Capítulo 9- "Por Que"

2045 Words
Ao chegar no quarto, tiro minha roupa e coloco uma blusa desgastada que cobre metade da minha coxa, me jogo na cama e agarro o travesseiro com força. Ele me faz agir feito uma adolescente i****a e isso me deixa muito frustrada. Eu ao menos sei porquê fugi de lá, mas simplesmente não podia parecer indiferente com a ida dele. Eu sabia que alguma hora ele iria embora. E, pensei que com o tempo não me importaria mais. O problema é que me importo muito. É por isso que não conto sobre Ana Clara, se em menos de 24hrs minha filha já estava apegada nele, imagine se eu conto e ele tem que ir embora. Vai ser melhor assim, para os dois. Meus olhos começam a pesar e me permito dormir pensando no turbilhão de confusão que estava a minha mente. Acordei num pulo, assustada. Levantei e olhei no berço, Ana não estava lá, o que me deixou apavorada por alguns segundos até me lembrar que ela havia ficado com Amora na noite passada. Caminho até lá, batendo na porta do quarto e não obtendo resposta, entro devagar. Amora dormia toda esparramada na cama, mas minha filha não estava lá. Deve estar com meus pais. Caminho até a sala, mas lá também não tinha ninguém. Ao sair na varanda eu finamente a vejo, sentada no colo de Alessandro com uma mamadeira nas mãozinhas. Ela sorri quando me vê e eu me aproximo. - Oi amor da titia! - A peguei no colo, beijando sua cabecinha. - Vou te levar pra sua mãe.. - Giovanna? - Ele me chama quando já me virava pra sair, apenas viro os calcanhares e o encaro. - Ela é filha da Amora, certo? - Engoli em seco, fazendo que sim com a cabeça. - Ela e seu irmão.. - Eles não estão juntos. Na verdade, nunca foram um casal, mas meus pais gostam muito dela e ela é também minha melhor amiga. Ela e Guilhermina não tem nada uma contra a outra, convivem numa boa. - Quê? Eu só posso estar louca. - Ah sim.. - Deu de ombros. - Ela não quis mamar tudo, acho que está cheia! - Depois eu tento dar de novo! - Tentei parecer indiferente. - Com licença.. - Voltei a andar com Clarinha nos braços. - Giovanna? - Me chamou novamente e eu parei olhando-o. - Eu estou indo embora daqui a pouco. Será que eu poderia me despedir dessa princesa? - Eu assenti com a cabeça, colocando nossa filha em seus braços. - Você é a mocinha mais linda que eu já vi, sabia? - E como se entendesse o que ele diz, ela agarra seu rosto com as duas mãozinhas. E sem forças para encarar aquela cena, desvio meu olhar para a piscina. - Aah, você gosta da minha barba, princesa? - Ana solta um gritinho e ele gargalha beijando seu rosto. — Eu prometo voltar e deixar-te brincar o quanto quiser com a minha barba. Combinado? - Ele diz isso e sinto um aperto no peito. Ele não vai voltar! Pego minha filha de seus braços e me viro para ir embora. Sinto as mãos fortes de Alessandro me puxar devagar pelo braço e antes que eu perceba sua boca está no meu rosto, perto da minha orelha. Ele mantém seus lábios pressionados na minha pele por algum tempo e a droga das minhas pernas se tornaram gelatina. E para completar, eu o sinto respirar fundo. Como se quisesse guardar meu cheiro em sua memória. Alessandro se afasta e eu luto pra me manter de pé. Tenho certeza que meu rosto está num belo tom vermelho. - Tchau minha pequena. - Sua voz sai baixa e rouca. Sem esperar minha resposta ele se vira e vai. P.O.V Alessandro Três anos depois Eu não acredito que acabou. Depois de 3 malditos anos finalmente acabou. E agora que finamente voltei ao Brasil, tudo o que eu consigo pensar é em ver ela. Durante aquele final semana, à 3 anos atrás, eu pensei várias vezes em largar tudo, a vingança, todo medo e implorar seu perdão. Ela estava tão diferente.. sua personalidade, maturidade e até seu corpo. Giovanna conseguiu ficar ainda mais linda. Durante todo esse tempo, foi como se eu andasse no piloto automático. Tinha noites que a falta dela era tanta que chegava a me sufocar e eu sabia que não podia ficar longe pra sempre. Então decidi que não importavam as circunstâncias, eu iria voltar a lutar pra ter Giovanna de volta. A falta dela é algo que não consigo lidar. Eu me lembro como se fosse ontem a última vez que a vi. Ela estava com a sobrinha no colo e eu ainda consigo me lembrar do seu cheiro. Toda mulher que passou na minha cama durante esses três anos não me fez esquece-la. Nenhuma ficou sobre a minha pele como Giovanna ficou. Eu não me orgulho disso, mas essas mulheres serviram apenas como escape, uma atitude desesperada pra tentar esquecer a única mulher que amei. E agora que finamente estou de volta, não sei como agir, não sei o que fazer. Passaram três anos, ela pode estar noiva, casada, com filhos. Não, eu não quero pensar nisso... Só o pensamento de outro homem tocando ela, me deixa furioso. Eu sei..eu sei.. eu abri mão do direito de me sentir assim quando fui embora. Mas essa p***a é inevitável. Decido sair para esfriar a cabeça. Preciso esquecer essa bagunça por um tempo e só consigo fazer isso de uma maneira: correndo. Coloco uma calça de moletom, regata e um tênis. Vou para um parque próximo ao meu apartamento. Cheguei ontem no brasil e resolvi ficar no apartamento em que morei com Giovanna. Aaa, quantas lembranças eu tenho daquele lugar. Me lembro de tudo, desde a primeira panela de arroz que ela queimou, até a última vez em que nos amamos no chão da sala. O dia está lindo e tem várias famílias fazendo piquenique da tarde. O parque tem uma longa extensão de grama verde com poucas árvores em volta e um caminho feito com pedras para ciclistas e corredores. Começo a correr. Corro até meus músculos chegarem a exaustão. Tento me concentrar na dor do meu corpo pelo esforço físico, mas nem assim Giovanna não sai dos meus pensamentos. Nem mesmo a dor me faz tirá-la da cabeça e agora eu sei que,nada que eu faça é capaz disso. Eu sou como um viciado e ela é meu vício. Continuo minha corrida quando, de repente, ouço um gritinho agudo. - Bolota! - Olho para o lado para ver quem gritou e vejo um cachorrinho branco com pintinhas marrons correndo com sua coleira na boca e uma menininha dos cabelos cor de mel atrás. Ela tenta pegar o cachorrinho de qualquer jeito, mas ele se desvia e escapa das mãozinhas dela. - Bolotinha volta aqui! - Ela grita de novo. Sorrio com a cena e aproximo-me um pouco mais. A garotinha continua correndo atrás do cachorrinho com toda determinação. Ela é tão branquinha que suas bochechas estão vermelhas pelo esforço e para uma criança ela é bem determinada. Sinceramente, eu não sei porque ainda estou aqui, parado, olhando uma criança correr atrás do seu cachorro. A única coisa que eu sei, é que essa cena chamou a minha atenção e por algum motivo cessou um furacão que estava na minha cabeça. Talvez porque seja uma coisa tão simples, tão comum, mas que eu sei que dificilmente vou ter. As coisas simples da vida, não são para mim, não com o trabalho que tenho. Mas mesmo assim, sou um i****a egoísta que quer com toda as minhas forças Giovanna de volta. Mesmo que eu esteja 3 anos sem vê-la. Percebo uma bolinha de pêlos correndo em minha direção e se enrolando em minhas pernas. Então pego o cachorrinho no colo. A princesa se aproxima um pouco desconfiada, olhando entre mim e seu cachorro. Ela é tão pequena. Não deve ter mais de 5 anos de idade e é linda. - Obligada por pegar o bolota! - Ela estendeu os bracinhos. - Mas agola me da ele! Sorrio e entrego o cachorrinho nas mãos dela. Fico um tempo olhando para ela e começo a me perguntar onde está a mãe dessa criança. - Cadê a sua mamãe? - Pergunto preocupado. - Minha mamãe está me espelando lá! - Ela aponta com o dedinho para trás e depois franze a testa, fazendo uma careta. Acho que ela não sabe onde a mãe está nesse momento. - Entendi.. mas qual é o seu nome princesa? - Perguntei e ela novamente me olhou desconfiada. - Sua mãe está certa! - Murmuro. - E sua idade, ela deixa você contar? - Acho que sim... - Pareceu pensar um pouco e então levanta a mão com 4 dedinhos. - Mas você já é uma mocinha! - Exclamo e ela concorda com a cabeça. - Minha mamãe fala a mesma coisa.. - Ana Clara! Filha! - Alguém grita e a voz me parece dolorosamente familiar. Levanto o olhar e vejo Giovanna correndo em nossa direção. Seus olhos estão na menininha, mas assim que ela levanta os olhos e me vê, ela para. Mamãe? Ana Clara? E, de repente, tudo faz sentido pra mim, como um quebra cabeça que acabou de ser completado. Olho para Clara e depois para Giovanna e depois para Ana Clara de novo. Seus olhinhos pretos no mesmo tom que o meu...sua idade.. Não, não pode ser! Giovanna não fez isso comigo.. Então me lembro do final de semana com ela e nunca tinha entendido o motivo de ter ficado tão apegado naquela princesinha. Na época acreditava que Ana era mesmo filha de Amora, acho que fiquei tão cego que nem vi a semelhança que a garota tinha comigo. Ou talvez não quisesse acreditar que Giovanna era capaz de fazer algo assim e só existe um motivo para ela fazer isso: Ana Clara é minha filha. - Mamãe! - Ana corre para perto de Giovanna com o cachorrinho nos braços e fica perto dela. Ela se abaixa até ficar na altura da filha, prende a coleira no cachorro e depois coloca no chão. - O que eu falei pra você sobre sair correndo sozinha, Ana Clara? - Mas mamãe eu vim atlás do bolota! - Essa não foi a minha pergunta! - Eu nunca devo sair sozinha.. - Ana abaixa a cabeça fazendo biquinho e depois abraça Giovanna. - Desculpa mamãe.. - Tudo bem, meu amor. Só não faz de novo, a mamãe levou um susto enorme! - Ela diz e se levanta. Até agora eu não consegui falar nada e nem me mover, tudo o que eu fiz foi observar. Giovanna então se aproxima segurando a mão de Ana Clara. Nossos olhares estão presos um no outro e tem tanta coisa pra ser dita, mas nenhum de nós tem coragem pra dizer. Eu nem posso acreditar que ela escondeu esse tempo todo de mim. Eu não sei como ela teve coragem. - Mamãe você conhece esse moço? - Ana pergunta olhando para mim. E meu peito se enche de um sentimento novo, um sentimento puro, verdadeiro. Eu tenho uma filha. Um anjinho que Deus me deu de presente. - Sim filha.. - Giovanna responde. Olho para Ana e sorrio. Tudo o que eu quero é pegar ela no colo e nunca mais soltar, recuperar todo o tempo que eu perdi por causa de uma mentira. - Por quê? - É a única coisa que consigo dizer. - A.. Alessandro.. eu.. - Gagueja, negando com a cabeça. - Não venha me dizer que ela não é minha fi... - Ela me interrompeu antes que eu terminasse a frase. - Eu não vou! - Afirmou, parecia nervosa. - Mas aqui não é lugar pra essa conversa e muito menos na frente da minha filha! - Fala. - Eu vou ligar pra Amora vim pegar ela e aí vamos para meu apartamento! - Não, ela vai com a gente! - Rebati. - Não, não vai. Isso não é o tipo de conversa na qual ela esteja acostumada. Então vamos somente nós dois! - Pegou o celular no bolso do short que usava. - Vou ligar pra Amora!
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