Dya Já tinha aceitado seu destino.
Ela olhava a natureza através da janela.
Um garotinho brincava com um carrinho no tapete.
Ela não sabia como organizar a sua vida, só tinha a certeza que precisava se casar com Rodolfo.
Caminhou para o tapete, ela ligou a televisão e deixou em uma corrida de cavalos, era a paixão do seu menino. Ele era capaz de passar horas assistindo um campeonato assim, e Bento adorava a natureza.
A inteligência de Bento também a intrigava, havia aprendido a ler sozinho e tinha fixação em cavalos. Nos últimos dias perguntava quem era seu pai, e Dya já não sabia o que fazer. A verdade era dolorida.
Não teria coragem de abandonar o seu filho, mesmo tendo sido um pesadelo a sua concepção e até mesmo o parto, o amor por ele falou mais alto, era um pedaço dela e nada os afastaria. Jogou um beijo para ele, o garoto retribuiu, mas Bento não era muito fã de contato físico, e ela respeitava isso.
O menino era diferente de toda a família, Pedro tinha a cor da pele um pouco mais escura e os cabelos também, Dya tinha a pele clara e os cabelos neegros como a noite. As outras mulheres da família possuíam a pele mais escura, mas os cabelos eram claros e cacheados, mesmo sendo filhos do mesmo pai, a genética familiar ficou registrada.
Já Bento parecia a cópia fiel de alguém que ela não conhecia, os cabelos eram claros, assim como os olhos, que eram de um castanho brilhante. Não se lembrava de ter visto algo assim. A personalidade era extremamente cordial pela manhã, Bento acordava sempre risonho, mas também tinha uma áurea mais peculiar, algumas vezes ele se deitava sob a beleza da lua e ficava a observar, parecia uma daquelas almas antigas. O seu menino seria um perfeito cavaleiro quando crescesse e seria uma mãe orgulhosa do seu filho, mas em algum momento ele saberia a verdade, e isso podia abalar a confiança dele.
Perto dali, Rodolfo vistoriava o quarto que estava reformando. Sabia que muitas mulheres não aceitaria que sua casa não fosse governada exclusivamente por ela, mas ali também era morada de sua mãe dona Rita e dona Benta. Sua tia e mãe já eram de idades e não as deixaria na rua, tinha dinheiro para outra casa e até mesmo outro rancho, mas tinham sido àquelas senhoras que o ajudaram a ficar sóbrio e não traçar os mesmos passos do pai dele. Rodolfo era filho de um homem doente e podre, Jacob tinha morrido recentemente da cadeia, depois de ser condenado por estupro e pedoffilia. Todos os filhos de Jacob eram frutos de estupro, inclusive Rodolfo. E Rita havia distribuído amor em todos os momentos da vida de Rodolfo para que ele não se assemelhasses ao pai.
Aquele quarto maior era para acomodar Dya logo após o casamento, tinha decidido marcar a data do casamento, Rodolfo estava cansado de esperar. Mesmo sabendo que mulheres não eram confiáveis, Dya tinha lhe feito promessas com olhares e depois se entregado para outro. Amaria sozinho, mas se não tivesse aquela mulher ficaria louco, e a loucura para um homem como ele colocava todos a sua volta em perigo.
Sofreria as consequências diante do clube, mas a manteria vigiada a cada passo. Não seria traído de novo.
Parou o carro na porta da família Damasceno.
Os olhos negros de Dya logo o alcançaram, todos os outros integrantes da casa tinham saído. Ela tentou fechar a porta, mas ele foi mais rápido. Ela estava sozinha, a casa sempre estava cheia, mas o azar a tinha alcançado.
_ O que quer? Não é bem vindo aqui.
_ Vim ver minha mulher.
Dya sentiu seu ar faltar. Como ele podia? Depois do que fez.
_ Vai embora. Não sou sua mulher ainda.
Mas Rodolfo se aproximou. Sonhou em beijá-la por anos. Provavelmente havia sangue índio naquela mulher. Os cabelos negros, lisos e a pele clara, ela tinha um porte tão doce e vivo.
A puxou para ele, mas viu tanta dor e sofrimento que paralisou.
_ Não de novo. Por favor!
_ O que quer dizer?
_ Sabe o que fez.
Rodolfo a observou em choque. Não fazia ideia. Nunca tinha se aproximado dela, provavelmente Dya tivesse tido acesso a algum vídeo dele. Tinha sido descuidado e uma mulher havia gravado momentos de um sexo casual.
_ Não vou ferir você.
_ Já o fez. Vai embora. Se tem alguma moral vai embora.
Rodolfo se afastou. Desejava entender o que acontecia, mas se viu magoado e com raiva pela recusa dela.
Partiu sem dizer nada.