Assim que Christian saiu para trabalhar eu me senti melhor ao constar que estou completamente sozinha, sem Gail ou Taylor, eu não estou disposta a encenar na frente dos empregados que eu estou bem quando obviamente estou quebrada, como vários cacos no chão, que por mais que você os pegue sempre irá ficar algum pedaço no chão, sempre irá ficar resíduos do que um dia ele já foi.
Ainda estou no sofá, apenas minha respiração leve é ouvida. Logo que disse que podemos tentar Christian sorriu para mim, levantou, deu um leve beijo em meus lábios e foi se arrumar para mais um dia de trabalho.
Não sei quanto tempo faz que estou estática sentada, como uma escultura de mármore. Levanto-me lentamente e vou em direção ao quarto de casal, abro o closet, afasto minhas roupas e no fundo pego a caixa que está guardada a mais de três anos ali.
Quando conheci Christian.... parecia que a vida estava sorrindo para mim, eu me considerava sortuda. Eu larguei meu sonho, pois queria ser uma boa esposa, e no final eu amava e ainda amo mais Christian do que meu sonho, eu desisti para ter uma vida ao lado dele, eu desistir por que... por que queria uma vida tranqüila, cheia de risadas e passos de crianças correndo pela casa, eu vi um futuro criado na minha cabeça, mas era apenas na minha cabeça que estava, queria saber que tipo de futuro Christian imagina.
Festas beneficentes, sexo, almoços em família, dias tranqüilos em casa e viagens? Esse é o futuro que ele quer?
Abro a tampa da caixa e encontro meus cadernos e partituras.
Ao abrir o primeiro caderno encontro letras de musicas que eu comecei mas nunca terminei. Pego a caixa, o caderno e até o piano de Christian.
Acho que estou enferrujada, faz muito tempo que não toco, é Christian que o usa mais, normalmente no meio da noite ele toca melodias tristes, ele faz isso desde que o conheço, desde a primeira vez que dormi aqui.
Abro caderno e vejo a primeira letra, ela está inacabada, ela apenas tem uma estrofe com treze versos.
Começo a cantar e lentamente meus dedos começam a dedilhar a teclas, o som entra em sintonia com a musica fazendo com que eu esqueça toda a minha dor.
Paro assim que os versos acabaram, pego meu caderno, o lápis e começo a escrever os próximos versos, começo a escrever o que eu sinto.
Eu não quero ficar sem você, amor
Eu não quero um coração partido
Não quero respirar sem você, amor
Eu não quero ter esse papel
Eu sei que amo você mas me deixe dizer
Eu não quero amar você de nenhuma maneira, não não
Eu não quero um coração partido
Eu não quero ser a garota de coração partido.
Derramo minha dor e mágoa no papel, as palavras vão fluindo rapidamente.
Você diz que tem o maior respeito por mim
Mas as vezes eu sinto que você não me merece
E ainda assim você está no meu coração
Mas você é o único
E sim, há momentos em que eu odeio você
Mas eu não reclamo
Porque eu tive medo de que você fosse embora
Oh, mas agora eu não odeio você
Eu estou feliz em dizer
Que eu estarei lá no final do dia
Não sei quanto tempo se passa, provavelmente horas que estou derramando meus sentimentos no papel. Horas e horas derramando minhas angustias, e quando vejo a musica está pronta, e novamente começo a dedilhar meus dedos pelo piano pela primeira vez depois de horas cantar a musica inteira.
Você é tudo o que eu achava que nunca seria.......
Começo a cantar, conforme a musica progride começa a soltar-me mais e deixo meu coração falar.
Há uma coisa que eu sinto que preciso dizer
Mas até agora eu sempre tive medo
Que você nunca chegasse perto
E ainda assim quero botar isso pra fora...
Minha voz fica cada vez mais alta, canto com paixão, fecho meus olhos deixando a musica fluir pelo meu corpo, e mesmo não olhando as teclas eu toco perfeitamente.
Deixo as musica e a melodia me levarem, nesse momento a musica é o melhor remédio que eu preciso, ela me faz esquecer a dor, meu coração bate forte como se não estivesse vivo esses anos, a cada palavra, frase, ele dispara, como se reconhece a falta que eu sentia de me sentir viva.
A ultima frase sai da minha boca, meus dedos dedilham as ultimas teclas e respiro profundamente recuperando o fôlego, por que afastei a musica por tanto tempo? Sou tão i****a, ela é o melhor remédio contra a dor.
Levanto do banco e abaixo a tampa do teclado, olho para frente reparando que já está escuro do lado de fora, não acredito que passei o dia inteiro compondo, o tempo passou rápido, por mim ainda seria tarde.
Guardo meu caderno na caixa e coloco a tampa de volta, viro para trás e encontro Christian sentado no sofá olhando com uma expressão indecifrável, então toda a dor volta, ela apenas esteve anestesiada por algumas horas.
– você estava linda, faz muito tempo que não há vejo cantar – sorrio, não é um sorriso falso, é sincero, tudo que se trate de musica me faz sorrir.
– faz muito tempo mesmo, mas não pretendo parar agora.
– eu apenas toco, mas eu poderia tentar compor algo com você – fico surpresa.
Christian compondo?
– eu adoraria – ele puxa minhas mãos e dá um beijo que retribuo, ao separarmos ele puxa minha mão, abre a caixa, pega o caderno e sentamos ambos no banquinho do piano, e ali apesar de tudo fico feliz, estamos fazendo algo verdadeiro juntos, algo que da-me esperanças de que algum dia Christian possa me amar.
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Assim que Christian entra no banho meu celular começa a tocar insistentemente.
No avisar aparece o nome e a foto de Grace.
– olá Grace.
– Ana querida, está tudo bem?
– sim.
– bem, queria perguntar se você falou com Christian, tenho um netinho a vista?
Sua pergunta é como um baque para mim.
Até alguns minutos atrás eu pude esquecer tudo que anda rodeando meu coração, e essa pergunta apenas me trouxe de volta a realidade.
– Anastácia?
– ainda não falei com ele Grace – minto, não me lembro uma única vez nesses três anos que menti para minha sogra – não tive a chance, Christian anda muito ocupado, quase não o vejo,nesse momento ele está dormindo, mas como o aniversario dele esta chegando....- começo tentando achar uma desculpa – acho que vou conversar come ele sobre esse assunto no aniversario dele, assim que a festa terminar.
– ohhh sim! Uma ótima idéia Anastácia, um filho seria o melhor presente – concordo cansada desse assunto, apenas está me deixando deprimida – como o aniversario de Christian é daqui a duas semanas Grace eu gostaria de pedir um favor.
– qualquer coisa querida.
– queria que improvisasse um palco, quero cantar uma musica para ele.
– isso é lindo Anastácia, tenho certeza que Christian irá amar.
– espero que sim, mas não diga nada sobre isso.
– minha boca está fechada.
– obrigado Grace.
– de nada, tenha uma boa noite Ana.
– para você e Carrick também.
Assim que desligo e coloco o celular na mesinha Christian sai do banheiro com uma toalha enrolada na cintura.
– quem era? Estava ouvindo você falar com alguém.
– Kate acabou de me ligar, queria saber se eu poderia sair amanha, mas disse que tenho coisas para fazer.
– e você tem? – indaga curioso enquanto vai para o closet e deixa a toalha cair no chão.
Sua b***a redonda e dura aparece no meu canto de visão e afasto meu olhar. Eu não quero ser tão fraca.
– sim, vou visitar as crianças no hospital.
Ele veste uma cueca e bermuda e volta-se para mim.
– tenho que começar a ir com você.
– concordo – Christian diz que não sabe amar, mas sei que seu coração não é de pedra, ele ajuda muitas instituições tanto aqui em Seattle como no mundo inteiro.
Ele ajuda todos os hospitais aqui em Seattle, pois o própria diz que tem muito dinheiro e precisa fazer algo com ele. E sempre que posso eu visito os pacientes com doenças terminais e as crianças, as pessoas que tem câncer.... isso me faz ver que a qualquer momento eu posso morrer ou ter uma doença, essa é a realidade da vida, nada é perfeito.
Seu celular começa a tocar mas Christian vai em direção ao banheiro.
– atende pra mim! – grita do banheiro.
Pego seu celular e clico em atender.
– alô? Christian? – uma voz feminina diz do outro lado da linha, essa não parece a voz de Ross.
– não, Anastácia, a mulher dele.
– hum... aqui é Leila, diga para Christian que adorei o almoço, principalmente relembrar os velhos tempos, peça para ele ligar para mim assim que puder – desliga na minha cara e fico chocada.
Christian sai do banheiro sorrindo, mas ao ver minha expressão ele entende que tem algo de errado.
– o que foi?
– quem é Leila? Que historia é essa de almoço e relembrar velhos tempos?
Ele pega o celular da minha mão e olha a tela e começa a passar as mãos pelo cabelo recém lavado.
– me diz que merda é essa Christian, pois eu já estou pensando muitas coisas com o que ela falou.
– Leila...- ele para como se contando mentalmente – Leila é uma ex minha, a conheci bem antes de você, já faz muito tempo, ela veio hoje no meu escritório, e eu almocei com ela?
– por que você foi almoçar com uma ex sua Christian? Você tem uma esposa aqui, por que não veio almoçar comigo?
– apenas queria saber como ela estava Anastácia, não houve nada demais e nunca vai haver.
Não consigo mais acreditar em nenhuma palavra que sai da boca de Christian, não mais.
– eu estou cansada! – grito e Christian se espanta, eu nunca gritei com ele, mas estou cansada de toda essa merda – você diz em recomeçar? Esquecer?
– acalme-se – Christian diz.
– f**a-se Christian, você não vê o quanto esta me magoando? Primeiro ao saber que não sou amada e agora por ficar saindo com sua ex e relembrando o modo como vocês transavam, como vocês se beijavam, que mais vocês relembraram – ontem eu podia não querer chorar na frente de Christian, eu achava que era humilhação, mas estou tão cansada que não agüento mais, as lagrimas escorrem e olho parar Christian, quero que ele veja minha dor. Ele olha-me como se não acredita-se no que eu estou falando. Mas preciso tirar isso do meu peito – de uma hora para a outra minha vida mudou e você quer esquecer, você quer que eu esqueça enquanto fica saindo com putas por ai enquanto eu fico aqui igual a uma i****a!
– você está exagerando, não fiz nada! – ele tenta se manter calmo mas vejo que está se segurando.
– se não fez agora vai fazer em breve e eu vou ser a traída aqui – passo as costas da minha mão no meu rosto limpando as lagrimas – você apenas está me magoando Christian, por que você está me magoando? – pergunto com a voz sofrida.
– me desculpa, não foi minha intenção, não vou mais fazer isso, na verdade nem sei como ela conseguiu meu numero – eu cedi quando ele pediu para tentar de novo, mas não vou ceder agora, eu sou fraca quando se trata de Christian e isso está acabando comigo.
Viro-me para sair do quarto mas ele diz parando-me.
– vai dormir em outro quarto de novo? Estou cansado disso!
Viro-me, Christian nem ao menos está afetado pela minha tristeza.
– não, não vou dormir em outro quarto, vou dormir em um hotel, quero ficar o mais longe de você possível.
– Anastácia – grita enquanto saio, mas estou cansado de ceder tão facilmente para alguém que apenas me machuca.
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As crianças confortam um pouco meu coração doente.
Brinco e trato elas como se tivessem saído da minha barriga.
São tantas crianças no corredor da morte e me pergunto por deus colocou uma criança no mundo, para em seguida leva-la sendo que ela não teve nem a oportunidade de fazer parte da vida.
Canto musicas e as crianças cantam comigo, é tão mágico, como Christian pode não ver isso?
Levanto-me com uma criança de dois anos no colo, ela é quietinha e doce, levo-a de volta para mãe que sorri para algo atrás de mim, viro-me e vejo Christian com um buque de rosas brancas, pelo menos ele sabe que eu gosto de rosas brancas, me conforta um pouco....
As pessoas ali olham estranhos para mim, normalmente quem ganha flores sorri e da um beijo no namorado ou marido. Mas eu estou com uma cara de enterro, essas flores não fizeram nenhum efeito, elas não amoleceram meu coração, ele está sangrando e continuara assim.
Pego as flores e murmuro um baixo obrigada, saímos do quarto e vamos para o corredor vazio.
– não tem trabalho?
– tenho, mas você é mais importante?
Por que ele ainda continua mentindo?
– hum... – apenas murmuro.
– volta pra casa?
Eu quero voltar, mas não agüento mais, se eu voltar eu vou cair no fundo do posso, e eu ainda tenho amor por mim própria.
– te vejo no dia do seu aniversario – digo, ainda falta uma semana e cinco dias, isso me dará espaço para pensar e colocar meus pensamentos em ordem.
– Ana...
– não – vejo que ele iria tentar fazer-me mudar de idéia e cortei sua tentativa – te vejo no dia do seu aniversario. – saio andando deixando-o ali, não viro-me para olhar sua expressão.
Assim que chego na recepção olho para a enfermeira.
– pode mandar essas rosas para o quarto 203? – um menino de dezesseis anos com câncer terminal habita esse quarto, nunca consegui conversar com ele, o mesmo é muito fechado. Mas eu não quero as rosas e da-las é uma boa idéia.
E é isso que eu fiz.
Livrei-me das rosas.