Alba
Os dias estavam cada vez mais longos e complicados. Eu estava ansiosa pelas férias de verão que pareciam não chegar nunca. Meu pai está cada vez mais atolado em serviço já que a nossa líder está delegando cada vez mais trabalho pra ele. Meu pai não gosta muito de falar sobre o trabalho, mas eu sempre pergunto pois acho muito legal o fato de termos uma mulher no comando, e não um homem. Ela é praticamente um mito, muitos pensam que ela não existe e na minha escola, por mais que não seja da máfia, eles pensam que ela é um fantasma ou algo assim. Não são todos que acreditam que a máfia existe e nunca podemos comentar isso com ninguém, é estritamente proibido.
Comecei a ler um livro novo hoje, ele é bem espesso e sei que vou viajar muito nessa história. Meu pai sempre diz que minha cabeça fica na lua, mas e daí? É bem melhor do que ficar nesse mundo r**m e c***l em que vivemos.
Meu sonho é cursar uma faculdade de literatura, sair desse país e trabalhar em alguma editora famosa nos EUA. Se eu pai, patriota do jeito que é, fica sabendo disso.. nossa, eu to é ferrada. Embora dona Olivia tenha proibido acordos de casamento fico com receio do meu pai ter prometido minha mão para alguém. A última coisa que quero na minha vida é um casamento, com toda certeza é algo que não me interessa nem um pouco.
O sinal tocou, agora finalmente é o último período. Ainda continuo tendo problemas com as meninas, mesmo não fazendo nada demais. Parece que esse negócio de cuidar exclusivamente da minha vida não está dando certo. Talvez eu devesse fazer como elas, fofocas, intrigas e quem sabe puxar umas mechas de cabelos por aí.
Entrei na sala quieta, sentei na minha cadeira e voltei a ler meu livro. Alguém jogou uma bolinha de papel em mim mas fingi que não vi. Continuei lendo quando outra bolinha de papel foi atirada, dessa vez da mesma direção. Olhei para o aluno que possui boa pontaria, ele sorriu pra mim e minhas bochechas ficaram vermelhas. Óbvio que não contive o sorriso bobo que tomou conta dos meus lábios. Josué pareceu satisfeito, girou o corpo na cadeira e voltou a olhar pra frente. A aula começou porém não consegui tirar os olhos dele, o que será que ele quer ? Aii, boa coisa não deve ser.. Espantei pra longe qualquer pensamento que eu pudesse vir a ter, não tem chance alguma de Josué querer algo romântico comigo, e também, eu prometi que jamais iria ficar com ele justamente pela fama de pegador e por falar m*l das meninas depois.
Quando a aula acabou arrumei minhas coisas rapidamente, enfiando tudo de qualquer jeito na mochila, peguei o livro *grosso na minha mão e corri pra fora da sala, quase atropelando alguns colegas.
Parei no portão e quem disse que achei Wilson ?
_ Droga..
Olhei meu relógio e ele realmente estava atrasado. Senti meu coração quase pular do peito quando uma mão envolveu minha cintura e me puxou. Arregalei meus olhos enquanto Josué sorria.
_ Vai mesmo fugir de mim?
Perguntou ele.
_ Sim.
Respondi automaticamente. Josué sorriu e me puxou para trás de uma enorme figueira que havia próximo a nós.
Ele passou a mão no meu rosto e sorriu. Fechei meus olhos esperando que ele fosse me dar um beijo, mas não.
_ Vou dar uma festa na minha casa, só queria convidar você.
Disse ele.
_ Ah, tá bom..
Ele me soltou e voltou a se reunir com os seus amigos. Fiquei batendo o pé no chão, nervosa. Wilson finalmente apareceu e antes que ele parasse o carro eu já estava abrindo a porta e me enfiando dentro.
_ O que houve menina?
Perguntou ele, observando meu rosto mais pálido que uma folha de papel em branco.
_ Josué me convidou pra uma festa..
Falei enquanto tentava raciocinar todas as informações.
Wilson franziu a testa e me encarou sério.
_ E você acha que seu pai vai deixar ?
Perguntou ele. Pareceu um banho de água fria, pois realmente não havia nenhuma chance do meu pai permitir. Bufei chateada. Nunca fui em uma festa e pelo jeito se depender do meu pai nunca irei.
Cheguei em casa já chateada, meu pai preza muito a minha segurança e a da minha mãe, ele é cuidadoso e carinhoso. Tenho um orgulho imenso dele, sempre faz de tudo pra nos proteger.
_ Filha, o que você tem ?
Perguntou meu pai ao me ver rolando o bolinho de carne pra lá e pra cá no prato.
_ Nada..
Nunca fui boa em mentir, nunca.
_ Alba!
Minha mãe me repreendeu me olhando com uma cara nada amigável. Ela anda mais irritada devido aos hormônios da gravidez.
_ Desculpa.. Me convidaram pra uma festa hoje à noite..
_ Não, sem chances.
Meu pai nem me deixou terminar de falar.
_ Mas papai..
_ Alba, você sabe bem que não podemos arriscar, e qualquer coisa que aconteça com você os responsáveis vão pagar caro. Então a resposta é não! Desculpa filha.
Meu pai voltou a comer, minha mãe me olhou como se entendesse o que estou passando. Desse jeito eu nunca vou ser normal, só espero fazer logo dezoito e tomar as rédeas da minha própria vida.