▪︎CARTAS NA MESA▪︎

2475 Words
Dia seguinte Marisa não conseguia acreditar que tudo o que imaginava estar perdido, pudesse mudar assim de repente, como num passe de mágica. Após receber a ligação da sua amiga Jodie, dizendo que haviam duas vagas para camareiras disponíveis no maior hotel da cidade, o Central Minneapolis Hotel, Marisa sentiu que seu corpo havia recebido uma injeção de ânimo, que encheu seu coração de esperança e lhe dando forças para prosseguir. Ela não tinha nenhuma experiência com a função, mas por sorte Jodie já havia trabalhado nessa área, assim daria toda a ajuda que Marisa necessitasse. O que realmente importava para Marisa, é que diante dela uma nova porta havia sido aberta e por nada nesse mundo perderia essa oportunidade que a vida estava lhe oferecendo. Após acordar Max e saírem da casa da árvore, a qual passaram a noite, Marisa tratou logo de se organizar para a entrevista que seria exatamente no mesmo horário que deixaria o filho no colégio. Como ela não queria nenhum tipo de contato com a mãe, depois da discussão que tiveram, preferiu não pedir a ajuda dela com relação ao Max e menos ainda contaria sobre a vaga como camareira. Do jeito que a mãe era pessimista e tinha mania de grandeza, com certeza falaria algo para menosprezar o novo emprego da filha, e outra desavença era tudo o que Marisa não necessitava naquele momento. Já passavam das onze da manhã, quando Marisa estava terminando de se arrumar e sua mãe entra de supetão no seu quarto já iniciando seu interrogatório de sempre. — Você não havia dito que foi demitida? — Soledad fala num tom frio, como se através das expressões da filha encontrasse as respostas que necessitava — E fui! — Marisa responde seca e sem olhar diretamente para a mãe. Ela tentaria a todo custo evitar um confronto com Soledad e sabia que se prolongasse mais o assunto isso acabaria acontecendo. Marisa não era um tipo de pessoa que guardava rancor de alguém por mais do que um dia, mas quando o assunto envolvia o seu filho aí tudo mudava de figura. Ela amava a mãe, apesar de todas as suas imperfeições, porém se sentia desapontada por ela ter revelado um segredo que não era da sua alçada. O passado de Marisa e seus erros só diziam respeito à ela mesma, e Soledad não tinha o direito de causar todo esse conflito entre ela e o filho. Por sorte, Marisa sempre teve uma excelente convivência e abertur# com Max, caso fosse contrário nesse exato momento ele estaria tendo uma de suas crises de ansiedade e se fecharia novamente no seu mundo como já fez por diversas vezes. Apesar de tentar à todo custo evitar as perguntas mãe, Marisa não consegue impedir que Soledad faça suas perguntas evasivas. — Então aonde você vai toda arrumada desse jeito e com tanta pressa? — Marisa enquanto vestia seu casaco de algodão, por conta do forte frio que fazia em Minessota naquela tarde, olha para Soledad que engole em seco assustada com o silêncio da filha — Não me diga que você realmente vai devolver... Marisa sequer espera à mãe terminar de pronunciar à maldita frase e logo dispara já sabendo do que se tratava. — Não Soledad! Pode respirar tranquila, eu não vou devolver o maldito refrigerador, já que é só com isso que se importa. Satisfeita? — Obrigada minha filha! E sobre ontem, eu quero... — Soledad tenta se redimir de suas palavras dur#s e inadequ#das de horas atrás, contudo Marisa não dá oportunidade para que à mãe continue com seu teatro e a corta imediatamente sem dó na consciência. — Sobre ontem, só desejo que tenha ouvido tudo o que eu disse e compreendido muito bem as coisas. Ser minha mãe não lhe dá o direito de se envolver na minha vida e menos ainda causar conflitos entre meu filho e eu. — Marisa eu não... — Soledad tenta se aproximar, mas Marisa coloca a mão à frente de seu corpo, evitando assim qualquer tipo de contato. — Marisa nada! A próxima vez que a senhora tentar se meter entre o Max e eu vai se arrepender. Max é meu filho! MEU FILHO! E não é porque existe um parentesco entre vocês, que irei deixar que traga à tona um passado que só diz respeito à mim! Após Marisa dizer essas palavras, um completo silêncio tomou conta de todo o quarto e uma tensão ficou evidente entre ambas, mas dura muito pouco, pois Marisa fica de costas terminando de conferir as documentações necessárias para levar ao hotel e segundos depois sente a porta do quarto ser fechada. Ela respira fundo e engole em seco recuperando a força para mais uma batalha que teria que enfrentar, a entrevista para o novo emprego. [...] No mesmo momento na suíte Parker do Central Minneapolis Hotel Já haviam passado mais de duas horas que Margareth havia chegado ao Hotel e tudo o que saia de sua boca eram meras futilidades. Cristhian já não suportava mais ouvir tantas idiotices e o pior, ter uma irmã tão sem personalidade como Margô. Até hoje ele não entendia como eram irmãos, Cristhian tinha plena convicção de que ela deveria ter sido adotada ou trocada na maternidade. Essas eram as únicas explicações plausíveis para serem grotescamente diferentes. — Será que você pode parar de olhar para esse celular e também de dar atenção para esse monstro com codinome cão, enquanto falo com você Cristhian? Ao ouvir a voz anasalada da irmã, Cristhian bufa, e continua fazendo o mesmo, quando Margô puxa seu celular e começa a caminhar pela suíte fingindo analisar o conteúdo que tanto prendia à atenção do irmão, e isso sempre o deixava furioso. Se tinha algo que deixava o poderoso Marshall fora de si, era que se intrometessem em sua privacidade e nisso Margô era expert. — Hum... Vejamos o que o grande Marshall tanto esconde nesse minúsculo aparelho! — Margô finge uma pose artística, como se fosse posar para um grande fotógrafo e continua passando o dedo indicador pela tela do celular, fazendo Cristhian perder a paciência que já não existia. — Margô me devolve o celular! Existem assuntos confidenciais e importantes arquivados, e você pode deletados. — Cristhian dá passos largos em direção à irmã que ao ouvir suas palavras forma um grande nó em sua cabeça. Se existia uma qualidade que Margareth não possuía, era inteligência para compreender todas as ironias embutidas nas frases do irmão, e com isso Cristhian sempre que podia debochava dela sem pensar duas vezes. — Dele... O que? — Margô tenta compreender o significado de algo que ela nem conseguia pronunciar direito. Cristhian revira os olhos e sem paciência altera o tom da voz dizendo: — Argh... deletar... apagar... evaporar... Entendeu? — Claro que entendi Cristianzinho! Por acaso pensa que sou burra? — Jamais! Eu nunca pensaria algo tão óbvio! Seria até um insulto à minha inteligência. Agora me devolve o celular Margô ou... — Ou o que? — Margareth segura o celular com as pontas dos dedos e isso foi o que faltava para fazer Cristhian explodir — Solto o Ruffle para ele morder esse seu novo traseiro. Quer testar? Pega ela Ruffle, pega garoto... — Cristhian atiça o cão e Margareth arregala os olhos na hora Latidos e ranger de dentes, do Rusky Siberiano começam a soar por todo o apartamento, deixando Margareth assustada e Cristhian com um sorriso de satisfação no rosto. Ele sempre gostou de fazer travessuras e quando se tratava da irmã, seu lado travesso de infância ressurgia com força. Ruffle era o xodó de Cristhian e quem ocupava todos os espaços daquela suíte gigantesca e deixavam suas horas menos entediantes e solitárias. — Não sei como ainda insisto com você Cristhian. — Margareth fala ainda com uma mão à frente do peito, na tentativa de se recuperar do susto Ela tinha pavor de animais e principalmente de cães. Para Margô, deveria existir um mundo somente para os bichanos, segundo ela, animal e ser humano deveriam viver muito lomge um do outro. Para Cristhian isso era ótimo, assim à mantinha cada vez mais longe de sua vida. — Eu sei! Pelos gordos depósitos que recebe mensalmente na sua conta, sem eles seria impossível você continuar frequentando todos os meses as mesmas boutiques e as salas dos maiores cirurgiões plásticos desse país. — Cristhian fala oferecendo uma guloseima para Ruffle pelo seu bom desempenho com Margô — Eu te odeio! Margô joga o celular no sofá e caminha em disparada disparada para a porta de saída. Ao abrir à porta, bate de frente com Adam, que ao ver sua cara de espanto, já sabia que Cristhian havia aprontado alguma barbaridade com a irmã. — Já vai Margô? — Adam pergunta com um meio sorriso — Na verdade não era nem para estar aqui. Esse seu amiguinho é um bossal, ameaçou a própria irmã com esse monstro em forma de cão de caça. Ainda não entendo porque temos o mesmo sobrenome. Adeus! — Até o próximo mês maninha! — Cristhian acena com as pontas dos dedos sorrindo irônico e Margô coloca seus óculos de Sol seguindo para o elevador furiosa com o irmão Adam entra e antes mesmo de fechar a porta atrás do seu corpo, já joga uma bomba nas mãos nas mãos do amigo. — O que é isso? — Cristhian observa o envelope que estava lacrado e timbrado — O testamento do teu pai. — Adam fala se servindo do generoso café da manhã que havia mesa da suíte — Esse é o lado bom de viver em hotéis, temos sempre as melhores refeições. Cristhian sequer ouve as idiotices de Adam, seus olhos e sua cabeça estavam direcionados apenas para o conteúdo daquele envelope na cor branca. — Isso eu estou vendo, mas porque está justamente com você ao invés do Jorge, meu advogado? — Cristhian indaga e Adam logo retruca — Jorge teve um problema familiar para resolver e pediu que adiantasse o assunto com você. — Assunto? Pode ser mais claro? — Cristhian fala observando o amigo se acomodar na poltrona bege de couro que havia na saleta e segurando uma xícara de café em uma das mãos, enquanto ficava de frente à ele — Claríssimo meu amigo. Aqui nesse testamento existem duas cláusulas específicas para que você tome posse de sua parte na herança. A primeira diz que você deve ficar responsável por todos os gastos da Margareth por tempo indeterminado ou até que ela assuma um matrimônio. E a segunda é que você precisa estar devidamente casado. — Quê? A primeira cláusula eu até revelo, porque desde sempre cuido dos gastos da Margareth para que ela não se torne uma sem teto, de tanto de gasta. Mas casamento? Isso só pode ser uma loucura ou um engano. Meu pai jamais faria uma coisa dessas comigo, ainda mais depois de tudo o que aconteceu com Bianca. Não! Não! Isso é uma palhaçada e só pode ser uma piada de muito m*l gosto por sinal. Eu? Cristhian Marshal, casado? Nunca! — É meu amigo, não conseguiu se enforcar com a Bianca, mas agora vai ter que fazer isso em tempo recorde ou caso contrário adeus herança, adeus campanha e adeus império político de Minnesota. — Adam dá um gole no café e conclui — E fique ciente que você só conseguiu vender as ações da empresa, porque estavam em seu nome, porém a Margô continua com os 15% das ações e será obrigada à estar em todas as reuniões da diretoria. Cristhian fica perplexo com tudo o que acaba de ouvir, e pior ainda, após constatar a veracidade das palavras de Adam em cada linha daquele testamento que sequer havia analisado pessoalmente, já que o responsável pela parte jurídica das empresas Marshall era Jorge, amigo íntimo do seu pai durante décadas. Sua vida havia sofrido um giro de 360° após tantas perdas em sequência e como se não bastasse ter que assegurar a sobrevivência de Margô, ainda tinha que estar casado. Que porr# estava acontecendo ali e o que passava na mente de seu pai quando cogitou tamanha estupidez? Cristhian levanta abruptamente do elegantissimo sofá reclinável de três lugares e começa a caminhar em círculos pelas suíte. Ele estava fora de si, seu corpo estava trêmulo e suas mãos suavam frio. Não sabia o que fazer depois dessa avalanche de informações que sofrera. Ou melhor, sabia sim o que faria nesse exato momento, o que sempre fez em situações difíceis e quando tudo parecia fora do lugar: se abrigar em um local que só ele conhecia e assim colocar seu pensamento em ordem. Ele calça seu tênis, pega a coleira e prende em Ruffle, e segue para a porta. Adam o encara sem nada entender e olhando para a coleira que Cristhian entregou em suas mãos diz: — Onde você vai? — Dar uma volta e tomar um ar puro. Se eu ficar preso nesse quarto, sou capaz de cometer uma loucura. — Cristhian temos uma coletiva de imprensa daqui há uma hora e você não pode... — Adam sequer consegue falar, quando Cristhian o encara com fúria e altera sua voz — Eu posso tudo o que eu quiser porr#! Vou sair agora e ninguém vai me impedir! — E a coletiva? — Adam tenta intervir, mas outra vez fracassa — Que vá para o inferno junto com todos vocês! — o grito de Cristhian ecoa por toda a suíte e Adam fica perplexo com a atitude do amigo, que sempre teve um temperamento difícil, contudo nunca ficou tão fora de si como agora. Pelo visto se Cristhian realmente ganhasse essa campanha, causaria grandes dores de cabeça com seu jeito explosivo, e escândalos era o que Adam menos desejava naquele momento. E, assim sendo, faria de tudo para ter Cristhian nas mãos e encontraria uma maneira de puxar as rédeas do amigo, que nesse exato momento parecia mais um puro sangue de tanto que bufava, do que um candidato prestes a ocupar um cargo tão importante no país. — E o que eu faço com essa fera? — Adam olha de relance e nota Ruffle ranger os dentes em sua direção — É melhor você se preocupar com o que ele pode fazer com você! Cristhian fala alto já de costas e bate a porta em sequência, deixando Adam falando sozinho e o pior, com um baita problemão literalmente em sua mão, chamado Ruffle. Tudo o que Cristhian queria era desaparecer e apagar de uma vez por todas esse maldito dia, fingindo que não tentaram outra vez traçar o caminho que ele deveria trilhar. Desde sempre, todos o tratavam como se fosse uma marionete, mas isso estava com os dias contados e a partir de hoje todos saberiam quem é o verdadeiro Cristhian Marshall. [...]
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