Capítulo 2

2100 Words
Para minha surpresa, o Samuel fez uma cópia da festa do meu último lançamento da Rapunzel Fortificada, que aconteceu dias após eu divulgar as imagens da traição dele. Sei que se eu estalar os dedos, ele volta para mim e sei que hoje ele irá me atingir de diversas maneiras, por isso, em minha imagem tentei fazer o mesmo. Estamos os dois em uma guerra onde as armas são ocultas, afinal, tanto eu quanto ele somos viciados em trabalho e jamais iríamos nos expor, ou expor nossas fragilidades ao público e perder nem que fosse centésimos. Sinto meu coração acelerar quando identifico os buquês de rosas pendurados na entrada e ramos de orquídeas entrelaçados em cada detalhe da festa. Ele sempre escolheu as cores suaves e eu as cores fortes, e o contraste dessas cores na festa me fazem lembrar de nós dois. Engulo seco na garganta, fecho os olhos me recompondo e coloco como foco o meu objetivo de estar aqui. Sorrio e aceno para os flashs que surgem, enquanto desfilo deslumbrante por um tapete vermelho escolhido por mim em nossa última reunião no escritório da Ristretto. O lançamento era assinado pela Rapunzel Fortificada, mas a Ristretto iria entrar com uma coparticipação e a festa iria celebrar o início de nossos caminhos juntos. No fim, a festa celebrou apenas a minha vitória em ver o Samuel ser crucificado por todos os jornais de fofoca na cidade por sua traição, como sua a chamada de uma das notícias: uma traição de toda uma cidade. —Não acredito que a Srta. Rapunzel veio à festa de noivado de seu ex-noivo! — Um repórter me aborda com essa pergunta previsível. Eu sorrio e respondo com o máximo de simpatia que consigo: —O Samuel se tornou um grande amigo, e a Nicole é uma menina encantadora. Somos parceiros de negócios e desejo toda felicidade ao casal. Saio com simpatia de imediato do local e entro definitivamente na festa, que como eu planejei no passado, tem luzes piscantes como se fosse uma balada. Tudo aqui me lembra nós dois: flores, decorações, equipe de cerimonialista, tudo igual como planejei e ele acompanhou tudo de perto. Sinto meu estômago se revirar e percebo que estou prestes a chorar. Nunca admiti isso, mas me arrependo muito de ter entregado meu sonho a Nicole. Respiro fundo e sinto o cheiro da Ristretto em todo lugar, eles possuem uma fragrância doce que é única que patente deles. Aqui, tudo sou eu e ele misturados. Me pergunto onde está a Nicole nesse ambiente, talvez só na raiva de minha ação precipitada no passado. Não demoro a encontrar colegas que me cumprimentam, além de integrantes da família Ristretto. Sou simpática, sorrio, gargalho de algumas piadas sem graça, mas a todo tempo procuro o Samuel na festa. Quando o encontro vindo na minha direção, usando um smoking preto, cabelos com muito fixador para trás e olhos azuis fixos no meu quadril, algo que ele venerava, sinto meu estômago revirar, uma espécie de nervosismo misturada com saudades. O cumprimento com um beijo na bochecha, faço questão de encostar meus lábios em sua pele macia. Ele sorri nada surpreso com minha presença, com certeza sabia que eu viria. — Que bom vê-la novamente, princesa do cosmético, Srta. Lorena, CEO da Rapunzel Fortificada. — Estou feliz em poder estar com você em um momento tão icônico, Sr. Ristretto Júnior. — O tom de ironia o faz levantar as sobrancelhas com concordância. Então percebo que sua futura esposa está logo ao lado dele observando cada detalhe da minha produção, e vejo quando suas sobrancelhas elevam em surpresa ao notar o meu colar. Ela usa um vestido branco sem graça e que facilmente se confundiria com algum pano de mesa qualquer. Não que ela fosse estilosa ou tivesse um bom gosto, mas imaginei que o estilista da família Ristretto ousaria em tentar transformá-la em algo mais interessante. O que me chamou atenção foi que ela não usava nenhuma das joias da família, algo que a Ristretto tinha como tradição. — Usou a toalha que costuma cobrir a mesa de jantar da casa, querida? — sussurro em seu ouvido enquanto a beijo com muito deboche no rosto, como cumprimento. — A mesma toalha que usei para me limpar depois que você nos flagrou transando — ela responde. Ela sorri forçadamente e dá um gole em seu champanhe, engolindo a raiva que sente a me ver. Eu sou uma ameaça real para seu relacionamento e ela sabe disso. Eu e o Samuel estamos separados porque decidimos assim, mas não é por falta de — volto os meus olhos novamente para ele e o vejo incrivelmente lindo — desejo. Um fotógrafo pede para que nos juntemos para tirar uma foto, e óbvio que fico ao lado do Samuel. Inclino meus ombros para que a minha manga bufante tenha ainda mais destaque na imagem e já imagino as matérias nos jornais nos dando destaque, enquanto a toalha de mesa se tornava insignificante. Outras pessoas vão cumprimentar o casal e eu saio discretamente de perto deles. Pego uma taça de champanhe que está sendo servida e vou para um local mais discreto do evento. Preciso recompor minhas energias, aquele teatro todo me deixou sem muito ânimo para continuar a noite e eu sabia que ainda tinha muita coisa a acontecer. O que sinto pelo Samuel é o que mais se aproxima do amor que tanto minha irmã fala. Pensamos igual, temos sonhos parecidos e sinto um desejo fora do comum por ele. Sempre me pergunto se escolher a omissão, como fiz diversas vezes, não teria sido melhor. Minha irmã sempre me diz que eu explodi como uma panela de pressão porque não aguentava mais partilhá-lo com outras pessoas. Talvez seja isso, ou talvez por sentir raiva da Nicole ter sido a minha melhor amiga na infância e ter entrado na Ristretto por minha indicação, tendo em vista que eu precisava de alguém da minha confiança em um cargo dentro da empresa durante a transição de nosso enlace empresarial. Minha estratégia era usar a Nicole a meu favor, porém o que aconteceu foi que na verdade ela me usou para chegar até onde queria. Solto o ar forçadamente dos pulmões, tentando não me abalar com o que vem surgindo em meu coração. Mais pessoas vão ao meu encontro, pessoas conhecidas do ramo, conheço novas pessoas e até consigo firmar algumas pendências comerciais que estávamos tendo dificuldades. Nada como um momento de descontração para fechar bons negócios. Tiro muitas fotos, suspeito que após o Samuel, eu seja a pessoa mais comentada da festa e não é só pela minha produção. Meu celular toca e vejo uma mensagem da Verônica, me afasto novamente dos holofotes para ler a mensagem e recarregar minhas energias. “Você é a notícia mais badalada em todos os sites de fofoca da cidade. Acho que conseguiu o que queria. Outra coisa, que p***a de vestido feio é esse da v***a? Todos os sites estão criticando a escolha dela.” Eu sorrio e respondo: “Me mande prints das principais matérias. Não quero perder nada.” — Você consegue superar sua beleza a cada dia. — O Samuel se aproxima de mim, falando. Eu guardo meu celular na bolsa novamente, estico a mão com a taça de champanhe e ele toca seu copo de uísque, fazendo um leve brinde. Fazíamos muito isso quando conseguíamos juntos algum bom negócio. Costumávamos celebrar tudo juntos. — Achei que você iria reclamar da minha bolsa — falo com ironia a mostrando. Ele não faz a careta que fazia como de costume quando a via. Bebe o uísque lentamente, observando os detalhes da minha produção, até que seus olhos se fixam no colar que ele me deu. — Esse colar é incrivelmente lindo, e em você ele ganha um brilho especial. Eu bebo o champanhe lentamente, da forma mais sexy possível. — Acho que o vestido consegue arrancar mais suspiros do que um simples colar de diamantes de tradição familiar, que ganhei de um certo noivo. Ele olha ao redor buscando fotógrafos, e ao perceber que estamos longe dos cliques, se aproxima ainda mais de mim. — Não vai pegar bem você tão próximo de mim, bem no dia do seu noivado. Você já tem escândalos demais em suas costas envolvendo noivas — falo com tom de ironia enquanto levanto as sobrancelhas. — Se arrepende de algo, princesa? — De exatamente nada, querido! Ele sorri de novo e diminuí ainda mais a distância entre nós dois. — Sabe que se você quiser, é só estalar os dedos que eu volto em um segundo. Inclusive agora, se você quiser, torno essa festa nossa em segundos. É só você querer. — O que faz você achar que eu iria aceitar isso? Seus dedos tocam levemente meu ombro desnudo e sobem na direção do meu rosto. Seu toque, seu perfume, sua presença tão perto de mim me desnorteiam e eu fecho os olhos. — Princesa, tudo em você me diz isso. Só faça isso e finalmente iremos assinar o contrato com a Rapunzel Fortificada e exportar seus produtos como você tanto deseja. — Acha que só através da Ristretto, eu irei conseguir isso? — pergunto ainda com os olhos fechados. Sinto agora seu hálito quente bem próximo a minha garganta, o que me faz gemer quase que de forma imperceptível, exceto para ele, que sobe lentamente até a minha boca e agora apenas alguns centímetros separam nossos lábios. — Do que depender de mim, princesa, você só vai alcançar esse objetivo se for junto a mim. Abro os olhos, e mesmo com ele tão próximo de mim, avisto atrás dele um pequeno flash e pronto: consegui o que queria nessa festa. Passo a língua lentamente por meus lábios os deixando molhados, e os olhos deles acompanham cada movimento da minha boca. — Qual o seu objetivo aqui hoje, princesa? Ele agora me imprensa entre a parede e o seu corpo, sinto a rigidez de seus músculos, sinto seu coração disparar tão forte quanto o meu. Eu não me movo, simplesmente porque preciso pousar como intimidada por ele, apenas por isso, porque na verdade o desejo que tenho agora é estalar cada parte de meu corpo em busca do que ele está me oferecendo, e não é só sobre importação de meus produtos. O flash continua a surgir. — Te provar que vou conseguir sozinha com a Rapunzel Fortificada, chegar aonde a Ristretto nunca chegou. Ele me beija, eu o retribuo por alguns segundos, tento ao menos satisfazer um pouco da falta que ele faz em mim. Sua boca molhada, seu sabor doce com se desse sabor ao perfume da Ristretto, seu toque macio me fazem quase me perder no propósito de estar aqui, mas o flash surge de novo, me fazendo voltar ao presente, eu o empurro delicadamente e o flash surge mais uma vez. — Você um dia vai me perdoar? — ele pergunta enquanto ainda me observa com os olhos explodindo de desejo. — Só enquanto eu respirar, eu ainda vou te odiar, querido. Ele sorri de novo e faz o inesperado: me beija novamente. E apenas pela foto, eu o empurro. Ele quando se afasta de mim, ajusta o smoking, bebe o uísque e fala se despedindo: — Eu preciso ir, tenho um noivado para oficializar. Ele se afasta enquanto eu organizo meus pensamentos e acalmo minha respiração. Tento encontrar de onde os flashs vieram, tento achar quem foi o fotógrafo que conseguiu flagrar a cena que eu tanto planejei para hoje. A cena que eu iria publicar nos sites de fofoca, a cena que arruinaria a imagem da empresa mais uma vez, a cena que arruinaria o noivado de forma definitiva. Uma foto com uma enorme responsabilidade na minha vingança e no meu objetivo como empresária. Pego o celular e começo a pôr em prática o que planejei para essa noite que acabou de forma memorável, muito antes do meu esperado. “Algum fotógrafo registrou o Samuel me beijando. Descubra quem é o fotógrafo, antes que ele seja obrigado a apagar a foto. Pague o valor que for necessário a ele, mas consiga as fotos que ele tirou nossa.” A Alice, minha melhor amiga e gerente marketing, responde: “Ok. Já vou acionar a equipe de mídia para a gente descobrir quem foi. Mas, p**a merda, como foi isso?” “Bom de um jeito que nem consigo descrever.” “O beijo foi bom?” “Não, a foto ficou muito boa e foi tirada muito antes do planejado por mim.”
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