Quem aquele rapaz pensa que era? Mas confesso que estava intrigada. Meu motorista estava cochilando no carro, então respirei fundo e fui até a igreja. Me benzi na entrada e caminhei até ao altar, lá estava ele de joelhos e me ajoelhei ao seu lado, queria saber o que ele queria comigo. Se realmente ele seria meu príncipe, embora eu confesse ele não saia de meus pensamentos.
— Olha só, a senhorita veio.
— Não seja t**o. Não vim por sua causa, vim para rezar e não lhe ver — Menti.
— Sim, e justamente se ajoelhou ao meu lado.
— Senhorita Sandra, quero deixar claro que se também for de vossa vontade eu gostaria de lhe conhecer mais, de sermos amigos e de possível algo mais. Creio eu que temos interesses em comum. — Declarava o rapaz.
— Eu agradeço o vosso interesse em minha pessoa, mas como já sabe eu tenho noivo e...
— Soube que foi a tua mãe que escolheu. Não gostaria de ao menos conhecer algum pretendente e poder escolher, decidir a própria vida?
— Não venha me pôr ideias na cabeça seu João. Sei de vossa fama de libertino que cai na noite, é um rapa...
— Shh!! Cuidado com as palavras, estamos na igreja.
Ele me olhava com aquele ar, aquele sorriso que vinha em seguida com um piscar de olho esquerdo. Meu olhar ficou semi fechado para ele e revirei os olhos.
— É insolente.
— É, eu sou. E você gostou pois caso contrário ja teria saído daqui.
Ele não estava errado.
— Desculpe o senhor conseguiu arrancar todas as palavras de minha boca.
— Fiquei da mesma maneira quando Clara me disse que negou o convite para o jantar.
Arregalei meus olhos e o encarei.
— Como... Espere, conhece Clara?
— Sim, eu tive um breve compromisso com ela.
— Oh meu Deus!
Claro! Victor, o nome dele era João Victor. Como sou boba. Dei um leve riso enquanto o olhava.
— Ela então escolheu o Joaquim?
—Sim, eu preferi assim. Melhor do que ela estar infeliz do meu lado.
— Respeitou os sentimentos e colocou a Felicidade dela em primeiro lugar. — Senti minha face aquecer e a respiração pesar. Oque estava havendo?
— A coordenadora do orfanato me falou bem de você, fiquei encantado com sua inteligência. — Gentilmente ele aproximou a mão sobre a minha e encostou a ponta de nossos dedos, senti meu coração acelerar enquanto o olhava e virei o rosto para o lado oposto.
Era a primeira vez que alguem elogiava meu intelecto.
— Agradecida... Meus pais sempre quiseram que eu aprendesse pra ensinar a meus futuros filhos.
— Eu admiro muito isso. Coragem também, olha, outro dia eu vinha da casa de um colega da faculdade, vi você distribuindo pão na feira. Porque faz isso, você nem conhece aquelas pessoas.
— Não preciso conhecer — viro meu rosto para o olhar, ainda tímida digo em um tom suave — não preciso conhecer ninguém para querer ajudar, sabe. Eu sempre tive tudo, e aquelas pessoas não tem nada. E quando eu morrer, quando você morrer não iremos levar nada do que temos, só poderemos aproveitar o que vivermos. Por isso porque não dividir? Porque não ajudar alguém que precisa?
Ele me olhava nos olhos, acredito que minhas palavras realmente o tocaram no coração e eu td há conseguido o mudar. Ele piscou e ficou me olhando admirado com a maneira que falava.
— Você está absurdamente certa.
Seus dedos entrelaçam aos meus e nossos olhos se cruzavam, mas nossos corpos continuavam longe um do outro.
Passamos parte da manhã nos conhecendo, e eu realmente descobri que tinha muito em comum com João do que pensava, Ele tinha uma visão do mundo parecida com a minha. Ele desejava que houvesse mais equidade entre homens e mulheres, e que pessoas com diferenças de raça não fossem discriminadas pois não eram inferiores ou superiores por isso.
João não era um homem religioso, diferente de mim que tinha a fé no peito, e de tanto conversar o dia passou e já estava quase na hora do almoço e eu tinha que ir embora.
— Já são quase onze horas, eu preciso ir. Mas... Eu quero lhe ver novamente João.
Eu me levantava com ajuda dele, meus joelhos estavam doendo pois havia passado tempo de mais naquela posição.
— Eu também quero lhe ver de novo Sandra. No sábado, na casa de Clara.
—Não posso, tenho um jantar com meu noivo. — Suspirei e abaixei a cabeça e mexi as pernas com dor nos joelhos.
— Na segunda então, o pai dela a de viajar. Domingo ele vai receber visita. E sábado de manhã vá a igreja, estarei lá com minha mãe.
— Eu estarei lá, seu libertino beijoqueiro.
— Beijoqueiro, eu? Oxe porquê?
— Hum Clara me contou que a beijou.
Digo em meio um riso e caminhando até uma janela da igreja que estava fechada e ele se aproxima a, enquanto estava de costa ele sussurrou em meu ouvido.
— E a senhorita gostaria de um também?
A respiração dele tocou em meu ombro e me causou arrepio no corpo, meu rosto é todo o corpo ficou quente e me afastei dele sem entender o sentimento estranho que se alastrava como uma chama em meu Corpo.
— Eu tenho que ir embora. — Murmurei tremula.
— Ir embora agora? quando está ficando bom.
Sua mão direita tocou sobre meu rosto, gentilmente o polegar massageou minha bochecha, quando vi fechei meus olhos e relaxei com o carinho. a ponta de seus dedos estavam a massagear meu rosto, meu corpo amolecia com aquele toque firme.
— Dona Sandra?!
A voz que era famíliar era de meu motorista, que havia nos visto, assim tão perto um do outro, e também tão vúneravel.
— Lasquei-me.
Me afastei de imediato de João e juntei as mãos para meu peito.
— E-e-e — Comecei a gaguejar, estava extremamente nervosa.
— O que está acontecendo? — Ele Pergunta olhando para mim e para João.
— Meu bom rapaz, sou João Victor de Moraes. Prazer! — Diz João se aproximando do motorista e estendendo a mão. fiquei confusa. o que ele pretendia?
— Inácio, sou motorista do seu Raimundo, pai de dona Sandra. Prazer. — Ele estendeu a mão de volta e se cumprimentaram.
— Ah mas que interessante.não sabia que a Sandra tinha um motorista. mas então, onde estava esse tempo todo?
— Ah eu estava dormindo, também trabalho de noite então fico muito cansado.
— Eu entendo, sabe Inácio você me parece ser um sujeito honesto. — João colocou a mão direita sobre o ombro esquerdo de Inácio e o olhou nos olhos.
— Eu sou, eu trabalho muito e não posso perder esse emprego. estou noivo da moça mais bonita desse mundo, e quero fazer ela feliz.
— Então, os pais de Sandra não podem saber que eu e Sandra estávamos conversando aqui na igreja.
— Claro que não, estão até obrigando a coitada a usar um véu. se souberem disso eu acho que não vão deixar deixar ela sair de casa.
— Então meu jovem! — João se escorou nele — Não conte nada, pois eu quero vê-la novamente.
— A, eu acho que estou entendendo. você gosta dela.
Os dois se olharam e começaram a rir, fiquei ainda mais confusa com a conversa dos dois. João então se aproximou de mim e segurou em minhas mãos.
— É muito cedo para falar que eu gosto, que sinto algo, mas, Se a sua patroa quiser me ver novamente, eu estarei sempre disponível para ela.
Fiquei em silêncio e fechei meus olhos, abaixando um pouco a cabeça, pois sentia meu rosto ficar quente, encolhia meus ombros. Ele segurou minha mão e deu um beijo. Ah! que vergonha.
— Dona Sandra, está aqui por vontade própria?
— Sim! — Respondi imediato — Eu... vim vê-lo por querer, também desejo ver o senhor João mais vezes, Inácio, lhe peço. não conte nada aos meus pais, e me ajude a vê-lo mais vezes.
— Dona Sandra eu posso esconder esse segredo de hoje, mas não posso ficar acobertando os encontros pois eu sei que se for descoberto eu perderei meu emprego.
— Não vai! —Diz João em um tom firme.— Eu tenho amigos influentes, arrumo um emprego para você caso isso aconteça, e até poderia ser motorista particular de minha mãe, um que vá onde ela quiser sem fofocar para meu pai.
— Você o ajudaria? — Perguntei — Sem nem o conhecer o ajudaria?
— Não preciso conhecer para querer ajudar, lembra? você me ensinou isso.
Meu coração pulou em meu peito, e naquele instante o olhei com extrema admiração por aquele homem, tinhamos muito em comum, mas saber que em poucas horas de conversa mudei seu pensamento havia me tocado.
— Está certo, mas... falar é diferente de fazer.
— Eu quero te mostrar que sou suficientemente capaz de fazer muito bem tudo aquilo que digo, senhorita Sandra.
Seu tom de voz era indecoroso, sua voz me trouxe uma energia estranha em meu corpo que me arrepiou até o último fio de cabelo. Aquele homem mexia comigo e meu coração.
— Eu lamento interromper. — Inácio falava, mas eu havia esquecido que ele estava ali. — mas senhorita Sandra temos que ir, e pensar em uma boa desculpa por não termos voltado cedo.
— Foi um prazer conversar com o senhor, João.
— Igualmente, senhorita Sandra, meu desejo é fazer que todos seus sonhos se realizem.
Em despedida ainda segurando minha mão ele beijou a superfície e se então me afastei dele, cobrindo meu rosto com aquele véu.
Inácio abriu a porta do carro para que eu entrasse, quando sentada coloquei a mão em meu pescoço, eu não conseguia deixar de sentir a respiração de João em mim, puxei o ar para dentro e encostei meus joelhos um ao outro, o atrito de minhas pernas se encostando era agradável com a lembrança.
— Senhorita Sandra. — A voz me tirou de meu sonho — A senhora está bem?
— Ah? Ah estou, estou. perdão. estou bem sim. eu só estava distraída.
— Então, o que diremos para vossos pais?
— Bom... diga que, fiquei... — Eu tinha que pensar rápido. olhei para os lados e vi que João estava indo embora a pé, pelo visto sua mãe havia ido embora e deixou sem transporte. — Ele é lindo.
— Sou mais eu. — Respondeu Inácio.
— Ah então. podemos falar que fiquei triste por não poder trabalhar mais no Orfanato, então você como é um bom rapaz me levou para passear em alguns lugares, E... Eu fiz uma promessa!
— Vish lá vem. que promessa?
— Que eu vou todo dia na igreja rezar um terço até o dia de meu casamento. e que Inácio iria me acompanhar. — Digo cruzando os braços.
Inácio se virou para mim e me encara.
— Endoidou? Mentir assim envolvendo santo?
— Avi, vejo problema nenhum, Pedro negou Jesus três vezes e foi o primeiro papa. Uma mentirinha leve Deus a de me perdoar. E, não estou envolvendo santo, apenas disse que prometi ir rezar um terço todos os dias e pronto.
— E porque eu tenho que vir junto?
— Porque meus pais confio em você, e o senhorzinho vai me acompanhar para eu poder me encontrar com o João.
Inácio se Benzeu e respirou profundamente.
— Ah meu corinho, meu coro tão novinho. Ô Dona Sandra,se teu pai descobre ele me capa.
— ''Capa''? — perguntei desconhecendo o termo.
— Castra. arranca meus ovos. me impede de fazer um menino.
— Eu ainda não entendi.
— Tira minha macheza, entendeu?
Comecei a rir e ele então passou a dirigir.
— Ele não a de Descobrir nunca.
— E ta bom, mas, como é que vai ser quando a senhora se casar?
Fiquei em silêncio enquanto Inácio ligava o carro e logo sorri.
— Não me casarei com Batista, se sim ficarei viúva.