trazia sua mão até meus lábios e depositava um beijo em sua pele. Eu precisava ser forte, eu precisava pelo menos tentar.   Mesmo sem saber o que fazer, fechei meus olhos. Eu não queria me sentir ridícula, mas era o que eu sentia naquele momento. Eu não sabia nem por onde começar, mas de repente, me vi pensando, desejando do fundo do meu coração, com cada grama do meu ser, que ele voltasse para mim. Era a única coisa que eu achava ser o certo. Eu tinha poderes, obviamente, mas tinha acabado de renascer e não sabia nem como usa-los. Então eu só pude desejar.   Eu não sabia se acreditava em algo divino, não mais. Então eu não podia fazer uma oração e pedir a Deus, como fui ensinada por toda a minha vida. E somente a ideia de pedir, clamar pela ajuda de Lúcifer, era ridícula. Ele tinha abandonado Nathaniel. Então só restava a mim mesma. Eu precisava acreditar que eu era capaz disso.   — Por favor... - apertei sua mão em meu lábio e levei a outra mão até seu coração. — Por favor... - murmurei baixinho, fechando os olhos molhados ainda pelas lágrimas e pedi, desejei, implorei para que ele voltasse para mim.  

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