Diretor_ Claro que eu sou qualificado.
Pai_ E o que você acabou de falar para o Henrique é certo?
Diretor_ Ele estava mentindo.
Pai_ Mentindo sobre o que?
Diretor_ É a sexta vez esse mês que Henrique chega atrasado, mas sabemos que você o deixa aqui na porta todos os dias, então queremos saber o que ele faz antes de entrar no colégio.
Pai_ Então vamos olhar as câmeras dos dias que ele chegou atrasado.
Diretor_ É uma ótima ideia.
Vamos até a diretoria, eu me sento todo largado na cadeira o meu pai se senta todo postulado do meu lado. O professor informa ao diretor os dias que eu cheguei atrasado. Então ele puxa nas câmeras. O primeiro dia meu pai estaciona na porta do colégio, eu desço do carro aceno com a mão e assim que ele arranca com o carro eu corro até a porta da sala. Todos os dias que eu me atrasava assim que o meu pai me deixava na porta eu corria o mais rápido que eu conseguia, exceto hoje, eu andei normalmente pelo pátio, próximo da porta da sala eu ajeito o meu cabelo e entro.
Pai_ O que vi é que meu filho foi deixado na porta do colégio e ele correu o mais rápido para entrar na sala de aula, não usou nenhum entorpecente.
Diretor_ E o que eu vi foi um pai irresponsável, que sabe que o colégio tem horário e mesmo assim deixa o filho chegar atrasado com a sua supervisão. Esse foi o último atraso do Henrique, o próximo ele tomará uma suspensão de cinco dias.
Pai_ Como é? Você não pode dar suspensão para o meu filho.
Diretor_ Essa é a minha escola e sou eu quem mando e desmando aqui, o Henrique não tem culpa dos erros de seus pais. Acho melhor se programem para chegarem mais cedo.
O rosto do meu pai está muito vermelho, seus pulsos estão cerrados.
Pai_ Ok, você tem razão.
O que? Meu pai dizendo que outra pessoa tem razão sem ser a minha mãe? O que aconteceu com ele? Deve ter batido com a cabeça ou algo semelhante. Estamos no carro o meu pai está em silêncio.
Henrique_ Talvez eu devesse começar a ir de ônibus para o colégio.
Pai_ Claro que não. Vamos nos organizar e eu vou te levar para o colégio na hora certa. O diretor me chamou de irresponsável e nem tive como me defender porque eu sou mesmo.
Henrique_ Você não é irresponsável, é pai de três filhos, por isso eu devo começar a ir de ônibus.
Pai_ Isso não é uma boa ideia.
Henrique_ Todo mundo vai de ônibus, o Otávio e a Julinha precisa mais de vocês.
Pai_ Vamos dar um jeito de ajustar os horários, para você não chegar mais atrasado.
Henrique_ Pai, eu consigo me virar já tenho 15 anos, não preciso que você e minha mãe me levem para a escola. Os meus amigos vão de ônibus posso ir com eles.
Pai_ A sua mãe não vai gostar nada disso.
Henrique_ Eu não quero chegar atrasado.
Pai_ Está bem. Quando chegar em casa vou conversar com ela.
Meu pai e eu almoçamos no restaurante.
Pai_ Sua mãe vai surtar. Você deveria ter nos falado que eles haviam chamado a sua atenção sobre os atrasos.
Henrique_ Eu disse a vocês.
Pai_ Disse?
Henrique_ Sim eu disse, mas ultimamente estão ocupados demais com o Otávio e com a Júlia, não prestam atenção no que eu digo.
Pai_ Isso não é verdade.
Henrique_ No meu terceiro atraso eu disse a você que o professor iria me deixar de detenção caso eu chegasse novamente atrasado. Você estava lendo o seu jornal, tomou um gole do seu café e disse ok. E nesse mesmo dia eu cheguei novamente atrasado.
Ele me olha sério.
Pai_ Eu sinto muito. Talvez eu tivesse distraído.
Henrique_ Você sempre está distraído pai.
Pai_ Acho que temos que passar mais tempo juntos, o que acha?
Henrique_ Eu estou cheio de compromissos. Durante todo o dia, e três vezes por semana eu tenho o futebol a noite.
Pai_ Vamos dar um jeito, sou o seu pai e o seu amigo. Você deveria começar a ir nos encontros comigo, poderíamos correr juntos.
Henrique_ A mamãe não vai me deixar participar do encontro dos meninos e eu não vou sair para correr, eu corro igual um condenado nos treinos, a gente pode jogar um vídeo game, talvez até almoçar juntos mais vezes.
Pai_ Podemos fazer isso. Sua mãe não vai deixar mesmo você ir aos encontros.
Ele me olha e depois abaixa a cabeça.
Pai_ Eu sinto muito por não poder responder todas as suas perguntas, mas esse assunto machuca muito a sua mãe e a mim. Eu realmente matei o seu pai e provavelmente faria tudo de novo.
Henrique_ Então não se arrepende?
Pai_ Não, eu defendi a minha família.
Henrique_ E destruiu a família dele.
Pai_ Antes a família dele chorar do que a nossa.
Henrique_ Espero que nunca passe por algo igual.
Pai_ Eu não vou passar, ensino os meus filhos o caminho certo, para que eu não precise passar por isso.
Ele me deixa no curso de inglês.
Jessica_ Oi Henrique.
Henrique_ Oi Jessica.
Jéssica_ Como vai?
Ela está com um largo sorriso no rosto.
Henrique_ Bem e você?
Jessica_ Estou bem. Hoje a prova vai ser de dupla. Quer fazer comigo?
Henrique_ Eu provavelmente vou fazer com a Ana.
Jessica_ Ela não chegou até agora, talvez nem venha.
Ela segura no meu braço e me puxa pelo corredor.
Jessica_ Nossa, está com o braço musculoso, andou malhando?
Henrique_ Não.
Jessica_ Então a sua genética é boa?
Henrique_ Talvez seja.
A Ana entra na sala, olha a Jessica segurando o meu braço, levanta a sobrancelha, dá um sorriso e se senta.
Henrique_ A Ana chegou, vou me sentar com ela.
Jessica_ Que pena.
Eu me aproximo da Ana, coloco a minha mochila em cima da mesa e me sento ao seu lado.
Henrique_ E aí magrela?
Ana_ E aí pegador.
Henrique_ Isso foi muito baixo.
Ana_ Vocês formam um casal muito bonito.
Henrique_ Eu não acho.
Ana_ Eu me esqueci que você gosta de alguém em segredo e não me conta.
Henrique_ É que você não precisa saber ainda.
Ela me dá um sorriso.
Ana_ Espero que me conte quando for a hora, afinal somos melhores amigos, e eu estou muito curiosa.
Henrique_ Eu vou te contar.
Dou um sorriso sem graça, ela é a pessoa que eu gosto, mas tenho medo de contar sobre os meus sentimentos e acabar perdendo a nossa amizade.
Ana_ A Jessica não para de olhar para você. Ela já te chamou para sair?
Henrique_ Não, ela só queria fazer a prova junto.
Ana_ Eu soube que ela está super afim de você. Pretende te chamar para sair.
Henrique_ Quem te contou?
Ana_ Eu sei de tudo.
Henrique_ Sabe é?
Ana_ Sei.
Henrique_ Então você sabe de quem eu gosto?
Ana_ Não, mas eu imagino quem seja.
Henrique_ É mesmo? E quem você acha que é?
Suas bochechas ficam vermelhas. Ela olha nos meus olhos.
Ana_ Eu acho que...
O professor João entra na sala.
João_ Hello.
Ana_ Depois continuamos nossa conversa.
Será que ela desconfia que eu gosto dela, será que eu deveria contar para ela sobre os meus sentimentos? É tão difícil gostar de alguém, a minha cabeça é confusa. Começamos a fazer a prova.
Ana_ Eu acho que a opção da número 1 é a letra A.
Henrique_ Eu acho que é a D.
Eu me aproximo mais dela.
Ana_ Você está errado.
Henrique_ E você sempre está certa?
Ana_ A maioria das vezes.
Ela sorri.
Ana_ Eu acho que você gosta da Kamile.
Eu olho para ela fixamente.
Ana_ Eu estava certa.
O sorriso dela desaparece, ela olha para a prova.
Henrique_ Você está errada, eu não gosto dela. Eu já te disse que a pessoa não é daqui. E a menina que eu gosto é muito linda.
Ana_ Está bem, achei que éramos melhores amigos, que você confiava em poder me contar segredos como esse.
Henrique_ É complicado falar sobre isso.
Ana_ É alguma menina que eu não gosto? Por que esse papo que ela não mora aqui, eu não acredito.
Henrique_ Por que você quer tanto saber de quem eu gosto, me conta de quem você gosta?
Ana_ É uma menina que eu não gosto, está mudando o assunto.
Henrique_ Me conta de quem você gosta.
Ana_ Vamos nos concentrar na prova.
Henrique_ Talvez você goste de alguém que eu não gosto, só espero que não seja o Bryan.
Voltamos a prestar atenção na prova. Na hora do intervalo, a Ana está sentada e eu vou comprar o nosso lanche, quando me aproximo ela desliga a tela do celular rapidamente.
Henrique_ Conversando com o seu namoradinho?
Ana_ Eu não tenho um. Parece que vai chover.
Eu dou uma risada.
Henrique_ Parece que sim.
Ana_ Eu vou molhar.
Henrique_ Quando minha mãe vier me buscar, te damos uma carona.
Ana_ Está bem.
Assim que termina o curso, está chovendo e ventando muito, a Ana está com os braços arrepiados, eu tiro o meu moletom e entrego para ela.
Ana_ Não precisa.
Henrique_ Não reclama.
Ela veste o meu moletom, eu a ajudo com o zíper e coloco ó capuz.
Ana_ Agora você vai ficar com frio.
Henrique_ Não se preocupe comigo, eu estou bem.
Mando uma mensagem para a minha mãe avisando que a Ana vai com a gente. Coloco minhas mãos no bolso, a Ana se aproxima, apoia a sua cabeça no meu corpo, e segura o meu braço com as suas duas mãos. Ficamos conversando e rindo muito por enquanto que esperávamos a minha mãe. Ela para com o carro em nossa frente, corremos para entrar no carro.
Mãe_ Oi Ana, como vai?
Ana_ Vou bem e senhora?
Mãe_ Estou bem também.
Otávio_ A Ana é a sua namorada? Ela é bem bonita.
Mãe_ A Ana é amiga do seu irmão.
Infelizmente é só a minha amiga, a Ana me olha e sorri.
Otávio_ Ela é bem bonita, não tinha como ser namorada do Henrique.
Henrique_ Cala a boca pirralho.
Deixamos a Ana na porta da sua casa.
Ana_ Obrigada pela carona. Tchau Henrique até amanhã.
Henrique_ Até.