Aparecida
Cunha
Segurança Cunha
Ele é tão bonito, forte, realmente parece um segurança daqueles de filme. Cunha parecia tão interessado e legal; eu poderia, quem sabe? Bobagem. Um homem lindo como ele não daria moral para uma garota como eu. O fato de nunca ter tido um namorado fez com que eu falasse sem parar, feito uma doida, mas ele perguntou se eu tinha namorado, o que também o deixou interessado. Estou fazendo o jantar pensando em como ele é charmoso e bonito. Se eu quisesse, poderia conhecê-lo melhor e, quem sabe, namorar.
— No que está pensando, Cidinha?
Meu irmão, sem estar chapado, é tão amoroso e bom. As drogas acabaram com meu irmão mais velho. Na verdade, o suicídio de mamãe acabou conosco. Por que ela não lutou por amor a nós? Desistiu da vida por um desgraçado que não pensou duas vezes antes de abandoná-la.
— Você acha que posso ter um namorado? Eu não sou moça de ficar; quero algo sério, entende? Penso que estou em uma boa idade para isso, não é?
— Não, nenhum homem presta, Cidinha. Você é um anjo, e quando descobrirem isso, vão abusar de você como fizeram com nossa mãe. Melhor não. Fica solteira, assim posso cuidar de você e da vovó.
Coitado. Cido chega tarde da noite totalmente fora de si, incapaz de cuidar de si mesmo. Vovó está assistindo à novela distraída, costurando uma camisa para meu irmão, quando a porta é praticamente arrebentada. Quatro soldados da polícia entram em nossa casa com fuzis apontados para nós. Eu me jogo no chão, tremendo o corpo inteiro, lamentando que eles estejam aqui novamente.
— Eu tô limpo!
— Mãos para trás, vagabundo. Somos nós que decidimos se está limpo ou não.
Sinto a mão do policial em meus cabelos, ele os puxa para que eu fique em pé. Este é novo; os antigos não costumam me machucar, nem mesmo a minha avó. Cido deve ter se envolvido em um novo problema. Eu fecho os olhos, morrendo de medo de olhar. O policial aperta minhas bochechas, gritando para abrir os olhos.
Abro e percebo que está sorrindo. Os meus olhos claros, mesmo sendo morena, chamam a atenção; sempre foi assim. O policial me leva até os fundos enquanto os outros mantêm os fuzis apontados para minha vó e Cido.
— O que você é dele?
— Irmã gêmea. Eu trabalho, só não tenho carteira assinada, mas faço diárias, sabe? Todos os dias em casas diferentes. Minha vó trabalha no restaurante Paradise, aquele chique e rico. Tenho as notas promissoras dos nossos pagamentos; eu posso pegar para o senhor. Juro que não tenho envolvimento com nada que não presta.
Ele pareceu acreditar em mim, mas quis revistar o quintal inteiro, graças a Deus não encontrando nada.
— Aparecida Santos, realmente não tem nada aqui. Por precaução, vamos vigiar vocês; caso tenham algum envolvimento, será muito r**m para vocês. Entendeu?
— Sim, eu entendi, Cabo Lopes. Não terá problemas comigo. Eu sou trabalhadora; vai ver que não faço nada de errado.
Ele me prensou na parede, acariciando meu rosto. Fiquei apavorada; nenhum homem me tocou desse jeito, ainda mais um militar com uma arma na mão.
— É uma boa menina, Aparecida, eu sei disso, mas o seu irmão está ao lado de uma facção que não está agindo certo com o combinado. Acredito que depois dessa nossa visita, seu irmão vai entender o recado e repassar para os comparsas. Agora, não quero vê-la passeando até tarde na rua. É da igreja para casa. Eu estou cuidando de você a partir de agora, Cidinha.
Fiquei ainda mais apavorada. O que este homem quer comigo? Eu não sou ninguém importante para querer acompanhar minha vida.
— Tudo bem. Pode me soltar, por favor? Eu quero pegar as notas promissoras para mostrar que sou honesta.
— Não precisa. Eu sei que é. Na verdade, sei tudo sobre você. É uma mulher perfeita, sabia? Seu jeito, sua forma obediente e até seu corpo. É linda demais, Cida. Vou cuidar de você como um homem deve fazer.
Fechei meus olhos, rezando para não fazer nada comigo, quando um dos policiais o chamou, e ele me soltou. Sentei-me no chão do quintal por um longo tempo. Minha avó foi até mim, percebendo como eu estava fora do ar. Isso nunca havia acontecido; foi a primeira abordagem onde sofri assédio. Cido está sentado no sofá, desolado, com a porta ainda no chão, derrubada.
— Eu tenho que terminar a janta. Vou fazer as marmitas para levarmos amanhã, vó.
— Mana, o que aquele policial desgraçado fez com você?
— Eu fiz purê de batata, maninho, igual aquele que mamãe fazia com muçarela. Vou fazer o seu prato daqui a pouco.
Cido segurou meu rosto enquanto olhava para ele sorrindo. Meu irmão não tem culpa disso; ele é uma alma cheia de sofrimento e dor, usa drogas para não se lembrar do nosso abandono. É uma vítima; na verdade, nós somos vítimas.
— Temos que chamar o seu Antônio, vó, para arrumar a porta. Senta com a vovó para assistir novela, irmão. Eu vou só terminar aqui.
Não quero falar sobre isso. Não vai adiantar falar. Ninguém liga para uma órfã, empregada doméstica e pobre. O melhor é seguir em frente. O mundo não vai parar para que eu possa chorar e lamentar pela vida miserável que temos.