Descobertas

948 Words
Apesar do desespero, Helena foi capaz de dormir. Um sono perturbador, repleto de pesadelos. Ora com Otávio, ora com Estéfano. Quando acordou, já era noite e ela não sabia o que fazer. Não conhecia a casa, tampouco o dono dela. Sua barriga roncava de fome, mas também não tinha certeza se poderia comer ou beber algo da cozinha sem uma ordem direta de Estéfano. Era humilhante o que sentia, mas preferia ficar com fome a, de alguma maneira, irritar o homem que agora era seu marido. Então, decidiu permanecer ali, no mesmo lugar, até que ele ou alguém aparecesse para lhe dizer o que deveria fazer. Ficou ali por horas, encarando a parede em branco. Em alguns momentos, seu corpo tremia ao pensar no que aconteceria assim que Estéfano cruzasse a porta. Quando, enfim, escutou passos se aproximando e percebeu que outra noite estava prestes a começar, se encolheu no sofá. Estéfano abriu a porta e a olhou como se só agora se lembrasse que ela estava ali. Passou por ela sem dizer nada. Helena ouviu o barulho da água sendo servida e de um copo pousando na bancada. Logo depois, um grito cortou o silêncio: — Helena! Imediatamente, ela começou a tremer. Sabia que não adiantaria correr, mas não havia feito nada. Estava ali sentada há horas, sem beber, sem comer, sem sequer ir ao banheiro. Quando ele apareceu novamente na porta, a fuzilou com o olhar. — Eu não fiz nada! Eu juro! Por favor! Era ridículo se humilhar daquela forma. Ela sabia. Mas não tinha chance contra ele. A piedade dele era a única coisa que poderia salvá-la. — O que você comeu durante esse tempo, p***a? — Nada! Eu juro! Não mexi em nada! Nem sequer saí dessa sala! Ele deu um soco na parede. Helena se refugiou atrás do sofá, mesmo sabendo que, se ele quisesse atingi-la, seria inútil se esconder ali. — Está tentando se m***r de fome, é isso? — Não! Eu só... não sabia se podia comer ou até mesmo mexer em alguma coisa. Você não me disse nada. As palavras saíram misturadas ao choro. Ele estava sem boné, vestia uma regata que deixava todos os músculos à mostra. Durante os três anos nas mãos de Otávio, nunca precisou engessar nada, apesar das surras dolorosas. Seus dentes continuavam perfeitos. Mas ao olhar para Estéfano daquela maneira, percebeu que ele seria capaz de quebrá-la ao meio em apenas alguns minutos. Foi tirada de seus pensamentos pelo comando seco dele: — Sente-se nesse sofá. Agora. Ela obedeceu. — Primeiro, eu sei a vida que você levou ao lado do doente do Otávio. Mas precisa saber de uma coisa: eu não uso violência gratuitamente. Colabore, e não teremos problemas. Helena o encarou e não conseguiu disfarçar o olhar de quem não acreditava em uma única palavra do que ele dizia. Estéfano suspirou longamente. — Está bem. Eu não bato em mulheres. Mas não tolero ataques de nenhum tipo. Fui claro? Não preciso bater para acabar com uma pessoa. Ele fez uma pausa e depois ordenou: — Levante-se, tome um banho e vá fazer algo para nós dois comermos. Foi nesse momento que ela se lembrou que não tinha roupas. Apenas o vestido amarelo que nem era seu. Balançou a cabeça negativamente, e imediatamente o semblante de Estéfano escureceu. O olhar dele queimava como brasa. Ela se apressou em se justificar: — Não tenho roupas. Não trouxe nada. — Vista uma camiseta minha. Amanhã cedo arrumaremos roupas para você. Ou pode fazer como eu: peça pela internet. Entregam amanhã mesmo. Helena, desta vez, apenas assentiu com a cabeça. — Onde é o banheiro? — Use o do nosso quarto. Segunda porta à direita. Ele a observou por alguns segundos, como se esperasse que ela fizesse alguma objeção. Mas Helena apenas se levantou e saiu para tomar banho. Quando entrou no quarto, ficou impressionada com a organização. Não havia uma única caneta fora do lugar. A decoração também não deixava nada a desejar. Foi até o closet, pegou uma camiseta e entrou no banheiro. Trancou a porta e respirou fundo. O ambiente ali também era impecavelmente limpo. Tomou um banho e lavou os longos cabelos. Quando se olhou no espelho, percebeu que a blusa parecia um vestido em seu corpo, mas sabia que estava desejável. Rezou mentalmente para que ele a deixasse em paz. Não suportava a ideia de ser tocada por ele. Nem por homem nenhum. Quando voltou para a sala, não o encontrou. Foi até a cozinha e pegou uma fruta para apaziguar o estômago, que não via comida havia mais de 24 horas. Depois, abriu a geladeira. Dava para preparar uma salada e um risoto de camarão. Rápido e prático. Naquele momento, agradeceu por ter passado tantas horas na cozinha com a cozinheira contratada por seu pai. Se não soubesse cozinhar, estaria em maus lençóis. Não acreditava nem por um segundo que Estéfano realmente não batia em mulheres. Quando estava terminando a comida, ele apareceu na cozinha. — Está quase pronto. — Ótimo. Vamos comer aqui mesmo. Helena serviu o prato dele e depois o seu. Estéfano comeu em silêncio. Quando terminou, repetiu a refeição. Foi nesse momento que o telefone tocou. Ele atendeu com um breve "Sim." Depois, se levantou. — Helena, preciso sair. Vou resolver algo e volto em meia hora. Ele a encarou por um instante antes de continuar: — Sabe onde é o nosso quarto. Portanto, sabe onde deve dormir. Espero não te encontrar em outro lugar. Sem esperar resposta, lavou o prato e os talheres que havia usado e saiu. Helena ficou ali, apavorada. A noite que a esperava a aterrorizava.
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