Capítulo 5

1409 Words
O restaurante na entrada é repleto de luzes de LED que fazem o contraste com a parede vermelha que desenha a entrada de degraus, que dão acesso ao segundo andar do local que é mais badalado. Assim que subimos, avisto minha irmã logo ao lado do DJ, acenando à nossa espera. O local é pequeno, tem predominância de cor preta e as mesas vermelhas trazem personalidade. A pouca luz e uma música agradável e animada como fundo fazem o local ficar aconchegante. Possui algumas poucas mesas que ficam espalhadas pelo salão e um balcão atrás de um bar, onde também pode-se pedir seus diversos drinks. — Para uma quinta-feira, até que está lotado — Alice fala olhando ao nosso redor. — Nas quintas-feiras eles possuem um cardápio diferenciado, assinado por um chefe muito bom — respondo. — Achei que tinham desistido de vir — Veronica resmunga quanto nos cumprimenta. — Não foi culpa minha. — Alice levanta as mãos. — Culpa exclusiva minha e de minhas planilhas — minto, demorei mesmo me recompondo do choro após a mensagem do Samuel. Eu sequer li os relatórios ou analisei as planilhas que tinha que checar. — Já pediu algo? — pergunto enquanto olho a carta de vinhos que está na mesa. — Não tomo vinho há um bom tempo, então deixei para vocês escolherem. Um garçom se aproxima de nós e sugere um rótulo que ainda não conheço, e nós aceitamos a sugestão. — E aí? Como você está se sentindo com tudo isso? — Alice pergunta assim que o garçom se afasta. — Ela tomou cinco garrafas de vinho ontem, sozinha. Ou seja: ela está na merda — Verônica responde. — Você é uma fofoqueira! — resmungo. — Ah, qual é, sabe que não temos segredos! — Alice fala. Respiro fundo. — Estou com raiva deles dois e estou apreensiva com o futuro da Rapunzel no exterior — respondo um pouco incomodada em falar sobre o assunto. — Fala logo que está p**a da vida com essa merda toda. Fala um palavrão, grita, sei lá. Tenha alguma reação mais explosiva para colocar a raiva para fora — A Verônica fala. — Não vai resolver e nem adiantar. Prefiro manter o foco no que fará a empresa prosperar — respondo de forma seca. O garçom nos serve o vinho, o provamos e aprovamos o rótulo. Brindamos enquanto o garçom se afasta. — Não vai adiantar, mas deve aliviar algo em você — Alice responde. — Só sentirei alívio quando exportar meus produtos e for líder de uma só vez no mercado. Verônica revira os olhos. — Ela só fala em trabalho. — Não posso reclamar, ela é minha chefa. Rimos juntas, deixando um pouco a tensão que se instalou em mim. As meninas começam a falar de problemas e conquistas pessoais, a conversa flui com satisfação. Rimos, fofocamos e de repente seis garrafas de vinhos vão embora sem que notássemos. Só notei mesmo quando percebi que estávamos em pé, dançando e cantando alto: Girl wanna have fun, da Cyndi Lauper, em uma versão remixada e bem animada que o DJ colocou. Provavelmente nós três passamos do nosso limite, mas estou me divertindo muito e não me acanho em exagerar na performance junto a elas. A música acaba e decido ir ao banheiro que fica nos fundos laterais. Ando dançando a nova música que começou a tocar, realmente a noite hoje está divertida! Assim que passo pelo balcão que fica de frente para bar, escuto: — A Stra. Rapunzel está animada hoje! Me viro da direção da voz de imediato, me chama atenção a voz grave do homem que se sobrepõe a música e ao barulho natural do local. Quando me viro, encontro um homem alto, forte, barba baixa que desenha um rosto com angulações retas, cabelos levemente bagunçados e sem uma forma muito definida, olhos claros, mas devido à luz baixa do local, não consigo definir muito bem qual a cor, só sei que eles brilham muito e me parecem ser intensos. Sou atraída de imediato pela intensidade que ele carrega na voz e no olhar. E não posso deixar de afirmar: ele é lindo demais. Tenho a ligeira impressão que o vi em algum lugar, mas não consigo o reconhecer de imediato, o que é intrigante, ele é lindo demais para passar despercebido de onde for que gente se conheça. — Achei que aqui, eu estaria camuflada, mas, pelo visto, fui reconhecida — brinco me aproximando dele. Ele sorri e..., p**a merda! É ainda mais lindo. Um sorriso largo, lábios carnudos emoldurando um alinhamento perfeito. Seus olhos estão fixos nos meus, diferentemente do que vejo normalmente em outros caras. Geralmente os olhos percorrem o meu corpo, para depois se fixar em alguma parte, sendo bem comum nos meus s***s. Mas ele não, ele não move os olhos, como se tivesse achado em mim o que há de mais precioso. — Você jamais se camuflaria, Stra. Rapunzel. Sinto meu rosto esquentar, não costumo ficar envergonhada com elogios, mas, sei lá, ele me olhando dessa forma está me intimidando. Eu preciso tomar as rédeas da situação para voltar para minha zona de conforto. Estou acostumada a ditar as regras e quem quiser que e adapte a elas. Estico uma das mãos na direção dele para apertar sua mão em um cumprimento mais formal, mas inclino o ombro mais que o necessário; quero que ele desvie os olhos como todos os homens fazem, para voltar a ter controle do flerte. Meus cabelos longos e loiros também se inclinam na direção dele, algo aqui precisa fazê-lo perder o foco do que o está atraindo e me deixando sem jeito. — Prazer, me chamo Lorena. E você? Ele sorri de novo e sinto borboletas voadoras surgirem na minha barriga. Seus olhos não seguem o meu comando, em contrapartida estou eu olhando cada detalhe dele. Tudo bem diferente do comum, o que me deixa ainda mais intrigada com esse homem. Quando as nossas mãos se tocam, sinto como um choque elétrico me fazendo arrepiar por inteira. Com certeza tem relação com a bebida excessiva de ontem e hoje, juntas. Que loucura tudo isso! — Danilo! Puxo minhas mãos com delicadeza. Estou um pouco nervosa e fora da minha zona de conforto. — Vem sempre aqui? — pergunto o investigando para descobrir de onde posso conhecê-lo. — Não! Estava morando fora há alguns anos e voltei recentemente para um compromisso familiar. Olho para os lados e vejo minha irmã e minha amiga quase subindo na mesa para dançar, me lembrando que não estou sozinha hoje. Quando volto meus olhos para ele novamente, o vejo bebendo uma taça de vinho sem tirar os olhos dos meus, mais uma vez determinado a nem sei o quê, mas definidamente ele está me deixando sentir algo diferentemente e bom nas mesmas proporções. — Com o que você trabalha? — pergunto. Ele sorri, dessa vez como se estivesse debochando, e desvia os olhos dos meus olhando para o teto ao mesmo tempo que morde levemente os lábios com provocação. Isso me irrita, mas também me atrai, porque é bem sensual. Está na cara que ele irá mentir ou me fazer de i****a, conheço essa expressão nos homens. Já vi bastante quando duvidaram de mim em algum plano ousado que tive para conquistar algo na Rapunzel. Provavelmente ele deve ser algum concorrente meu e por isso, eu tenho essa sensação de ter o conhecido antes, por isso esse deboche repentino. — Bom, atualmente estou sem trabalho. Eu gargalho, porque sei que ele está mentindo e é um i****a em achar que eu possa cair nesse papo furado. — Entendi. E eu sou uma fada madrinha! Qual o seu pedido hoje? — pergunto com ironia. Ele gargalha e o deboche vai embora. Ele realmente está se divertindo comigo e eu estou ficando com raiva desse cara. — Infelizmente o desejo de hoje não poderá ser realizado. — Ele olha no relógio de pulso que é de grife, eu reconheço a marca de longe; o Samuel é colecionador de relógio, então sei muito bem o quanto de dinheiro que ele está carregando no pulso. — Tenho hora para ir embora! Amanhã, quem sabe, eu não consiga um emprego?! — Deveria então me pedir um emprego, já que é algo que você tanto deseja — continuo com ironia. Ele se aproxima mais de mim e vai em direção ao meu ouvido. — Eu desejo outra coisa!
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