1.

1926 Words
ISABELLA COLEMAN | OUTONO. Não conhecer a si, não apreciar o que você é em seus momentos e não ter respostas para os seus questionamentos internos, dá uma confiança absoluta à terceiros sobre o que você pode ser em uma mente alheia, vazia de conhecimento e cheia de achismo. Dito isso, vou lhes contar desde o começo do que poderia ser diferente: quando tudo foi decidido sem o meu consentimento e a confusão invadiu a minha vida, fazendo-me ser um Tornado Invencível. E desequilibrada. ─ De novo, Isabella? ─ Ele perguntou entrando no meu quarto branco de arquitetura moderna, projetado por ele e formalmente organizado. Em uma meia tarde de começo de outono e através da janela, as folhas secas dançavam um sútil jazz entre a ventania e a gravidade, até tocar o chão do nosso jardim. Eu não era capaz de ver o fim da sua jornada tão bem quanto ela. Meu pai era o tipo de galã de cinquenta anos que eu não fazia questão de tê-lo na escola, visto que minhas amigas sempre zombavam sobre sugar dating. Ele sabia do seu charme e usava ao seu favor. Tenho que confessar, era bem bonito e, se na sua idade e não fosse sua filha e soubesse os seus podres desde a minha vinda ao mundo, teria um interesse romântico e financeiro nele. Usava roupas sociais que, geralmente, vestia para reuniões de negócios e para decidir qual o próximo território iria colocar abaixo para construir um prédio moderno. Eram as suas preferências, talvez tivesse gostado de viver uma revolução industrial. ─ Foi só uma festa. ─ disse olhando para a tela do celular, exibindo a timeline do Twitter. Não foi exatamente só uma festa, mas não é mentira, continua sendo uma festa. Mas não só. Depende do seu ponto de vista. O meu é comum, ingênuo e nada exagerado, mas as pessoas costumam ficar espantadas com as minhas comemorações. ─ Você ficou de lingerie rebolando para os caras enquanto estava bêbada, Isabella. ─ não em um tom calmo, ele gritou. Senti pontadas agonizantes na cabeça com as suas palavras. Em flashes, via vagamente homens, beirando seus sessenta, sentados nos lounges vermelhos e estofados. Os olhares suculentos que recebia no meu corpo não parecia estranho e, com a ajuda do álcool, nada parecia novo. Lembro-me de rebolar nas pernas de todos eles enquanto "Você não é louca de me desobedecer. Se sair, Isabella, considere-se uma bastarda sem teto" ecoando na minha cabeça, vendo tudo girar, no ritmo da música e dos meus movimentos para aqueles idosos cheirando a cervejas e porco nas barbas sujas. Foram as últimas palavras do meu pai, no dia anterior. Ele me desafiou e sabe o quanto odeio ser desafiada. ─ Foi impulso, me desculpe. Não fiz por querer. ─ Ninguém te obrigou. ─ Ele disse alto, apontando o dedo para mim. Escutei, ao fundo das minhas lembranças, todos eles implorando, dando voz aos seus desejos, para me ver de calcinha. Pedi para o que, aparentemente, tinha mais grana, me pedir mais uma vez, gemendo baixinho. Ele o fez, causando-me náusea, mas o fiz. Pensava em quão louco meu pai ficaria com aquela cena, e como iria lutar para me cobrir e arrancar meu corpo nu daquele lugar sujo, o rosto vermelho de raiva e as veias saltando nos pulsos e no pescoço, dizendo para tirarem os olhares das minhas pernas despidas. Eu sorria quando imaginava uma atitude de pai preocupado em dezoito anos. Tirei as poucas roupas que usava, revelando a minha lingerie enquanto escutava comentários pejorativos que não me causavam excitação por saber que nenhum seria capaz de me satisfazer. Não era capaz de ser satisfeita no estado em que estava. ─ Se obrigasse, eu não iria reclamar. Para de ser dramático, está mesmo ficando ridículo! ─ Isabella, já é quase a décima vez que coisas desse tipo acontecem. Se pegam você bebendo, eu vou ter que pagar multa. ─ Ninguém vai saber, relaxa. É um segredo nosso, pai'zinho.. ─ forcei uma voz meiga e entojada, perguntando-me se estava mesmo preocupado comigo ou com o quão aquela multa mudaria sua identidade cidadã legal. Em um segundo, desfiz o sorriso forçado e voltei a mexer no celular. Sem muito interesse nesse assunto e na falsidade de sentimentos que envolvem a minha guarda. ─ Eu estou ficando cansado das suas atitudes! ─ exclamou com bravura e tirou o celular da minha mão em movimentos bruscos que mexeram com boa parte dos meus músculos, fazendo-me choramingar e sentar na cama, esperando o meu celular de volta, fazendo biquinho. É tão em vão alguém esperar seriedade da minha parte. Justo de mim.. Meu pai sabia disso, mas acho que ele é esperançoso. Falta ser realista e abrir os olhos para as redondezas. ─ Você está faltando às aulas e eu não vou permitir que repita mais uma vez por faltas. Isso é inadmissível. ─ Ok, não vai acontecer, papai. Agora, devolve o meu celular. ─ disse tentando pegar o celular sua mão em tons brincalhões, usando meus braços para isso, ainda sentada na cama mas ele esticou o braço, deixando ainda mais alto para que eu não conseguisse pegar. Era nítido que só um naquele cômodo estava se divertindo com a brincadeira. E eu não estou falando do senhor enrugado que não troca as meias de um vilão com a maior força temível concentrado no seu equipamento nórdico -e seus belos cabelos e músculos. ─ Tudo bem, já que não consegue me levar a sério ou ter um minuto de maturidade, vou ser obrigado a mandar você para um colégio interno. ─ O que!? ─ após segundos de silêncio e um olhar espremido, perguntei para ter certeza, gargalhando. Eu sempre fui uma garota levada e, falando sobre o meu pai, nunca fomos melhores amigos, mas não havia me passado que ele usaria da sua autoridade para me mandar para longe, quando eu esperava nada mais do que preocupação e cuidado paternal. É delírio ou o calor do momento, eu tenho certeza, também ficaria assim se precisasse lidar com adolescentes. Isso já aconteceu tantas vezes e tantas medidas foram tomadas. Spoiler: nenhuma funcionou. Nem quando me mandou passar um período sabático e foi terrível ter que queimar todas as imagens e estatuetas divinas. Colégio interno parece muito com um filme de romance onde vou conhecer o meu nerd favorito que vai me fazer mudar e adorar cálculos. E como é que eu vou levar a sério um cinquentão que esquenta os pés com a cara do Thor? ─ Eu já havia pesquisado há algum tempo, visto que você não mudaria suas atitudes desde a última festa que você entrou em coma alcoólico.. ─ Você ficou louco! Eu não vou para colégio interno porcaria nenhuma. Isso é o maior saco. Aposto que ninguém lá bebe tequila às nove da manhã de uma segunda. ─ eu disse e ri, em seguida, pensando nos alunos certinhos, de óculos redondos, cheios de cadernos e livros ao redor, bêbados no meio de uma aula de cálculos e falando asneira que o fariam parar na sala do diretor. Seria interessante presenciar, não? Se eu não for essa aluna, claro. ─ O colégio interno Eton é incrível e muito bem estruturado, tenho certeza que vai ser bom pra você. ─ Se é tão incrível, por quê você mesmo não vai para lá? ─ Porque eu tenho que trabalhar para arcar com as despesas que você me dá com as suas festinhas que não vão te levar a lugar nenhum enquanto continua vivendo na p***a desta casa, sem previsão para sair e começar a sua vida. ─ Ele gritou, destilando pelo interior das veias que marcavam seu pescoço, o quão infeliz era por me bancar aos dezoito anos, na vibração da sua voz. Havia sido educada com casas de bonecas de último lançamento nas lojas e roupas de grife, nunca entramos no assunto de independência financeira. Ou era isso que ele queria dizer com todos os e-mails sobre trabalhos na cidade vizinha e o assunto de estágio no meio do jantar? Oh.. Jogou o meu celular na cama com agressividade, assustando-me por um segundo enquanto afunda o lençol que cobre minhas pernas. ─ Foi só uma festa, como de costume, eu vou voltar para a porcaria da escola e vai ficar tudo bem. ─ Não vai, Isabella. Não vai. Você nunca muda, é como se fosse incapaz de ter maturidade, e eu não aguento mais lidar com a minha filha, minha única filha, bêbada ou de lingerie em festas, dançando para homens nojentos da minha idade. Voltar para a escola? E quando você vai sair dela e ser responsável pelo seu futuro? Isso, além de deprimente, é constrangedor para um pai que te ama tanto e faz tudo por você. Desviou os nossos olhares com as mãos na cintura, arfando. Ele estava realmente muito chateado. Caminhou até a porta e antes de sair, me olhou novamente. O olhar n***o nunca revelava o que ele faria em seguida, mas eu sempre sabia que era relacionado a punições ou qualquer coisa que iria me manter longe, porque ele, claramente, não sabia lidar com a própria filha. E ele nunca olhava nos meus olhos por outro motivo, por isso não me conhecia. Eu estou sempre no que você pode ver, mas ele era incapaz de sentir através disso. ─ Amanhã, às dez da manhã, esteja pronta para conhecer sua nova casa, Isabella. Saber sobre você. Não há nada que vá abrir mais os caminhos dos seus próximos passos quanto conhecer você. Em dezoito anos, o que foi que eu fiz para me ver feliz e talvez saudável em trinta anos? Ou, o que é que me faz feliz? São perguntas que você não precisa responder em meio segundo, como quando perguntam a sua cor favorita -mesmo sem uma justificativa lógica-, mas você deveria ter um planejamento vital até descobrir. O meu pai saiu do quarto, batendo a porta com brutalidade e me fez estremecer com o barulho alto. "AHHH!" eu gritei com a cabeça enterrada no travesseiro, sentindo minhas artérias tremendo e o meu rosto ardendo do quão vermelho ficou, através do sangue quente que rondava pelo meu corpo. Quero dizer, se eu soubesse o que realmente me faz continuar em um ciclo, eu não precisaria acabar com as minhas artérias. Eu não teria buscado a destilação da serotonina em lugares que o meu subconsciente gritava para me fazer acordar e enxergar que não precisava daquilo, quando não precisava. Mas eu não me conhecia o suficiente para entender os sinais de fumaça que saíam de mim. Então naquele momento, a negação foi inevitável. Eu não queria um colégio interno, eu preferia continuar vivendo vazia à ter que reconhecer que errei todo esse tempo. Não adoro todo o luxo e a ostentação em arquitetura moderna, mas viver sem isso, provavelmente em uma pocilga fedorenta, não vai me fazer ser melhor. Prefiro o luxo e o conforto à obediência. Ou pior, precisar abrir mão da minha liberdade é um pesadelo muito menor do que distante. Só por uma festa boba, tenho mesmo que ir à isso? Bom, eu sou Isabella Coleman, tenho dezoito anos e moro em Windsor, na Inglaterra, desde sempre com o meu pai, Alex. Este, atua como o melhor arquiteto da região e também é empresário. De qualquer forma, não é motivo para ser jogada de cabeça em um colégio interno, sabendo que não vou sobreviver um dia sequer sem, pelo menos, m***r alguém ou colocar fogo no diretor. [...]
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