Eu estava no canto do salão, os braços cruzados, observando Freldo conversar animadamente com quatro mulheres. Duas delas eu conhecia bem: sua mãe minha sogra, e Ravena, a noiva do seu irmão. As outras duas deviam ser amigas da Ravena. A festa de casamento de Rique e Ravena foi um evento grandioso.
Eu arqueei as sobrancelhas enquanto meu namorado ensinava um passo de dança para elas. Por que ele tem que ser tão extrovertido? Meu sangue ferveu quando uma delas começou a se aproximar bastante dele. Encarei Freldo, deixando bem claro com minha expressão que aquilo não me agradava nem um pouco. Ele percebeu, meio que se despediu delas e veio até mim.
Freldo pegou meu copo de bebida e deu um gole, enquanto eu observava com uma mistura de irritação e surpresa. Após terminar o gole, ele me lançou um olhar curioso e perguntou:
— Por que você está com essa cara?
Eu arqueei uma sobrancelha, não conseguindo esconder o tom sarcástico na minha voz.
— Você virou professor de dança agora?
Freldo fez uma careta, claramente desconfortável com o meu tom.
— Giulia, por favor, não começa com o ciúmes.
— Não é ciúmes, Freldo. — retruquei, tentando manter a calma. — Por que você deixou aquela garota ficar pegando em você.
Ele balançou a cabeça, parecendo frustrado e exasperado.
— Giulia, você sabe que eu gosto de me divertir, conversar, dançar. Você precisa entender isso. E, além do mais, você prometeu que ia maneirar com o ciúmes.
— E por que você permitiu que ela ficasse tão perto de você? — perguntei, a voz começando a subir um pouco, cheia de uma mistura de desconfiança e raiva.
Freldo recuou um pouco, passando a mão pelo cabelo num gesto nervoso que eu conhecia bem.
— Giulia, você precisa confiar em mim. Ela estava apenas tentando entender o passo de dança. Não havia nada mais envolvido.
Eu olhei para ele, confusa e frustrada. Eu não conseguia entender o Freldo, ou ele fingia que era normal deixar outra mulher pegar nele, o que eu não acho nada normal, ou ele fazia de propósito para me deixar com ciúmes, não era possível.
— E se fosse o contrário? — perguntei, minha voz aumentando sem eu perceber. — Se fosse outro cara pegando em mim, você ia gostar?
Freldo olhou ao redor, percebendo que nossa conversa estava chamando a atenção de outras pessoas. Seu rosto mostrava um desconforto visível, e ele baixou o tom de voz.
— Giulia, fala baixo. E para de graça. Eu não fiz nada demais, só estava dançando.
A raiva começou a ferver dentro de mim, e as palavras saíram sem filtro, impulsivas e afiadas.
— Então vou dançar com outro homem pra ver como você se sente!
Levantei-me abruptamente, decidida a provar meu ponto. Freldo rapidamente agarrou meu braço com firmeza, sua expressão misturando frustração e preocupação.
— Giulia, para de ser infantil.
Eu puxei meu braço, me soltando dele, e fui para o salão, determinada a encontrar alguém para dançar comigo.
O ambiente estava lotado, com casais dançando juntos e grupos de amigos rindo e se divertindo. Minha cabeça estava quente e eu só queria provar um ponto, mostrar a Freldo como eu me sentia. Olhei ao redor, procurando alguém que pudesse me acompanhar nessa dança provocativa. Logo avistei um rapaz alto e bem vestido que parecia estar sozinho. Fui até ele e toquei em seu ombro.
— Quer dançar? — perguntei, tentando parecer confiante.
Ele olhou para mim, surpreso, mas sorriu e aceitou. Começamos a dançar no meio do salão, bem próximos.
Eu olhei para Freldo, que nem olhava para nós dois, mas mesmo assim continuei. Queria mostrar a ele como era ver alguém que você ama nos braços de outro. O rapaz com quem eu dançava era gentil, mas eu não conseguia parar de pensar em Freldo. Ele ainda estava de costas, como se não se importasse de eu estar dançando com outro. A cada movimento, a cada risada forçada que eu dava, esperava uma reação dele. Mas nada. Nem um olhar de canto, nem um sinal de desconforto. Como me irrita o fato de ele não demonstrar sentir ciúmes de mim! Parece mesmo que ele não sente, ou esconde muito bem.
A música mudou, e a batida animada contrastava com o turbilhão de emoções dentro de mim. Continuei dançando, mas meu coração estava pesado. Cada vez que olhava para Freldo e via sua indiferença, sentia uma pontada de dor e frustração. Será que ele realmente não se importava? Ou estava apenas fingindo muito bem? Finalmente, a música terminou. Agradeci ao rapaz pela dança e fui em direção a Freldo.
— Satisfeita? — ele perguntou, a voz tensa.
— Eu só queria que você entendesse como eu me sinto, Freldo.
Ele suspirou, passando a mão pelo rosto.
— Isso não é jeito de resolver as coisas.
— Você não se importa, não é? — perguntei, sem conseguir segurar.
— O que você quer dizer? — perguntou ele, confuso.
— Eu estava dançando com outro cara e você nem olhou para mim uma vez. — explodi. — Parece que você não se importa.
Freldo suspirou, passando a mão pelo cabelo.
— Eu confio em você. Não acho que deveria ficar com ciúmes por algo assim.
— Mas às vezes eu queria que você ficasse! Queria que você mostrasse que se importa.
Ele ficou em silêncio por um momento.
— Eu me importo, muito. Mas o ciúme não é a forma que eu escolho para mostrar isso.
— Eu só... eu só quero sentir que você se importa. Me leva pra casa, estou cansada.
Freldo abaixou os olhos, extremamente chateado. Quando ele me olhou de volta, disse:
— Eu me importo. Mais do que qualquer coisa. Vem, eu vou te levar pra casa.
As palavras dele me pegaram de surpresa. A raiva e a frustração começaram a diminuir, dando lugar a uma sensação de compreensão.
O arrependimento tomou conta de mim. Eu, mais uma vez, estragando tudo por causa do meu ciúme. Até quando meu namorado vai aguentar essas minhas atitudes?
Quando Freldo parou o carro em frente ao meu apartamento, perguntei, sem jeito:
— Você não vai subir comigo?
Ele respondeu, chateado:
— Não, prefiro dormir na minha casa.
Freldo ainda morava com os pais, estava no quarto ano da faculdade de medicina. Eu estava no último ano da faculdade de enfermagem, ganhei um apartamento dos meus pais há dois anos. Nenhum de nós trabalhava no momento, focados apenas nos estudos, com nossos pais lidando com todas as despesas.
A despedida foi silenciosa.
— Boa noite, então. — eu disse, tentando esconder a tristeza na minha voz.
— Boa noite. — ele respondeu, sem olhar para mim.
Eu entrei no prédio, sentindo o peso do silêncio entre nós. A noite estava fria, mas a solidão parecia ainda mais gelada. Eu sabia que meu ciúme era um problema, mas parecia que não conseguia controlar. Precisava mudar, precisava encontrar uma maneira de não deixar isso destruir o que tínhamos. Freldo era paciente, mas até a paciência tem limites.
Enviei uma mensagem para Freldo:
"Podemos conversar amanhã? Sinto muito pelo que aconteceu."
Ele respondeu rapidamente:
"Claro, vamos conversar. Precisamos resolver isso."