Melissa
Eu não tive escolha, não tenho como cuidar dessa criança que ainda está tão pequenininha dentro de mim, mas não quero abandoná-la, nunca nem passou pela minha cabeça a ideia de tirar ela da proteção do meu ventre, mesmo tendo vindo naquelas circunstâncias
Flashback on
Ghost - Ora, ora, ora, se não é a menininha, toda certinha, dando bandeira na rua, a essa hora da noite
Melissa – Não foi por opção, pode ter certeza, meu pai caiu de novo na frente do bar do seu Henrique e eu tive que ir buscar ele, só que o homem está soltando tudo o que colocou pra dentro em vômito, fui obrigada a vir na farmácia
Ghost - Não Mel, isso foi o destino que uniu a gente e dessa vez, eu não vou deixar passar
Eles estavam em três, cada um me oferecendo um olhar mais assustador que o outro, meu corpo tremia e a minha fala nem saia mais. O Ghost era um vapor do movimento do morro da Coreia, em Mesquita, Rio de Janeiro, apenas um vapor, mas que por ter ajudado o dono do morro a pegar um filha da p**a que retalhou o corpo de uma mulher grávida, depois de enforcá-la na frente do filho de seis anos, escrevendo a sigla das iniciais na parede da casa antes de ir embora e assustando o morro todinho, caiu nas graças do Magnus, virou gerente
Pensa num cara c***l, impiedoso, que defendia a comunidade, mas não gostava quando as coisas saiam do lugar. Gostava de farra sim, tanto que os bailes tinha a sua fama espalhada por morros e morros do Rio de Janeiro, vinha gente de tudo e qualquer lado, era só não mexer com ele que tudo ficava bem
Eu conhecia o Ghost desde criança, ele era bem mais velho que eu, uns dez anos, mas isso não era problema para minha amiga emocionada Bruna, pra ela, era até um charme uma menina de dezoito anos se derreter toda por um homem feito de vinte e oito
De primeiro, ele não olhava pra mim, mas isso, foi só de primeiro mesmo, só até ele usar e abusar da Bruna. Quando se cansou dela, ele veio para o meu lado, acontece que eu amava a minha virgindade, pra mim, era tipo coisa de honra de casar pura
Foram vários e vários “nãos “ até aquele momento, até ele decidir que eu não tinha mais poder de decisão e que iria pegar o que desejava, mesmo que fosse sem a minha permissão
Melissa – Me deixa ir embora, por favor
Ghost - Ir embora? Mas a gente nem começou a brincadeira, eu disse que você ia ser minha, não disse?
Melissa – Não, eu não quero é você sabe muito bem que isso é contra a lei do morro
Ghost – E quem vai ficar sabendo, tu tá vendo alguma coisa Bahia?
Bahia – Eu não, tu tá Cegueta?
Cegueta – Nada
O outro nem precisou responder, ali eu vi que tinha perdido aquela batalha, mas decidi lutar mais um pouco, ousei e gritei
Se arrependimento matasse, eu estaria morta naquele momento. O Ghost veio pra cima de mim, me deu um p**a tapa no rosto que me fez perder o rumo , tanto que eu só me preocupei em colocar a minha mão no rumo do chão, pra amortecer a queda e depois, só fiz chorar
Ele se agachou na minha frente, puxou meu cabelo, com tanta força, tanta força, e me disse baixinho
Ghost – Aceita que dói menos desgraçada, se tu tivesse me cedido no carinho, nada disso tava acontecendo
Eu ainda tentei gritar, mesmo sabendo dos riscos, mas foram mais e mais tapas. Vi até uma vizinha abrindo a janela, para ver o que estava acontecendo, pedi ajuda, implorei, mas ela só fechou a janela de novo, fingiu que nada tinha acontecido
Com a ajuda dos outros vapores, ele me levantou, rasgou as minhas roupas e me estuprou, ali mesmo, sem dó, na força, me machucando, me instigando a gritar, mesmo que eu não conseguisse, como se aquilo desse t***o a ele
Depois, ainda disse que já tinha me usado o suficiente e se os outros também quisessem, eu estava ali. Eles perceberam que eu não tinha mais forças para aguentar, não sei se por medo ou por alguma outra coisa, decidiram apenas ir, me deixando ali, ferida, ensanguentada, acabada
Depois de um mês, os primeiros sintomas apareceram e com eles, a humilhação do meu pai. Ele me xingou, me bateu, me colocou pra fora de casa gritando que eu só dava vergonha pra ele, só isso
Perdida, foi assim que eu me senti. Sem dinheiro, sem um lugar pra chamar de meu pra morar, ficando na casa da Bruna de favor. Finalmente, com todos aqueles meus hematomas, ela tinha visto que aquele amor não valia a pena
Bruna – O que você vai fazer agora? Vai abortar?
Melissa – Eu só preciso me encontrar de novo, só isso, preciso dar um jeito na minha vida, por mim e pelo meu bebê
Bruna – Eu sei que é arriscado, mas eu tenho uma proposta para te fazer. O Téo está trabalhando pro Magnus, aquele meu primo, e ele me ofereceu emprego. É coisa simples, mas arriscada, você só precisa levar uma mala pra onde ele mandar, só isso
Não, aquilo não, eu queria tentar outras coisas antes, só ia aceitar se não tivesse outra alternativa
Flashback off
Eu já estava há cinco meses morando na casa da Bruna, agradecendo pela tia Odete não me enxotar dali. Ela dizia que jamais faria isso, que eu era como uma filha pra ela
De vez em quando eu encontrava meu pai no bar, sendo humilhado por outros homens, mas ele fingia que não me via, me desprezava
Aquele fia estava sendo o pior de todos na minha vida, mais até do que o dia que Deus decidiu colocar a minha sementinha dentro de mim. Numa consulta de rotina, eu descobri que meu filho era doentio, mesmo dentro do meu ventre, ele tinha um problema grave no coração e deveria fazer uma cirurgia assim que nascesse
O problema? Eu não tinha um puto no bolso e a UPA do morro não tinha condições de fazer aquele tipo de cirurgia, lá, os equipamentos são escassos. Então, considerei a proposta da Bruna, ela já tinha ido algumas vezes naquelas viagens e nunca foi pega
Eu precisava, não foi por mim, foi pelo meu bebê e por ele, faço tudo