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1705 Words
Edgar Eu aprecio ter minha casa repleta de pessoas encantadoras e inteligentes, o que certamente torna meu lar mais agradável. Desde que decidi abraçar o melhor da vida, estou aqui, sentado, observando mulheres e homens dançando. Hoje, permiti a presença de bebidas alcoólicas, que, evidentemente, providenciei. Quando consigo supervisionar o consumo dessas substâncias, não há problemas. No entanto, meu maior desafio surge quando esses produtos entram sem minha supervisão. Algumas pessoas podem pensar que sou hipócrita, já que trabalho com a venda de drogas e bebidas. No entanto, é importante distinguir entre meu envolvimento nesse ramo e o fato de eu não apreciar ver pessoas se embriagando sem controle. Após Susana me abandonar para aproveitar sua juventude, decidi me dedicar aos estudos e demonstrar ao meu pai que sou capaz de assumir as responsabilidades relacionadas aos negócios da família. Nossa relação continua complicada; no entanto, assumi o controle dos negócios, deixando apenas os mais antigos para o velho. Ele tem um apego especial ao que construiu, algo comum em pessoas de idade. Paralelamente, decidi investir no mundo da moda, participando das melhores festas e desfiles mundialmente, onde seleciono possíveis sócios. Nesse cenário, envolvo-me discretamente com o crime, já que sou uma figura pública. Financiei novos estilistas e marcas, adquirindo ações em renomadas empresas. Conheço modelos consagradas e novos talentos, inclusive mantive relações íntimas com algumas. É claro que, ao buscar algo ao meu gosto, procuro pessoas de minha classe social, muitas vezes filhas de políticos, empresários e herdeiras. Elas, em sua maioria, são curiosas e querem entender o funcionamento, muitas vezes inspiradas por filmes ou livros. No entanto, a curiosidade delas costuma terminar, e junto com isso, o interesse diminui. Muitas alegam que suas famílias não aprovariam, inventando desculpas para se afastar. Estou acostumado com isso; sei que minha natureza pode assustar, e não me importo com o conceito de normalidade para elas. Com algumas, optei por estabelecer contratos, dado minha fama não apenas pelos negócios, mas também pelo meu nome. A discrição é essencial. No entanto, com aquelas que percebo que não revelarão nossas atividades privadas, não faço contratos além do combinado. É interessante, mesmo quando a curiosidade delas diminui, continuamos me envolvendo com outras que eventualmente conheço, mas não revelo meus verdadeiros gostos. Confesso que isso é solitário. Gostaria de encontrar alguém que entendesse e aceitasse quem sou, permanecendo comigo pelo tempo que determinarmos como interessante. No entanto, a escolha não está em minhas mãos. Respeito as decisões delas e evito problemas com políticos ou empresários do país. Tenho uma política de aproximação, não de afastamento. Se alguma delas expressa que não deseja manter relações, não insisto e a deixo ir, mesmo que tenha gostado da experiência. O fato de buscar controle, como minha psiquiatra apontou, está relacionado ao abandono do meu pai na juventude e às ações de Susana. Por muito tempo a julguei, mas hoje compreendo que talvez eu teria feito o mesmo no lugar dela. Éramos jovens demais, e certamente eu poderia ter prejudicado a vida dela, ou ela, a minha. O que ocorreu foi melhor para ambos. Se Susana aparecesse hoje, após tudo que aconteceu, provavelmente eu ficaria com ela novamente, seja para um encontro casual ou algo mais sério. Ela foi a única mulher que amei verdadeiramente, não apenas pelo sexo, mas por outras razões que me atraíram. Talvez, como uma mulher de vivências, ela aceitaria quem sou. Na verdade, não foco tanto nisso. Vivo minha vida da melhor forma possível, divirto-me com as pessoas que tenho e, quando busco algo diferente, encontro outras que aceitam o que posso oferecer. Não p**o por sexo; quando consigo de graça, a curiosidade delas me ajuda bastante. Após a curiosidade terminar, aguardo que surja outra, e assim sucessivamente. Observo Venâncio conversando com Janaína; ambos tiveram uma relação não convencional. Ele possui outras parceiras sexuais, e ela também mantém relações com parceiros e parceiras. Está tudo bem. Venâncio, apesar de levar uma vida mais boêmia há anos, é um herdeiro. Portanto, qualquer família de renome ficaria satisfeita em ver sua filha envolvida com ele, possivelmente até casando, para manter as aparências, como muitos de nós fazemos. Gosto de estar a par dessas situações, e em breve, imagino que eu também estarei nessa posição, talvez com a filha de uma família de destaque. No entanto, não posso me permitir envolver com alguém sem recursos financeiros ou sem um nome respeitado. Tenho um nome a zelar, e não posso me comprometer com qualquer mulher. Para encontros casuais, tudo bem, mas para algo mais sério, como casamento e família, certamente não me envolverei com alguém que não provenha de uma boa família ou que não tenha estabilidade financeira. Por mais interessantes que possam ser, as mulheres de baixa renda não oferecem prestígio ou algo que atenda às minhas necessidades. Meu objetivo é continuar perpetuando o nome da minha família, especialmente após os acontecimentos de anos atrás. — Quando você começa a observar assim, é porque está caçando. — Não estou caçando ninguém, primo, estou apenas observando. Você é distraído demais e pensa que todo mundo deve ser. Venâncio e sua irmã têm a vantagem de nunca precisarem assumir responsabilidades em relação à família. Meu pai é o filho mais velho, e a mãe deles é a filha mais nova, tornando-os indispensáveis no processo familiar. Acredito que Saimon cuide dos nossos negócios e discursos, mas preferem pensar que, em vez de pirataria, nossa família está intimamente relacionada ao comércio. Quando dizem que a escória da Europa habitou as Américas, não estão brincando. Minha família é composta pelo que havia de pior na Espanha e Portugal: traficantes negreiros, piratas e ladrões. No entanto, para a maioria, somos vistos como descendentes de uma renomada família de comerciantes portugueses e espanhóis. Uma bela história de superação e resiliência, que o grande público adora ouvir. — Está sozinho, então penso que está na caçada. Faz quantos meses? Sete ou oito? — Oito. Não encontrei a mulher ideal como você. Quero alguém que possa corresponder às minhas expectativas e que não reclame que não quer mais. — Só se for uma de baixa renda. Normalmente, ficam felizes com qualquer gesto de atenção nosso. Se você quer algo sem compromisso de sua parte e total comprometimento da mulher, arrume uma pobre miserável, aquelas que moram em bairros distantes daqui. A ideia é até interessante, mas seria prostituição, pois envolveria dinheiro para tê-la, e assim não quero. Venâncio logo se afasta, percebendo que chegaram novos convidados. Resolvo sair um pouco e espairecer do lado onde os empregados ficam, aguardando o ônibus. Gosto de vir aqui às vezes para agradecer ao universo por não precisar viver como uma sardinha entalada todos os dias. — Hoje saiu cedo, Cida. — Janaína está em uma festa, é bom assim posso descansar. Eu vou à missa, sabe. — Missa? Deveria ir ao culto na minha igreja; falam sobre prosperidade e riqueza. Idiotas. Ambas pensando que existe um ser divino que pode deixá-las ricas ou trazer paz para suas vidas miseráveis. — Não, obrigada, vou na minha igreja Católica mesmo. Até amanhã! A outra mulher entra no ônibus, deixando a garota sozinha. Provavelmente, não é esse o ônibus que a leva para algum terminal, mais parecendo um amontoado de pessoas pobres e fedidas. Ela está usando uma calça velha, uma regata encardida acompanhada com um chinelo ainda mais velho que a calça. A garota para, observando o céu, parece distraída quando me aproximo. — Boa tarde, trabalha aqui? — Sim, faço algumas diárias para a senhora Janaina, conhece? Ela sorri de um jeito ingênuo e bonito. Normalmente, as pessoas não sorriem assim para mim; apenas fingem, nada genuíno ou inocente como ela. — Sim, o que acha dela? — Ela é jovem, bonita, inteligente. Enfim, é tudo que o dinheiro e boa educação poderiam proporcionar a ela. E você, trabalha de funcionário de segurança à paisana? Esse mecanismo de segurança é comum aqui no condomínio, os seguranças se disfarçam de condôminos para captar qualquer movimento suspeito. — Sim, sou novo aqui. Prazer, meu nome é Cunha. — Prazer, meu nome é Aparecida. Aqui é um bom lugar, para você melhor ainda porque é registrado. Para mim, já é bem complicado. Diárias não dão tanto dinheiro assim. Está esperando o ônibus ou está fazendo a guarda? Ela pergunta demais, curiosa como toda empregada. De qualquer forma, Aparecida é encantadora mesmo com esse semblante de morta de fome que tem. — Fazendo a guarda. Aparecida, é jovem demais para estar limpando casas? O que fez de errado? Engravidou na adolescência? — Não. Só não estudei mesmo. Se algum homem me quiser, será para aproveitar e jogar fora. Não tem dinheiro nem mesmo para cortar meu cabelo. De qualquer maneira, a vida não é justa; você deve saber como é duro trabalhar o dia inteiro, entrar em ônibus lotado e ainda receber uma miséria. Mas não reclamo, estou viva. Viva. Ela está viva, ou pensa estar? Reconheço uma pessoa que finge estar bem de longe. A irmã de Venâncio, antes de ser internada na clínica de reabilitação, também parecia estar bem até ter uma overdose de remédios por conta de um namorado pobre e desleixado que arranjou. — Tem namorado? — Eu tenho lá tempo para isso. Para um segurança, você é bem distraído, Cunha. Homens vão só aproveitar de mim, como falei. Eu poderia namorar, eu poderia fazer e ter tantas coisas. Vou lhe dar um conselho: se tiver filhos um dia, não os abandone como meu pai fez comigo. Não, eu nunca abandonaria um filho. Meu pai fez isso comigo. Cuidaria dele, acompanhando cada passo com atenção e cuidado. — Eu não faria isso, fui abandonado pelo meu pai também. — Então você me entende, Cunha. Se eu tivesse um pai, e você também, teria sido tudo diferente. Ou não, mas pelo menos teríamos um pai. O ônibus está chegando. Bom trabalho, Cunha. Nos vemos por aí. O ônibus chegou rápido; ela entrou acenando enquanto sorria. Aparecida não é uma modelo ou as mulheres que tenho costume de ter, mas algo nela me atraiu, seja pelo fato de ser ingênua e doce com alguém que m*l conhece. Ela despertou algo que pensei estar morto, e quero sentir isso novamente.
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