Madrugada após o casamento coletivo na fazenda
O casamento havia acontecido há poucas horas, mas pelo que parecia, à festa duraria até o amanhecer. Esse seria o tempo exato e mais do que suficiente que Flávio teria para iniciar o seu plano de destruição contra o seu "inimigo" LC.
A cada gole que fingia dar em seu copo de whisky conseguia ver tudo o que estava acontecendo à sua volta .
Com isso observou que havia uma movimentação estranha entre os casais, principalmente com o seus cunhadinhos.
O que estava acontecendo era que os bebês de Geovanna e BN viriam ao mundo naquele exato momento, logo após seus pais contraírem o matrimônio. E essa foi a deixa perfeita para que Bruna e ele se retirassem sem sequer serem notados.
Lince tinha tudo perfeitamente planejado em sua mente perversa e sequer perdeu um segundo para pôr todos os seus planos em prática.
Segurou a mão de Bruna fortemente a fazendo derrubar o último gole da champanhe que bebia junto à sua mãe Cláudia. Parece que a partir desse momento o belo conto de fadas havia terminado. O belo príncipe virou um terrível sapo e a bela carruagem uma grande abóbora.
- Ei! Quanta grosseria. Que modos são esses de segurar a mão da minha filha? Exijo que a solte no mesmo instante seu grosso. - Cláudia dizia segurando no braço de Lince que não perdeu tempo a segurando na cintura e fincando seus dedos pontiagudos no centro da sua coluna a fazendo derrubar a taça no chão no mesmo instante
- Nunca mais ouse tocar no meu corpo senhora. Já ouviu àquele velho ditado que se diz: que em briga de marido e mulher ninguém deve meter a colher? Responda! Já ouviu? — Lince perguntava friamente enquanto cravava ainda mais seus dedos nas costas de Cláudia que gemia de dor
- Si... si... sim.. - Cláudia respondia com dificuldade por tamanha dor que estava sentindo no meio da coluna
- Está tudo bem aí minha amiga? Algum problema? - Joana pergunta observando uma movimentação estranha e lágrimas nos olhos esbugalhados da amiga
- Veja lá o que vai responder sogrinha, ou caso contrário sua filha sofrerá as consequências em breve. - Lince sussurra em seu ouvido a fazendo engolir a saliva e responder à Joana no mesmo instante
- Está tudo bem amiga. Só bebi um pouco demais e acabei derrubando a taça. Muita felicidade para uma só noite. Ainda mais agora que Laurinha e Biel estão à caminho. - Cláudia dizia acenando e Joana segue seu caminho ao lado do seu esposo Ricardo
- Boa menina... assim que eu gosto das mulheres: submissas, tranqüilas, leais e domaveis. Foi um prazer conhecê-la sogrinha, mas já chegou a nossa hora de ir embora. Se despeça da sua mãe Bruna e aproveitem muito bem os seus últimos minutos juntas.
- O que você quer dizer com isso Flávio? ‐ Bruna o questiona franzino o cenho
- Para quem é um bom entendedor uma vírgula já é o suficiente para mudar todo um contexto e para que a pessoa compreenda o sentido da frase. Mas, uma pessoa estúpida como você demorará um pouco mais ou talvez nunca compreenderá bem as coisas. Teria muito prazer em ensina-la com palavras, mas acredito que as atitudes que irei tomar em breve valerão muito mais do que mil palavras querida. — dizia segurando sua cintura e apertando firme
— Realmente você está muito estranho Flávio. Nunca agiu assim comigo antes. Está acontecendo algo que ainda não me contou? A Safira até me ligou antes de sairmos de casa, mas não entendi nada do que ela dizia, a única coisa que pude ouvir foi: cuidado com ele. Você sabe de quem ela estava se referindo? —
Bruna o olha buscando alguma justificativa pela sua mudança, mas só consegue encontrar mais questionamentos, além de uma atitude bruta e grossa por parte do seu "amorzinho"
— Com certeza estava falando do noivinho dela. Aquele dali não dá ponto sem nó e vem aprontando uma atrás da outra. Só que a ingênua da minha irmã enxergou isso tarde demais. — Lince dizia tragando o seu charuto cubano enquanto olhava em direção à Cláudia que estava com calafrios com a sua presença
— Ah! Então deve ter sido sobre o Léo mesmo, mas sempre achei ele um rapaz muito simpático e que ama sua irmã de verdade.
— Querida aprenda uma coisa: nem tudo o que reluz é ouro. Ou seja, nem tudo o que parece ser realmente é. Agora vamos logo que já perdi muito tempo aqui com você e temos um assunto muito importante para tratar com o Abutre.
— Abutre? Quem é esse Flávio?
— JÁ DISSE QUE CHEGA DE PERGUNTAS! ANDA LOGO QUE NÃO TENHO MAIS TEMPO A PERDER GAROTA!
— Bruna... por favor não vá minha filha. Seu irmão logo estará de volta e você conhecerá seus sobrinhos em breve.
— NÃO SE META EM ALGO QUE NÃO LHE DIZ RESPEITO. JÁ LHE DISSE PARA FICAR QUIETA COM A MAIOR EDUCAÇÃO, NA PRÓXIMA MOSTRAREI QUE NÃO ESTOU AQUI A PASSEIO. ENTENDEU SOGRINHA? — Lince sussura no ouvido de Cláudia, mas dessa vez pressionou seu cotovelo com tanta força na sua cervical que fez a mesma cair ajoelhada de tanta dor
Bruna tentou ajudar a mãe, mas como ela poderia fazer algo que ela mesma estaria precisando em breve? Naquele momento seriam a suas últimas horas com os olhos abertos, daquele caminho em diante as trevas tomariam conta da sua vida por completo e ali seria um caminho de ida sem volta.
Há não ser que Bruna se arrependesse de tudo antes do fim, mas isso era praticamente impossível. Pois em sua mente tudo o que ela já fez ou continua fazendo era somente por amor, mas esse amor infelizmente só existia na sua imaginação.
— VAI... ENTRA LOGO NESSE CARRO E FICA QUIETA. JÁ CHEGA DE OUVIR A SUA VOZ. SERÁ QUE AINDA NÃO PERCEBEU QUE TODA ESSA PALHAÇADA DE AMORZINHO ACABOU?
Lince dizia enquanto abria a porta do seu carro e jogava Bruna com toda força do lado do carona, fazendo com que ela bata a cabeça no teto do mesmo causando uma dor terrível que a fez gemer e chorar no mesmo instante.
Enquanto sentava no banco do carona ligava para o seu "amigo" fiel Abutre, afim de saber se tudo estava no esquema para que a sua estrelinha pudesse começar a brilhar.
Ligação On
— Tudo certo Abutre? Já estou à caminho! — dizia olhando para Bruna caída no banco de trás do carro
— Tudo no esquema Lince. Já arrumei todo o material e toda ação será registrada como você pediu.
— Nada pode dar errado. Aliás não teremos duas chances para filmar. É agora ou agora. Entendeu seu merda?
— Quando eu errei ou vacilei contigo nessa p***a? Não sou nenhum merda. Vê lá como tu fala comigo nesse c*****o. Não é porque tu é o chefe que pode me humilhar desse jeito cumpade. Sou sujeito homem e não dou essa liberdade pra ninguém tentar me esculachar, nem mesmo pra você irmãozinho. Tá achando o quê, que tô na mão do palhaço p***a?
— Ai, ai, ai, ai, ai... Ficou nervosinha santa? Dá um tempo com essa tua viadagem de pagar sentimento que comigo isso não rola p***a. Segura os trancos ai que logo chego com nossa estrela preciosa para começar o show. Né gatinha!? — Lince fala piscando o olho para Bruna que não parava de chorar
— Não seria mais fácil ter dado um fim nesse cara durante a festa e deixar a gostosinha da mulher viúva antes das núpcias? Ou tu vai dizer que não teve oportunidade?
— Oportunidade tive e muita, e mesmo se não tivesse eu criaria cara. Mas, esse desgraçado tem que sofrer e se arrepender por tudo o que fez com o meu pai. E a morte seria muito fácil pra ele, e eu não vim nesse mundo pra facilitar a vida de vagabundo nenhum. Sacô? Sou Lince, fiz meu nome, meu legado e não sou bagunça nesse c*****o de mundo.
— Tem certeza que esse tal sujeito matou mesmo o teu pai cara? Pode ser um engano Lince e poderíamos ter uma aliança com ele pra fortalecer nossos negócios. Ele conhece os maiores e melhores fornecedores de coca do país. Já pensou no lucro que nós teria se aliando a um sujeito desses amigão?
— Engano é o c*****o, tá defendendo o maldito porque? Tu se bandeou pro lado deles Abutre? Não faz eu começar a desconfiar de você cara, porque na primeira oportunidade arranco tuas penas com meus dentes e te jogo no matadouro. Lá preciso me juntar a um merda desses pra ter lucro. Se liga Abutre, ou tua cabeça logo vai rolar. Entendeu p***a? — Lince dizia com a voz imponente
— Não tá mais aqui quem falou cara. Estressadinho pra c*****o você hein... e ainda tá perdendo um ótimo negócio por conta dessa tua cegueira. Tem um vulgo f**a, mas que não tá sabendo como usar. Cê tá louco. Depois não diz que ninguém te avisou a merda que você está fazendo.
—Tu vai ver o que é ser louco e fazer merda quando eu chegar aí. Afia muito bem a catana que não pode ter erro e tu sabe muito bem o porquê cara.
— Já disse que está tudo no esquema cara. Tu já avisou o Condor da seita pra se juntar a nós?
— Ela tá na boleia do meu carro e com uma gana do c*****o pra tomar a bebida dele cara. Sabe que ele nunca dá as caras, mas nesse momento único e raro ele não poderia faltar.
— Sei bem como tudo funciona. Quer ensinar o conto pro vigário agora nessa merda?! Já avisei os moleques pra fazer a segurança nos quatro quarteirões e depois a limpeza fica por conta deles.
— Será como se o canto da estrela nunca tivesse existido. Logo tô aí cumpade e fica na atividade porque se algo dê errado será a tua cabeça que vai rolar no lugar. Sacô?!
Ligação Off
Lince desliga sem dar chances de Abutre sequer responder e isso só fez aumentar ainda mais o ódio que existia dentro dele o fazendo esbravejar depois de estraçalhar a garrafa de cerveja contra a parede do local onde estava.
— Esse filho da p**a como sempre achando que é o chefão e pode me tratar como se fosse um lixo. Mas, ele não perde por esperar, porque o meu momento vai chegar e também não terei piedade dele.
Abutre dizia tais palavras após desligar o celular esmurrando a parede várias vezes até fazer o sangue jorrar pelas suas mãos.
O seu ódio por Lince pelo modo grosseiro e com desprezo que ele sempre o tratou era visível. Esse seria um dos grandes motivos de todo o seu ódio e Lince tinha um grande inimigo diante dele há muitos anos, mas sequer percebia.
Talvez assim como sua irmã Safira dizia: seus olhos estavam fechados para certas coisas que estavam estampadas bem na sua frente e que ele não queria ver ou o ódio não permitia.
Abutre enfaixou as duas mãos para esconder os ferimentos causados pelo seu excesso de fúria e logo em seguida terminou de preparar todos os equipamentos num quartinho que eles alugaram um pouco distantes da comunidade do Dendê.
Eles eram homens vividos e Lince jamais cairia no erro de executar uma ação dessas no seu território. Seria audacioso e perigoso demais para os seus planos futuros. Se fizesse tudo como sempre fazia seria muito fácil de descobrirem quem ele era e isso era o que menos desejava.
Mas, todo serviço sujo ficaria como sempre nas mãos de Lucio ou Abutre como preferia ser chamado nesses momentos. Lince somente ordenava e Abutre como um servo fiel executava seus planos mais loucos sem sequer pestanejar. Agora, até quando ele toleraria tudo isso, aí que estava a questão. (...)
"As rosas podem crescer nas favelas, assim como as ervas daninhas podem crescer nas mansões."