Nerissa Gallice.
Um, dois, três.
Eu conto internamente, depois do Joshua ter saído, para ver quantos segundos a Andrea leva para ser a próxima a encher-me de questões.
Quatro, cinco.
- Ele já foi, você pode por favor me contar direito o que está acontecendo, Nerissa? - ela questiona e eu sabia.
- Cinco segundos. - eu falo, caminhando com ela pelo corredor.
- Cinco segundos o quê, Nerissa? - ela questiona confusa e eu sorrio.
- Cinco segundos foi o que você demorou para me encher de questões outra vez. - eu lhe digo e ela revira os olhos acompanhando o meu passo.
- Eu estou sem entender nada, estou confusa, me responda. - ela diz e eu suspiro.
- Atchim... - eu espirro.
- Nossa, o que realmente aconteceu com você? - ela questiona me olhando dos pés a cabeça e eu simplesmente abano a cabeça.
- Nem eu sei por onde começar. - eu falo entornando todo o meu chá garganta a baixo, e deito o copo na lata de lixo ao passar por ele.
- Do início ficará mais fácil de compreender. - ela diz irônica e eu suspiro precisando me aquecer.
- Vamos para o banheiro. - eu lhe digo e ela assente terminando o café dela e deitando o copo numa das latas de lixo espalhadas pelo corredor antes de entrarmos no banheiro.
- Céus... - eu suspiro tremendo-me toda, e desenrolando o cachecol no meu pescoço, passando a minha pasta para a Andrea que pega pousando junto com a dela no mármore do lavatório do banheiro.
- Você está encharcada, vai ficar resfriada. - ela diz enquanto eu desabotoo a minha camisa, e retiro as minhas sapatilhas, para retirar as minhas meias que estão um nojo de molhadas por conta do i****a que jogou água em mim.
- Eu acho que já estou. - eu a respondo indo parar debaixo do secador de mão com o meu cachecol.
- Deixa eu limpar os seus sapatos. - ela diz e eu faço careta tentando me agachar aqui, para apanhar o calor da máquina.
Meio que inútil isso que eu estou fazendo.
- Argh... - eu arfo frustrada e simplesmente descalça no banheiro da faculdade.
- Porque razão essas coisas só acontecem comigo? - eu questiono frustrada da vida, e a Andrea sorri compadecida.
- Realmente se você tivesse ligado para o Joshua, você não estaria desse jeito. - ela diz o defendendo e eu a encaro frustrada.
- Eu sei que ele daria, mas eu relembro a você que eu estou sem celular, bonitona. - eu lhe digo.
- Hamn... - ela balbucia se recordando, e eu suspiro vendo ela franzir o cenho.
- O que aconteceu com o seu celular, o Kai ligou preocupado para nós. - ela conta e eu sorrio me achando realmente importante.
- Vocês realmente gostam de mim, não é? - eu faço graça e ela revira os olhos sorrindo, entupindo os meus sapatos de papel higiênico para enxugar a água.
- Para de brincadeira, sua doida. - ela diz e eu supiro retirando toda a minha roupa, é a casa de banho das mulheres, e está praticamente vazia, apenas um menina que estava ocupando uma cabine sai daqui.
- Eu tenho até amanhã, mais precisamente essa madrugada para sair do meu apartamento. - eu conto-a, e ela me encara mais séria e chocada.
- Mas quando foi que ele avisou? Porquê? - ela questiona.
- Ele avisou tem uns cinco dias, e bem, ele disse que o valor vai aumentar, o preço que ele me deu foi exorbitante, mas eu descobri que na verdade ele apanhou um cliente para vender o apartamento. - eu conto frustada, enxugando-me cheia de fria com papel higiênico também, estou apenas de calcinha e sutiã aqui.
- Mas ele não pode fazer um coisa dessas, você pode o denunciar, ele tinha de ter avisado com um mês de antecedência pelo menos. - ela fala o que eu sei e eu suspiro.
- Você acha que eu não sei? - eu a questiono frustrada. - Mas eu não tenho tempo e muito menos dinheiro para perder o processando. - eu respondo e ela suspira igualmente frustrada.
- Pior de tudo, é que eu não acho nenhum lugar para ficar. - eu falo. - Eu estou ferrada. - falo pousando a minha mão na testa.
- Todos os locais que eu consigo pagar com o valor que eu tenho, simplesmente estão ocupados, e depois você sabe como são os preços dos apartamentos que estão disponíveis nessa cidade, malucos! - eu exclamo voltando a ter um surto.
- Nerissa... - ela diz sentida e eu suspiro fundo.
- Você falou com a sua tia? - ela questiona e eu arfo.
- Claro que não. - eu respondo.
- Mas o que iremos fazer? - ela questiona.
- Eu me viro, mas está fora de questão a incomodar com isso, ela já faz o suficiente e eu não vou suportar dar mais um fardo para ela, quando ela está perdendo a cabeça com outras coisas. - eu digo exausta.
- Eu entendo, mas... - ela diz e eu a encaro.
- Sem mas, Andrea. - eu lhe digo. - A única coisa que acontecerá, será aumentar os problemas dela, porque de lá, ela não vai poder fazer nada. - eu digo.
- E eu já me sinto m*l o suficiente por não conseguir a ajudar, você imagina o quão frustrante é simplesmente não conseguir ajudar quem você quer e que faz tudo por você? - eu a questiono com isso me incomodando.
- Eu me viro por aqui, sem a incomodar e você não ouse contar nada. - eu falo colocando a minha camisa debaixo da máquina secadora de mãos e ela entorse os lábios.
- Oi... - uma moça entra nos encarando curiosas.
- Oi! - nós a respondemos enquanto ela sorri franzindo o cenho.
- O que aconteceu? - ela questiona curiosa.
- Um abestalhado esporrou água em mim. - eu falo e ela abana a cabeça.
- Quem foi hein? - a Andrea questiona-me curiosa.
- Eu não faço ideia, mas eu o encontro em algum lugar. - eu falo com ódio acumulado desse ser.
- Deixem-me trocar e eu venho ajudar você a secar as suas roupas. - a moca diz indo para uma das cabines e nós sorrimos.
- Obrigada. - agradecemos-lhe, e depois a nossa missão foi tentar secar as roupas em cinco minutos para entrar na próxima aula.
Com a ajuda da Clarisse, a menina que entrou foi bem mais rápido, nem tudo secou completamente, mas isso também seria um milagre.
Ela saiu antes mais apressada e eu fiquei aqui me vestindo às pressas com a Andrea.
- Eu tenho uma ideia. - a Andrea diz e eu a encaro curiosa, enquanto enfio a minha camisa dentro das calças.
- Quê? - eu a questiono intrigada vendo o rosto dela ruborizar.
O que está se passando na cabeça dela?
- É melhor eu mostrar para você. - ela diz enquanto eu pego na pasta e ajeito o meu cabelo.
- Eu já aviso que não estou afim de nada ilegal. - eu falo e ela ri saindo comigo.
- Não é ilegal, talvez um pouco chocante, mas nada fora da lei não se preocupe. - ela fala me deixando curiosa, mas a pressa não permitiu que eu descobrisse mais.
Depois dessa pequena conversa no corredor, ela permaneceu estranha a maior parte do tempo e saiu antes das aulas findarem.
As aulas terminaram tarde para caramba, e por mais que eu quisesse me sentar na biblioteca para estudar, eu preciso apanhar o ônibus de volta para casa, ou ficarei plantada aqui.
Preciso ir buscar o meu celular que estava sendo arranjado e pensar no que eu vou fazer.
Neste preciso momento estou saindo do edifício, a noite é fria, ao menos já não está chovendo.
- Humn... - eu suspiro pensando nos quarteirões que eu tenho de aguentar esse frio, quando uma lâmpada acende na minha cabeça, e eu me recordo do abestalhado que tornou o meu dia mais h******l do que ele já estava e decido ir dar uma volta pelo estacionamento.
E oh, o belo carro está aqui estacionado.
- Deixa eu fazer uma surpresa para você. - eu falo com a minha raiva guardada se manifestando.
A minha garganta está coçando e o meu nariz me irritando por culpa de seja lá quem for o filho da mãe dono desse carro.
Ele está no estacionamento aberto, portanto não tem câmeras aqui.
Eu retiro o meu compasso e escrevo com letras bem grandes.
IDIOTA.
FILHO DA MÃE.
Em todos os lados do carro, antes de riscar cada espacinho desse carro para ele aprender.
Se é arrogante é porque terá dinheiro igualado a arrogância para concertar.
- Nem desculpas pediu… - eu murmuro enraivada guardando o meu compasso e antes de sair de lá, eu chuto o pneu só para aliviar a minha raiva.
Mas só com isso o maldito alarme ativou me fazendo correr dali.
Mas não tinha ninguém por perto então foi tranquilo, eu me sinto bem mais aliviada.
- Ah… - suspiro aliviadíssima saindo dali.
- Nerissa?! - eu escuto a voz do Joshua gritando o meu nome fazendo-me olhar para trás.
- Oh, eu achei que você já tinha ido embora. - eu falo o vendo.
- Humn, você está com aquele sorrisinho de quem aprontou. - ele diz me observando minuciosamente e eu sorrio sem conseguir esconder a minha satisfação. - O que você fez, Nerissa? - ele me questiona e eu dou de ombros.
- Nada. - eu o respondo.
- Ultimamente você anda misteriosa demais para o meu gosto. - ele reclama pegando na minha mão.
- Para onde você está me puxando? - eu o questiono curiosa.
- Para o estacionamento. - ele responde-me. - Eu vou deixar você em casa, senhorita. - ele diz destrancando o carro e eu o encaro.
- O seu caminho é totalmente oposto do meu. - eu digo-lhe, e ele pousa a sua mão no teto do carro me encarando com deboche.
- E quem disse que eu vou para casa nesse horário, meu amor? - ele questiona irônico e eu reviro os olhos rindo.
- Já que você insiste, eu não irei recusar. - respondo-lhe animada entrando e ele sorri fazendo o mesmo.
Atiro a minha mochila para o banco de trás e ele faz o mesmo com a dele e sai dali.
- Obrigada. - eu o agradeço me encostando a poltrona. - Eu não estava nada afim de andar até ao ponto de ônibus agora. - eu digo e ele me encara por uns segundos.
- Se você deixasse de ser teimosa não precisaria. - ele diz e eu suspiro. - Cara, eu não entendo o porquê de você simplesmente não aceitar ajuda. - ele diz e eu o encaro.
- Não se trata de aceitar ajuda ou não, Joshua, é que não há o que vocês possam fazer nesse problema. - eu falo.
- Você vendeu o seu carro morando longe do campus Nerissa, e não contou a ninguém. - ele diz e eu suspiro.
- Eu vendi porque eu tinha que finalizar o p*******o todo do apartamento em que eu estou sendo literalmente expulsa e para ter o suficiente para alugar outro, e não por capricho Joshua. - eu digo-lhe.
- Eu não disse que foi por capricho, mas você poderia ter me dito que eu dava dinheiro para você. - ele diz e eu o encaro enfadada.
- Esse é o problema, eu não posso viver as custas de vocês. - eu lhe digo.
- Isso não é viver as nossas custas. - ele diz e ai, como explicar.
- Você quer pagar pelo meu apartamento e se eu deixar você vai pagar por um carro e pela minha comida e tudo o mais, e eu podia simplesmente deixar, mas não é assim que as coisas funcionam Joshua, isso seria você literalmente me sustentando. - eu falo e ele dá de ombros.
- Você é a minha amiga e é o meu dinheiro. - ele diz enquanto eu volto a olhar para frente.
- Dinheiro dos seus pais. - eu falo e ele chia.
- É a mesma coisa. - ele diz e por favor.
- Se você conseguir me ajudar a encontrar um apartamento dentro do meu orçamento, eu aceito. - eu falo e ele sorri. - É desse jeito que se ajuda, e é esse tipo de ajuda que eu vou aceitar por enquanto. - eu falo.
- Então assim será. - ele diz e eu sorrio.
Um ponto de esperança.
- Eu também aceito presentes de vez em quando, não estou negando. - concluo e acabamos soltando uma boa risada no carro enquanto ele ligava a música.
- A sua tia não sabe? - ele questiona curioso.
- Não, e eu espero que você não a preocupe. - eu falo.
- Fique tranquila, eu sei guardar segredos. - ele diz e humn.
Claro que sabe.
- Pode parar naquela esquina primeiro, eu preciso levantar o meu celular. - eu lhe digo, e assim ele faz.
Eu desço no mesmo momento em que alguma moça ligou para ele, e entro no estacionamento.
- Oi! - eu saúdo o moço.
- Eu achei que não chegaria a tempo, já estava prestes a fechar o estabelecimento. - ele diz pegando no meu celular e eu fico até aliviada.
- E não ia mesmo, eu vim com o meu amigo por isso cheguei mais rápido. - eu falo e ele me entrega o celular.
- Ainda bem. - ele diz. - Ele está novinho em folha. - ele diz e eu sorrio tirando a minha carteira.
- Obrigada, tome aqui. - eu digo entregando-o valor e ele assente.
- Conte comigo, até mais. - ele se despede.
- Até! - eu o despeço já ligando o celular mais aliviada.
Ao menos comunicação eu voltei a ter.
Eu estava com tantas saudades de você celular.
- E aí? - o Joshua questiona enquanto eu entro no carro.
- Funcionando. - eu falo mostrando para ele.
- Finalmente, você não sabe quantas fotos eu tive de tirar de você para mandar para o Kai confirmar que eu não estava mentindo. - ele diz e eu o encaro incrédula.
- Você andou tirando fotos minhas às escondidas seu i****a? - eu questiono ultrajada.
- Mandei, o homem não me deixava em paz, achou que você sumiu do mapa e que nós estávamos mentindo para ele. - ele conta e eu não consigo evitar sorrir com essa preocupação toda.
Me faz sentir especial.
- Vem cá e me conta, vocês dois já se pegaram né? - e ele ainda questiona como se fosse um assunto confidencial.
O meu rosto ruboriza drasticamente que até entro em choque térmico.
- Você é i****a? - eu o questiono.
- Eu só perguntei por curiosidade… - ele diz.
- Então para de ser bobo, que pergunta mais sem cabimento. - eu falo ultrajada, sentindo o meu corpo aquecer.
Eu amo o Kai, mas onde em mil anos eu ousaria estragar a minha amizade com ele que é um mulherengo de última categoria?
- Claro que não. - eu digo e ele levanta uma mão em rendição.
- Fique calma, foi só uma brincadeira. - ele diz e eu reviro os olhos.
- De m*l gosto. - eu digo.
- Hoje você está impossível. - ele diz. - Todo o mundo sabe que você é como a irmãzinha mais nova do Kai. - irmãzinha.
O meu coração aperta por alguma razão e o meu rosto queima, esse Joshua nunca cala quando deve.
Não demoramos a chegar ao meu prédio.
- Obriga… - eu estava falando alcançando a minha mochila.
- Eu vou subir com você. - ele diz e eu faço questão de o impedir?
Claro que não, ele sempre faz o que quer, por isso é amigo do Kai.
- Vamos então belezura. - eu digo e ele sai do carro.
- Esse senhorio é mesmo bruto não é? - o Joshua questiona vindo atrás de mim.
- Claramente. - eu respondo-o, frustrada enquanto subimos as escadas. - Você falou com a Andrea? - eu questiono-o curiosa porque ela falou algo no banheiro e uma aula depois teve de sair.
- Não, a última vez que a vi foi quando eu deixei vocês duas juntas. - ele conta e eu dou de ombros.
Eu já estou com o meu celular, posso ligar para ela.
- Aconteceu alguma coisa? - ele questiona curioso enquanto eu pego as minhas chaves quando duas vozes conhecidas tomam os meus ouvidos e eu sou obrigada a levantar o meu olhar para ver quem está parado na minha porta.
- Você. - eu e o Joshua falamos ao mesmo tempo e eu literalmente seco no mesmo lugar.
O que esse canalha está fazendo aqui?