Disfarce

1376 Words
Depois que ele foi embora mamãe me encheu de perguntas. -Eu já te disse que ele não é meu namorado mãe. -Mas podia. Ele é bonito e você nunca fica com ninguém, só vive no pé do Marcinho. -O Marcinho é meu amigo mãe. -Então, você não precisa de um amigo. Precisa de um homem. Tem coisas que os amigos não podem fazer por nós. -Mãe! -Ah filha pelo amor de Deus, você tem vinte e três anos. Nunca namorou ninguém. Vai me dizer que ainda é virgem? Eu senti meu rosto queimar. Meu pai morreu eu era jovem e desde então só me importei em derrubar o sistema que o matou. Não namorei, não me interessei por ninguém. Preferia destruir aquele ditador. Queria destruí-lo. Apenas vê-lo sofrer me traria descanso. Nunca fui uma pessoa vigativa, mas não queria que a morte de meu pai ficasse impune. Por isso nunca me envolvi com ninguém. Marcinho era um grande amigo. Tivemos um rolo um tempo antes de meu pai morrer, mas não consegui levar a diante. Ele entendeu. Não me recrimina, apesar de eu saber que ainda sente algo por mim. A campainha da minha casa toca e sou salva pelo gongo. Ou não. É Marcinho, que parece que ouviu seu nome ser citado. -Bom dia dona Tânia. -Bom dia Marcio. -Vim buscar a Dill, temos um projeto para hoje. -A reunião não vai ser aqui hoje? - Não dona Tânia. Temos um plano que envolve um tour. -Entendi. -Eu estou aqui viu? -Estamos te vendo minha querida amiga. -Deixa de besteira e vamos logo, então. -A Eva está esperando no carro. -Espero que vocês consigam manter as mãos longe um do outro. - Está com ciúmes? Fulminei ele com o olhar. Se olhar enviassem misseis teleguiados, Marcinho estaria morto agora. Ou correndo de um míssil. -Vamos - rosnei. Entrei no carro no banco do carona. -Ei! Eu deveria ir na frente! -É mesmo? -Deixa eu entrar Dill. -Terminaram? Entra atrás de uma vez Márcio. -Tá bom Vi. -Vi é o escambau! Já te disse que não gosto de ser chamada assim. Meu nome é Eva. E-va. -Tá bom. Tá bom. Marcinho conseguia ser insuportável quando queria. Tirar Eva do sério era uma missão quase impossível, mas ele fazia isso sempre que possível. Não sei como ela ainda era namorada dele. Finalmente ela ligou o carro e saiu cantando pneu. -Onde vamos hoje? -Vamos para o parque. -O parque? -Aquele perto da casa do ditador. -E o que vamos fazer lá? -Reconhecimento. Chegamos ao parque e nos embrenhamos no meio do mato. Subimos em uma árvore e passamos a observar. Ficamos ali por cerca de uma hora. -Nada. -Calma Márcio. -Calma Eva? Como podemos colocar nosso plano em prática se não vemos nada? -Vamos conseguir é só... Eva foi interrompida por som de passos. Soldados. Eles conversavam. -... e a Sabine disse que o homem precisa de um assistente. -E ela é o que? -Ela é secretária dele, não vai ficar separando gravata né. -Pode ser, quero ver como ele vai arrumar. -Ela disse que ele mandou a gente procurar alguém. -A gente? -É. Ou você quer que ele coloque um anúncio no jornal? -E por que não? -Você é mais i****a do que eu pensei. Os conspiradores, seu i*****l. -É mesmo. - i****a. -Vou ver se encontro um garoto... Paramos de ouvir e quando dei por mim Eva e Marcinho estavam me olhando. -O que foi? -Você. -Eu o que? -Você pode se candidatar a vaga. -E quanto ao nosso plano? -Esquece o plano. A observação não está nos rendendo nada. Mas se a observação for feita de dentro... - Ah não Márcio, eu não vou me vestir de garoto de novo. Da última vez me pegaram. E eu nem estava no covil dos lobos. -Vai ser moleza. - E por que você não vai? Eles precisam de um garoto. -Porque aí não seria um disfarce. -E a Eva? -Com esses p****s desse tamanho? Olha para mim, você me imagina vestida de garoto? -m***a! Vocês dois só me encrencam. E tem mais, o movimento não somos só nós três. -Mas somos nós agora. Ou você quer que esperemos até que eles encontrem alguém? -E como pensam em me fazer ser contratada? - Do jeito mais simples. -Que jeito? -Pedindo. -Ficou louco. Eles vão passar fogo em mim. -Vamos, precisa trocar de roupas comigo. -Em cima de uma árvore? -Tem uma idéia melhor? -m***a! Mil vezes m***a! Fecha o olho! -Quem vê pensa que não conheço esse corpinho aí. -Ei! Eu estou aqui viu. Márcio você disse que vocês não transaram! -E não transamos. Márcio é um i****a. Ele não conhece meu corpo. Fecha a m***a dos olhos, ou não tem disfarce. Ele tirou a roupa e fechou os olhos. Eva ajudou tapando com as mãos. Tirei a minha roupa e vesti a dele. Ele abriu os olhos e vestiu as minhas. -Você ficou uma graça de calça feminina. -Tão engraçadinha. Tome, coloque esse boné. Enrolei o cabelo e coloquei o boné do Márcio. A vantagem de ter pouco cabelo, era que não aparecia no boné, apesar que a maioria dos garotos esravam com cabelo grande, por total falta de verba para cortar. Mas não queria que alguém visse meu cabelo e corresse o risco de me reconhecer depois. Descemos da árvore e eu me direcionei para a frente da mansão. Não demorou para que um soldado me abordasse. -Ei! O que quer aqui moleque? -Eu... -Você o que? Fala logo. -Sabine... -Quer falar o que com a bonitona? -Ela me mandou vir...para o trabalho de assistente. -Qual seu nome? -Dill...Ah...Dillan. -Entre. Espere ali. Vou ligar para Sabine. Meu coração gelou. -O que foi garoto? Parece que está tendo um troço. -Calor- sussurei. -Moleque mole. Ele pegou o telefone e discou. Após alguns segundos ele falou. A chamada estava no viva voz. -Oi gata!. -Gata o escambau. Fala logo o que você quer. -O garoto, o que você pediu para vir por causa do trabalho. Está aqui. -Já trouxeram? -Já. -Manda entrar.- falou e desligou na cara dele. - Pode entrar moleque. Esse crachá aqui, vai te dar passagem até lá. Você sobe essa rampa de acesso e vira a direita, quando chegar ao chafariz é a porta lateral, não vá entrar pela porta principal. -Tá bem. Peguei o crachá e fiz o caminho que ele ensinou. Eu suava frio e tremia dos pés a cabeça. Não pelo disfarce, já havia feito isso antes para burlar alguns soldados. Mas desta vez era diferente. Eu estava me enfiando dentro do vespeiro. Apesar de eu imaginar que nem tudo o que acontecia nas ruas chegasse a essa casa da maneira que aconteceu. A porta principal era imponente e parecia ser feita para alguém grande. Pois era bem larga. Segui para a porta lateral, mas alguém chamou. -Ei, garoto, onde você vai? - Me mandaram aqui, para o trabalho. Disfarçar a voz era fácil para mim, mas o nervosismo não estava ajudando. - Venha aqui. Sou eu quem te solicitou, bem, na verdade meu chefe. Qual seu nome? - É...Dillan. - Eu sou Sabine. E você vai trabalhar para Guillermo Valentini. -Eu sei quem é ele. -Com certeza sabe. - Venha, vou te apresentar a ele, já pode começar hoje? -Posso... Ela abriu a grande porta imponente e nós entramos. Haviam barras em todos os lugares. E rampas também. A casa era muito bem decorada, clara e iluminada. Exibia obras de arte que deveriam valer milhões. Fui tomada por um furor imenso. Nada em mim era capaz de se conter. Mas eu precisei ser forte. Não podia me entregar. Não podia estragar a oportunidade de descobrir o que se tramava contra nós nesse quartel general disfarçado de lar. Chegamos a porta de um quarto. Ela bateu na porta e alguém lá dentro autorizou sua entrada. Nós entramos e eu me assustei com o que vi. Eu m*l acreditei. Me senti enganada. Imaginava qualquer um como o ditador, mas não aquele homem que eu via ali. Nós pouco nos lembrávamos do rosto do homem que destruiu nossa nação, mas não imaginava aquele rosto. Quando ele foi eleito presidente era muito diferente. Era muito mais magro. Franzino até. E... ele podia andar.
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