Se havia algo que eu odiava, era a segunda-feira. Porque nada ia bem na segunda-feira.
A segunda-feira deveria ser o dia internacional do descanso.
Segunda-feira as pessoas só querem descansar do final semana. Na verdade eu não estava cansada, mas se havia um lugar para onde eu não estava afim de ir aquela segunda feira, esse lugar era meu colégio.
Observo o teto por mais alguns minutos e cubro a cabeça.
Física.
Eles deveriam pegar mais leve na grade de horários.
Em plena segunda-feira, primeira aula de Física.
Só de imaginar o Sr. Wilton dando ênfase no meu nome enquanto faz a chamada, como se tivesse feito uma descoberta.
Cubro a cabeça novamente.
– Cind, você não havia marcado com a Maggie de se encontrar mais cedo no colégio? – Lassie comenta dando duas leves batidas na porta de meu quarto e eu descubro a cabeça esticando o braço para alcançar meu celular.
|Chat Com Maggie |
Maggie – Cadê você, já cheguei.
Às 06:30
Maggie – Estou quase chegando agora na verdade, tinha esquecido o pen drive e voltei para pegar.
Às 06:45
Maggie – Cind? Não vai me deixar na mão né, eu não sei nada desse seminário
Às 06:58
– d***a, d***a, d***a, d***a! – digo dando um pulo da cama – Eu esqueci do seminário – faço um coque no cabelo.
– m***a – resmungo entrando de baixo da ducha quente – O que houve com o despertador?
– Com o despertador nada, acho que foi você quem esqueceu de levantar – Lassie gargalha de mim, abrindo a porta e colocando uma toalha em cima do lavatório.
– Lassie! Fecha a porta! – escondo minhas partes íntimas dela que gargalha mais ainda.
– Não é como se eu não tivesse s***s – ela levanta as mãos para o alto e eu puxo a toalha me enrolando na mesma.
Lassie é minha madrasta, ela se casou com meu pai quando eu ainda era um bebê. Nós sempre nos damos bem, as pessoas até pensam que sou filha de sangue dela, por causa da nossa aparência física e Lassie não tem filhos.
Sou a única.
Então, mais uma prova de que eu e Cinderela dos contos de fadas não temos nada a ver uma com a outra.
Papai trabalha fora da cidade e então passo a maior parte do tempo com ela.
Tomo um banho rápido, vestindo em seguida, um jeans preto, minha blusa de moletom vinho e meu par de botas de couro cano baixo. Dispenso a maquiagem e saio correndo em disparada para o colégio.
– Tchau Lassie – sorrio fechando a porta com pressa.
– Tchau! – ela grita de dentro da casa.
O dia hoje está nublado, céu cinza, vento gelado e eu faço um coque no cabelo e coloco a touca da blusa protegendo meus cabelos da garoa fina que começa a cair.
O sinal já tocou á alguns minutos, então eu corro até meu armário e pego meu material para a aula de Física. Abro a porta de sala de aula atrapalhado a apresentação de uma das duplas da sala e o Sr Wilton que me olha por cima da armação do óculos.
– Desculpe senhor – ele assente com a cabeça.
Enquanto me aproximo de meu lugar, noto um garoto diferente na sala, está de cabeça abaixada. E se senta em meu lugar. Porém não me incomodo, sento–me na carteira ao lado e trato de começar a me preparar junto com Maggie para a nossa vez de apresentar o trabalho.
– Viu o aluno novo? – Maggie comenta enquanto releio minha cola para explicação é volto minha atenção para ela.
– O que está no meu lugar? – ela assente revirando os olhos.
– Mas é óbvio – Maggie diz e faz um gesto com a cabeça para que eu olhe na direção dele que agora observa o grupo apresentando lá na frente sem dar a mínima para eles.
– Ele parece ser bem mais velho – comento.
– Ele está numa espécie de programa. Precisa do diploma do ensino médio para começar uma graduação. Nosso colégio não tem nenhuma sala á parte para os mais velhos. Então ele vai estudar esse último semestre conosco. Ele se chama Jen – Maggie diz e eu ergo a sobrancelha.
– E como você sabe disso tudo? – pergunto e ela da os ombros.
– O bom de ser uma má aluna, é que estou sempre na diretoria e o bom de estar sempre na sala da direção é que eu escuto tudo e sempre sei de tudo – Maggie se gaba.
– Eu não poderia ter escolhido uma amiga melhor – ironizo.
Maggie foi uma das poucas amigas que me sobraram do ensino médio. Na verdade a única.
Geralmente no ensino médio sempre rola aquela sensação de contagem regressiva aonde você nunca mais vai ver ninguém da sua sala e essa sensação faz com que você queira aproveitar muito o seu terceiro ano e ir para quantas festas você conseguir junto com seus amigos.
O único problema é que isso é quase impossível de acontecer quando você tem um pai super protetor que faz você estar em casa todo dia as oito da noite, sem contar na fama de melhor aluna.
Ninguém quer por perto a melhor aluna, a que os professores sempre confiam a sala quando precisam sair para resolver algo. Pelo menos aqui no meu as coisas são assim, ou você é da zueira do fundão ou você é um nerd lambe r**o de professores, e infelizmente eu era a segunda opção, porque precisava de notas boas e não podia se quer dar problema a ponto do meu pai precisar vir aqui saber o porquê disso.
Ele trabalha demais por mim, e a única coisa que eu posso fazer no mínimo é ser uma boa aluna é orgulhar ele.
Então Maggie foi a única amizade que mesmo depois de ter desando ainda me vê como uma melhor amiga.
– Cinderella, – o senhor Wilton indaga meu nome ao fazer a chamada e no mesmo instante ouço o aluno novo soltar um riso, com certeza por causa do meu nome.
Ninguém esperava que uma pessoa tenha o nome que tenho, mas geralmente costumam pelo menos disfarçar a surpresa quando ouvem.
– Não surta – Maggie aperta meu ombro notando meu desconforto por conta do riso dele e eu reviro os olhos sem me importar com ele, que na primeira oportunidade riu de meu nome.
O sinal para o almoço toca e como eu não tomei café, caminho até a fila para pegar o lanche concentrada no visor de meu celular.
Esbarro em alguém sem querer e rapidamente guardo o celular voltando a olhar para frente.
– Meu desculpe – peço e só agora percebo que esbarrei em Jen, o aluno novo.
– Se você olhasse para onde anda, talvez não precisasse estar me pedindo desculpas – diz num tom arrogante.
– Eu já te pedi desculpas – resmungo.
– Quanta gentileza princesa. Só ter saindo do meu caminho já seria o suficiente – ele debocha enquanto se aproxima de mim, me deixando sem fala com sua tamanha arrogância.
– Se próxima vez eu passo por cima – retruco me irritando dando as costas esbarrando nele, mas o moreno segura pelo braço fazendo eu me virar para ele novamente.
– Quem você pensa que é pra me empurrar? – fala um tanto nervoso.
– Escute, eu já lhe pedi desculpas, mas já que você prefere ser e******o então vamos ser – me surpreendo com a aspereza da minha voz, mas desvio rapidamente o olhar dele.
É quase impossível discutir como ele. Na sala de aula eu não havia notado o quanto ele é bonito. Tem olhos cor de mel e cílios enormes, tem barba rala por fazer e lábios radiador carnudos, é cinco ou sete centímetros mais alto que eu e seu braço é coberto de tatuagens e eu quero olhar para ele e observar mais da sua figura, mas ele sabe que estou caindo como um anjo olhando para um demônio, caindo aos poucos, querendo aos poucos e ele solta mais uma vez um riso, convencido fazendo com que eu pigarreie sem jeito.
– Cinderella... – ele ri pelo nariz como na sala de aula – Nome mais estúpido...
– Jen... – o encaro – Nome de cachorro...
– Gosta de provocar né? – n**o – Diz logo que ficou toda... – bato em seu braço o interrompendo.
– Não fale comigo, do jeito que fala com suas prostitutas – vocifero.
– Não vai falar isso quando estiver gemendo meu nome.