— Um dos meus sítios preferidos também, gosto de viajar lá sempre que posso — ele comenta, com o rosto relaxado, um sorriso brincando no canto dos lábios. Adoro vêlo sorrir assim.
— Podemos assistir juntos quando quiseres.
— É uma boa ideia. E dividimos outra barca de sushi?
— Temos mais uma coisa em comum — Dereck observa.
— Outra? — questiono, curiosa.
— Não gostamos de sermos chamados pelos nossos nomes de batismo — ele aponta. — Se esqueceu disso, Jessica?
Recordo a conversa no seu escritório, da vez em que pensei que ele fosse me demitir, e abro um sorriso.
— Não esqueci, Davidson.
Sinto meu coração leve finalmente.
— Acho que tem outra coisa em que somos parecidos — acrescento.
— O quê? — Dereck também parece estar mais relaxado. Falar sobre coisas que gostamos faz bem a quase todo mundo.
— Infelizmente somos dois teimosos. — explico, me esticando para me alongar em um gesto quase inconsciente, chego mais perto.
— É verdade — ele diz e fica pensativo por um instante. — Mas nem sempre fui assim. Mas as vezes você me faz despertar esse lado. — Dereck — murmuro.
— Não fale assim. Pelo contrário, eu sou tão gentil contigo.
— Jessi, posso te fazer uma pergunta bem indiscreta? — ele me questiona com o cenho franzido, o olhar estreitado e uma ruga de preocupação entre as sobrancelhas.
— Pode perguntar — lhe dou permissão, curiosa com o que ele pode querer saber a meu respeito.
— Na noite em que te levei ao clube você me disse que era virgem, mas... Você já namoro, correto?
Assinto.
— Sei que não é da minha conta, e nem precisa responder se eu estiver sendo muito invasivo, mas... como você era namorada e virgem?
Arqueio as sobrancelhas, sustentando seu olhar por um momento.
— Tem algo a ver com sua religião? — ele acrescenta.
— Sim, eu sou evangélica — respondo de queixo erguido. — Mas esperar não foi uma decisão por causa da religião, mas eu queria que fosse assim. E ele respeitava essa decisão.
Dereck dá risada, um sorriso despreocupado, que exibe seus dentes brancos e alinhados, além das covinhas quase escondidas pela barba.
— Sinto muito pela sinceridade, mas eu não aguentaria se fosse seu namorado, respeito a fé de vocês, só que...
— Acho que não tinha muito a ver com a fé dele — o interrompo. — Ele me traía com outras mulheres. Sabe como é, nenhum segredo é guardado tão bem por muito tempo.
— O quê? — Dereck se choca. — Ele te mantinha intocada enquanto transava com outras? É isso mesmo?
Faço que sim com a cabeça, me divertindo com sua reação.
— Qual o problema desse cara?
— Sinceramente, desisti de entender faz tempo — respondo.
— Por que estavam a namorar? Você fala como se nem se gostassem.
Me coloco na defensiva, não sei se posso e se quero me abrir sobre isto. Respiro devagar, mantendo o ar nos pulmões por quatro segundos antes de soltá-lo lentamente pela boca.
— Não gosto de falar sobre isso — murmuro, sentindo a leveza sumir de repente.
— Desculpe, eu só queria te conhecer um pouco melhor — ele pede, sério.
— Você não tem amigos, não é? Nunca o vi dar uma festa, churrasco, nada do tipo — comento para mudar de assunto, mas sem querer parar de conversar com ele.
— Tenho alguns amigos, mas aprecio muito a minha privacidade, prefiro não receber muita gente em casa. Sabe... por mais que goste da companhia deles.
Mordo o lábio com força, me perguntando se não aguentaria fingir ser sua esposa sem me apaixonar, só para que ele não tivesse
que procurar outra.
— Você é uma excelente companhia — murmuro, sentindo um peso no coração. Não quero aceitar essa proposta, mas também não quero que ele se case com outra. Incrível como estava leve há poucos minutos e agora estou perdida outra vez.
— Meu pai não ganhava muito, mas gastava muito com as “novinhas da cidade” — digo fazendo aspas com os dedos e franzindo o nariz em uma expressão de nojo. Mas não era um pai r**m.
— Sinto muito — ele diz, me olhando com sinceridade, ficando bem sério, como se o peso no meu coração o atingisse. — Sua ida ao clube foi puro gatilho, por seu pai, por seu ex namordo, por tudo.
Umedeço o lábio, me perguntando se ele tem razão.
— Sim, Dereck, estar casada com alguém que me trairia dessa forma, mesmo que não fosse um casamento de verdade, me fez pensar o que eu não queria. Foi tudo confuso.
— Sinto muito, mesmo que você não acredite, me arrependo de ter levado você lá. E ainda tem a religião... Eu fui um i*****l. Você deve ter pensando que vou queimar no inferno.
Me remexo no sofá. Pensei isso? Não lembro. mas não sou ninguém para julgá-lo.
— Você deve achar que não tenho escrúpulos, que sou exatamente como eles, mas nunca traí a Bianca.
O encaro e sei que está falando a verdade.