Mais um acidente

1536 Words
Clarissa Mais um daqueles dias que parecem não ter fim, eu tentei deixar todo o meu passado para trás, mas como fazer isso se minha própria mente não me permite? Me mudei para um apartamento muito bacana, as economias que juntei durante todo a vida mais o que recebi do meu pai quando faleceu me ajudou a comprar. A algum tempo atrás aconteceu algo que me tirou dos eixos, me fez perder completamente a linha. Estava no meu plantão quando chegou uma moça passando m*l, auxiliei o médico no caso dela e a ajudei quando necessário, ela era um doce, parecia ser alguém muito importante já que ninguém passava por seus seguranças, muito menos um homem insistente que estava aguardando do lado de fora. Esse nem foi o problema maior, o caso é que, quando o marido dela chegou, acompanhado de um outro homem, o marido e o insistente começaram uma briga bem f**a na porta do quarto da paciente. Além do total desrespeito com o local onde se encontravam, nem mesmo por epa tiveram respeito. Eu nunca tinha visto tanto homem bonito em um só lugar, mas naquele momento eu queria matá-los. O negócio é que quando pedi ao outro homem que me ajudasse a separar, ele apenas me disse para ficar fora daquilo para não me machucar, eu mesma queria dar na cara daquele cretino, os seguranças nem ele fizeram nada, apenas esperaram até que o marido dela parasse. – Estamos em um hospital, será que poderia me ajudar, temos pacientes em estado grave aqui. – Me olhou como se não estivesse nem prestando atenção em mim. – Eles vão parar. – Como alguém pode ficar assim tão calmo em uma situação como essa? Olhei para ele de cara f**a, então ele arrancou o marido de cima do outro, mas eles só pararam mesmo quando ouviram a voz da esposa. Eu não sei o que tinha acontecido entre aqueles dois, mas eles poderiam ter lembrado de que estavam dentro de um hospital e não deveriam se pegar como dois galos de briga. Olhei f**o para o homem que não quis ajudar e me retirei, mas o destino as vezes quer testar a nossa paciência de diversas maneiras. O plantão aquele dia foi muito puxado, eu estava tão cansada, não conseguia nem mesmo pensar direito, deveria ter pego um taxi, mas como a teimosa que sou peguei meu carro para ir para casa, foi uma péssima escolha, acabei batendo o carro. Desci para ver se estava não tinha ferido ninguém. – Está tudo bem? Se machucou, eu sinto muito... – E para a minha surpresa, de dentro do carro desceu o mesmo homem que não me ajudou com a briga a princípio. – Você de novo? – Ele parecia mudar de humor rapidamente, o rosto assumiu uma feição dura instantaneamente. – Eu te garanto que não estou feliz por estar te vendo novamente, mas estou errada, vou reparar o meu erro. – Peguei meus documentos na bolsa e um bloco de notas para adicionar meu telefone. – Eu pagarei por todo o dano. – Não há como pagar pelo meu tempo! – Ele se virou voltando para dentro do seu carro, ignorando completamente minha tentativa de reparar o erro que cometi. – Não se preocupe com meu carro, o estrago não foi tanto, tenha uma boa noite! Fiquei com a cara de tacho no meio do estacionamento com meus documentos na mão. – b****a! Voltei para casa depois daquele dia de cão olhei as caixas que tinham ao redor, mas decidi que não eram tão importantes quanto uma boa noite de sono. Do jeito que estava indo eu terminaria de desempacotar no próximo ano talvez. Meus dias são sempre agitados, corridos, mas é melhor assim, é como dizem, mente vazia, oficina do d***o, melhor estar ocupada do que pensando no que não devo. Quero deixar meu passado completamente para trás, esquecer de tudo o que ficou e viver algo completamente novo. Mas como toda alegria dura pouco, essa manhã quando cheguei, completamente exausta, sem conseguir parar em pé, me deparo com uma barata... e como se não bastasse, como se aquele inseto tenebroso não fosse o bastante, meu vizinho é quase tão assustador quanto a barata! Como um homem tão bonito pode ser assim tão arrogante e grosso? Quando o vi entrar no meu apartamento a minha mente nublou, nunca tinha visto nada tão másculo, tão poderoso, o corpo tinha algumas cicatrizes, mas era sexy, rústico... sei bem que eu não deveria ficar reparando no corpo sarado do meu vizinho m*l humorado, mas só se eu fosse cega para não ver. E para acabar de montar o combo da perdição o homem me aparece de cueca! De cueca! Qualquer mulher em sã consciência olharia. Mas eu não vim aqui para me envolver com ninguém, embora seja muito bonito, qualquer pessoa se torna f**a com um humor terrível desses. Não consegui dormir de imediato, depois do banho me deitei e fiquei pensando, o susto me deixou alerta, isso era a última coisa que eu queria. Minha mente vagou para o passado, para as pessoas que deixei para trás, para a vida que abandonei. Um tempo depois consegui dormir, era meu dia de folga, então coloquei as mãos na massa para desempacotar minhas coisas, eu até tento fazer tudo, mas o cansaço me impede, e a vontade de ficar sentada no sofá sem fazer nada também. Mais uma vez me lembro de que a mente vazia... inventei de furar uma parede na cozinha, pensei que não haveria problema já que não era assim tão perto da pia, achei que não haveria nenhum cano por ali... – d***a! Bem, se o meu querido e doce vizinho não me matou pela batida do carro e pela barata praticamente na madrugada ele provavelmente me mataria por inundar seu apartamento, ou pelo menos encharcar sua parede. – Muito bem Clarissa, meus parabéns! – Eu não deveria ter saído da cama hoje. Liguei para o síndico e expliquei o ocorrido. – Por favor, eu pagarei por todos os danos, por favor verifique o apartamento do vizinho, deve ter acontecido algo. Ele fechou o registro do apartamento, algo que nem passou pela minha cabeça durante o meu desespero. – O Sr. Cardoso não gosta que ninguém entre em seu apartamento, diz que a menos que esteja pegando fogo e com ele dentro, ninguém precisa se incomodar em verificar nada lá dentro. – Ah, sim, eu o conheci esta manhã, um amor de pessoa, não é? Mas... eu insisto, pode ter danificado alguma coisa importante, eu me sentiria péssima se focasse pior apenas porque não fizemos nada a tempo! Ele insistiu que não era uma boa ideia e que seria melhor esperar que o meu vizinho chegasse. Fiquei andando de um lado para o outro do apartamento, dessa vez ele iria mesmo me odiar... Algum tempo se passou até que eu ouvi alguma movimentação no apartamento ao lado, meu sangue gelou e não era para menos, ele não parecia uma pessoa muito sociável. Saí do apartamento e fui até a porta dele. – Eh... oi... – Oi? É isso que tem para me dizer? O que fez no seu apartamento? – Ele me olhou bastante nervoso. – Já vão vir arrumar, eu pedi que abrissem a porta antes, mas seu carisma impede as pessoas de fazerem o que é certo! – Esse cara é realmente muito irritante. Entrei no apartamento, mesmo sem ser convidada, era tudo muito sóbrio, sem cores, bastante masculino. – Eu não gosto de ninguém entrando aqui. – Senti uma indireta bem direta. – E as pessoas aqui sabem disso. Ele realmente não gosta de mim, e não faz questão de esconder. – Eu vou arcar com as despesas, o síndico já me indicou alguém. Ele olhou como se eu fosse louca. – Qual a parte de eu não gosto de ninguém no meu apartamento você não conseguiu entender? – Ele olhou sugestivamente para a porta. – Pode ficar tranquila que eu mesmo dou um jeito aqui. – Por que tem que ser assim tão grosso? Eu só estou tentando fazer a minha parte! – Virei as costas para ele. – Me chame se quiser algo, eu não tenho como te obrigar a aceitar minha ajuda. – Eu... desculpa, estou com a cabeça bastante cheia... – Deu um suspiro alto. – Obrigada, mas pode deixar que eu concerto as coisas por aqui, pode se concentrar no seu apartamento. Uau, ainda que muito grosso, foi um belo passo desde o dia em que nos conhecemos. – Bem, se precisar... Me virei dando a ele um sorriso leve e sem jeito. Não é a primeira vez que eu o prejudico de alguma maneira e mesmo assim ele recusa a minha ajuda veementemente. Meu apartamento também não estava lá aquelas coisas, molhou algumas caixas, estava uma verdadeira bagunça. – Vou ter um trabalhão com tudo isso. Horas depois não havia sinal do homem que viria arrumar minha pequena trapalhada. Liguei algumas vezes e nada de me atender. Escutei uma batida na porta. – Oh, finalmente! – Mas quando abri a porta era o meu vizinho quem estava do outro lado. – Quer uma ajuda?
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