Capítulo 2

2621 Words
Cami Saí do avião direto para o banheiro.  Eu vomitei muito por causa da viagem. Odeio viagem de avião. Eu sofri demais todas essas horas, segurando nas mãos da Manu e do Ricky. Muito pesadelo. Lavei minha boca e saí de lá atordoada. Todo corredor é igual, credo! Olhei as placas direitinho e peguei o caminho para a saída. Chamei logo um Uber, só entendi que o carro era preto. Depois que passei da porta de saída não consegui enxergar mais nada da tela do celular. Era um dia bem ensolarado. Logo pensei que está perto de meio dia, pra estar um calor dos infernos desse. Passei para o outro lado da rua, com minhas malas enormes e assim que o carro preto parou, eu abri o porta malas sem esperar ele sair, empurrei as malas dentro e depois, tirei minha mochilinha das costas para entrar no automóvel. Assim que entrei, outro cara também entrou. Eu nem sabia que era Uber compartilhado, mas é melhor que fica mais barato. Mas eu não me importei, queria mesmo era chegar em casa logo, tomar um banho e comer. — Rápido moço, eu preciso chegar antes do almoço. — o apressei. — Queri... — o cara que compartilhou o Uber ia falando, mas o motorista o interrompeu. — Claro, me passa o endereço de novo. Nossa...as coisas estão bem desleixadas aqui no Brasil, até o Uber... Ditei meu endereço e ele aparentemente decorou. Eu nem consigo acreditar que voltei. Melhor coisa que aconteceu na minha vida foi ter conhecido a Manu e o Ricky. Se não fosse por eles, eu não estaria aqui. A Karina, minha melhor amiga de infância ligou para mim no caminho. — Oi Cami! Já chegou? — Tô indo pra casa agora. Mais tarde eu vou aí na sua casa. — Venha, por favor, tenho que te contar a raiva que o pai da Lili anda me fazendo. Fala cada besteira... — Ai amiga, não acredito que você ainda dá ouvido pra esse cara. Pelo amor de Deus, ex é ex... — Eu só falo com ele por causa da nossa filha...   — Nada disso, não usa a criança como desculpa... — A gente tinha combinado de ser amigos. — Amigos? Ninguém é amigo de ex! Se eu fosse você só dava um block e pronto.... — Você é muito radical. Eu não posso fazer isso. Tem a pensão. — A pensão é só colocar na justiça. Ele deposita todo mês. Não precisa ter o desgosto de encontrar com ele. Eu perco a paciência com essa história. Ainda bem que voltei, agora posso me enxerir pessoalmente. — E ele precisa ver a filha, né! Não quero que mais pra frente ele reclame que não viu ela crescer. — Ai para, duvido que ele se importe com isso. Pura conveniência. — Olha amiga, que bom que você voltou. Quando chegar aqui a gente conversa tudo direitinho, que eu quero te contar tudo. — Tá bom, a gente se fala quando eu chegar aí. — Que bom que você voltou. — ela parecia feliz do outro lado da linha. — Eu também tô feliz em ter voltado. Nem acredito! Acredita? — Não mesmo. — ela riu. — Até logo. — Até. — desliguei sorrindo. Depois de alguns minutos, a minha mãe ligou perguntando se eu já tinha chegado. Falei a ela que estava a caminho de casa e que preparasse algo para eu comer, pois estava de estômago vazio. A viagem foi rápida. Não moramos tão longe do aeroporto. O que é bom e r**m. Acho que isso contribuiu para o meu medo de avião. — Quanto foi a corrida? — me debrucei entre os bancos para falar com o motorista, enquanto abria a minha carteira. — No app dizia que era 15 reais. Mas eu não tinha visto que era compartilhado, então toma 7 reais e esse senhor paga a outra metade. — entreguei a grana e depois saí do carro. — Espera eu tirar as malas, viu! — avisei e fui abrir o porta-malas. As tirei e o carro se foi. Minha casa estava igualzinha como sempre. A mesma cor, as mesmas janelas... Minha mãe veio me encontrar na porta. Eu boba, comecei a chorar e a abracei. — Ai mãe, como eu tava com saudades da senhora... — Ô minha filha, ainda bem que você voltou pra casa. Não ía ser só 6 meses? — Dou 15 minutos de paz, daqui a pouco uma tá querendo matar a louca. — Minha irmã, Dani, comentou, mordendo as cutículas, encostada na porta. Debochada. Saí do abraço da minha mãe e fui abraça-la. — Pode admitir que você tava com saudades de mim. Eu sei que você tá feliz em me ver. — a abracei mesmo ela tentando recusar. Ela ela deu um sorrisinho de felicidade. — Voltou grudenta, foi? — Foi. Muito grudenta. — me afastei dela sorrindo e peguei uma das minhas malas. Minha mãe me ajudou com a outra. — Você não viajou com só uma mala? — Dani veio atrás da gente. — Sim, mas eu comprei mais coisas lá. — cheguei na sala e deixei a mala na porta do quarto. — Pois então não vai achar r**m que eu joguei aqueles saltos mofados que estavam na sapateira. — O que? — olhei pra ela em choque. — Meus saltos?! Porque você jogou meus saltos?! Eu mandei você jogar?! Não me lembro d éter mandado você jogar! — Metade estava com o couro degradado e a outra metade com o salto quebrado. O que você quer? Montar um lixão dentro de casa? Não precisou que 15 minutos para a magia da saudade acabar. A Dani me tira do sério. Depois dos 16 ela virou uma peste. Agora com 18 deve ser secretária do coisa r**m aqui em casa. — O guarda-roupas é meu. As coisas estavam dentro dele, não incomodava ninguém. — abri a porta do quarto que eu costumava dividir com a minha irmã e me surpreendi ao ver uma cama de casal. — Oxe... — entrei no quarto e elas ficaram caladas. Minha cama sumiu, vamos ver se as minhas roupas também sumiram... Abri o guarda-roupas e no lugar das minhas roupas, estavam guardadas roupas masculinas. — Alguém me explica essa palhaçada?! Do nada, o infeliz do Igor, meu ex, apareceu ao lado delas, com a maior cada de p*u, com uma camiseta no ombro e os cabelos cortados baixo e com desenhos. Bem diferente da ultima vez. E diferente nem sempre é do jeito bom. — Voltou? — ele perguntou. — Não. Isso é uma simulação! Não sou eu, é um holograma. — respondi impaciente. — Me expliquem o que aconteceu depois que eu fui embora e que vocês não me contaram?! E o que esse i****a tá fazendo aqui?   [...]   — Eu tô tremendo de raiva. — sentei no sofá da casa da Karina. Não aguentei ficar em casa depois do que ouvi. — Você sabia que a Dani tava amigada com o Igor e ele tava morando lá em casa? Ela suspirou deixando uma xicara de café na minha frente e sentou no outro sofá. — Eu soube... mas como eu sabia que você iria surtar, preferi deixar que elas resolvessem esse corre. E a sua mãe me pediu pra contar, também. — Até a minha mãe escondeu isso de mim...— fiquei em negação. — s*******m. Depois do que o Igor fez com a minha vida... Quase fui presa por causa das drogas dele... eu achei que a minha mãe tinha o mínimo senso de não deixar a Dani se misturar com ele! E colocou ele dentro da nossa casa! — Eu sei. É loucura. — Eu não vou ficar lá. — balancei a cabeça segura da minha decisão. — Primeiro que trocaram as camas de solteiro por uma de casal, segundo que eu me recuso a viver debaixo do mesmo teto que aquele marginal. — E o que você vai fazer? — Sei lá. Vou arranjar um lugar pra morar. Eu tenho grana. O dinheiro que eu juntei no exterior é multiplicado vezes 5 aqui no Brasil. Vai dar muito bem para eu ficar de boa enquanto arranjo um trabalho por aqui. — tomei um pouco do café. — Como essas coisas demoram alguns dias, se você quiser ficar aqui, fique à vontade. Tem um quarto vazio. A minha mãe nem vai ligar. Amigas. — Eu agradeceria muito, Karina. — sorri me sentindo amparada. — Ai...— suspirei. — Vamos mudar de assunto, antes que eu infarte. Cadê a Lili? — Tá dormindo. — E eu fazendo esse barulho todo... — fiquei sem jeito. — Posso vê-la? — Claro, você é a Dinda. — ela levantou e eu também. Desde que a Karina teve a Lili, eu nunca a vi pessoalmente. Só pelas fotos. Agora ela tem quase 1 ano. A acompanhei até o quarto e vimos a bebezinha linda dormindo. E que bebê linda! — Amiga...ela é mais fofa ainda pessoalmente. — Só puxou a boca a mim, o resto é do pai. — ela cruzou os braços. — E esse i****a? O que anda aprontando? Eu não sei quem é o pai da Lili. Vi a foto dele uma ou duas vezes, mas se o ver na minha frente, com certeza não reconhecerei. — Ele vive lá nas riquezas dele... Até que vinha muito aqui, mas depois que eu comecei a namorar o Adriano, ele só vem aqui uma vez no mês, ou pede para levar a bebê lá na casa da mãe dele. — E o Adriano? Se concertou mesmo? Desde que conheço a Karina, ela é apaixonada pelo Adriano. Mas ele...sempre foi tirado a bandido. A minha amiga parece que tem t***o em homem assim. A sorte pelo menos é que teve uma filha com um cara rico. Ao menos a menina não fica desamparada financeiramente. Porque se a Lili fosse filha do Adriano...coitada...ía penar. Ficamos conversando por mais um instante e eu fui em casa buscar uma das minhas malas, para ficar na casa da Karina. Eu precisava de um banho e de comida, mas todo esse baque que me deixou desnorteada, me fez esquecer dessas coisas. No caminho, reencontrei um monte de gente que eu conhecia. É bom voltar pra casa, mas quando lembro que o Igor estará lá... me dá um desgosto... Entrei em casa e fui direto avisando a minha mãe. — Vou ficar na casa da Karina enquanto encontro uma casa para alugar. — Camila, minha filha, deixa de teima e aceita. — Aceitar o meu ex dormindo com a minha irmã no meu quarto? Eu não tô louca de achar isso normal, não! E a senhora, tanto que me criticava, deixar a Dani fazer isso... — Ô minha filha, ou era isso ou a fama de p**a no bairro. — A senhora sempre passando pano pra ela... — arrastei minhas malas. — Não vai almoçar aqui não? — Não. Não divido esse momento sagrado com vagabundo. — saí de casa. — A gente se fala pelo w******p. — Tá bom. — ela ficou toda contrariada. Eu me recuso a ter que engolir macho escroto, vagabundo, debaixo do mesmo teto que eu. Atravessei a rua com as minhas malas e as vizinhas já começaram a bisbilhotar. Rebanho de fofoqueira. Continuei meu caminho sem dar ousadia de falar com elas. A casa que a Karina mora, é um pouco afastada da minha e é numa rua mais tranquila do que a minha. Ela mora do outro lado do quarteirão. Arrastei minhas malas pelas calçadas e mais na frente, tive que esperar o trânsito diminuir, para atravessar a rua. Ele diminuiu muito rápido e mais do que isso, parou de passar carro naquele momento. Atravessei a rua e quando cheguei no outro lado, para subir a calçada, pisei na tampa de um bueiro e me desequilibrei. O filho da mãe estava quebrado e eu caí, com uma perna dentro dele. Me desequilibrei toda e só vi uma merda: minha carteira caindo dentro dele e sendo levada pelas águas. — Não!!!! A vontade que eu tive foi de tentar entrar lá dentro e pegar ela de volta, mas o esgoto corria forte e eu não conseguia passar pelo buraco. Só pude chorar. — Moça, tá tudo bem com você? — uma senhora falou, me fazendo lembrar que essa desgraceira está acontecendo em público. — Não. Não tô bem. — soltei as alças das minhas malas e comecei a tirar minha perna de dentro do bueiro. — Eu já reclamei na prefeitura, por causa dessa tampa. Eu disse que um dia alguém ia cair aí. E tinha que ser eu! — A minha carteira caiu lá dentro. — contei chorando. Tinha uns 200 reais, todos os meus cartões e documentos. Como eu vou tirar o dinheiro da minha conta sem nada? A água do esgoto havia molhado meu tênis, que era branco, agora era marrom escuro, lamacento e fedia pra caramba. — Vai sair lá no outro lado da cidade, no esgoto. Não tem jeito. Tô lascada. Peguei minhas malas conformadíssima com a minha sorte e continuei meu caminho pra casa da Karina. Chegando lá, eu nem sabia o que fazer com meu pé lamacento. Ela abriu a porta para mim, já reparando nisso. — O que foi, Cami? — Eu caí num bueiro e perdi minha carteira. — contei entristecida e ela fez uma cara de pena, mas riu. — Desculpa. — cobriu a boca. — Mas você já tem sorte, né. — Aham. — Vou pegar uma sacola pra você colocar nesse pé. — ela voltou para dentro, depois apareceu com uma sacolinha e eu a coloquei no meu pé. Entramos com as malas e eu me sentia anestesiada com tudo. — Todos os meus cartões e documentos estavam dentro dela. — contei desanimada. — Vai ter que ir na delegacia, fazer o B.O. pra tirar outros. — E quanto tempo isso demora? Todo o meu dinheiro está nas minhas contas. Eu fiquei com medo de chegar aqui e ser roubada, então só andava com pouco dinheiro. — Mulher... acho que pra chegar os documentos é mais ou menos um mês e muito chá de cadeira. — Caralho... — coloquei a mão na minha testa. — Pra pegar o dinheiro no banco eu preciso do RG e CPF. Vou ficar um mês sem grana? — tirei o tênis no quintal. — A gente dá um jeito. Pode arranjar um trabalho. — Trabalho é coisa a longo prazo, só receberei no próximo mês. Eu preciso de um bico pra hoje. — Aí minha amiga, tu vai ter que ver o que cê sabe fazer. — Vou no salão da Vanuza. — pensei. — Eu sei colocar lace. Vai que ela tem alguma cliente lá...já é dinheiro. — terminei de ficar descalça e lavei meus pés na torneira. — Vai ter que concorrer com as meninas... tá cheio de cabelereira fazendo isso lá. — ela foi para a cozinha e eu também, assim que me enxugue. — Que merda. Eu vou ver o que posso fazer então...   [...]   14:30 PM — Como assim, Débora? — tentei entender melhor a sua proposta, enquanto falávamos ao telefone. Eu já tinha voltado da delegacia, agora precisava de um bico, então entrei em contato com as amigas. — É uma despedida de solteiro. Só pra divertir uns caras ricos. Eles estão pagando bem. — É...eu trabalhava com isso no exterior... Cê acha que dá pra me encaixar no meio? — Claro! Vai ser no sábado. Você vem pra minha casa e a gente vai juntas daqui. — Tá bom. — fiquei contente. É um bico, paga bem... tô feita.
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