Cheguei na manhã seguinte no escritório e Lúcio me aguardava na porta da minha sala.
- Dia! - Cumprimentei demonstrando que o meu humor não estava dos melhores, pelos acontecimentos da noite anterior.
- Bom dia Emily. - Ele me acompanhou para dentro e esperou que eu me acomodasse.
- Quais são os pepinos do dia? - Fui direto ao ponto, sabendo que ele me daria informações que eu não ia gostar.
- Chegou um contrato oficial de investimento da B-Química… - Ele falou calmamente.
- Claro que chegou! - Falei mais para mim mesma do que para ele. Ele me estendeu o contrato e eu respirei fundo antes de pegar. - Ele é muito controlador, sério! - Exclamei e Lúcio sorriu.
- Emily, essa diferença entre vocês é só pelas informações que ele tem sobre o Sr White? - Olhei fixamente para o contrato nas minhas mãos antes de olhar para ele. - Desculpe se estou sendo inconveniente. - Ele falou em seguida.
- Lúcio, você já sentiu raiva gratuita de alguém? Do tipo que não tem muita explicação?
- Sim. - Ele respondeu.
- E como você lidou? O que você fez? - Ele queria entender, era essa a explicação que ele teria.
- Bem, eu me casei com ela. - Ele gargalhou e eu não pude deixar de sorrir. - Conheci a minha esposa na faculdade, e nos odiamos desde o primeiro segundo, sem razão aparente… Depois de dois anos descobrimos que isso nada mais era do que um sentimento bem diferente de ódio. - Ele me desarmou com a sua história, mudando o meu humor. - Estou casado há 10 anos e sou muito feliz. - Eu não sabia o que dizer. O que eu sentia pelo Marcone era desejo intenso e doloroso e raiva, muita raiva, por ele forçar a sua autoridade. E quanto mais autoritário ele era, mais desejo eu sentia. Era um ciclo sem fim.
- Estou te contando isso, porque sei que é uma mulher de opiniões fortes e determinada. E as suas opiniões podem estar ocultando a verdade por baixo dessa raiva gratuita que você comentou.
- Você está sugerindo que eu gosto dele? - Perguntei e ele riu.
- Eu te contei a minha história, que sim havia sentimentos envolvidos… Quem chegou à conclusão que eu sugeri isso, foi você. - O choque atingiu o meu estômago e eu não sabia mais o que dizer.
- Acho que você precisa revisitar as suas crenças, e nisso eu infelizmente não posso te ajudar. - Ele apontou para o contrato. - Precisa de tempo para pensar? - Eu neguei com a cabeça.
- Providencie os trâmites legais para cumprirmos os requisitos dele. - Ele assentiu. - Eu vou revisar e qualquer mudança que eu achar necessária eu te aviso.
- Marquei as mudanças que eu sugiro. Nada demais, apenas questões burocráticas. - Fiquei grata pela proatividade dele.
- Obrigada por isso. - Ele assentiu.
- Parabéns pela decisão. Imagino que não foi uma escolha fácil. - Eu não tive escolha, pensei comigo mesma. - Sua coragem nos levará a outro nível, Emily.
- Obrigada Lúcio. Por tudo. - Ele saiu da sala e me deixou com os meus pensamentos.
Tentei ler o contrato e foi impossível conseguir me concentrar. O questionamento entre linhas de Lúcio havia me aberto os olhos para uma possibilidade muito mais assustadora. Que ia além de desejos físicos. Eu estava completamente envolvida pelo meu novo sócio, e não era um envolvimento superficial como o que eu repeti para mim. Era além. Além do envolvimento que eu tinha com o Jonas, que envolvia um sex0 delicioso e uma afeição. Era maior do que só deixá-lo explorar o meu corpo e confiar que ele conhecesse a natureza das minhas vontades íntimas. Ter conhecido, visto e se deliciando na minha entrega a novas experiências… O contrato pareceu pesar 50 quilos nas minhas mãos quando o meu coração acelerou descompassadamente e eu me coloquei a imaginar uma relação a mais com o Marco. Uma relação de verdade. Envolvendo mais que os nossos corpos e gemid0s. Uma relação de parceria e cumplicidade. Me imaginei caminhando em direção ao altar e ele me aguardava sorridente…
- Você enlouqueceu Emily. - Falei em voz alta.
E então um misto de motivos para deixar de pensar nisso surgiram na minha mente. A decepção dos meus pais, o coração partido do Jonas, a fúria de Garcia e a destruição que cairia em cima das aparências da minha família. Porque eu ousei pensar em me envolver com outra pessoa que não foi a prometida para mim. A promessa que fiz para os meus pais, de casar com o Jonas, para o bem dos negócios e do nosso ciclo social, latejou como se fosse uma ferida física. Eu nunca me importei muito em encontrar alguém para amar. Isso nunca foi uma opção. Eu pensava, é claro, que após ter ficado tempo suficiente casada com o Jonas, para que a promessa fosse cumprida, eu poderia encontrar alguém, mas isso nunca foi o centro da minha vida. Eu nunca pensei que teria essa possibilidade agora. Eu nunca pensei que queria isso.
Amor era um luxo que eu não poderia ter. Não quando o futuro do legado White estava atrelado ao meu, e as minhas decisões resultariam na ruína de tudo o que eu conhecia como família.
A imagem de Marco sorridente me aguardando no altar ficou mais nítida na minha cabeça e eu quis que aquilo fosse possível com toda a força do meu ser.