LINCE

2905 Words
Alguns dias antes do casamento num lugar próximo ao morro do Dendê Lince Depois de ter uma noite fudida ao lado da Bruna, Flávio desperta ouvindo som da sua voz de gralha que ele odiava, mas que era obrigado a suportar para conseguir que seus planos e de seu "papai" dessem certo. Bruna era a peça fundamental desse quebra cabeças e Flávio precisava dela para se aproximar do seu maior inimigo sem levantar sequer uma suspeita. Mas, isso seria por pouco tempo, pois logo ele encontraria uma maneira muito carinhosa de se livrar do seu amorzito. Há... e como teria... — Flávio! Flávio! Amor! No próximo final de semana acontecerá o casamento do meu irmão com aquela insuportável da Geovanna, ele me convidou. Mas como estamos juntos agora, você vem comigo né? — Bruna dizia toda sorridente pulando no pescoço de Flávio que levanta no meamo instante da cama redonda do motel onde estavam — Claro! Tô contigo e não abro. Já te disse que tu és a minha tábua de salvação Bruna, se não fosse por você minha vida não estava nesse rumo e muito menos conseguiria o que tanto desejo. — Flávio responde a abraçando com um sorrisinho maléfico de planos sendo perfeitamente executados Alguns dias se passaram e tudo aos olhos de Bruna continuava perfeito. Flávio havia alugado um kit net bem no centro da cidade e lá vivia sua vida dupla ao lado de Bruna. Para ela tudo estava incrível e do jeito que sempre havia sonhado. Ela havia encontrado o homem ideal que a amava, a respeitava e oferecia tudo o que ela precisava. Era incrível a sintonia do casal de pombinhos, mas o que ela não conseguia enxergar é que o perfeito nunca existirá e que se devemos desconfiar até da nossa própria sombra, imagine confiar de olhos fechados num príncipe encantado que bateu na sua porta do nada pedindo ajuda por estar sendo perseguido por criminosos. Flávio era um homem lindo, moreno, tatuado, estatura mediana em torno de 1.90 de altura, forte, corpo bem trabalhado por horas de musculação intensa, olhos claros e uma boca capaz de enlouquecer qualquer mulher. Realmente ele parecia o homem perfeito até então, porém numa manhã nublada de uma quinta-feira Flávio recebe um telefonema que lhe revelou impiedosamente a pior notícia de toda sua vida. Que o seu pai, segundo ele, seu herói havia morrido nada mais nada menos do que num confronto entre inimigos do tão sonhado morro da Rocinha. Naquele momento ele se deixou tomar pelo ódio, ira e rancor. Ali a vida de contos de fadas da Bruna começaria a desmoronar de vez, dando lugar ao pior mundo onde ela poderia entrar, o inferno. Flávio estava numa viagem no interior do estado do Rio de Janeiro para pôr seu plano em prática, mas nunca imaginou que seria tão rápido assim. Imaginava que ao menos teria mais algum tempo ao lado do seu pai, para ouvir seus conselhos e o caminho que deveria percorrer para enfim alcançar os seus planos tão desejados. Que era de se tornar o único chefe do comando da tão desejada favela da Rocinha. Se antes Flávio respirava e sobrevivia somente para satisfazer os desejos de seu pai, imagine agora depois de sua morte. Ali ele se tornaria ainda mais impiedoso do que o próprio Pantera. Ao receber essa notícia de que seu "herói" havia perdido a batalha isso fez com que o copo de whisky que estava em sua mão estraçalhar no mesmo instante espalhando pedaços se vidro por todo o chão daquele quarto 4x4 de um motel que havia na beira da estrada. Levantou se arrumando as pressas, pois na manhã seguinte já estaria sepultando aquele que segundo ele sempre mereceu a sua consideração, e a partir daquele momento encerraria de vez todo o seu sentimento de humanidade, que por sinal já era nulo, dando lugar somente ao ódio e ao sentimento que o faria mover sua vida de agora em diante, a vingança ou justiça, assim como ele insistia em dizer. — Para onde vamos Flávio? — Bruna questiona levantando da cama assustada pelo barulho do copo e o que Flávio fazia ao se arrumar — Aconteceu um imprevisto e preciso fazer uma viagem urgente Bruna. — Flávio diz sentando na beirada da cama calçando suas botinas pretas — Mas, e o casamento? Você virá? — ela responde se levantando — Sim! Agora mais do que nunca farei questão de ir com você e conhecer de perto toda sua familia. Mas, antes preciso resolver algumas pendências e logo te encontro para irmos juntos. — ele diz pegando sua bolsa e jogando sobre a cama abrindo retirando a sua Taurus G3c colocando nas costas e cobrindo com sua jaqueta de couro — Não sabia que você usava armas Flávio. Nunca me contou nada à esse respeito. Aliás você nunca me contou nada sobre sua vida. — Bruna questiona erguendo as sobrancelhas — Existem muitas coisas sobre as pessoas que nunca conheceremos, mas tudo o que precisa saber ao meu respeito você já sabe meu amor. Sou o homem ideal para você e que vai mudar a sua vida por completo. Te dando a oportunidade de ir para um lugar muito melhor do que esse que vivemos. Quer algo melhor do que isso? — Flávio dizia segurando o maxilar de Bruna levemente e lhe dando um beijo — Não! Com você me sinto a mulher mais feliz e amada desse mundo. — Sei disso minha querida. Então não tem porque se preocupar, vou te deixar em casa e amanhã nos encontramos para enfim irmos ao tal casamento. Tudo bem? — Tudo bem. Eu te espero. — Bruna levanta se arrumando e colocando nas costas sua mochila preta que havia ganhado do seu amado com o pouco de roupa seguindo Flávio que nem ao menos olhava para trás Ali Flávio agia naturalmente com Bruna, como se nada de errado estivesse acontecido. Afinal, ela ainda seria muito útil para seus planos e podemos dizer que se tornaria a peça chave para conquistar algo muito maior, a cabeça do LC. Manhã do dia seguinte no cemitério do Caju O dia estava nublado e garoava à todo instante. Flávio olhava para o céu que estava cinzento e tão sem vida quanto a sua alma. Seus olhos sempre foram brilhantes e muito chamativos. Por essa razão e por seu olhar clínico era conhecido por todos como Lince. Mas, naquele exato momento seus olhos ficaram cinzentos, escuros e tenebrosos. Seu corpo era somente escuridão e seus pensamentos piores ainda. Um padre se aproxima com a bíblia nas mãos e toca no corpo de Flávio sentindo um arrepio dos pés a cabeça, o que o fez se benzer no mesmo instante. — Meu filho... Será que posso rezar pelo seu pai? — Rezar?? Que p***a é essa que tu está dizendo velho??? Desde quando vocês rezam ou oram por assassinos? Porque era isso que meu pai era, um assassino. — Todos temos o livre arbítrio meu filho, mas se no último suspiro nos arrependemos de todo coração de nossos erros ainda podemos ser salvos. — O padre dizia colocando a mão sobre o ombro de Flávio que o segura com toda violência curvando o braço do mesmo para trás o fazendo cair no chão — Sai já daqui com esse papo ou te mostro o inferno de perto padreco. Nada disso existe e muito menos acredito que temos alma. Some da minha frente ou te jogo dentro de uma dessas covas ajudando um pouco o tem Deus a se livrar de um velho como você. — Flávio vira os dedos do padre com tanta força que quebra no mesmo instante — Que Deus te perdoe meu filho! — Tô mais pra ter assunto é com o demônio. Tá afim de mandar ele pra cá não, PADRECO???? — Misericórdia... Sangue de Cristo tem poder... — O padre se benzia várias vezes e saiu em disparada para fora do cemitério Flávio voltou sua atenção para o lugar de onde, segundo ele, nunca deveria ter tirado, ou seja: a cova do seu herói. — Aqueles desgraçados vão pagar muito caro pela sua morte papai. Eles não sabem com quem se meteram. Serei mil vezes pior do que o senhor foi, sua morte não ficará impune, nem que eu tenha que vender a minha alma pro capeta, cramunhão, demônio e todos os seus, mas vingarei cada gota do seu sangue. EU JUROOOOOOO... — as últimas lágrimas escorriam por trás dos seus óculos escuros modelo Ray Ban RB 3025, enquanto o ódio de Flávio somente crescia — Flávio já chega! Ele não está mais entre nós. Para quê sofrer dessa maneira? Já perdemos nossa mãe e agora o nosso pai que nem ao menos conviveu direito conosco. Para com esse sentimento errado de vingança. Isso só irá nos causar mais sofrimento e dor. Ainda temos nossa tia Mia e o tio Yuri, podemos nos mudar para São Paulo definitivamente e tenho certeza de que eles nos aceitariam. — Safira segura no braço do irmão que estava de joelhos debruçado diante da cova do pai — Nunca! Ouça bem Safira: Nunca descansarei enquanto não vingar a morte do nosso pai. Ele pode não ter convivido com a gente, mas sempre deu tudo o que precisávamos. Ou tu acha que todo esse luxo que está no teu corpo caiu do céu? Não p***a! Tudo veio do dinheiro sujo banhado de sangue dos inocentes que você tanto defende, veio do inferno e você sempre adorou ostentar. Agora depois que ele se foi é como se nada disso tivesse sentido ou valor pra você. — o ódio e o rancor das palavras de Flávio eram mais do que evidentes e isso deixava Safira aterrorizada — Flávio... meu irmão... como pode dizer essas coisas? Eu sempre amei todos vocês até mesmo o nosso "pai" que nunca fez questão de conviver conosco. Ele só aparecia pra trazer dinheiro e te ensinar o que não prestava. Ele te moldou a imagem e semelhança dele, e você se tornou esse monstro, frio e perverso que só trouxe sofrimentos para nossa mãe. Já chega de tudo isso. Será que não se cansa de tudo o que temos vivido e ainda por cima deseja cometer mais perversidades? — Safira dizia tais palavras com lágrimas nos olhos — Se não está satisfeita com o que está vendo é só ir embora daqui Safira. Nunca precisei de ninguém ao meu lado, muito menos uma fraca, otária e inútil como você. Saia daqui e me deixe como eu sempre estive durante toda a minha vida, sozinho com os meus demônios. — Não vou te deixar sozinho! Você é meu irmão, meu sangue e eu te amo. — GUARDE SEU AMOR PRA VOCÊ E PARA O SEU NOIVINHO DE MERDA! SAIA DAQUI! SAI DAQUI AGORA SUA ESTÚPIDA! SAI DAQUI! SAI AGORA! ME DEIXE COM MINHA DOR, MEU SOFRIMENTO E MINHA MONSTRUOSIDADE. NÃO SOU UM MONSTRO???? UM DEMÔNIO???? ENTÃO DESAPAREÇA E APROVEITE PARA LEVAR COM VOCÊ A SUA FILHINHA ANTES QUE ELA MANCHE O CORAÇÃO E SE TORNE UM LIXO COMO O TITIO AQUI. — Não coloque a Kim e o Léo nessa conversa que só diz respeito à nós dois. Eu não disse essas palavras tão duras Flávio, você está se deixando levar pelo rancor e pelo ódio. Foi só isso que eu disse. Mesmo que doa ou te machuque, mas essa é a verdade. Esses sentimentos errados estão te levando somente para um lugar, a destruição. E eu não irei continuar aqui para ver como você irá se destruir pouco a pouco e muito menos deixarei você destruir mais uma inocente para conseguir seus objetivos. Direi toda a verdade sobre seus planos para a Bruna e tenho certeza que ela te desprezara assim que descobrir toda sua sujeira. Nesse momento Flávio levanta com todo ódio que existe dentro dele segurando com uma mão a garganta de Safira a levantando acima de sua cabeça e a empurrando contudo em cima de uma sepultura que havia próxima ao túmulo do seu pai. Ele a encarou de uma maneira como nunca havia feito antes deixando Safira tão amedrontada a ponto de urinar ali mesmo na frente do irmão sem nem ao menos conseguir controlar. — Pra minha desgraça você tem o meu sangue e somos realmente irmãos. E meu juramento antes de entrar pra seita é de nunca derramar o sangue dos meus, mas por outro lado meu lema é destruir todos aqueles que se colocarem no meu caminho impedindo o meu objetivo que é destruir aquele desgraçado. Se você abrir essa tua maldita boca e contar qualquer coisa a quem quer que seja te mato sem pensar duas vezes. Mas, antes procuro a Kim e a mato na sua frente, antes é claro dela ser estuprada por vários homens. — Seu desgraçado... deixe a minha filha em paz. A Kim nunca soube de nada do nosso passado e muito menos sobre o falso avô. Para ela ele morreu à anos e assim deverá permanecer. — Flávio a segura com mais força empurrando suas costas de uma só vez no chão de pedras portuguesas — A Bruna é uma isca que me levará de uma só vez ao início da minha justiça, que tu insiste em chamar de vingança e serei implacável com qualquer bosta que se colocar no meu caminho. Isso inclui você, a Kim e o teu noivinho de merda. Entendeu maninha? — Ele diz dando vários tapas no rosto de Safira deixando o mesmo completamente marcado Sem conseguir dizer sequer uma palavra e com o rosto completamente inchado por quase ser asfixiada, Safira somente consegue com muito sacrifício mover a cabeça em sinal de positivo e Flávio no mesmo instante a solta fazendo com que ela bata as costas na quina do túmulo o que a faz gritar de dor segurando com uma mão as costas e com a outra o pescoço completamente marcado tossindo sem parar. — Você está completamente louco se pensa que irei te ajudar a conseguir esse maldito plano. Irei para longe com a Kim e você nunca mais saberá de nenhuma de nós. Ouviu Flávio? — Longe? Como? Se você não tem um centavo nesse teu bolso. Há não ser que você faça o mesmo que a nossa mãe sempre fez, se vender pelo primeiro ordinário bêbado que aparecer pelo caminho. — Não fala assim da nossa mãe. Você não passa de um maldito desgraçado mil vezes pior do que esse homem que você tanto venera e insiste em chamar de pai. — Ele é o meu pai e sempre será o meu pai. Se não fosse por ele ter nos tirado da rua junto com a nossa mãe ainda estaríamos jogados por aí nos prostituindo para sobreviver ou talvez até mortos. Você é uma ingrata desgraçada que sempre gostou de cuspir no prato que come. Mas, você não me conhece de verdade Safira e tenta aprontar alguma para ver se não cumprirei tudo o que digo. — Realmente eu não te conheço, ai dentro e nos teus olhos não existem nada do meu irmão Vinho que sempre brincava comigo e me protegia de todo m*l. Ai só existe o Lince, uma obra maligna daquele maldito demônio. Por culpa dele você virou isso e odeia um homem sem nem saber o real motivo de como tudo aconteceu. — O que eu sei é que o meu pai morreu pelas mãos desse maldito do LC e isso já basta para odia-lo; além de destrui-lo em mil pedaços. — Sempre ouvi nossa mãe dizendo que o teu pai sempre teve inveja desse LC por apesar dele ser quem é sempre ter tido o amor das pessoas e ser querido pela comunidade. Além de ter uma força maior que sempre o protege de tudo. E você ainda acha mesmo que pode fazer algo com esse homem que nem sabe quem é? Desista enquanto pode meu irmão ou você poderá terminar muito pior do que o maldito homem que você chama de pai. Safira se levanta caminhando em direção à Flávio na tentativa de lhe dar um abraço e fazer o irmão voltar a si. Mas, novamente ele a empurra com tanta brutalidade a fazendo bater a cabeça na quina de um mausoléu. Safira cai desmaiada em volta de uma poça de sangue causada pelo ferimento. Flávio se ajoelha diante do corpo da irmã e passando a mão no seu sangue coloca o mesmo na boca olhando para o alto. — A sua morte será vingada PAPAI e o próximo sangue que será derramado e irei experimentar com gosto é do maldito que fez tudo aquilo com o SENHOR. A hora daquele maldito CHEGOUU... Os céus que estavam limpos naquele instante foram tomados por nuvens cinzas e fortes trovoadas, além de uma ventania sem explicação. Parecia que alguma força sobrenatural estava concordando com aquelas palavras que Flávio tanto esbravejava. O tempo que estava perfeito deu lugar a uma chuva forte, insípida e pesada. Flávio se levantou do chão caminhando em direção à saída do cemitério deixando a sua irmã caída do chão enquanto o seu sangue escoava em volta de todos aqueles túmulos. Ele entra em seu carro n***o que já o aguardava na saída e pega o telefone no bolso da sua calça de linho preta dando uma única ordem ao seu fiel Abutre: — A CAÇADA COMEÇA HOJE!
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD