19.

2444 Words
[Harry] Gemma: Como é que está o movimento aí? Me: Parado. Os pássaros não cantam. O que sobrou das árvores não mexem. As folhas continuam caindo na grama. Continuo na minha sala. Continua silenciosa, do jeito que eu gosto... Gemma: Idiota. Estou falando sobre o movimento. Escândalo. Tumulto. Alvoroço. Estardalhaço. Celeuma. Algazarra. Escarcéu. Me: Pois então eu não sei. Aliás, está na conversa errada. Quem é esse i****a que você tanto fala? Gemma: Podemos parar? A Isabella saiu correndo para o consultório médico do colégio. A médica da Babies não veio hoje. Ele teve alguma outra crise envolvendo falta de ar no meio de uma das dinâmicas dela. Acabei ficando por aqui com as crianças enquanto ela acompanha ele. Não tem notícias? Harry, é sério.. Não sei mais se vai dar para manter o Henry aqui. Talvez o tratamento seja caro. Nós precisamos conversar sobre isso. Soltei o celular por qualquer parte da mesa e saí da sala, sem lembrar se fechei a porta ou não. Corri até o consultório médico do Eton. Ela estava no corredor, parecendo agoniada e limpando as bochechas. -Bella? Vi-a olhar para mim. Quase não via a parte cristalina dos seus olhos, de tão vermelhos que estavam, além de cheios de lágrimas, que também corriam pelas suas bochechas e pingavam na gola da camisa branca. Estava hesitando sobre me abraçar, pude sentir na tensão do espaço entre nós dois. -O que aconteceu? Puxei-a e fiz-a deitar sua cabeça no meu peito, acariciando seus cabelos. Ainda assim, vi-a com toda atenção no círculo transparente da porta do consultório. A criança que ela tanto era apaixonada estava cercada de médicos e enfermeiros e aparelhos respiratórios. Senti-a empurrar o meu peito e gesticular enquanto fala. Isabella: Era para correr e tentar alcançar outra pessoa, mas ele não conseguiu.. Ele se sentiu sufocado e de repente não conseguia mais correr, falar, respirar. Ele mudou de cor e parecia muito desesperado. Lutava contra ele mesmo e.. Ela parou de falar, sendo interrompida pelas lágrimas e os soluços. Parecia assustada com o que presenciou. Isabella: Foi a pior cena da minha vida.. Vê-lo lutando para respirar e eu não sabia o que fazer. Eu não vou me perdoar nunca se alguma coisa acontecer com ele.. Ela disse aproximando-se da sala e ficando na ponta dos pés para conseguir alcançar a transparência da porta, olhando para ele. -Vai ficar tudo bem. Não vai acontecer nada com ele e também não é a sua culpa.. Antes de ser respondido, um dos médicos saí da sala, fazendo-a se distanciar da porta e aproximar-se de mim, como um ato automático. Isabella: Como é que ele está? Xxx: Melhor. Conseguimos controlar o estreitamento das artérias que fizeram ele ter a crise. Está reagindo bem ao medicamento e por enquanto, conseguiu dormir. -Então já tem um diagnóstico, se ele foi medicado, sim? Xxx: Nada de muita surpresa para quem acompanha o caso dele. Provavelmente imaginavam que, mais cedo ou mais tarde, hipertensão pulmonar, sendo um dos sintomas da doença, iria chegar para ele. Isabella: E isso é grave? Quer dizer, quanto de chance ele tem de sair dessa? O que se pode fazer? Coloquei a mão no seu ombro, acariciando-a. Queria prepara-la para qualquer que fosse a resposta. Xxx: Devido a fibrose, o pulmão está bem comprometido, então sair dessa é uma questão acima do que eu posso resolver agora. Mas para o mais novo problema, nós podemos fazer um tratamento e continuar com os medicamentos indicados. Oh, o tratamento.. Isabella: E como iria funcionar o tratamento? Quando começa? Xxx: Essa é a questão. Nós vamos propôr uma oxigenoterapia para o fornecimento de oxigênio extra. Para isso, vamos precisar de concentradores de oxigênio e sistemas de oxigênio líquido e gás comprimido. Também vamos precisar de anti-hipertensivos, já que ele reagiu bem aos primeiros medicamentos e foi a única coisa que o fez ficar calmo. Bom.. Tudo isso custa caro porque não é o que temos no consultório e tudo precisaria ser adaptado. Os remédios também são caros. Isabella: Não importa. Pode fazer o que tiver que ser feito. -Isabella? Ela me olhou. O peito demonstrava o grau de preocupação e nervosismo quando subia e descia com rapidez. -Eu adoraria fazer isso por ele, porque sei que tem um carinho especial e porque ele precisa e merece, mas é caro. Nós já temos gastos suficientes somados com a Babies e tudo que ele precisa, mensalmente.. Desculpa. Isabella: Não estou pedindo pra você pagar. Olha.. Ela disparou e voltar a olhar para o médico, que parecia exausto e louco para acabar o expediente. Isabella: Me diz quanto vai precisar para o tratamento e os medicamentos completo. Me passa também onde ou como eu faço pra depositar o dinheiro. E repito: isso não é problema, só faz o que tem que fazer pra ele voltar e ficar bem. Ele assentiu, parecendo obedecer a ela e entrou na sala novamente. Fiz-a me olhar, quando puxei a sua cintura, questionando-a. Isabella: O meu pai vai pagar. Eu tenho certeza que ele não vai me negar isso. Pelo menos isso... -O seu pai sabe disso? Isabella: Ele vai saber. E se ele negar, eu vou dar um jeito.. Vou trabalhar dez vezes mais ou vou roubar um banco. Só não vou ficar parada, vendo ele morrer. E você não precisa se preocupar, todos os gastos que ele tiver a partir de hoje, eu vou me responsabilizar. Não precisa mais gastar uma libra sequer com ele. Disse parecendo chateada pela forma que eu falei sobre os gastos mensais. Não foi como uma reclamação, mas é o que é. Antes de responder, o médico saí da sala novamente e estica o braço, segurando um papel, provavelmente com a quantia e a forma de depósito, que ela pediu. Fui mais rápido e tirei da sua mão, antes dela, sentindo o seu olhar surpreso para mim enquanto fico boquiaberto com a quantia e tento esconder. -E também vamos precisar de um especialista para acompanha-lo o dia inteiro no tratamento. Eu faço questão. [Isabella] Eu sorri, mesmo tentando não fazer isso na frente dele. Ainda estava muito chateada com tudo que aconteceu e tenho noção que está virando uma bola de neve que só está servindo para magoar os dois, mas ele o fez pelo Henry. Gosto de pensar que ele se tornou especial desde que nos tornamos importante um para o outro e fico ainda mais feliz quando o vejo sendo bem cuidado, mesmo que por uma pessoa que está chateado comigo. Só prova que ele tem um coração e está usando-o para o bem. Para a minha surpresa, acordei uma hora antes do alarme tocar. Aproveitei para vestir a roupa de atletismo e ir para a pista de corrida, estava aberto para minha sorte. Vou mostrar para ele que tenho capacidade de competir. Deixei o meu temporizador na arquibancada e dei a primeira volta, sem parar de correr. Por incrível que pareça, não me senti cansada quando acabei. Pausei o cronograma. 2:04. Eu respirei fundo, levemente decepcionada por ser acima do tempo que ele sempre pede nas aulas para uma volta. Zerei e iniciei novamente o cronograma, correndo mais rápido desta vez. Senti-me mais cansada, mas nem isso me fez parar, estava dando tudo de mim. Pausei o cronograma mais uma vez. 1:50. Eu sorri. Bebi um gole generoso de água, respirei fundo, iniciei o cronograma e corri mais rápido do que em qualquer outra vez nas aulas, não deixando nem a minha respiração pesada ou a dor na minha perna, me fazer parar. Nem mesmo quando virei a curva da pista de corrida e vi o diretor perto da pista, olhando-me correr. Não está na hora de nenhuma de suas aulas... Ainda assim, continuei correndo na mesma velocidade do começo desta corrida e tentei ir para a arquibancada, mas o seu braço envolveu a minha barriga, fazendo-me parar e olha-lo. Harry: Um minuto e vinte e nove segundos. Você foi muito bem! Ele disse mostrando o meu temporizador, não evitei sorrir por mim. Vi-o esticar o braço, entregando-me a minha garrafa de água, peguei de sua mão, agradecendo apenas mentalmente e apreciando. -Não sabia que a sua primeira aula começava tão cedo.. Amanhã vou vir de duas da madrugada para treinar sozinha. Quer dizer, eu posso? Harry: Pode, é claro que pode. Quer dizer, não. Não quero você sacrificando o seu sono para treinar.. Pode vir antes do jantar, talvez. -Seria ótimo mas eu tenho que treinar para a prova prática de natação e a piscina está cheia o dia todo, então.. Harry: Ok, ok. Venha o horário que quiser, vou deixar aberto para você o tempo todo. -Ok. Bom, obrigada por pausar o cronograma por mim. Vou correr em outro lugar para não atrapalhar.. Sinto-o segurar a minha cintura, enquanto tentava andar e olhar-me fixamente, soltando um suspiro alto. Harry: Meia hora até a minha primeira aula.. Quer treinar as outras modalidades comigo? Eu assenti, sorrindo e vi-o correr para pegar os instrumentos. Tentei deixar de lado a discussão de ontem e dos outros dias, e ele também, pelo visto. Nunca fui boa em esconder o que sinto e me calar quando sinto vontade de gritar, mas senti a necessidade quando a minha maior vontade era aprender. Nesse contexto, ele corrigiu o que eu ainda errava em relação ao salto triplo e em distância: correr e no final, saltar na caixa de areia e dar dois saltos antes do salto final. Ajudou-me também sobre o arremesso de peso, que é basicamente o "empurrar" um peso em formato esférico. Harry: Não, Bella... Desse jeito você vai arremessar, mais uma vez. Ele disse quando eu estava prestes a lançar o dardo. Andou até onde eu estava -alguns passos atrás da linha branca- e pediu-me educadamente para deixar a perna esquerda à frente, ajeitando a postura do meu tronco. Harry: O seu braço direito, que segura o dardo, vai fazer uma rotação rápida que vai acompanhar o seu corpo. Preste bem atenção. Sua mão esquerda descansava na minha barriga coberta pela camisa cinza e a mão direita segurava o meu braço direito, ajudando-me nos movimentos. Fez com que eu lançasse o primeiro dardo de forma certa. Harry: Viu? Se fizer o movimento certo, o seu braço não dói. Ele disse e assustei-me rapidamente com o quão próximo ele estava e continuava com a mão no meu corpo. Eu assenti e dei dois passos pra longe. -Ok. Harry: Quer tentar de novo? -Sim, mas sozinha dessa vez. Eu disse pegando o segundo dardo, ele afastou-se e deu o comando para lançar e eu o fiz, parecendo certa mas não tinha certeza. Tive, apenas quando ele aplaudiu e eu sorri, de orelha a orelha. -Sério? Harry: Sério, perfeitamente bem. Você aprende muito rápido, bastou algumas demonstrações. Ele disse aproximando-se e eu desviei nossos olhares quando pude sentir a tensão presente no local. Harry: Como é que ele está? -Ele.. Está bem. Está se recuperando aos poucos. Eu queria, inclusive, agradecer. Ele está sendo acompanhado por médicos ótimos na Babies mesmo e isso me conforta. Eu, com certeza, não conseguiria fazer nada pensando nele sozinho. Foi muito gentil o que você fez por ele. Harry: Infelizmente, não sou tão próximo dele quanto você. Sabe muito bem por quem eu fiz isso.. Tentou colocar a mão no meu rosto para acariciar minha bochecha e eu esquivei-me, tentando sair dali mas senti-o me segurar. Harry: Ficou com raiva porque eu gritei com você ontem? -Claro. Como ficaria se eu gritasse com você? Não iria gostar, é claro. Acha que só porque é o diretor, pode fazer isso. Eu disse cruzando os braços, olhando para o lado oposto ao que ele estava, depois de rolar os olhos. Harry: Não levando em conta que desde que chegou, você sempre grita, vai contra absolutamente tudo que eu falo e faz birra, você tem toda razão.. Eu não iria gostar. -Você sabe que não é birra! Harry: E o que é? Só para mostrar que mudou e conseguir o que quer, no final? -Óbvio que não. Felizmente eu não preciso do seu p*u pra sobreviver. Vi-o continuar em silêncio, mesmo diante das minhas palavras sujas, o que ele provavelmente abomina. -Na boa, eu só quero conquistar pontos suficientes pra Jade conseguir me desculpar por todas as merdas que eu fiz. Harry: Sinto muito em estragar o seu plano e desapontar você mas pontos não são nada e eu, que conheço a Jade há tempo suficiente, sei que ela não precisa dos seus pontos. E nem que um dia, você alcance a perfeição em forma de personalidade. Nós queremos ver o processo da sua evolução, é só isso que importa. -Então eu posso participar da competição de atletismo, mostrar o meu processo de evolução, deixar a Jade orgulhosa e consequentemente ganhar pontos? Harry: Não. -URGH! Vai se f... Antes de terminar de falar, Sarah, aparentemente, surgiu do concreto da arquibancada amarela, justo do lado do Harry. Sarah: Oi! Eu vim porque me chamou para participar da primeira aula e treinar um pouco mais.. Lembra? Harry: Oh.. Oh, sim. Nós já vamos começar.. Ele disse parecendo não muito animado com a idéia. Mas quem sou eu para questionar se ele mesmo chamou, não é!? Sarah: E você, Bella? Veio tão cedo por quê? Ainda acha que vai conseguir participar da competição? -Fico, extremamente, comovida com a sua preocupação, mas eu sigo firme e forte com o meu bom e velho amigo "não é da sua conta". Disse em um tom calmo e fiquei feliz ao ver seu sorriso cínico se desfazendo no mesmo momento. Sarah: Grossa. Ela disse aumentando o tom, dando um passo para frente e eu o fiz também, desafiando-a a continuar. Estava louca para socar v***a pela manhã. -Intrometida. Sarah: Abusada. Estávamos tão próximas que podia sentir a sua respiração enquanto falávamos palavra por palavra, para ofender. Era pior de perto. -Intrusa e chata. Harry: Parem! Ainda é cedo para brigar, crianças. Ele disse afastando uma da outra, metendo-se no meio de nós duas e empurrando-nos pelos ombros. Harry: Isabella, se quiser ficar nessa aula para treinar, eu posso falar com o seu professor de natação depois.. Soou levemente como um "Oh, eu já chamei uma, por quê não chamar a outra também?". Mas o peso de vê-la ao lado dele, tão próxima que se ele virasse, poderia facilmente beija-lá, doeu ainda mais. Ela sorria enquanto enrolava uma mecha do cabelo no dedo e mascava um chiclete, parecendo mesmo satisfeita, sabendo o quanto eu odiava ver isso. -Não quero. Aliás, eu não sei porque passou pela minha cabeça que eu conseguiria participar da competição.. Obrigada por lembrar, Sarah.
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