Melissa Lancaster
Caminhei a passos lentos pela praça respirando o ar puro.
Percebo olhares em minha direção. Algumas pessoas, reconheço da minha infância.
— Mãe, estive pensando… E queria saber se pode me matricular em uma escola até a senhora resolver suas questões.— Blake murmura e cesso meus passos o fitando.
Ele passa as mãos em seus fios castanhos-claro e suspira.
— Não me leva a m*l, mãe, mas ficar o dia todo sem fazer nada é muito chato.
Aliso sua bochecha pensando melhor em sua justificativa.
— Pensarei direito sobre isso, prometo. — Suspiro enquanto me lembro que tudo dependerá da conversa que terei com uma certa pessoa mais tarde.
Chego em casa e vou direto para o quarto, tomo um banho e procuro algo para vestir. Jogo todas as roupas que havia na mala em cima da cama.
Sopro o ar irritada. Nada parecia bom o suficiente. Me sento na cama em silêncio até meus olhos pararem no meu antigo guarda-roupas.
Me levanto caminhando em sua direção. Abro e vejo algumas roupas antigas bem alinhadas em cabides. Passo as mãos sobre cada peça até parar em uma específica. Um vestido branco de alças finas, com uma imagem pequena de uma cereja em cima do seio esquerdo. Meu pai havia me dado no meu aniversário de dezesseis anos.
Respiro fundo.
Sinto tanta saudades dele. Mesmo passando quatro anos da sua partida, é doloroso não vê-lo em casa. Pego a peça e sorrio me lembrando de como fiquei feliz com o seu presente. Me viro para o espelho ao lado e coloco a peça a minha frente, constatando que provavelmente o vestido ainda servirá. Apesar de não ter mais dezesseis, continuo com a mesma fisionomia. Exceto os s***s que cresceram um pouco mais.
Retiro minha calça moletom, blusa e coloco o vestido. Olho mais uma vez no espelho e sorrio. O vestido caiu feito uma luva.
Perfeito!
Decido ser com ele que eu vou enfrentar a fera.
Amarro meu cabelo em um r**o de cavalo, ponho um perfume, pego minha bolsa e desço a procura de Blake.
Vejo ele no sofá da sala agarrado com minha mãe e Luciana assistindo um filme de ação.
Me aproximo dos três e eles me olham da cabeça aos pés.
— Fala sério Mel! Faço dieta como uma louca e olha você? — Aponta para meu corpo e revira os olhos. — Com um vestido que ganhou a anos atrás. Sério, desisto. — Joga os braços no ar dramaticamente. — Sorrio.
— Você está linda, filha. — Minha mãe sorri carinhosamente.
— Obrigada, mãe. — Agradeço.
— Não vai me elogiar mocinho? — Pergunto para Blake com as mãos na cintura.
Ele me olha e cruza os braços.
— Mãe , a senhora sabe que é linda. Mas… — Faz gestos a frente do seu corpo— Arqueio as sobrancelhas para ele que nervosamente passa as mãos no rosto e abre e fecha a boca desistindo de falar. — Deixa para lá. Só põe um xale na frente do seu peito.
Luciana cai na risada.
Percebo a irritação de Blake. Esqueci de seu lado ciumento.
Coloco uma jaqueta jeans, e sorrio dando uma voltinha a sua frente.
— Melhorou? — Ele faz um sinal de tanto faz com a mão e se vira para a TV voltando sua atenção para o filme.
Escuto minha mãe desejar “sorte” enquanto Luciana sussurra um “use camisinha”. Lhe atiro um olhar mortal e ela sorri. Elas sabem o que vou fazer. Acredito que em vez de falar de camisinha ela devia ter dito “use armadura” algo me diz que Adam não facilitará as coisas.
Olho mais uma vez para a localização que Luciana me passou pelo w******p e ligo o carro suspirando pesadamente.
Que Deus me proteja!
Quando chego no endereço indicado me olho no espelho mais uma vez sentindo meus batimentos acelerados e minhas mãos suarem.
É agora ou nunca!
Desço do carro sentindo minhas pernas falharem.
Não é hora de dar defeito, Melissa!
Caminho em passos lentos e alcanço a campainha da casa verde à minha frente.
Ela é bem simplória. Tem algumas flores plantadas em um pequeno Jardim.
Nada de tão excepcional.
Aperto mais algumas vezes e já estava desistindo quando a porta é aberta e uma figura atlética e assustadoramente deliciosa aparece. Sua expressão nada boa não me assusta. Estou atordoada demais lhe secando para pensar em qualquer coisa coerente.
Adam está apenas com uma calça moletom, cinza. Seu V se destacando com louvor. Seu tronco maravilhoso não me deixa respirar. Suas, milhares de tatuagens o deixando ainda mais tentador. Meus olhos ganham vida própria e passeiam livremente pelo seu corpo.
Engulo em seco quando percebo o grande volume em sua calça.
Meu Deus!
De repente me senti queimar de uma forma que respirei algumas vezes para controlar.
— Já terminou sua inspeção? — Sua voz é rude e acabo me assustando.
— É… Desculpa. — Peço olhando em seus olhos verdes. Ele sustenta seu olhar e vejo grande fúria neles. Ele não fala nada e então continuo.
— Será que podemos conversar?
Ele cruza os braços e seus músculos se contraem e eu perco o foco por alguns segundos. Sua risada amarga capta minha atenção.
— Não vejo o que podemos conversar Melissa Lancaster! — Meu nome saí com grande desprezo dos seus lábios.
Respiro fundo e me aproximo um pouco do batente da porta, quando ele instintivamente se afasta.
Dói ver o quanto ele me odeia. Não o julgo. Se no momento me odeio mais.
— Por favor, Adam. É importante. — Insisto e sinto ele hesitar, mas logo ele põe sua máscara de indiferença novamente.
— Estou ocupado. — Resmunga.
De repente um cenário se instala em minha mente e a dimensão do que ele poderia estar fazendo me acerta em cheio. Olho por cima do seu ombro e noto um sutiã largado no sofá da sala. Arregalo os olhos sentindo um misto de vergonha e ódio. Vergonha por me meter nesse tipo de situação, e ódio por pensar no que ele poderia estar fazendo e com quem.
Não seja ridícula Melissa.
Abaixo a cabeça e tento acalmar meu coração.
— Então, fica para outra hora. — Sussurro. — Olho mais uma vez em seus olhos sentindo algo diferente que não sei bem o que é.
Ele se aproxima colocando um braço em cima da minha cabeça e o outro ao lado da minha cintura. Me mantendo presa. Seus olhos verdes passeiam pelo meu corpo se demorando no topo do meu peito que imediatamente se enrijece com seu olhar intenso. Me amaldiçoou mentalmente por ele perceber que ainda me afeta. Sinto um calor inflamar sobre minha pele se concentrando no meio das minhas pernas. Ofego quando sinto ele cada vez mais perto. Meu peito subia e descia conforme minha respiração acelerava.
Seu cheiro almiscarado e loção pós-barba estava me enlouquecendo.
— Sinto muito por sua perda. — Continuo olhando em seus olhos— Apesar de o Alex ser um traidor, não merecia morrer daquela forma.— Fecho os olhos tentando controlar minhas lágrimas.
Ele ergue meu queixo e abro os olhos sentindo seus dedos traçarem meus lábios suavemente. Seus dedos acariciam eles por longos minutos. Engulo em seco com a sensação que me desmancharei com seu toque.
Suas carícias deslizavam pelo meu pescoço onde seus dedos se fecharam provocando um leve sufocamento. Ele me olhou furiosamente. Vejo o mesmo desprezo e ódio de minutos atrás novamente em seus olhos.
— Mas não pense você que estou disponível para ser seu ombro amigo. — Rosna. — Porquê não estou! Que fique evidente que não quero você perto de mim e muito menos falar com você. Fui claro? — Rosna mais uma vez. Sinto seu hálito quente ressoprando em minha face e fecho os olhos.
Sinto um frio em meu corpo, e percebo que ele se afastou.
Reabro meus olhos e ele já está longe do meu corpo para meu desespero.
Foco Melissa. Não é para relembrar os velhos tempos que você está aqui.
— A-dam!— Suplico.
— Vai embora Melissa e não me procure mais. — Bate a porta com força e ouço um estrondo ensurdecedor vindo por entre a porta.
Lágrimas silenciosas descem da minha face.
Caminho tropeçando em meus próprios pés para dentro do meu carro. Saio cantando pneu desabando literalmente em lágrimas. Só posso estar pagando por todo o sofrimento que lhe causei.
Dirijo sem rumo pela cidade tentando acalmar meu coração. Até as lágrimas cessarem. Quando estou mais calma chego em casa e todos já estão dormindo. Deito na cama abraçando meu próprio corpo. A percepção que Adam me odeia faz sangrar meu coração. Enxugo novamente algumas lágrimas e respiro fundo. Mesmo ele me tratando com desprezo, não posso desistir de contar a ele. Por Blake. Devo isso a meu filho. Nem que seja a última coisa que eu faça na vida.