Rendida ao Consigliere | Máfia

Prólogo

Me sinto sufocada em meu vestido de noiva. Mas eu sei, lá no fundo, que não é o tecido ao redor do meu pescoço que está me causando essa sensação.

— Você está deslumbrante. — Olho para minha mãe pelo espelho, enquanto ela termina de avaliar meu vestido. Ela capta meu olhar desesperado e logo seu sorriso se fecha. — Você terá a vida que qualquer garota neste lugar deseja, Honor, porque está com essa cara?

Eu sinto vontade de bufar, de gritar e espernear, dizer a ela todas as coisas que estão entaladas na minha garganta desde o dia que ela me prometeu a ele, mas eu apenas engulo a seco e desvio meu olhar do dela.

— Não acho que elas desejam se casar com um homem… — Velho? Nem conseguia dizer a palavra.

— Você não precisa focar nisso. — A voz dela ficou suave, coisa que eu nunca tinha ouvido antes. Ela sabia o desafio que era esse casamento, sabia o que eu passaria. Ela estava com pena, quem não estaria? — Pense em todas as outras coisas, a riqueza que você terá, a importância que você vai exercer. Você será a figura mais importante entre as mulheres, Honor, bem... a segunda mais importante, mas assim mesmo, importante.

— Você faz parecer fácil. — Sussurrei, tentando não pensar nas outras coisas além das que ela citou. Como esta noite, por exemplo. Eu estava apavorada. Como eu vou suportar minha noite de núpcias sem vomitar? E todas as outras?

— Fica mais fácil com o tempo. — Ela veio até o meu lado, seu olhar duro e ao mesmo tempo culpado. Como ela poderia saber que fica mais fácil? Meu pai tinha a mesma idade que ela quando se casou, eles eram jovens, não eram felizes, mas eram jovens! Como eu deveria agir me deitando com um homem que m*l conseguia andar?

O nosso Consigliere tem pelo menos três vezes minha idade!

Coloquei a mão na boca, impedindo uma ânsia de estragar o meu vestido. Oh céus, eu estou completamente perdida.

Deveria ter fugido assim que soube dessa união. Porque eu não o fiz? Porque não arrisquei ser morta fugindo do que me torturar fazendo isso?

Ouço duas batidas na porta, e a minha mãe anda até lá para saber quem é, m*l consigo prestar atenção na conversa que ela estava tendo, anestesiada demais tentando pensar nas formas de passar por isso sem a vontade de me matar, no entanto, ouço a sua voz me chamando para meu trágico fim.

— Vamos Honor, estão esperando por você.

Engoli o nó se formando em minha garganta e segurei as lágrimas prestes a cair. Seria pior se eu chorasse. Seria muito pior, e eu sabia disso.

Coloquei um sorriso no rosto, ou pelo menos alguma coisa perto disso, e segui meu caminho, arrastando meu vestido caro e extravagante que minha mãe escolheu por mim.

Ela ficou animada demais em gastar o dinheiro do consigliere, e eu desanimada demais para sequer olhar qualquer coisa.

Quando sai para o corredor foi que notei que quem havia avisado sobre o horário era meu pai. Seu semblante estava sério, assim como sempre foi.

— Está preparada? — Não. Nunca estaria. Eu dei um leve aceno. — Ótimo. Espero que você ponha em prática tudo que te ensinamos e se certifique de dar um herdeiro ao Consigliere o mais rápido possível. Isso garantirá sua honra.

Engoli a minha bile que ameaçava sair para fora com seu comentário escroto. Meu pai nunca foi um pai amoroso, ou mesmo parecia sequer um pai. Para ele, eu e meus irmãos sempre fomos objetos que ele usa para chegar onde quer. E dessa vez, fui eu a usada para que ele entre para a família do Consigliere.

Eu não me atrevi a respondê-lo, sabia que dizer alguma coisa iria deixá-lo irritado. Entre ele e minha mãe, ele tinha o pavio mais curto, e eu não gostava de sofrer as consequências.

Embora eu acredite que dificilmente ele ousaria me bater poucos minutos antes de entrar no meu casamento com o Consigliere.

Não quis arriscar, de qualquer maneira. Já tinha o suficiente com o que lidar.

Ele agarrou o meu braço com pouca delicadeza e me guiou em direção à capela, onde estavam me esperando. Minha mãe se esgueirou por nós e correu até o seu assento para assistir a cerimônia.

Meu coração começou a bater ainda mais forte e mais rápido, se isso era possível. Eu conseguia ouvi-lo enquanto parava no início do tapete vermelho. Nem a música matrimonial conseguiu abafar o som do meu coração impaciente.

As lágrimas foram inevitáveis em meus olhos quando encarei o meu marido ao fim do corredor. Os convidados ao nosso redor tinham olhares de pena em minha direção. Não parecia uma comemoração, parecia um enterro.

O meu enterro.

Meu pai apertou o meu braço delicadamente quando um soluço sufocado escapou da minha garganta enquanto andávamos até o meu futuro marido, e eu sabia que ele estava perdendo a paciência comigo, mas eu não ligava mais. Eu preferia ser surrada mil vezes do que me casar com o homem à minha frente, que me olhava como se eu fosse seu pedaço de carne.

Paramos em sua frente e meu pai me entregou a ele. Eu não conseguia sequer sorrir. Não conseguia sequer fingir que isso era algo bom.

Estremeci completamente quando ele segurou a minha mão e me guiou altar acima.

Ele parecia extremamente satisfeito com minha reação. Sádico. Eu estremeci de novo, e desviei o olhar. Sabia que se olhasse para ele por mais tempo poderia cometer uma burrice sem reparo.

Porque ele quis se casar de novo? Por que ele simplesmente não ficou viúvo para sempre? Era só olhar para seu rosto satisfeito que eu saberia a resposta: porque ele pode. Ele podia querer se casar com qualquer mulher em nossa famiglia e ninguém se oporia, afinal, ele é o Consigliere, o segundo homem mais importante de toda a máfia. Ele aconselha o nosso Dom.

Tudo passou tão rápido, eu nem percebi, aflita demais para prestar atenção, desejando que isso pudesse acabar, desejando que isso fosse um maldito pesadelo. No entanto, percebi que não poderia acordar disso, não quando o padre nos declarou como marido e mulher, e ele m*l conseguia esconder sua excitação.

Era isso. Era meu fim.

Oficialmente, o Consigliere é o meu marido.

“Pode beijar a noiva”

E eu chorei, sem me importar com os convidados, sem me importar com as consequências. Chorei quando ele segurou o meu rosto e colocou sua boca na minha.