Dya não era uma daquelas moças que ficavam presas em casa. Morava, ela e a família em uma choupana arejada e limpa. A liberdade era uma das coisas que gostava na sua vida simples.
Tinha sido criada correndo pelos campos e dançando com as outras irmãs. Também andando a cavalo com o seu irmão Pedro.
Mesmo pobres, ela era extremamente feliz e grata ao irmão, sem ele teriam passando fome. O pai era um abusador e a mãe deles se separou para preservar a sua vida e o restante da dignidade que ainda tinham.
Trocava cartas com os namoradinhos da escola, a sua mãe não se importava desde que fossem da mesma idade que Dya. Mas em algum momento o coração da menina vacilou e ela olhou para quem não devia olhar.
O homem era mais velho, rico e amigo do patrão de Pedro.
Dya sabia que era errado, mas o coração dela batia descompassado cada vez que via os olhos negros de Rodolfo e a postura firme dele. Para ela, Rodolfo se assemelhava aos mocinhos das novelas que assistia com as irmãs: um homem mais velho, sério, mas que podia se apaixonar loucamente por uma simples plebeia, o coração era livre e Dya sonhou, e o sentimento cresceu.
Ela guardou o sentimento no seu peito e cada vez que o via, o sentimento por Rodolfo só florescia.
Ela só tinha 14 anos e Rodolfo mantinha total distância, mas algumas vezes os olhos masculinos acabavam vacilando também e encontrando os olhos da menina Dya.
Rodolfo jamais chegaria perto de uma menina, mesmo que os olhos de Dya fizesse um convite silencioso, era uma promessa de amor tão pura e doce que Rodolfo se sentiu adulado, nem mesmo era digno de algo assim. Prometeu que esperaria Dya fazer 18 anos e descobriria se os olhos doces continuariam o olhando com tanta doçura, mas em algum momento Dya deixou de o espiar pelo portão e também de lhe sorri quando ela ia à fazenda do seu amigo Marco.
Durante alguns dias, Rodolfo pensou que a menina tinha finalmente encontrado um namorado da idade dela e isso o fez quase perder a razão, mesmo assim Rodolfo se manteve distante. Não tinha o direito de se aproximar de uma adolescente, se afundou no álcool, era a única coisa que aliviava a dor no seu peito, nem ele sabia que o amor podia ser construído com olhares e sorrisos.
Entretanto Dya mudou o olhar, agora nos grandes olhos negros tinha medo e também pavor, a menina agora o temia e Rodolfo nem mesmo sabia o porque, mesmo buscando na sua memória.
Os olhos doces e inocentes que antes lhe faziam promessas de amor, agora o acusavam de algo.
E infelizmente Rodolfo não estava enganado, o amor de Dya tinha se transformado em pesadelo. Não desejava mais viver o amor que tinha construído na sua memória com tanto cuidado e afeto, agora só queria manter distância do homem com quem sonhava em ter o seu primeiro beijo.
Passou a ficar reclusa em casa e esconder um segredo que era maior que ela e Rodolfo juntos. Quando a menina atingiu a maioridade, Rodolfo tentou se aproximar, mas a barreira construída por Dya era tão resistente que não conseguiu transpor. Assim ele entendeu que precisaria resolver as coisas da única maneira que sabia, fazendo acordos e cobrando favores. Tomar a mulher que amava como a sua esposa era a única coisa que importava.
Rodolfo tinha abandonado os momentos de embriaguez para poder construir um relacionamento com ela.
Enquanto isso Dya juntava os cacos que sobraram da sua inocência e do seu coração, amar era para mulheres adultas, mas ainda podia ficar piior. Dya soube que: para que o seu irmão Pedro fosse feliz ela precisava enfrentar o que mais temia, não pensou duas vezes, mesmo desejando fugir para longe, não podia ser uma covarde agora. Afinal! Foi Pedro que em toda a sua bondade, paciência e amor cuidou dela, das irmãs e da mãe, não era justo que a única coisa que ele precisava para ser feliz e pudesse proporcionar ela se negasse.
Pedro sonhava com a menina de sardas e que seria dada a ele em casamento. Potira era alguém que aplacaria as angústias do irmão, Dya tinha certeza absoluta disso. Quem havia intermediado essa espécie de casamento arranjado havia sido Marco Wolf, ex-patrão e compadre de Pedro. Pedro tinha se recusado a aceitar o acordo, mas Dya tinha uma carta na manga e usou para convencer Pedro, se ela não fosse feliz, ao menos o seu irmão Pedro seria.
O casamento foi marcado e Rodolfo insistia em se aproximar, mas Dya queria manter a lucidez pelas poucas semanas que lhe restava, e precisa juntar toda a sua coragem para uma revelação. Esperava que Rodolfo não a matasse pelo que tinha escondido dele, mas ela era só uma menina na época e não tinha maturidade suficiente para contar. E a sua mãe dona Margarida, prometeu que guardaria o segredo também, e todos os integrantes da casa juraram preservar o que Dya escondia. Até mesmo o filho da sua amiga Laura, Ed, foi capaz de não contar o que sabia, mas agora ela precisava revelar a verdade, só não sabia quais consequências aquilo acarretaria.
Ao longo dos 6 anos que guardou aquele segredo, ela havia escutado conversas de Pedro ao telefone, Laura também havia deixado escapar algumas coisas. E assim, Dya havia descoberto que Rodolfo podia ser extremamente perigoso, antes ele já era, mas agora ele tinha ganhado ainda mais munição ao se aproximar de dois irmãos por parte de pai, os irmãos Orlov eram famosos por suas atitudes pesadas e a falta de remorso.
Se achava uma idiotta sonhadora por ter desejado fazer parte daquela família. Parecia que a única pessoa que realmente era doce, era Dona Rita, mãe de Rodolfo, talvez ela encontrasse uma aliada em casa, pelo menos não estaria longe da sua família, o rancho deles e o rancho de Rodolfo eram quase vizinhos.
O seu destino estava traçado, se tornaria a esposa de Rodolfo e rezaria para que fosse capaz de suportar alguma inttimidade física, estava tão tranquila com a sua família, porque Rodolfo tinha que ressurgir trazendo lembranças bonitas de uma menina apaixonada? Mas também, recordações sombrias de um amor quebrado e pisoteado!
De repente se lembrou do clube, men's club não perdoava regras quebradas. Tinha quebrado uma delas.
Mas os segredos de Rodolfo também eram sombrios, os anos afastados de Dya, tinha o transformado em alguém que não se orgulhava, e não podia voltar atrás.