capítulo 9

1812 Words
A conversa não durou muito tempo, o assunto não estava um dos melhores por causa da situação então não tinha o que fazer. Nicolas me levou até a porta do quarto, e o que mais me impressionou foi o fato dele não ter feito nada além disso. Qualquer outro garoto se aproveitaria da minha fragilidade para tentar alguma coisa, eles sempre faziam isso e eu já estava acostumada, tanto que se ele tivesse feito eu não tinha me surpreendido. Decepcionada? Sempre, surpreendida? Nunca.  Mas com ele foi diferente, só para meu subconsciente me acusar de preconceito com todos os caras da minha vida. Eu tinha lá culpa?   Não pensei muito no assunto antes de dormir, minha cabeça já estava cheia de problemas o suficiente para meter outro do nada, mais um e eu iria explodir, com toda a certeza do mundo.  Izzy não voltou cedo, pelo contrário, mais uma noite ela nem sequer pisou no quarto e só notei isso depois de acordar. Talvez ela não tivesse percebido o quanto eu fiquei abalada depois de sair do palco, com certeza ela viria me consolar se soubesse que eu estava m*l. Certo? Levantei com muito custo, estava com fome e sabia que se passasse o dia inteiro no quarto não iria fazer nada. Mandei algumas mensagens para minha mãe, que até então nem tinha conversado comigo ainda. Com certeza ela estava brava por eu não ter ligado mas iria me perdoar ao saber que eu estava me divertindo muito, ou era assim que eu pensava. Cheguei no salão e tinha pouca gente por ali, alguns nem tinham ido dormir outros devoravam seu café da manhã como se dependessem disso para viver. E bom, dependiam. Achei uma mesa dupla ao lado da janela e me sentei por lá afim de comer meu café sem muita pressa, eu ainda estava triste com o que tinha acontecido na noite anterior e precisava fazer alguma coisa para esquecer daquilo. Como Izzy não me respondeu e muito menos voltou para o quarto, me toquei que não iríamos participar do torneio que ela tinha me implorado tanto pra ir. Eu não conhecia mais ninguém por ali que eu tivesse i********e suficiente para conseguir jogar ao lado pelo resto do mês. E com certeza ela iria me pagar por isso, eu queria participar. – você está pensativa demais.- Ouvi a voz familiar de Nicolas assim que ele sentou-se na minha frente. Não precisava tirar meus olhos da paisagem do lado de fora para saber que ele estava me encarando com o sorriso amarelado de sempre. – Sono. - menti, descaradamente. Ele tinha visto todas as minhas lágrimas e eu ainda achava que ele iria acreditar no sono. – Eu também estou.- Não se aprofundou no assunto e eu dirigi meu olhar para encara-lo. Ele tinha mesmo disfarçado o assunto para que não ficássemos desconfortáveis? - Só de pensar na competição eu já estou mais cansado ainda. – você vai participar? – Ao que parece, sim.- Sorriu, com as bochechas cheias de waffles e com calda de caramelo escorrendo por sua boca. Aquilo me fez rir. – você é estranho. - murmurei continuando meu café também. - mas obrigada por ontem, foi bom desabafar. Eu gostava da companhia dele, era estranhamente boa.  – Quando eu precisar sei que você estará lá também. Eu o encarei por alguns segundos, eu não sabia bem a veracidade da sua afirmação, mas com certeza o que eu pudesse fazer eu iria tentar. – É claro. - Dei de ombros sem me importar muito com o assunto. – você não vai competir? - Perguntou me encarando com a boca cheia de doce.  – minha amiga não voltou para o quarto ontem e ainda estou sem notícias, ela era minha dupla. - Bufei frustrada olhando a tela do celular percebendo que não tinha nenhuma mensagem dela. – aquela que você inventou? - Ele provocou com um sorriso travesso no rosto. – Não me testa. - comentei, apontando o dedo para ele que ria e erguia as mãos para o alto. Eu sabia que ele sempre me levava a sério. – Relaxa só estou tentando descontrair, você tá muito nervosa. - Disse ele, bebendo o seu café e eu revirei os olhos. - Se quiser participar posso conversar com o monitor e pedir para sermos uma dupla. O olhei com os olhos semicerrados. O que ele estava querendo? - E a sua dupla?  - Eu inventei. - Deu risada, todo desconfiado, enquanto coçava a nuca.  - Olha só quem está inventando sobre amigos. - Murmurei e ele riu junto comigo. - Culpado.  - Não entendo você, sempre rodeado de pessoas. - Falei, colocando a mão sobre o queixo, tentando parecer intimidadora. Acredito que tenha sido uma careta bem f**a. - Você estar rodeado de pessoas não significa que está rodeado de amigos.- Deu de ombros, numa resposta tão certeira que eu fiquei pensativa por um bom tempo. Claro que não tinha sido sua intenção parecer rude, e eu já o conheço o suficiente para saber que ele não era o tipo de garoto que dava patadas, era o meu papel fazer isso, mas aquilo era triste, solitário. - Você está tentando intimidar alguém com essa cara pensativa? - Ele perguntou enquanto me encarava sem jeito, e eu abri um sorriso cínico.  - Eu quero muito participar da competição, dá seus pulos. - Falei autoritária, tentando desviar do assunto "amigos" que tínhamos entrado. Não era bem um assunto fácil e eu não estava afim de bancar a garota chorona de novo ao falar dos sentimentos.  - Nossa que gentileza a sua aceitar fazer par comigo. - Ele colocou a mão no peito, parecendo ofendido com minha ordem e eu dei risada. - Agora, é sério, podemos ser dupla? Afinal, é uma competição de meninas contra meninos. - Esse negócio está ultrapassado. É só fingir que estamos militando que todo mundo vai concordar com a gente. - Eu dei risada para seu plano diabólico mas concordei. Eu queria ganhar um passeio na cidade, não sei quando eu teria essa oportunidade de novo. - Você é ainda pior que eu. - Sussurrei semicerrando os olhos para encará-lo divertida. - Você só tem cara de anjinho mas sua mente... - Eu sou um anjo até que se prove o contrário. Balancei a cabeça desacreditada com as suas afirmações e levantei com minha bandeja, levando ela para o lugar onde deixava quando terminávamos o que comemos. Nicolas me acompanhou, claro.  - Eu nunca participei desse tipo de coisa então se prepare para se decepcionar com sua dupla. - Comentei, lembrando que eu era péssima em esportes, de todos os tipos.  - Ah você não deve ser tão r**m assim, não é? Parei de andar até a sala dos monitores para olhá-lo seriamente.  - Não duvide da minha capacidade de ser r**m. - Falei aquilo bem baixinho, como se fosse um segredo. Segurando para não dar risada. - Sei, assim como sua capacidade de montar o máximus? - Ele retrucou, me alfinetando. - Eu sou boas em algumas coisas, mas parece uma tapada em outras. - Faz parte. Eu também não sou bom em tudo então se a gente não ganha, a culpa é toda sua. Abri a boca surpresa com tamanha audácia que o garoto tinha e observei ele rindo e passando na minha frente para bater na porta do escritório. - Pois não? Posso ajudar? - Um dos monitores apareceram na porta para nos atender. Eu cruzei os braços, iria deixar ele falar sobre esse plano diabólico que ele teve sozinho.  - É que queremos fazer dupla na competição. - Ele apontou para mim, que dei um tchauzinho quando o monitor olhou para mim também. - Não temos amigos além um do outro. Observei a carinha de bebê que ele fez para o mais velho e fiquei impressionada na capacidade do cara mentir desse jeito. Eu tinha cara de fracassada a esse ponto? Dele acreditar que não temos amigos. - Nicolas, você é especi.. - O monitor começou a falar, fazendo eu semicerrar os olhos na direção dele tentando entender o contexto do especial que ele se referiu, mas Nicolas não deixou ele terminar, para meu azar. - Por favor, eu te imploro. - Eu podia jurar que os olhos do Nick estava brilhando e ele parecia que ia chorar a qualquer momento. Eu tive que segurar muito o riso para não estragar nosso plano. Eu só tinha um trabalho, ficar quieta e deixar ele fazer tudo. Nisso eu tinha que ser boa né? O monitor suspirou, passou a mão pelo rosto, nervoso, e voltou a olhar para Nicolas com uma cara de derrotado. - Tudo bem, vou mexer os palzinhos. - Falou me fazendo dar um pulinho de tanta alegria, o que chamou atenção dos dois que me olharam estranho. Me escolhi no mesmo instante. - Você e sua namorada podem ser dupla mas só vocês são exceção.  Eu esperei o Nicolas corrigir o monitor de que não éramos namorados mas o garoto apenas abriu um sorriso grande no rosto e assentiu, deixando o monitor ir embora sem esclarecer que não somos nada além de amigos. - Viu só? - Ele se aproximou, animado. - Eu consigo tudo. - Eu percebi. - Respondi. - Aliás, adorei os olhinhos lacrimejando. - Acrescentei abrindo um sorriso sorrateiro. - Por que hollywood ainda não achou você? - Nada de gracinhas, Luna. - Ele parecia meio zangado e eu apenas soltei um riso. - Não comenta isso com ninguém. - Tudo bem, seu segredo está guardado comigo. - Prometi, enquanto andava no meio daquele monte de adolescente. - Que horas começa a competição? - Uma hora mais ou menos. - E você sabe qual a primeira prova? Preciso trocar de roupa? - Acho que não precisa. - Ele deu de ombros, ele parecia estar tramando alguma coisa. Eu assenti, era minha primeira vez naquele acampamento e não era a primeira vez dele então ele devia saber melhor que eu. E quem melhor que uma pessoa experiente pra ganhar aquela competição? - Eu fiquei curiosa. - Pelo que? - Ele me olhou com os olhos azuis dele, muito penetrantes. - Por que você não corrigiu o monitor? Que não somos namorado? - Semicerrei os olhos em sua direção e ele engoliu em seco no mesmo instante.  - Eu corrigi, não? - Ele coçou a nuca, á aquela altura eu já sabia que ele fazia isso quando estava nervoso. - Não. - É.. - Ele parecia meio perdido, nem conseguia olhar para mim direito. - Eu tenho que ir no meu quarto, te vejo na competição. E antes que eu pudesse falar mais alguma coisa ele saiu correndo, literalmente, entre todas aquelas pessoas que entravam e saiam. Fiquei encarando ele parada, com os braços cruzados e com um sorriso no rosto. Eu gostava de provocar ele também. 
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