Você não me engana

1075 Words
Quando Sabine entrou, eu não pude disfarçar o meu riso. Quem estava com ela era o mesmo garoto que eu havia visto num dos relatórios. Sim. Eu me lembrava. E me lembrava também que havia passado uma noite na casa dele. Ou melhor, dela. Dill. Aquele garoto era Dill. Eu tinha certeza disso. Mas não ia dizer nada. Ela arregalou os olhos quando me viu. Fiquei apreensivo de que ela me reconhecesse. Então Sabine iniciou as apresentações. -Senhor esse é Dillan. O garoto que pediu para ajudar com suas coisas pessoais. -Olá Dillan. Já trabalhou antes? -Eu...ah... Não... - Muito bem, o trabalho é bem fácil. Você faz o que eu te mandar e pronto. Dei uma olhada para Sabine e ela entendeu a deixa para sair. - Vou buscar seu uniforme- falou antes de sair. - Obrigada - respondeu Dill. - Quantos anos você tem? - Vinte e três. -E nunca trabalhou? - Falta de oportunidade. Seu rosto assumiu um tom vermelho arroxeado e eu imaginei que ela estava muito irritada. -Pois bem, você será meu assistente pessoal. Não sei se notou, mas sou aleijado. -Que palavra h******l para dizer de si mesmo... Mesmo morrendo de ódio de mim, ela conseguia ser aquela garota solidária que me levou para sua casa sem sequer me conhecer. Tinha dúvidas sobre o que ela pensaria se soubesse que o Gui, na verdade é Guillermo Valentini, o homem que ela mais odeia na vida. Eu podia ver o ódio em cada expressão de seu corpo. Acho que esse era o motivo dela não ter me reconhecido de imediato. Ela odeia tanto ao ditador Guillermo Valentini, que não o associou ao Gui. Eu a conheci assim que coloquei os olhos sobre ela, mesmo a tendo visto apenas uma vez. Sabine entrou trazendo o uniforme. O entregou a ela e saiu. Conversamos por alguns minutos e eu a dispensei. -Sabine vai te mostrar a casa, o seu quarto e qualquer coisa que seja necessário. Ela te aguarda lá fora. -Sim...senhor. Ela saiu e eu soltei o ar que só agora percebera estar prendendo. Eu podia ter desmascarado a sua mentira, ter revelado a ela quem eu era, mas eu a queria perto. Queria que ela ficasse comigo. Só me esqueci de um detalhe, para todos ela era um garoto. E para mim teria que ser também. Passei algum tempo analisando relatórios sem realmente prestar atenção a eles, até que Sabine voltou com Dill devidamente uniformizada. O uniforme ajudava ainda mais a aparência de garoto. Era grande demais e fazia ela parecer estar dentro de um saco de batatas. Caí na risada. - Não tinha nada maior? -Ele disse que o outro ficou apertado, esse é dois números maior, era o único que tínhamos. Vi o rosto de Dill ficar escarlate. -Providencie outro. - Eu...eh... não gosto de roupas me apertando. Eu sorri. - Imagino. Use as suas então, não quero alguém andando atrás de mim parecendo um saco de batatas. Ela ficou calada. Mas senti o alívio no som da sua respiração. O uniforme menor revelaria suas formas femininas. Resolvi que veria até onde ela levaria aquela farsa. Não era porque não queria dizer a ela que eu e Gui éramos a mesma pessoa e tornar o homem que ela ajudou um alvo de seu ódio também. Não era isso. Com certeza não. Passamos mais algum tempo juntos e eu ensinei a ela tudo o que gostaria que meu assistente pessoal fizesse. Vi ela ficar vermelha quando mencionei a ajuda para o banho. Sorri. - Não vai precisar me dar banho. Acho que já sou bem grandinho para isso, não acha Dillan? - Eu, oh... acho... - Vou precisar apenas que separe as roupas, arrume malas, coisas do tipo. Sabine fazia tudo isso. Mas está ficando trabalhoso para ela. - Sim, senhor. - Teremos um almoço amanhã às duas, preciso que esteja apresentável. Você irá comigo. - Hum...sim, senhor. - Não sabe dizer outra coisa que não seja sim senhor? - Ah...sim, se... ah... sim. - Deixa para lá. Vista algo formal. - Como um terno? - Olha ele sabe falar outras coisas. Sim, um terno é bom. Sorri ao imaginar onde ela conseguiria um terno. Mas não seria ela se ficasse com a bomba toda em sua mão. - Ah... senhor? -Sim Dillan? - Eu não tenho um terno. -Era de se esperar. Peça a Sabine para te levar em algum lugar para comprar alguns. -Eu... não... -Eu pagarei por eles. -Hum...sim. - O almoço será amanhã às duas, por isso preciso que esteja pronto ao meio dia. Dill saiu e eu fui para minha mesa. Não fui capaz de me concentrar. Não conseguia parar de pensar naquela garota que estava achando que me enganava. Eu podia prende-la por traição, mas o único lugar que imaginava ela presa era entre meus braços. Larguei a papelada de lado e fui para a cama. Passei horas acordado pensando nela. Ela entrou na minha sala. Tinha algo nela que me afetava. - Eu descobri tudo, eu sei que você está mentindo. -Sobre o que? - Sobre você, você não é quem diz ser. Ela pulou sobre mim e eu a segurei. Ela queria me socar, descontar sua raiva. Raiva escorria de seus poros. Eu podia sentir. Num rompante eu a beijei. De início ela resistiu, mas depois se entregou ao beijo. Toquei seu corpo e senti suas curvas. Ela me queria tanto quanto eu a queria. -Guillhermo... Acordei abruptamente. Notei que me sentia exatamente como no sonho. E meu corpo respondia a Dill, como respondeu no sonho. Eu estava suado e ofegante. Eu sentia desejo por ela. Queria tê- la em meus braços. Eu não sentia desejo s****l por uma garota desde o acidente. E justamente essa garota que me odeia foi despertar o que estava adormecido. Era impossível, ela não me aceitaria nunca. Mas a Gui sim. Eu a teria na minha cama. Nem que fosse sendo outra pessoa. Depois disso a dispensaria. A tiraria da minha vida. Me levantei e fui para o banho. Sentia seu toque ainda em mim, como se tudo aquilo tivesse sido real. Meu amiguinho se recusava a acreditar que ela nunca esteve tão próxima. Por isso me joguei debaixo da ducha gelada. O jato de água fria fez o seu trabalho e eu não estava mais parecendo um adolescente quando Dill entrou no quarto. Mas sua cara foi impagável ao me ver só de cueca.
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