As portas da mansão Di Tempesta foram abertas para mim. Meu coração estava batendo com força contra o meu peito, me fazendo hiperventilar com a ansiedade. Eu estava esperando o pior agora; estava esperando que ele me debruçasse contra uma superfície e fizesse seu trabalho sujo, mas Hades me olhou com desdém, como se eu fosse uma sujeira em seu piso caro de porcelana.
— Miranda! — Ele grita, sua voz soando tão alto que me faz estremecer. Hades sabe o poder que tem, então seus olhos descem para mim, para meu vestido branco de casamento e param por um tempo em meu rosto.
Saltos são ouvidos correndo em nossa direção. Uma mulher séria e de aproximadamente cinquenta anos aparece, seus olhos me estudam e recaem sobre ela. Posso ter um vislumbre de compaixão enquanto ele começa a desafrouxar a sua gravata.
— Sim, senhor? — Ela pergunta, sua voz soando um pouco mais baixa que a dele.
— Ajude Tate a se acomodar e tirar essa... — Seus dedos apontam para o meu dedo e seu rosto se contorce em uma careta. — monstruosidade.
— Sim, senhor. — Ele diz.
— Mande alguém entregar um café no meu escritório. Tenho algumas coisas para resolver para amanhã. — Explica, enquanto começa a andar em direção a grande escadaria, subindo degrau por degrau lentamente.
Ele some da nossa visão tão rápido quanto pode. Miranda tem seus olhos em mim, ela me analisa de cima abaixa e vejo quando a pena passar por eles. Quero chorar quando ela se aproxima e segura as minhas mãos contra as suas. Sinto algo dentro de mim quebrar pelo mínimo afeto que recebo da desconhecida á minha frente. A empregada de Hades.
— Venha, querida. — Ela suspira pesadamente, seus olhos deixando os meus. — Deveríamos ter um elevador nessa casa, ou aquele monello deveria ter ajudado você a subir com esse vestido enorme.
Desço meus olhos para ela, que começa a juntar a minha saia.
— Podemos tirar a ánagua. — Eu murmuro, minha voz saindo baixa demais.
Ela me olha agora, sorrindo levemente.
— Sim, tem razão. — Ela limpa a garganta.
Seus dedos são ágeis para subir minha saia, desamarrar a Manágua da minha cintura e deixá-la cair aos meus pés. Elas escorrem para o chão. Rebato meus pés para me livrar dos saltos e enfim, me livro do maior peso do meu vestido.
— Obrigada. — Digo, suspirando de alívio.
Ela me ajuda a enrolar tudo nas minhas mãos e recolhe o restante, começando a subir as escadas e maneando a cabeça para que eu a seguisse. Seus olhos me encaram e ela me dá um sorriso fraco. O corredor é longo, fazendo jus a casa enorme. Viramos a uma esquerda e chegamos a um último corredor, agora sem saída e com uma única porta.
Ela abre a porta devagar, me dando espaço para que eu entre. Meus olhos analisam todo o espaço.
Isso aqui é enorme. Maior do que imaginei durante toda a minha vida. Penso, comigo mesma.
— Esse é o seu quarto, senhora Di Tempesta. — Ela diz, dando-me um sorriso fraco. — Vou preparar um banho para a senhora e arranjar um lugar para guardar seu vestido e mandar para a lavanderia amanhã. — Ela diz, enquanto coloca tudo que tem nas mãos em um canto.
— Não precisa. Eu sei me virar. — Digo.
Ela me analisa, seus olhos me estudando. Agora, não tem mais pena, mas parece curiosa para saber mais sobre mim.
— Eu costumava me virar na minha casa. — Digo. — Pode só me ajudar a tirar o vestido? Uma chuveirada quente será o suficiente.
— M-mas... — Ela gagueja, seus olhos se arregalando. — Seu marido. É noite de nupcias.
— Como devo me referir a você? — Pergunto.
— A senhora pode me chamar de Miranda.
— E você pode me chamar de Tate. — Sorrio. — Miranda, meu marido, aparentemente, me odeia. Tem asco de mim. Ele prefere trabalhar depois do nosso casamento a ter que se deitar na mesma cama que eu. Não acho que seja necessário fazer nenhuma dessas... coisas... que mulheres fazem para se preparar.
Ela olha para o chão e eu suspiro, virando-me de costar para ela.
— Pode somente me ajudar com os botões?
Sinto quando ela se aproxima, quando seus dedos começam a desafrouxar a roupa e me livrar do aperto e de tudo que me incomodava nesse tecido pesado, que está me espetando desde que o vesti. Um suspiro de alivio deixa meus lábios e eu me viro para ela, permitindo que o sorriso mais doce apareça em meu rosto.
Miranda não parece me odiar. Analiso. Ela parece ter um pouco de pena, então deve saber os termos do meu casamento.
— Enquanto tomo banho, pode me preparar um chá?
— Sim, senhora. — Ela assente. — Vou deixar uma roupa para você sobre a cama.
Eu não discuto com ela. Deixo que faça o que achar melhor. Entro no banheiro e me tranco, olhando a minha imagem decadente refletida no espelho. Começo a me livrar dos grampos e deixá-los sobre a mesa. Me livro também do meu vestido, que chuto com asco para o canto do banheiro antes de entrar no box.
*
Demoro mais do que deveria me livrando de todo o laquê utilizado no meu cabelo. Também o sequei para poder dormir mais confortavelmente.
Quando abri a porta do banheiro, parei estática. Hades estava sentado sobre a cama, usando um par de óculos e lendo um livro calmamente. Parecia concentrado. Estava usando somente uma calça de moletom e seus cabelos estavam um pouco umidos, denunciando que tinha tomado banho fora do quarto.
— Vai ficar parada me encarando igual uma i****a? — Ele pergunta, rude.
— Desculpe.
Desvio meus olhos dele, fechando a porta atrás de mim. Dou passos contidos em direção a poltrona em que minhas roupas estão dobradas e as pego entre meus dedos trémulos. Me viro para sair e ir me enfiar no banheiro novamente, surtar e gritar sozinha no volume 0.
— Para onde está indo? — A voz de Hades é grave atrás de mim. Sinto um arrepio percorrendo minha espinha e o encaro por cima dos meus ombros.
Ele é tão mais alto que eu. Sinto medo dele. Ele seria capaz de me matar?
— Vou me trocar no banheiro. — Minha voz sai baixa.
— Não vai não. — Ele diz, segurando a minha cintura com suas mãos fortes. Apertando-as. — Quero que se troque aqui, quero ver o que tenho em minhas mãos.
— Hades... — Sussurro, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. — Por favor...
Isso era humilhação demais para mim. Não podia ficar nua na frente dele, mesmo sabendo que, se ele quisesse consumar o casamento agora, eu não poderia negar.
Ele dá um sorriso para mim, rindo fraco. Seus dedos tocam meus cabelos e ele analisa, colocando uma mecha atrás da minha orelha:
— Se troque. Não me faça perder a paciência com você.
— Não tem misericórdia de mim? — Eu pergunto, por impulso. Quero engolir minha própria língua no momento em que ele se aproxima mais rápidamente. Meus passos para trás são rápidos, até que eu bata na cama e caia para trás, afundando nos lençois.
— Misericórdia? — Ele ri, uma risada cheio de escárnio. — Do mesmo jeito que o i*****l do seu pai teve da minha irmã? — Seus dedos encontram meu pescoço e ele aperta com força. Lágrimas molham o meu rosto ao mesmo tempo que encravo minhas unhas na sua mão. — Acha que tem direito de pedir misericórdia? O que pensou, Tate? Que seria amada? Que teria um casamento feliz? — Ele aproxima seu rosto ainda mais do meu rosto. — Sua família deu você para mim e eu tenho direito sobre tudo em você, Tate. — Ele se afasta. — Quando eu mandar se trocar na minha frente, você fará. Se eu mandar desaparecer, dará um jeito de sumir. Estamos entendidos?
— S-sim. — Eu digo, segurando a minha garganta. Seus olhos são puro ódio enquanto me encaram.
— Eu não estava mentindo quando disse que pagaria pelos pecados dele. — Ele diz, enquanto se ajoelha entre as minhas pernas. — Agora, você vai...
Uma batida na porta o interrompe e ele se afasta.
— Se troque no closet. Eu vou atender.
Eu apenas aceno com a cabeça, desesperada para sair da presença dele. Corro, segurando minha roupa e minha toalha com tudo que tenho em mim.
Ele vai me matar a qualquer momento, eu posso sentir.