Capítulo 12

1053 Words
Hades O silêncio do meu escritório sempre foi a única constante que eu conheci. A ausência de vozes, risadas ou qualquer som que não fosse o som das teclas do meu computador. E, até recentemente, eu achei que essa era a maneira como as coisas deveriam ser. Eu nunca precisei de companhia. Sempre fui autossuficiente. O peso da minha responsabilidade na máfia era suficiente para me manter ocupado. As pessoas, sentimentos e laços familiares eram irrelevantes. Eu era o Don, a única coisa que importava. Mas desde que Tate entrou na minha vida, tudo mudou. Eu observo pela tela das câmeras de segurança enquanto ela e Giulia se divertem na cozinha. A luz suave da cozinha iluminando seus rostos enquanto decoram biscoitos de Natal. Tate ri, seu rosto iluminado por um sorriso genuíno, algo que eu raramente vejo. Há algo de quebrado nela, mas, por algum motivo, eu não vejo isso agora. Só vejo a mulher que está ali, sentada no chão com os cabelos bagunçados e uma expressão leve. Tão diferente da mulher que foi entregue a mim. As risadas de Tate preenchem o espaço vazio da mansão, e, por um momento, o peso de ser Hades Di Tempesta diminui. A música suave que toca ao fundo é um contraste com a brutalidade que marca a minha vida. Isso me incomoda. Eu não sei o que fazer com essa sensação que começa a se espalhar dentro de mim. Não é como se eu fosse incapaz de sentir, mas eu nunca me permiti pensar sobre isso. Eu me forço a olhar para os negócios. Tenho um monte de problemas que precisam ser resolvidos. Eu sou o Don. Eu sou o chefe. O mundo ao meu redor existe para ser controlado, não para ser sentido. Mas por mais que eu tente me concentrar, o som daquelas risadas não sai da minha cabeça. A cena na cozinha permanece clara em minha mente. Tate e Giulia fazendo bagunça. O modo como elas se olham com cumplicidade. Tate não deveria se permitir ser feliz. Eu sei que ela entende isso. Ela entende que tudo isso é temporário. Eu sou Hades, e não prometo felicidade a ninguém, especialmente a ela. Não importa o que eu sinta, eu não posso me deixar envolver. Não posso deixar que ela me faça acreditar que eu sou capaz de ser diferente do que sempre fui. Eu respiro fundo, afastando esses pensamentos. A raiva começa a tomar conta de mim. A necessidade de controle, de domínio, se intensifica. Eu preciso lembrar de quem eu sou. Eu sou o homem que construiu esse império, o homem que todos temem. E Tate... Tate não é diferente. Ela faz parte do meu jogo, uma peça que preciso manipular. Eu a trouxe para minha casa, mas não posso me apegar a ela. Nunca. Eu volto para as câmeras de segurança e vejo Tate colocando um biscoito na boca. Seus olhos fecham por um momento, e ela sorri de forma tranquila, quase como se estivesse saboreando o momento. Não deveria ser assim. Eu não quero que ela sinta que tem algum tipo de paz ao meu redor. Mas algo em seu sorriso me afeta, me atinge de uma maneira que eu não posso ignorar. Foda-se. Eu não sou esse homem. Não sou alguém que pode ser tocado por ela ou por qualquer coisa. Mas, mesmo assim, eu a observo, como se houvesse algo em seus olhos que me fizesse questionar tudo o que sempre soube ser verdade. Uma parte de mim deseja simplesmente ir até lá e interromper aquela cena. Colocar um fim nesse momento de leveza e retorno ao controle. Mas há outra parte de mim que deseja ver mais. Deseja ver o que Tate pode fazer, o que ela pode se tornar. Algo me diz que Tate é mais do que apenas uma peça no meu jogo. E isso me assusta. Eu me levanto da cadeira e me dirijo até a janela. Lá fora, a noite está silenciosa, fria. Mas aqui dentro, em minha própria casa, algo está mudando. Eu sei disso. Não posso mais ignorar. O que isso significa, eu não sei. Mas, por agora, fico ali, observando, sem saber o que fazer com essa nova sensação. Tate continua a sorrir enquanto decora mais biscoitos, e, por mais que eu tente, não posso impedir de sentir algo que se assemelha à... preocupação. São quase uma da manhã. Me abstive de sair daqui e não vou. Não quando eu sei que a felicidade acabará no momento em que eu aparecer. Algo novo surge em meu peito quando as vejo sentadas no chão — Tate está deitada de bruços com seu shortinho super curto —, decorando biscoitos e falando sobre filmes. Giulia não culpa Tate por nada do que aconteceu, porque eu deveria culpá-la? Eu simplesmente expulso os pensamentos e me sento na minha cadeira, acedendo um cigarro e dando um longo trago. *** São quase três da manhã quando o silêncio reina. Ouvi seus passos correndo na frente da porta do meu escritório, enquanto uma sussurrava "shhh" para a outra, depois, sumiram. Eu já estava cansado. Tinha trabalhado muito para ignorar toda essa sensação latente no meu peito — essa que me incomodava tanto e agora, precisava me deitar e finalmente, dormir. Sai do escritório e tranquei a porta. Meus passos são leves em direção ao meu quarto, mas quando abro a porta, a imagem mais surpreendente preenche a minha visão. Não pela bandeja apoiada sobre o sofá, cheia de doces, uma jarra de suco vazia ou o filme de vampiros passando na televisão, mas por, consciente ou incoscientemente, Tate e Giulia estarem abraçadas, dormindo calmamente, com expressões serenas. Não consigo deixar de olhar e sentir inveja da minha irmã por um único segundo, mas empurro esse sentimento para o fundo da minha cabeça. Pego uma roupa, tomo um banho calmo e demorado, me visto com o meu pijama e saio do banheiro, puxando o cobertor o suficiente para me deitar ao lado de Tate — Giulia está do outro lado, suas mãos entrelaçadas a da minha esposa, parecendo irmãs gêmeas no útero. Dou uma risada com o meu pensamento e me aconchego. Eu podia ir dormir no quarto de hóspedes, mas simplesmenre não quero. Gosto de ficar aqui... por algum motivo que eu odeio. 
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