O estranho

2129 Words
Rookgaard, Califórnia julho de 1987 Sorya Burke Eu já havia vomitado duas vezes esta manhã. Estava nervosa com as provas finais chegando ou talvez pudesse ser aquele frango requentado que eu comi ontem à noite. A sensação de vômito estava presa na minha garganta desde a última semana, e eu estava veementemente atribuindo isso ao fato das provas finais estarem chegando já que gravidez era uma opção nula. Era meu terceiro ano em Administração de Empresas, e eu também iria concluir a faculdade de Letras no próximo ano. Tenho apenas 19 anos recém completados nesta última semana. Meus pais estão programando uma festa na alta sociedade para mim, mas tudo que eu queria era um passeio de barco High Beach. Dizem que a vista daquele lado da cidade é linda. Mas aparecer nesses eventos pomposos só reforça o tamanho da grande responsabilidade que carrego comigo desde que nasci. Herdar o império Burke. Meu pai é Ryan Julian Burke I, dono de metade da cidade. E quando falo metade da cidade é algo literal. Quero dizer, nossa família tem os mais diversos negócios, desde construção civil a área gastronômica, produção alcooleira e bolsa de valores. Ele sempre quis um filho homem para comandar os negócios da família, mas minha mãe, Katrina Burke, teve duas meninas. Como filha mais velha, tenho sob a minha cabeça a pressão de me tornar competente o suficiente para liderar os negócios ou ao menos ser um bom partido para um casamento futuro. Palavras do meu pai. Mas qual é? Eu não quero me casar nova como minha mãe. Muito menos me casar por interesse e por isso estou adiando esse assunto o máximo que posso. Tudo pareceu tranquilo quando eu forjei um namoro falso com Brian Parvati Niel, que também é meu melhor amigo e é o filho do melhor amigo de meu pai Miguel Parvati. Brian é um cara decente, mas nosso relacionamento é apenas uma fachada conveniente para manter nossos pais felizes e longe das nossas costas com o assunto casamento e netos. Ele é gay e para seu pai isso é algo inaceitável. Nós começamos a namorar no início da faculdade e prometi a ele que nós manteríamos nosso namoro para que ele e seu namorado, e verdadeiro amor, Liam Cameron pudessem viver juntos sem que seu pai o mate ou deserde. E isso está funcionando bem nos últimos três anos. Brian tem seus encontros com Liam, e eu saio para ver um filme ou vou ao shopping. E antes que você me pergunte: Não, eu não tenho e nunca tive um interesse amoroso. Olhei para o espelho do banheiro, os olhos azuis que herdei de minha mãe estavam emoldurados por olheiras profundas e meu cabelo preto estava preso em um coque apressado, e eu me sentia particularmente desgastada essa manhã como nas últimas três. O sabor ácido de vômito voltou para minha garganta e eu me abaixei na pia mais uma vez. Minha mãe sempre dizia que eu deveria tomar mais cuidado com o que eu como, mas eu sempre pensei que ela estava se referindo ao meu peso porque ser magra é tipo uma regra estúpida de familia. E eu não estou bem dentro do padrão magro como minha irmã, Cibila. Cib é dois anos mais nova que eu, muito bonita e alegre e está em seu primeiro ano em advocacia. Mas namora o asqueroso Ned Parsons. Ele é um i****a completo da minha classe de administração, por quem de alguma maneira minha irmã está apaixonada. Ele até falou com meus pais e tudo mais. Foi uma merda total. Todos na faculdade agora atrelam as atitudes ridículas dele à minha família. Saí do banheiro limpando minha boca, peguei os donuts que Brian tinha deixado para mim comer no café da manhã na bancada da cozinha e olhei para o relógio, percebendo que estava atrasada para a aula. MAIS UMA VEZ. Peguei minha bolsa e saí correndo, tentando ignorar o senhor Peterson iria brigar comigo. De todos os meus professores ele era o pior. Ele sempre exigiu de mim mais que dos outros e eu nunca entendi porque. Eu tentei entrar despercebida na sala, porque acredite, a pontualidade não é meu ponto mais forte. — Atrasada mais uma vez, senhorita Burke? — Professor Peter resmungou sem tirar os olhos do quadro fazendo com que todos os outros alunos me olhassem com julgamento. E começassem a cochichar. Coloquei meu material na mesa e me sentei, limpando a garganta — Desculpe pelo atraso, professor Petterson, meu despertador não tocou. — Humpf! — ele bufou uma risada que foi acompanhada por Ned e a turma de idiotas com quem ele sentava todos os dias. — É melhor trocar de despertador. Sua família não é rica o suficiente para que você coloque pilhas no seu e pare de se atrasar? Você não mora com Brian? Como ele chegou antes de você? Eu continuei encarando meu material na mesa. Droga. Ele era um chato de primeira. — Isso não vai se repetir, Professor. Eu prometo. — Eu disse baixinho um pouco antes de todos da sala caírem em gargalhadas com uma imitação ridícula de Ned imitando minha fala. Eu me ajeitei na cadeira, tentando ignorar os olhares e os cochichos ao meu redor. Respirei fundo e tentei me concentrar na aula. O Professor Peter voltou a atenção para o quadro e recomeçou a explicação sobre gestão de projetos. Eu m*l conseguia me concentrar no assunto. Brian estava do outro lado da sala, me lançou um olhar solidário. Ele e eu dividimos uma casa em Creston Street, mas ele saiu mais cedo para tomar café da manhã com Liam. Ele sabia como esses comentários me afetavam, e sua presença sempre me dava um pouco de conforto. A aula continuou normalmente até que o sinal finalmente tocou, eu reuni minhas coisas rapidamente e me apressei para sair. Brian se aproximou de mim no corredor, tentando parecer casual enquanto os outros alunos se dispersaram. — Você está bem? — ele perguntou, sua voz baixa e preocupada, — O Parsons está sendo um i****a com você de novo. Eu pensei que agora que ele namora a Cib, ele fosse parar de implicar com você. — Vou ficar bem. O Parsons não é ninguém. — eu respondi, forçando um sorriso de volta para ele, — Só preciso respirar um pouco de ar fresco e dormir. — Liam e eu estamos planejando sair hoje à noite. — Ele disse sorrindo — Você quer vir conosco? Podemos ir ao cinema ou algo assim. Daí você tem ar fresco. Eu sabia que Brian estava tentando me distrair e me animar, mas a ideia de passar a noite fingindo estar feliz não era minha ideia de diversão para essa noite. — Obrigada pelo convite, meu bombom. Eu amo os nossos encontros a três, mas acho que vou para casa e descansar um pouco. — Eu respondi, — Preciso ficar ao menos bem antes da festa que meus pais estão planejando para o próximo sábado. — Oou! Eu tinha esquecido disso. — Brian gemeu me fazendo rir com a expressão engraçada no rosto dele, — Ei, você não me olhe assim! Você sabe que eu odeio estar com meu pai no mesmo ambiente por mais de uma hora e com certeza ele vai estar no seu aniversário. — E isso não vai ser um problema, você e eu vamos fazer nosso teatro de sempre. — Eu bati a porta do meu armário e me virei para o corredor — O importante é que ele não resolva ir nos visitar do nada quando você estiver com Liam. Se isso acontecer, aí sim teremos problemas. Brian assentiu e suspirou, — Você tem certeza que está bem? — Eu estou. Eu só estou cansada porque virei três noites estudando. — Eu olhei para ele e fiz uma careta, — Você também virou as noites comigo… Como você nunca parece cansado? Ele se aproximou do meu ouvido e sussurrou, — Eu transo, isso me relaxa completamente. — Minhas bochechas automaticamente ficaram vermelhas e quando ele se afastou eu estava parecendo um pimentão. Brian gargalhou, — Droga, Sorya. Você fica nervosa com uma simples informação sobre sexo. Relaxa, pelo amor de Deus. Eu me remexi me sentindo incomodada. — Você melhor que ninguém sabe que eu ainda sou virgem e essas coisas são embaraçosas.— eu falei baixo. — Porque você insiste que não quer um namorado de verdade, B. — ele falou baixo, — Você sabe que qualquer cara teria muita sorte em ter você, porque além de muito inteligente você é uma mulher linda. — Sim, eu sei, mas nenhum cara me interessa nessa cidade e arrumar um namorado de verdade estragaria as coisas para você. — falei enquanto seguimos pelo corredor quase vazio. — Isso só precisa durar até o próximo ano. O nosso namoro. — ele falou — Quando eu me formar, poderei ir embora para algum outro lugar onde meu pai não me incomode por minhas escolhas amorosas e eu vou poder me sustentar. — Você sabe que eu não me importo com nosso namoro de fachada. — eu fiz uma mini reverência, — É um prazer ser sua namorada, senhor Parvati. Brian me deu um beijo no rosto e se afastou rindo, — Você é ridícula, mas eu te amo. Tenho que ir, te vejo mais tarde, B. Ele se afastou para a aula dele e eu retornei para minha próxima aula. Fiquei feliz por ele, mas também invejei a liberdade que ele tinha para viver seu verdadeiro eu, mesmo que secretamente. Ele merecia isso. O dia continuou se arrastando, cada minuto parecendo uma eternidade enquanto eu tentava manter a cabeça erguida e sobreviver à maratona de aulas. Eu dormi duas vezes durante a aula de filosofia, mas graças a Deus o professor Norton é compreensível. Depois da aula, caminhei pelo campus até meu carro, o luxuoso conversível que era mais um símbolo da riqueza da minha família. Desde que fui morar com Brian eu o tenho, meu pai preferia me mandar um motorista todas as manhãs, mas eu não precisava de ninguém xeretando minha vida. Liguei o motor e comecei a dirigir, para casa. O rádio tocando Greatest Love Of All – Whitney Houston. Estava uma febre de sucesso em todas as rádios. Cheguei em casa, fui direto para o meu quarto e me joguei na cama. Fechei os olhos, tentando bloquear os pensamentos ansiosos sobre mim. Sábado estava chegando. A imagem da festa de aniversário que meus pais estavam planejando surgiu insistentemente na minha mente. Uma celebração grandiosa, cheia de pessoas importantes, onde eu teria que sorrir e agir como a filha perfeita que todos esperavam. Eu estava em pânico. Odeio aglomerados de pessoas desde que me perdi no desfile de 4 de julho quando era criança e alguém tentou me sequestrar. Mas odeio principalmente os fingimentos. Odeio todos aqueles sorrisos falsos e felicitações mentirosas. Meus pensamentos foram interrompidos pelo som do telefone fixo tocando. Olhei para o identificador de chamadas e vi o número de Cibila. Suspirei e atendi, tentando soar normal. — Alô? B? — Oi, Cib. O que foi? — Só queria saber se você estava bem, faz tempo que você não vem em casa. Eu estou com saudades. — ela respondeu, sua voz alegre como sempre me fez sorrir sem perceber. — Ned comentou que você não parecia muito bem hoje de manhã. — Seu namorado anda muito preocupado comigo. Ele não tem que prestar atenção em mim. — Eu zombei e ela riu. — Ele tem quando eu peço para ele fazer isso. — ela respondeu rapidamente. — Estou bem, Cib. Obrigado por perguntar. — eu menti. E tenho certeza que Cib sabia que eu estava mentindo. — Estou um pouco cansada, apenas isso. As provas finais do semestre estão chegando. — Certo. Então, está animada para a festa de sábado? Eu gemi e ela riu. — Oh, Sorya, por favor. Eu preciso mesmo que você venha, eu estou tão animada com tudo. — Claro. Vai ser... interessante. — Você sempre diz isso. — Cibila riu. — Talvez dessa vez seja divertido de verdade se você tentar. — Talvez — eu murmurei, sem muita animação, — Eu vou dormir um pouco agora. Vejo você na sexta à noite, Cib. — Até sexta, B. Coloquei o telefone de volta no gancho e deixei um bilhete para Brian não me acordar se ele chegasse mais cedo de seu encontro muito tarde. O que tenho quase certeza que não aconteceria. Mas eu resolvi deixar o bilhete assim mesmo por precaução. Liguei a tv para assistir um filme e fiz um pote de pipoca. Estava relativamente tarde, então comecei a checar as portas antes de deitar e foi quando eu o vi.
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