Ava
Quando fecho os meus olhos, ainda consigo sentir o seu perfume. Era doce e suave. Suas mãos em meus cabelos brincavam com os meus cachos. Ela amava brincar com os meus cabelos.
Cantava e contava histórias que me distraíam da nossa realidade. Morávamos em uma bela mansão.
Tínhamos empregados e seguranças, mas sabíamos o que realmente era a nossa família. Só existem dois tipos de sentimentos ali. Um era de lealdade. Esse era o mais perigoso. Significava que eles lutariam por Logan até a morte.
O segundo é de medo. Uma parte de nós morríamos de medo de que ele chegasse em casa com raiva. Eu, particularmente, temia por minha mãe.
Ela era a que mais sofria com tudo isso. Ainda me impressionava, lembrar da sua doçura e o quanto ela era amorosa, sabendo que ela sofria tanto nas mãos dele.
Lembranças:
— Logan, deixe ela.
Ouço minha mãe implorar. Estou dentro do guarda-roupa, encolhida e com medo. Isso adentrava a minha pele.
Ouço os gritos e soluços da minha mãe. Mesmo não sabendo o porquê do meu pai estar tão furioso, sei que se eu me mexer, ele vai descobrir onde estou e me bater.
O lugar tinha brechas por onde eu conseguia ver tudo, toda a crueldade que ele estava fazendo com ela. Minha mãe estava no chão, chorando, e ele estava chutando sua barriga.
A mamãe não aguentava mais, mas ele não se importava com o seu sofrimento.
— Você deveria ter um filho homem. — Ele esbravejou, sentiu o sangue do meu corpo gelar. Não foi a primeira vez que eu o ouvi dizendo isso. Era algo que me doía e magoava. Ainda mais vendo o que ele fazia com a minha mãe. Ainda mais vendo o que ele fazia com a minha mãe. — a culpa é sua.
Com as minhas mãos. Em meus ouvidos eu tentava abafar as vozes, mas meus olhos estavam fixados na mulher ao chão. Havia sangue em sua boca.
Ele não parava de bater nela. Quando saí de onde estava, indo até ele, ele estava de costas para mim. Com as mãos fechadas, eu corri e bati em suas pernas. Eu não era tão grande, nem tão forte.
— Para de machucar a minha mãe. — berrei batendo nele.
O homem enorme e amedrontador virou-se para mim. Com suas mãos em meus cabelos, ele me jogou com força contra a parede. Doeu, e eu chorei.
— Seu verme, tudo isso é por sua culpa.
— Não! — Minha mãe, com a força que tinha, correu até mim e ficou em minha frente. — Faz o que quiser comigo, mas deixa ela.
Eu não sei o porquê, mas ela sempre fazia isso. Eu não gostava. Ela sempre se machucava.
Ava abre os olhos, afastando as lembranças dolorosas.
— Por isso eu odeio tanto você. — Falei. O ódio em minhas palavras me sufocava. Virei-me para encontrar a sua figura, à distância, sorrindo, como se não tivesse acabado de enterrar o seu esposo. Ninguém podia me ouvir. O dia parecia muito escuro. Meus olhos doíam de tanto chorar. As poucas pessoas que se dispuseram a vir para o velório já se dispersavam. Os leais ao meu pai se espalharam para proteger o perímetro. Logan já olhava uma moça que era seu alvo. A pobre achava que teria uma sorte grande ao seduzir o meu pai. Eu m*l sabia que ela sofreria em suas mãos. — Vou fazer você pagar por tudo o que fez. — Falei, fechando os punhos. — Vai se arrepender do que fez com minha mãe.
Sentindo alguém se aproximar de mim, me calei. Não demorou muito para que eu ouvisse a voz insuportável de Jason. Ele era igual a Logan, e não falo só na personalidade e mau caráter. Ele era idêntico ao meu pai, claro, claro que sim. Era mais um bastardo dele. Pensar nisso me dava enjoo. O homem parecia um urubu, esperando para dar o bote em mim. Pois Logan quer que eu me case com Jason, mesmo que ele seja meu meio-irmão. Essa era a minha punição por ser mulher. Me casar com alguém que sucederia a ele no comando.
Era nojento pensar que meu pai quer que eu me case com um dos meus irmãos, seus bastardos.
— sinto muito por sua perda. — Disse.
Dei um sorriso de deboche, depois de soltar o ar que estava preso em meus pulmões.
— Me poupe da sua falsidade, Jason. — falei ao encará-lo. — Sei bem que pouco se importa com a situação ou com a minha dor.
O desgraçado fez questão de rir.
— Sua língua solta ainda irá prejudicá-la, Ava.
— Querido, Jason — Andei até onde ele estava. O homem de olhos azuis me encarou. Ele sentia desejo por mim. Isso estava nítido. — Sei muito bem qual será o meu fim. Não ache que vou baixar a cabeça ou ter medo de você.
— Isso me excita, sabia?
— Você me enoja. Respondi.
Fazer de frente com ele não era uma atitude inteligente. Jason ainda não mandava ou tinha poder sobre mim, mas era os olhos e ouvidos do meu pai. Ele até era bonito, olhos claros, penetrantes, ombros largos e muito alto. Tinha tatuagens espalhadas pelo corpo e uma presença significativa. Porém, era p*u mandado de Logan. O assassino não tinha escrúpulos e estava focado em tomar o poder sobre o lado Sul.
— Vou gostar de cortar essa sua língua fora, quando nos casarmos.
Já ouvi essa frase, algumas vezes.
— Sabe, Jason — o encarei, ficando a centímetros do seu rosto. — Nunca vou me casar com você. — Vi uma das suas veias saltarem, na testa. — Nunca vai sentar naquela cadeira.
— Está gastando a minha paciência.
— Me desculpe, não é a minha intenção.
— Vou ensinar a você a me respeitar. — Ameaçou. — Aproveite a liberdade enquanto tem.
***
Entrar nessa casa sabendo que ela não vai estar aqui me dá uma angústia que não tem fim. Ela era luz em meio à escuridão. Agora estou só. Me enfiei em meu quarto com a porta trancada e me permiti chorar toda a minha dor. Ela sempre dizia que chorar na frente deles só os fazia sentir mais poderosos. Homens como Logan e Jason não se importavam com o nosso sentimento. Eles usavam as nossas fraquezas para nos destruir. E eu não daria isso nas mãos deles. Por isso, quando as lágrimas secaram, levantei-me e me aprontei para o jantar. Eu tinha que ir ou ele bateria em minha porta e me arrastaria até a mesa. Apesar da minha mãe ter sido uma mulher submissa e doce, ela me criou para ser bem diferente dela. Olhei-me no espelho e não me reconheci. Decidi colocar um pouco de maquiagem para dar vida. Eu estava com uma blusa branca de manga longa. Por cima, um macacão vestido que ia até os meus joelhos. Usava uma bota de cano longo e deixei os cabelos soltos. Logan tirou tudo de mim. Ele fez ser quem sou.
Devo admitir isso, apesar de não ser fria e c***l, agora usaria a dureza e a minha inteligência para destruí-lo. Assim que estava pronta, saí do quarto. A casa era enorme. Era uma mansão distante do centro da cidade, muito bem protegida.
Havia um complexo, não muito longe dali, que seria o QG do seu exército. Ao andar pelo corredor, com o chão de mármore branco, as paredes seguiam a mesma tonalidade. Haviam adereços, vasos, quadros, mobílias e um espelho. Ao descer as escadas, ouço as vozes de Logan e Jason.
Jason falou, ele estava alterado, a voz do homem estava cheia de ódio.
— Eles querem o nosso território, sabe que estamos com uma brecha.
Meu pai quase esbravejando falou:
— Seu dever é proteger o nosso império, se Dante conseguir aliados desse lado da cidade, poderá ameaçar os nossos negócios.
Então quer dizer que vocês tem uma fraqueza? Essa notícia me agrada, mesmo sabendo que seria arriscado buscar por aliança com o inimigo do meu pai.