Capítulo 4

1932 Words
Cami Eu sei que a dança sensual desperta desejos e tal. Mas eu danço, não me prostituo. Quando os rapazes chegaram, um deles veio direto na minha direção e ficou parado, me olhando dançar. Até aí tudo bem. Mas do nada ele veio pra cima de mim, me agarrando, beijando a minha nuca... Eu não dei essa liberdade! Segurei sua mão e a tirei da minha cintura. — Que foi? — ele não queria me soltar. — Eu tô aqui pra dançar. Não sou garota de programa. — Eu não quero um programa. Só te achei linda e quero ficar com você. O cara m*l chegou, já quer isso?! — Eu agradeço pelo elogio, mas você tocou no meu corpo sem o meu consentimento e eu não gosto nada disso. Já briguei com muito velho tarado, lá na Espanha, por causa disso... E a atitude desse cara tá me lembrando o Damon... tudo que me lembra o Damon me deixa com ódio. — Desculpa. — ele levantou as mãos e deu um passo pra trás. Não consigo ver seu rosto direto debaixo de tanto acessório ridículo, mas seus olhos eu consigo ver muito bem. Ele não está bêbado, acabou de chegar! — Não encosta mais em mim. Ok? — me afastei dele e fui para o outro lado, me juntar as outras meninas. Espero que esse cara não torne a minha grana mais sofrida. Odeio homens insistentes demais. — O que foi? — Débora perguntou. — Um cara querendo mais do que uma dança... — coloquei uma dose de uísque e virei de uma só vez. Olhei para os rapazes e lá estava ele, ainda de olhos vidrados em mim. — Se ele te incomodar de novo, você me fala. Tá? — Tá. Mas eu sei me defender. — deixei o copo no balcão e voltei a dançar. Dessa vez para o noivo. Eu dei o melhor de mim, como sempre abstraindo do mundo e sentindo somente a música. Depois de uma longa dança, parei e tomei mais uma dose de uísque. Tudo o que tive que encarar esses últimos dias depois que cheguei no Brasil, só com umas boas doses para aguentar de boa. As meninas ficaram fazendo umas brincadeiras com os caras e eu preferi ficar só na dança. Mas teve um momento que a vontade de fazer xixi me pegou. Então tive que abandonar o serviço e ir ao banheiro. O cara continuava me encarando. Mas pelo menos respeitou meu espaço e não tentou me agarrar mais. Eu admito que fisicamente ele é muito gostoso. Alto, com um físico atraente, braços fortes, um peitoral que destaca na camisa, costas largas (e como eu gosto disso em homens...) e ainda tinha barba. Provavelmente deve ser o mais bonito de todos os que vieram para a festa. Mas a atitude que ele teve comigo no início da festa diz muito com sobre o seu caráter. Não quero um Damon na minha vida nunca mais. Fiz minhas necessidades em paz, mas depois de lavar as mãos, quando saí do banheiro, outro rapaz me abordou. Bloqueou minha passagem de volta pra festa. — O que você quer? — perguntei entediada. Mais um pra me encher. — O meu amigo tá muito afim de você.  Porque não dá uma chance pra ele? Será que é aquele? — Se quer tanto, porque tá mandando recado? — arqueei a sobrancelha com uma mão na cintura. — Ele tentou falar com você, mas parece que você não gostou muito. — Lógico, ele veio pra cima de mim feito um tarado! — Entendo. Entendo... Mas você podia dar uma segunda chance a ele. Não é? Eu estou aqui para trabalhar, não ficar me agarrando com playboy tarado. — Não rola. Estou a trabalho. — Uma conversa. — ele levantou o indicador, fazendo o número 1. — Não. Eu estou ocupada. — desviei dele e andei na direção das meninas. O cara me acompanhava com o olhar. Ou age como um tarado ou manda recado...esse não presta pra mim. Voltei a dançar e fiquei nisso por uns 10 minutos. Quando as meninas colocaram músicas mais animada, eu me diverti muito dançando com elas. Mas aparentemente só eu não fazia o trabalho duplo. Do nada, maioria delas estava se pegando com os caras da festa. Até que teve um momento e eu fiquei dançando sozinha e lá veio ele. Ele dançando e eu tentei o ignorar. — Porque você tá me ignorando? Eu te quero e sei que você também me quer. — ele falou no meu ouvido. Dessa vez ele está bêbado. — Eu não te quero. Você não faz meu tipo. Fisicamente sim, mas esse desvio de caráter que ele parece ter é o que pega. — E qual é o seu tipo? — Caras gentis, educados... — respondi ainda dançando e ele sorriu. — E você trabalha numa coisa como essas... não vai achar ninguém assim. — Mas eu não tô procurando nenhum cara por aqui. Só estou fazendo dinheiro. Ele ficou me encarando, com uma cara de palhaço, usando óculos ridículos e um chapéu de paetê, mais ridículo ainda. — Ok. Entendi. — ele levantou as mãos em sinais de paz e se afastou. Por incrível que pareça, ele   não me procurou mais durante a festa. Nem ficou me encarando, como havia feito antes dessa conversa. Eu fiz meu trabalho em paz e quando a festa acabou, ele foi embora que eu nem vi. — Eai? O que achou? — Débora veio até mim quando estávamos prestes a sair. — Uma ótima gorjeta. — sorrimos. — E o cara ficou te perseguindo? — Não. Ele tentou mais uma vez, mas depois que viu que não conseguiria nada, me deixou em paz. — Que bom. — ela entrou no corredor sorrindo. Fomos pra casa e eu dormi lá com ela. Não pude evitar os sonhos com a festa. Sonhei que aquele cara aparecia no quarto em que dormi e perguntava porque eu não quis ficar com ele. Meu subconsciente e suas loucuras. Mas dormi. No outro dia agradeci muito pela ajuda da Débora e voltei para a casa da Karina. — É uma grana que dá para passar uns dias, mas não para alugar o apê. — contei a ela, enquanto a ajudava a secar os pratos. — Amiga, eu vi no status do pai da Lili que tem uma empresa querendo modelos para o catálogo deles. Você é linda, pegava o emprego rapidinho. — Modelo? — ri. — Eu nem sei desfilar. — É modelo de foto, anta. Não precisa desfilar. Acho que é só uma semana e eles pagam bem. Muito bem. Vai dar pra você adiantar o aluguel de uns 3 meses. — Só um mês já seria perfeito, porque é o tempo de fazer meus novos documentos e pegar minha grana no banco. Acho que é uma boa ideia. Mesmo que eu não passe, não custa tentar. — É. Não custa tentar. — ela preparou uma mamadeira para a bebê. — Você sabe como faz pra se inscrever? — Acho que tem que mandar um email com fotos suas. — Mas eu nem tenho fotos. — ri. — Ué, a gente tira. — ela falou como se fosse a coisa mais simples do mundo e realmente era. — Será que fica mais legal com a lace ou sem ela? — Tira. Todo mundo tá assumindo os cachos. Isso traz representatividade a campanha. Mais chances de pegar o trabalho. Isso sem contar que você deve ficar perfeita de cachos. Isso eu já não sei, porque nunca finalizei meu cabelo. Só comecei a fazer a transição e pronto. — Eu vou tirar o dia para isso então. Vou deixar meu cabelo lindo e tiramos as fotos. Aí amanhã eles já podem até ver e me chamar. — fiquei esperançosa. — Isso ai. Gosto desse entusiasmo. — ela saiu e pegou a bebê. Ainda não sei lidar com a fofura da Lili. — Mas me conta mais sobre o boy da festa. Eu só comentei ligeiramente com ela. — Não tem nada de muito interessante pra falar. Só foi um cara com pinta de bombeiro/playboy que ficou no meu pé. Tentou me agarra...aí eu dei uns fora, depois mandou o amigo. Presta atenção, o amigo, vir falar comigo pra ficar com ele. Isso lá é atitude de homem? Ela ficou rindo. — E depois? — Eu bati o pé que não queria de jeito nenhum, aí mais tarde eu tava dançando sozinha e ele veio pessoalmente me perguntar porque eu não ficava com ele, se tava na cara que eu queria...— revirei os olhos contanto com muito deboche. — Sério? Nossa, que babaca. — Sim. Muito. Aí eu disse que ele não fazia meu tipo. Ele perguntou qual era o meu tipo então, eu disse que gostava de caras gentis e educados. Aparentemente ele entendeu que não era o seu caso e se foi, não olhou mais pra mim nem falou mais comigo. — Vai ver ele só queria te comer. — ela sugeriu dando a mamadeira para a Lili. — Com certeza. Eu disse a ele que não fazia programa. — Foi mesmo? — ela riu e eu confirmei. — Cami, você não existe. Durante o resto do dia, tirei a lace, hidratei meus cabelos finalizei antes do pôr do sol. Karina foi minha fotógrafa e eu usei minhas roupas chiques da Europa. De noite, selecionamos as 10 melhores e eu coloquei no email para enviar junto com meus dados. — Agora é só esperar. — Fiquei satisfeita.   Passamos o domingo comendo besteira e eu contei o resto da minha aventura na Europa. Minha mãe ficou mandando áudio, reclamando porque não fui pro almoço de domingo. Mas eu repeti: não divido meu momento sagrado com um marginal feito o Igor. A gente dormiu tarde e a Karina falou que o pai da Lili disse que eu podia aparecer na empresa amanhã, porque como eu já mandei as fotos, já faço a entrevista pessoalmente, igual as outras. Então eu dormi nessa expectativa.   [...]   07:02PM Acordei e me arrumei para ir a tal empresa de cosméticos. Quando pedi o endereço a Karina, fiquei chocada. Era muito longe. Mais de 1 hora de viagem. — Mano do céu. Será que ou chegar a tempo? — fiquei preocupada. — Chega sim. Agora vai de Uber. — Claro. Nem pensar de busão. Senão só chego lá 1h da tarde. — me despedi dela e saí. — Boa sorte. — Valeu. 1 hora de 10 minutos, foi o que eu contei pelo relógio. Cheguei na frente da empresa e me veio a vibe espanhola. Saudades. Era um prédio bem bonito. Entrei lá, toda poderosa e peguei o elevador para a entrevista. Algumas meninas também estavam no mesmo elevador que eu e aparentemente, também iam para essa entrevista. — Já olhei. Eu recebi o email de confirmação. — uma delas falou mexendo no celular. — Eu também recebi. — Que bom. Porque sem essa confirmação não tem entrevista. — a garota disse. Email de confirmação? Não lembro de ter visto isso no meu. Peguei meu celular para verificar no email. Tinha email de propaganda de faculdade, abaixo assinado, lojas, aplicativos, mas nada de email de confirmação. Fui na caixa de saída e o email não estava lá, em email enviado também não. Só me restava uma coisa: os rascunhos. Abri prendendo a respiração. — Merda! — exclamei e as garotas olharam pra mim. — Não é nada. — sorri de nervoso. O email não foi enviado. Ficou nos rascunhos.   Agora fodeu. 
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