CAPÍTULO 20 (JESSI ALINKAR )

893 Words
— Parece mais que eu seria a mulher que sorriria para as fotos e ficaria em casa cuidando da casa, enquanto você sairia para t*****r com um monte de prostitutas. Me espantaria se eu tivesse dito sim. Dizer estas palavras em voz alta me faz pensar que fui certeira em recusar aquela proposta, que estou coberta de razão. Empino o queixo e endireito a postura antes de continuar. — E quanto a mim? Poderia sair com outros caras, já que você não pode nem sequer me beijar? Ou teria que literalmente ficar sozinha durante todo o tempo em que estivesse casada? Acho que eu precisaria me anular como mulher para ser sua esposa de mentirinha. E, francamente, Dereck, nada nem ninguém vai me prender desse jeito. Pela forma como Dereck abaixa a cabeça, sei que acabei com ele. Me remexo sobre os joelhos, orgulhosa pela minha resposta impecável. — Todo dinheiro que te dei não vale isso — ele murmura, ainda sem olhar para mim, e começa a arrumar a bagunça da mesa. Fico em silêncio, tentando adivinhar o que se passa na sua cabeça, enquanto ele termina de juntar as embalagens e vai para o sofá grande. Me sento o mais distante dele possível. O ar condicionado está ligado, e eu alcanço a manta no encosto do sofá para me aquecer. Com cerca de dois metros entre nós, ele aperta o play, só que eu não consigo olhar para a tela por mais que cinco segundos, estou inquieta, quero me convencer de que meu discurso foi sincero e que a partir desta noite não irei mais me atormentar pensando no Dereck, mas uma parte de mim acha que a companhia desse homem gostoso ao meu lado deve ser aproveitada ao máximo. — Você está procurando uma nova garota para se casar? — o questiono, só para ouvir seu timbre de voz novamente. Como ele não responde, me estico para alcançar o controle descansando na sua perna e dar pausa na série. Dereck segura minha mão com firmeza em cima da sua coxa e me encara. Seu semblante agora é uma confusão que não consigo entender. Me encara de perto, mantendo meu pulso preso, mesmo que eu não faça nenhum esforço para recuar. O encaro de volta, sem saber exatamente o que fazer em seguida, tomada pela atração que seu corpo exerce sobre mim. Posso ver seu peito pelos botões abertos da camisa, o pescoço, os pelos da barba, o queixo quadrado, o nariz reto. Inalo seu cheiro e percebo como meu coração está batendo forte, tanto que não sei se vou aguentar olhar dentro dos seus olhos, mesmo assim eu faço. Encarar Dereck assim, a poucos centímetros dele, é como um soco no estômago. A carência que me corrói todas as noites me domina sem avisos, e eu cedo, olhando para seus lábios, os desejando profundamente, agoniada com o toque da sua mão sobre a minha, sua coxa musculosa abaixo dos meus dedos. Engulo a saliva. Quero beijá-lo, desejo que sua mão me puxe mais para perto... — Vai arranjar outra esposa? — sussurro. — Por que você se importa? — ele sussurra de volta, direcionando o olhar para meus lábios. Me sinto nua, exposta, como se ele soubesse o que estou pensando. O vejo trincar o maxilar e endurecer o olhar, em seguida engolir a saliva. — Podemos só assistir a série? — Dereck me pede, com seu olhar exigente. Se não vou me casar com ele também não saberei nada a seu respeito? Ele tem razão, a sua vida não é problema meu. Frustrada, retorno ao meu lugar com as mãos fechadas em punho, praguejando mentalmente contra mim mesma por me deixar abater mais uma vez por este assunto. Tento fixar os olhos na tela à frente, segurando a coberta como um escudo, mas não consigo me conectar com a série, m*l ouço o que os personagens falam. Não estou no clima. — Está gostando? — o questiono. — Sim, e você? — Também. — Não é uma mentira, a série é boa, só não consigo me concentrar nos dramas de outras pessoas quando tenho meus próprios tão intensos no momento. — Quer saber de uma coisa? — Dereck murmura após um longo momento em silêncio, então dá pausa. — Quero — respondo, empolgada por ter sua atenção de volta. — Pensei que você fosse sugerir que a gente assistisse Edible City: Grow The Revolution — ele fala com um tom brincalhão. — Assistir? — Sim, você sonha em ser paisagista, imaginei que já tivesse assistido. — Eu poderia não ter assistido, não é pré-requisito — digo brincando, mas me sentindo extasiada por poder conversar sobre algo que eu gosto. — Mas já vi umas tantas vezes. — Eu também — ele diz, me fazendo sorrir. — Você tem alguma paisagem preferido? Me viro no sofá, me arrastando discretamente para ficar mais próxima a ele. — Tenho duas, na verdade... — começo, mas ele se antecipa. — Parque Nacional de Torres del Paine, Chile? — Dereck acerta em cheio. — É uma das minhas top cinco, é realmente muito lindo. — acrescento. Apesar de nunca ter ido la antes, cada imagem e vídeo que vejo desta paisagem me deixa fascinada, agora estou me sentindo leve por falar do que gosto, por descobrir algo em comum com o Dereck.
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