Capítulo 01

1548 Words
Minha mente está em branco enquanto estou sendo guiada para a nossa mesa, na festa após o casamento. Me sinto suja. Enojada. Traumatizada. Ele está segurando em minha cintura, com um sorriso triunfante no rosto, e eu m*l consigo pensar, m*l consigo observar o que acontece ao meu redor, as pessoas ao meu redor. Ele quase não consegue andar direito devido ao seu peso e a sua idade. Como um homem como esse pode ser o homem que aconselha o nosso Dom? Como um homem desprezível como este pode impor respeito a todos os outros? Não consigo entender. Ele m*l consegue defender a si mesmo nesse estado, como pode saber ser um conselheiro respeitado? Não consigo entender. Engulo a ânsia que vem a minha bile e me sento ao seu lado. — m*l posso esperar para te levar para o quarto, minha querida esposa. — Ele diz em voz alta, sem se preocupar com que os outros possam ouvir, e meu estômago embrulha. Opto por não responder. Fico encarando a toalha de mesa branca à minha frente, ainda incapaz de admitir o que estava acontecendo comigo. Observo a comida ser servida à minha frente. Parece boa, parece realmente muito boa, mas sei que se colocar algo no estômago, eu provavelmente vomitaria. Mas pego a taça de espumante branco e a bebo de uma só vez. É suave e adocicado, m*l sinto o álcool. Não que eu tenha bebido alguma coisa outra vez em minha vida, mas percebo que se eu não me lembrar dessa noite, será melhor para mim. Dizem que o álcool te faz esquecer das coisas. Bem, ao menos é o que meu pai dizia no dia seguinte depois de uma surra. Ele sempre esquecia porque meus braços estavam roxos. Meu marido não parece ter objeções contra minhas bebidas, o que me deixa aliviada enquanto peço outra taça. Só então percebo que em nossa mesa não há apenas eu e ele, o meu marido, há outro homem sentado à nossa frente. Acho que ele percebe meu olhar, erguendo o rosto em minha direção, meu marido também não deixa escapar esse detalhe, seguindo meu olhar. — Está incomodada, esposa, com a presença de meu filho? Filho. Eu sabia que ele tinha um filho do último casamento, mas nem tinha reparado que ele estava aqui. Não imaginei que ele voltaria do exterior para o casamento do pai, ou em qualquer outro dia. Diziam que os dois não tinham um bom relacionamento. Eu balancei a cabeça negativamente, incapaz de conseguir responder á ele de uma maneira que não fosse deixá-lo bravo. Então voltei a encarar meu prato, esperando por minha taça. Essa era minha última noite em sã consciência. Eu sabia que iria enlouquecer. /-/-/ Eu não sei quantas taças eu bebi, mas tinha certeza que meu marido bebeu ainda mais que eu. Ele estava bêbado, de uma maneira que eu nunca vi nenhum outro homem na minha vida. Mas eu não estava preocupada com isso. Eu estava aliviada. Ele não estava ligando muito para mim e talvez ele apagasse quando fôssemos para o quarto. Eu tinha essa esperança enquanto ajudava a encher sua taça após taça. Meu nervosismo não sumiu, pelo contrário, só estava ainda maior. O filho dele ainda estava na mesa, me observando toda vez que eu me disponibilizava para encher o copo de seu pai. Eu sabia que ele sabia o que eu estava fazendo. E eu não sabia se ele estava bravo comigo por causa disso, seu rosto é sério. Eu não conseguia saber o que ele estava sentindo nas poucas vezes que eu o olhava. Será que ele não dizia nada porque não queria causar uma confusão? Ou será que ele estava esperando o momento certo para avisar ao pai sobre meus planos e dizê-lo para me castigar? — Minha querida esposa.. — Endureci quando a atenção do meu marido voltou para mim. — Vamos dançar antes de ir para o quarto. Eu congelei, e senti todo o meu corpo estremecer duramente enquanto assistia ele lutar para se levantar da cadeira e permanecer em pé. Engoli em seco e troquei um olhar com o cara à mesa. Ele cruzou os braços, indiferente ao meu sofrimento. O que eu esperava de um cara que eu nunca vi também? Não é como se ele pudesse fazer algo. Ninguém podia. Peguei a mão do meu marido estendida e levantei, o seguindo para a pista de dança. Endureci completamente quando ele me puxou para perto e colocou a mão em minha b***a. — Mexa-se. — Ele rosnou, o seu hálito de álcool me atingiu em cheio e eu quase vomitei todo o liquido que eu bebi. Ele não parecia feliz. — Se você acha que me embebedar vai me fazer esquecer o que vou fazer com você esta noite, você está enganada, minha doce esposa. Ele apertou a minha b***a e eu dei um pulo pelo susto, as lágrimas ardendo em meus olhos, sentindo medo, pânico, e me sentindo envergonhada por ser exposta assim na frente de todas as pessoas que estavam olhando para a cena. — Eu só queria alegrá-lo… marido. — Eu disse as palavras, gaguejando, sufocando com cada sílaba que saía da minha garganta. Ele sorriu, aquele sorriso sádico que ele me deu no altar, e eu queria morrer ali mesmo. A música acabou depois de um tempo e eu senti que meus joelhos iam ceder a qualquer momento. Eu m*l conseguia dar um passo, pânico correndo solto em meus ossos. Eu sabia que ele se certificaria em me fazer sentir dor essa noite, e eu não desejava nada mais do que morrer. — Poderia me conceder a última dança de sua esposa, meu pai? — Meus olhos arregalaram quando o rapaz parou ao nosso lado, encarando seu pai com seriedade. O velho olhou para o filho com animosidade, mas entregou a minha mão a ele mesmo assim. — Seja rápido, quero comê-la logo, preciso de outro herdeiro. Eu estremeci completamente com suas palavras enquanto encarava suas costas, vendo-o se afastar até a nossa mesa e exigir ainda mais bebida. — Posso? — Virei meu rosto para o rapaz rapidamente, observando sua mão em direção a minha cintura. Eu assenti brevemente, ainda incapaz de aceitar o fardo dessa noite, chocada até o âmago com minha própria imaginação. Respirei profundamente tentando controlar minha tremedeira e me aproximei, finalmente olhando para os seu rosto, seus olhos, e precisei de um longo e profundo suspiro para me recuperar da visão. Ele não se parece nada com seu pai. Ele tem uma pele bronzeada, enquanto seu pai é branco como um fantasma, seus cabelos são pretos e bonitos, de seu pai é um louro sujo, mas seus olhos, são seus olhos que me chamam a atenção. Seus olhos são de um azul escuro tão cativante que perdi totalmente meu fôlego. Era como olhar para um dia tempestuoso de frente para o mar, era como sentir a fúria do oceano olhando diretamente de volta para mim. Olhar para ele me fazia esquecer todo o resto ao meu redor. — Parece que você vai ter um mau súbito a qualquer instante.— Ele zombou, mas não havia um pingo de humor em seu rosto. — Talvez eu tenha a qualquer momento, será uma benção. — Murmurei de volta, olhando de relance para a mesa onde seu pai estava, estremecendo cruelmente quando percebi que ele estava nos olhando com um semblante nada amigável. Voltei a olhar para o filho. Ele me conduziu pela pista suavemente, com o respeito e a delicadeza que seu pai não teve comigo, em completo silêncio. Eu não ousei falar alguma coisa. O que eu diria? Estava ocupada demais tentando pensar em maneiras de sair dessa situação. Não conseguindo nenhuma. — Seu coração parece que vai explodir. — Ele disse, me fazendo erguer o queixo para olhar para seu rosto. Ele apertou o meu pulso levemente, indicando como ele sabia sobre isso. — O que você está pensando? Eu engoli em seco olhando para o seu rosto. E um lampejo de coragem me atravessou. — Pensando que seu pai poderá se tornar viúvo antes mesmo de consumar o casamento. Ele não riu, como eu esperava que ele fosse rir, debochando da minha fraqueza, pelo contrário, ele pareceu ficar com raiva. — Então você simplesmente vai desistir da sua vida por causa dele? — Você sobreviveria a isso? — Questionei, com raiva na voz, mas imediatamente reparei no meu erro. Ele era o filho do Consigliere, era um homem de honra, um assassino, que diabos eu estava fazendo falando dessa maneira com ele? — Me desculpe, não quis.. — Não quero suas desculpas. — Os olhos dele desviaram dos meus, gélidos, olhando por cima da minha cabeça enquanto continuava conduzindo a dança. — Ele é velho, não vai viver muito tempo, isso não te conforta? — E o que isso importa pra você? — Embora a pergunta parecesse rude, suavizei meu tom de voz.— Nem nos conhecemos, porque se importa? Observei seu peito subir e descer pesadamente sob o terno feito sob medida. — Tem razão, não me importa. A voz dele era dura e fria, assim como a do pai. E toda a distração que essa dança me trouxe sumiu, me trazendo os pensamentos ruins novamente.
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