- Tá! eu vi, e quero saber tudo.- Me assusto com Bella chegando ao meu lado e coloco a mão no peito, sentindo minha pulsação acelerar.
Eu tinha me escondido no fundo da floresta, em um banco um pouco afastado da festa. Onde eu podia ver todo mundo e não falar com ninguém.
Mas pelo visto eu ainda precisava me esconder melhor visto que Izzy me achou facilmente.
- Você quer me m***r do coração? - Repreendi a menina, enquanto tentava me acalmar. Bebida já acelerava meus batimentos cardíacos e um susto não era bem a coisa mais legal do mundo.- Do que você está falando?
- Me poupe, Luna Mayer.- A menina se sentou no banco, encarando a festa junto comigo.- Eu não vi quem era mas vi você de mãos dadas com um garoto um tempinho atrás.
Revirei os olhos com sua curiosidade e suspirei.
- É só um amigo, ele não estava afim de sair com nenhuma garota, então pediu ajuda.
- Se ele fosse só um amigo você não estaria aqui escondida.- Afirmou a morena, me encarando com seus olhos penetrantes. Eu odiava quando ela estava certa mas não precisava admitir.
- Eu só não estava afim de ficar na festa, idiota.- Tentei desviar o assunto antes que ela começasse a me importunar mas eu tinha uma amiga muito teimosa.
- Eu te conheço, Luna.- Tentou mais uma vez, dessa vez com a voz mais baixa e carinhosa.
- Se me conhece sabe que não gosto de falar sobre essas coisas e prefiro evitar qualquer problema.- Retruquei, sabendo que com aquela resposta ela iria se aquieta. - Aliás, por que você estava dentro do mato?
Mudei rapidamente o assunto, lembrando que atrás de mim não tinha nada além de mato, e bom, ela veio de lá.
- Estão me chamando, estou indo lá.- A mesma diz, levantando rápido e correndo para longe sem me responder.
Safada.
Eu sabia bem o que ela estava aprontando ali, e sabia também com quem.
Ela negaria até a morte mas se até o fim do verão ela e Cayer não estiverem namorado, vão estar casando.
Acabei despertando dos pensamentos quando ouvi a música eletrônica diminuir e um som de violão começar.
- Galera, um minuto de atenção por favor.- Reconheci a voz de um dos funcionários do acampamento e prestei atenção para saber o comunicado. Era quase nove da noite, o que eles poderia querer? - Como alguns já sabem é tradição na noite da festa da fogueira nossos jovens se apresentarem no nosso palco, como um concurso de talento da música, e como prêmio este ano vamos presentear o ganhador com um cheque de 500USD para gastar na cidade, com direito a passeio e acompanhante. Então quem quiser participar, por favor se apresente no palco.
Observei alguns jovens contentes com o show de talentos mas até então ninguém tinha coragem de subir lá.
E então eu levantei, pronta para fazer a maior burrada da minha vida: Subir lá e cantar.
Eu havia bebido bastante, admito, e quando eu fazia isso tinha as piores ideias que um ser humano podia ter, passando vergonha em todas as vezes.
Quando dei por mim, já estava no palco, segurando o violão e olhando toda aquela gente em silêncio olhando atentamente para mim.
- Oi.- eu disse, encarando todo mundo.
Eu podia confirmar com toda certeza que eu olhei cada rosto das pessoas que estavam ali, e eu só consegui me acalmar quando vi um rosto conhecido.
"Você consegue" foi o que ele gesticulou com seus lábios para mim, me incentivando.
Mal sabia ele que eu me escondi do mesmo durante todo esse tempo.
Respirei fundo antes de começar a melodia.
I want you
Yeah I want you
Cause nothing comes close
To the way that I need you
I wish I can feel your skin
And I want you
From somewhere within
It feels like there's oceans
Between you and me once again
We hide our emotions
Under the surface and tryin' to pretend
But it feels like there's oceans
Between me and you
I want you
And I always will
I wish I was worth
But I know you deserve
You know that I'd rather drown
Than to go on without you
But you're pulling me down
It feels like there's oceans
Between you...
E pronto, a m***a estava feita.
Terminei a música, sentindo meu peito cheio de lembranças dolorosas.
Procurei por um momento o rosto que havia me enchido de tristeza mas eu sabia que ele não estava ali, por que ele tinha ido embora á dias.
Para nunca mais voltar.
Quando senti algumas lágrimas caírem lentamente, corri dali, antes que alguém pudesse ver.
Eu precisava apenas de um banho, um bom prato de comida e minha cama. Odiava quando lembranças vinham me atormentar e me lembrar do quanto eu devo manter longe todos os garotos gentis.
E isso sempre acontecia quando eu cantava.
Por que eu cantava para ele nos nossos momentos, e fazer isso de novo sem ter cicatrizado a ferida me deixou triste outra vez.
- Que merda..- Sai resmungando, desviando de todas as pessoas que estavam por ali, tentando encontrar a trilha de volta para o prédio principal.
Que m***a, que m***a, que m***a!
As lágrimas não paravam de cair.
- Ei, ei! - Ouvi Nicolas e senti sua mão segurando meu braço, fazendo-me parar de andar. Seu tom era preocupado, com certeza ele tinha prestado atenção.
- O que quer de mim, Nick? - Perguntei, guiando meu olhar para o garoto. Vi seu semblante triste assim que viu o estado em que eu me encontrava. As lágrimas eram teimosas.
- O que aconteceu, por que está chorando? - Ele ignorou minha pergunta, é claro que ele fez isso, eles sempre fazem.
- Por que eu odeio cantar, eu odeio tocar, eu odeio minha vida, odeio o amor, odeio as pessoas, odeio tudo..- Fui falando um por um, enquanto sentia minha voz embargar cada vez mais e os soluços virem a tona, junto com as lágrimas.
Eu odiava como as lembranças me afetavam, me recordavam que eu costumava ser gentil e afetuosa com garotos legais, costumava sorrir e me divertir com tudo e ia para todos os passeios e festas como Izzy, e depois de tudo, Matt tirou minha felicidade e tudo que eu era.
O medo consumia meu corpo, voltar a ser como era e acabar sendo machucada de novo, eu não aguentaria.
Senti os braços quentes de Nicolas me rodearem num abraço quente, confortante e apertado. Fazia muito tempo que eu não me sentia bem ao receber um abraço, sincero e sem más intenções.
Confesso que eu fui pega de surpresa e demorei muito para reagir ao seu afeto, mas eu não resisti e cedi ao desejo de chorar.
- Tudo bem, Luna..- Ele começou a conversar comigo, enquanto abraçava meu corpo e pressionava meu rosto em seu peito.- Sei como é ser magoado dessa forma mas te juro que isso passa.
Ele tentava me conformar, como se soubesse exatamente o que eu estava sentindo, como se de alguma maneira tivesse passado pelo mesmo. Mas eu não estava em posição de perguntar sobre isso, não agora.
- Por que dói tanto? - Não consegui segurar minha frustração e acabei desabafando com ele mesmo. Eu reprimia a tristeza que eu sentia dentro de mim desde que tudo isso havia acontecido, e não sabia por para fora de outra maneira.
- Vamos para o salão principal, lá deve estar mais vazio. - Ele dizia já me guiando na trilha de volta. Eu só conseguia segurar seu braço, encostar meu rosto ali e chorar, colocar tudo para fora como nunca tinha feito antes.
Assim que chegamos na frente do prédio principal, ele me guiou até um banco ao lado de fora e se sentou ao meu lado, me puxando para seu peito e deixando que eu molhasse sua camisa com minhas lágrimas.
Apesar de estar aflita com tamanha preocupação, eu não interrompi aquele momento com nenhuma de minhas grosserias que geralmente eu fazia. Eu estava precisando de um abraço confortável, precisando chorar até secar as lágrimas já que eu fingia para todo mundo que eu era uma menina durona que não se afetava com sentimentos, apesar de ser totalmente o contrário.
Eu era uma criancinha, com medo de escuro e trovões, e que chorava por tudo.
- Obrigada. - Falei baixinho, sem nem mesmo tirar o rosto do seu peito, estava com vergonha. - Estraguei sua noite.
- Você não estragou nada, Luna, está tudo bem. - Ele me confortou, passando a mão em meus cabelos e se afastando para olhar em meus olhos. Que a essa altura estavam inchados e vermelhos. - Somos amigos, não somos? Amigos servem para isso.
Encarei ele por uns instantes.
- Eu sempre sou grossa com você, por que ainda quer ser meu amigo ? - Respondi, passando a mãos nos olhos para secar as lágrimas que estavam por ali.
- Por que você é a única pessoa que é verdadeira comigo.- Deu de ombros, como se aquilo não fosse algo incomum. - E qual o nome do garoto que fez você se fechar dessa maneira, ao ponto de ser grossa com todo mundo?
Soltei um riso leve com o jeito que ele pontuou a situação e suspirei. Podia contar?
- Era Matt.
- Sabia que tinha nome de otário.- Respondeu, fazendo um careta que me fazia rir cada vez mais.- Deixa eu adivinhar, atleta?
- Sim. - dei de ombros, eu era tão previsível assim?
- E o que ele fez para machucar seu coração dessa forma?
- Bom vamos se dizer que ele tomou decisões precipitadas quando as coisas foram para um rumo que não estava planejado e acabou me afetando. - Tentei não dar muitos detalhes sobre o que ele tinha feito.
- Vocês iam para a faculdade juntos, não é? - Seu tom de voz se tornou mais sutil, assim como sua expressão, acredito eu que temendo me ver chorar mais ao falar do assunto. Eu só assenti.
De alguma forma eu me sentia confortável em conversar com Nicolas.
- Eu estava disposta a desistir da minha faculdade dos sonhos para ir com ele.
- Que sorte a sua que ele te decepcionou. - Ouvi o mesmo dizer, fazendo minha boca abrir com tamanha audácia. Ele estava tirando onda comigo? - Imagina sua decepção depois que você estivesse lá, brigassem, ele começasse a namorar outra pessoa e você estivesse arrependida por ter tomado a decisão errada. Nunca poderia voltar atrás.
Arqueei minha sobrancelha em sua direção e não me atrevi a retrucar. Até por que ele tinha razão, pensando da forma que ele estava colocando na minha frente, foi melhor assim.
Nunca me perdoaria futuramente ter desistido dos meus sonhos por um cara.
- É, pensando dessa forma... - murmurei baixo, depois de começar a olhar para o chão, sem coragem de olhar nos olhos dele.
- Existe sempre um lado positivo de uma história triste, Luna. - Senti sua mão sobre meu queixo, me forçando a encará-lo. Seu dedo fazendo um carinho no meu queixo enquanto me fazia olhar em seus olhos. - Nunca deixe que um fato do passado, assuma controle do seu futuro.