Prólogo

817 Words
Maitê Martins Quando eu era apenas uma criança, o meu pai me ensinou dez lições que eu jamais deveria esquecer. Primeira, você não pode ter tudo o que quer. Então, se você não pode ter, encontre alguém que faça o trabalho sujo. Olhei ao redor da silenciosa e escura rua, seguindo cada passo de Rodrigo Santorini, o homem cujo fui contratada para m*tar. Ele seguia caminho para o seu apartamento luxuoso em uma periferia. Ele não era boa coisa. Então, pessoas como ele, deveriam ser m*rtas por pessoas como eu, dispostas a m*tar alguém em troca de uma boa quantia em dinheiro. Saco minha arma do bolso do meu sobretudo. Segunda, você deve sempre tentar de novo. O olhar desconfiado do homem de meia idade percorreu pela rua, me forçando a direcionar minha visão para a tela do meu celular. E, depois, tentar novamente abordá-lo. Terceira, você não pode agradar a todo mundo. Então, escolha ser temido. Aperto a arma em minha mão, buscando pelo momento certo para atirar nele. Quarta, você é responsável por aquilo que faz. Eu o mataria, sem um pingo de remorso. O meu pai me ensinou a jamais sentir piedade. Porque, neste mundo, ninguém sentiria de mim. Quinta, o dinheiro não soluciona todos os problemas. Mas te dá poder. Observo o homem falar ao telefone. — Eu falei pra aqueles merdinhas que eu quero a encomenda o quanto antes! Sexta, estamos sempre aprendendo com a vida. E o que eu aprendi: ou você pisa nos outros, ou eles farão isso com você. Sétima, o tempo cura (quase) tudo. O dinheiro que eu receberia por matar aquele homem, melhoraria a minha vida financeira por um bom tempo. Não precisaria mais viver na casa da minha mãe e ser humilhada. Oitava, ser respeitado é mais importante do que ser aceito. Santorini era um dos caras mais poderosos do país, mas o mais odiado. Nona, a vida é uma “montanha-russa”. Há dias que estamos no topo e outros que estamos na base. Santori hoje estava curtindo a sua vida, mas, amanhã, seria apenas uma trágica notícia no noticiário. E a décima. Para sermos felizes, devemos nos aceitar como somos. E eu aceitei ser uma assassina de aluguel. Aponto a minha arma em direção a Santorini, mas algo me surpreende, alguém surge das sombras de um beco sem saída e toma a minha frente, parecendo ter o mesmo intuito que eu. Matá-lo. Olhei para o homem de preto, enxergando apenas as suas costas, mas eu podia perceber que, igualmente a mim, ele apontava uma arma para Santorini. — Quem é você? — o foco da minha arma se tornou aquele desconhecido. Parecendo aturdido com a minha voz soar repentinamente atrás dele, o homem se vira, olhando para mim indignado. — E quem é você? — indagou perplexo. Não pude ver o seu rosto nitidamente por causa da luz fraca sobre nós do poste que iluminava a saída do beco. — Alguém que está tentando fazer o trabalho dela! ― respondo. — Eu também! ― diz ríspido. — Qual a sua? Cai fora, antes que eu atire na sua perna! — ameaço. Escuto um riso irônico. — Você nem tem tamanho pra me ameaçar ― debocha da discrepância entre nossas alturas. Ele retorna a sua atenção para Santorini. Não consigo esconder a minha expressão incrédula. — Quem você pensa que é pra falar comigo assim?! — C*ralho! Você pode ficar na sua?... M*rda! Um carro de polícia atravessa a rua, nos obrigando a esconder as armas. E, neste meio-tempo, foi o suficiente para Santorini entrar no prédio. ― Viu o que a sua intromissão fez? ― o lancei um olhar furioso. Ele se vira e solta um riso irônico. ― A minha intromissão? ― enrugou a testa. ― Aquele b*sta me deve uma grana. E eu vim fazer um acerto de contas. Mas, por causa da sua intromissão, eu perdi a chance! ― reclama. ― Estou aqui há mais tempo que você! ― Você pode estar aqui há mais tempo, escondido nesse beco, igual a um rato. Mas, eu, estou a noite inteira seguindo cada passo que ele dá. Esperando o momento certo pra matá-lo sem deixar rastro algum! E você, me atrapalhou! O desconhecido permanece com uma expressão sarcástica no rosto. O barulho de um carro se aproxima e em seguida estaciona próximo a nós. ― Antes de apontar uma arma pra mim... Tenta crescer alguns centímetros ― ele sorri cínico. A minha boca entreabre, chocada. ― Eu poderia atirar em você, agora! ― Sim, mas se vai esperar pelo “momento certo”, igual como estava fazendo com Santorini... Eu já terei ido embora ― pisca e entra no carro. Pude notar que haviam mais três homens além dele, o que me fez recuar. Travo o maxilar, vendo o carro seguir para fora da rua. Quem aquele m*rda pensa que é?
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