Capítulo 2 - Ela

1032 Words
Alba _ Alba! Vai acabar se atrasando pra escola filha! _ Já vou mamãe. Confesso que sou uma menina preguiçosa, adoro dormir até tarde e ficar debaixo das cobertas em dias mais frios. Se eu pudesse hibernava, sinceramente seria maravilhoso ter nascido ursa. Fiz minha higiene, coloquei o uniforme da escola e desci as escadas. Todas as manhãs minha mãe me espera com um café quentinho e um pão torrado, eu adoro o carinho que ela tem por mim. Espero que com a chegada do bebê ela não esqueça de me mimar, porque ser filha única é maravilhoso. Claro que eu adorei quando fiquei sabendo que teria um irmãozinho, mas o receio de ser esquecida também falou alto. Depois de alguns minutos entrei no carro e parti para a escola. _ Bom dia menina, dormiu bem? Perguntou Wilson. _ Dormi sim, e o senhor ? _ Muito bem! Disse ele sorrindo. Conheço Wilson desde sempre, ele é amigo do meu pai e os dois se conhecem a anos, desde quando meu pai ainda era um soldado. Graças às mudanças na nossa organização meu pai subiu de cargo e se tornou o subchefe. Desde então é Wilson que me leva pra cima e pra baixo e às vezes eu penso que ele é meu único amigo. Suspirei quando paramos em frente a escola. _ Você já contou aos seus pais ? Perguntou ele enquanto se virava pra me olhar no banco de trás do carro. _ Não, e você prometeu que também não vai contar! Respondi persuasiva. _ Eu sei menina, mas se essas meninas machucarem você seu pai vai ficar uma fera. _ Eu sei, eu vou dar um jeito. Falei enquanto descia do carro. A anos eu sofro bullying das mesmas meninas. Tudo que elas querem saber é de maquiagem e meninos, enquanto eu pego um livro e me distraio entrando em vários mundos diferentes. Ao entrar nos portões da escola tudo que eu fico pensando é na hora da saída, ansiosa pra dar o fora daqui logo. Ainda falta muito pra me formar, mas pelo menos estou mais perto do que longe. Fui diretamente pra sala e sentei na mesa mais afastada da sala, na tentativa de ficar invisível. Conforme a sala ficava cheia eu ficava mais tranquila e ver que ninguém estava dando a mínima pra minha presença. Peguei meu livro e comecei a ler enquanto aguardava a professora que mais uma vez estava atrasada. _ De novo lendo essas porcarias? A voz é super familiar e meu estômago chegou a embrulhar. _ É um livro, não é porcaria! Ela deu uma risadinha e saiu andando. Qual a necessidade de rebolar tanto? Desnecessário! Olhei para o lado e vi que Josué observava ela também, senti uma pontinha de ciúmes. Ele é meu amor não correspondido desde o primeiro ano. Claro, ele não sabe que eu tenho sentimentos por ele e se depender de mim nunca saberá. Sou a menos popular e a mais esquisita. Josué tem fama de pegador e de quem não presta, infelizmente. Meus livros são bem mais interessantes que ficar m*l falada por aí, porque é isso que ele faz, dizem que ele sai falando horrores das meninas com quem ele fica. A aula finalmente começou. Minha cabeça é tão confusa que fiquei viajando o tempo inteiro para o mundo imaginário que só existe na minha mente. Senti vontade de fazer xixi e pedi permissão pra ir ao banheiro. Caminhar pelos corredores da escola nunca foi um dos meus atos favoritos, certa vez sem querer peguei dois alunos aos beijos. Eu não sabia onde enfiar minha cara. Depois de lavar minhas mãos, ouvi a porta do banheiro ser aberta. Roberta entrou com cara de poucos amigos, certamente irritada por eu ter respondido a ela no início da aula. Ela parou do meu lado com a mão na cintura. _ Você me acha com cara de palhaça, Alba ? Perguntou ela, com uma sobrancelha arqueada. A maquiagem azul que ela estava usando combinava bastante com a de um palhaço, mas não me atrevi a dizer isso. _ Não entendi.. Falei sem entender mesmo. _ Fiquei sabendo que você está falando de mim por aí, tá me achando com cara de que ? Roberta é escandalosa, tem a voz nasal e se acha a mais *gostosa do colégio,a última bolachinha do pacote e a última coca do deserto. _ Eu não falei nada.. Antes que eu pudesse responder ela grudou as mãos no meu cabelo e puxou com força, arrancando alguns fios. Fiquei em choque e nem consegui reagir. _ Da próxima vez que você falar de mim, eu te deixo careca, entendeu? Ela saiu rebolando, cheia de si, enquanto eu permanecia ali, com a mão no local onde ela puxou e tentando ter alguma reação. Esse é meu maior problema, quando entro em choque eu fico paralisada de medo, simples assim. Me sinto totalmente impotente e um alvo fácil pra qualquer um que queira me maltratar. O restante do dia foi infernal, Roberta espalhou pelo colégio que me deu uma surra no banheiro e várias meninas vieram me perguntar o que aconteceu, até mesmo meninas de outras salas vieram até mim. Foi humilhante, mas nada que eu já não esteja habituada. _ Como foi o dia ? Perguntou Wilson enquanto eu entrava no carro. Olhei pra ele e sorri, um sorriso extremamente falso e carregado de vontade de chorar. _ Foi ótimo. _ Implicaram com você? Perguntou ele, preocupado. Wilson me conhece bem, sabe que sou sentimental também. _ Não, tá tudo certo! Insisti na mentira e ele pareceu ter sido convencido. Chegando em casa dei um beijo na minha mãe e subi pro meu quarto. Quando bati a porta não consegui mais conter as lágrimas, sinceramente não sei o que eu fiz pra ser tão odiada assim.. eu só queria ser normal, só isso.. queria me importar mais com maquiagens e meninos do que com livros e séries que prendem minha atenção e sinceramente queria até mesmo ser menos inteligente, pode ser que dessa forma eu conseguisse me enturmar melhor com as meninas da minha idade. Espero que com os anos as coisas melhorem pra mim..
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD