CAPÍTULO 15 (DERECK FOSTER)

1676 Words
Ela se deita na areia, há um poste de luz amarelada perto dali, mas a área onde estamos está escurecida graças aos coqueiros do estacionamento do clube. Posso ouvir sua respiração, visualizar seu semblante sério. Deito ao seu lado, rendido. É uma noite longa e meu peito está doendo, não sei lidar com mulheres, não sei mais como conversar com elas, só sei trepar e me odeio por descobrir isso. — Você sentiu ciúmes de mim? —sussurro, depois de um longo momento de silêncio. A lua está brilhando no céu, rindo da minha cara. — Me sinto ridícula — ela diz tão baixo que m*l posso ouvir. Me viro para olhá-la, apoiando o cotovelo na areia e a cabeça no punho fechado. — Por favor, me diga — insisto, você sentiu ciúmes de mim, Jessi? — Não foi ciúmes, me precipitei em dizer que foi, eu só não queria que vocês se beijassem ali na minha frente, que me deixassem sozinha naquele lugar. — Jamais te deixaria sozinha ali — murmuro em resposta, sentindo um calor se espalhar pelo meu peito, enquanto observo ela olhar o céu. Mal posso ver seu semblante, mas sei que está muito chateada, ainda assim, sinto cócegas no ego com a ideia de Jessi sentir ciúmes de mim. — Olha — peço com a voz mais mansa possível, imaginando que posso controlar as emoções na frente dela —, ela não me beijaria, ela só estava provocando. — Como não? — ela diz, virando a cabeça para me encarar, está tão perto de mim que sinto vontade de acariciar seu rosto, de dizer que não vou mais machucá-la, de lhe fazer promessas que não posso cumprir. — Porque ela sabe que não pode me beijar — concluo. — Você não precisava ter entrado na frente dela, não precisava tê-la beijado. Ouço sua respiração pesada. — Explique melhor — sua voz soa exigente, Jessi cruza os braços. — Não beijo as mulheres do clube, eu transo com elas, mas não permito que elas me beijem. Ela continua me encarando por um longo momento, procurando descobrir alguma verdade ou lógica no meu rosto. — É uma forma de me defender — acrescento. — Se defender de quê? — De me apaixonar. — Por que ser solteiro, ter essa vida de luxúria, é muito melhor que viver um amor — ela me acusa. Sustento seu olhar por um segundo, sinto seus olhos atravessarem meu peito e ferirem meu coração. Eu posso abrir a boca e contar a verdade, que morro de medo de me envolver com alguém novamente, que não posso passar pela dor da traição de novo, que sou covarde, que sou um lixo, mas até para admitir isso sou um fraco, por isso prefiro mentir. — A vida sem paixões é muito melhor — é o mais puro fingimento, a vida sem o amor de uma mulher é vazia, por mais que eu transe, que realize fantasias, que volte para casa extasiado, é sozinho que termino todas as noites, com um vazio no coração como companhia. Ela se senta, cruzando os braços. — Prometo nunca mais te trazer aqui — garanto, também levantando. — Ninguém sabe que sou sócio desse clube, você não vai ser vista como a esposa traída, vou respeitá-la e tomar cuidado para que ninguém saiba, consegui manter em segredo todos esses anos... — Se eu recusar essa proposta, você vai me demitir ou mandar me prender por causa do dinheiro? — ela me interrompe. — Nunca faria isso, eu posso ser com mulher, mas tenho princípio. eu... — Então não quero — ela diz com convicção. — Jessi, você vai poder estudar paisagismo, fazer o que sempre quis e agora está livre da queles caras. E se tornando a minha esposa eles nunca mas vão incomodar você. — A faculdade pode esperar. a dívida eu vou dar um jeito de te pagar. Não vou ser sua esposa de mentirinha. Aposto que tem centenas, milhares de garotas que aceitariam se passar por sua esposa, mas eu não estou disposta a isso. O silêncio se instala entre nós. Ainda estou processando sua recusa, não contava com isso, não imaginava que ela fosse se negar. — Por quê? — pergunto, a voz baixa, ainda mansa. Jessi vira o rosto para o mar, esfregando as mãos nos próprios braços. Toco sua pele e sinto como está arrepiada de frio. — Tudo bem se não quiser se justificar — digo, fechando a cara e abrindo os botões da camisa, percebendo que ela é ainda mais especial do que imaginava, e não vai se vender assim. Tiro a camisa e coloco em volta dos seus ombros. — Não precisa — ela diz, mas insisto, e ela puxa a gola contra o pescoço, se enroscando na peça de roupa como em um casulo. — Me desculpe por ter sido tão m*l educada, por ter gritado com você e por te tratar m*l. Jamais deveria pensar que tenho esse tipo de liberdade. — Te pedi em casamento, Jessi— digo, dando uma risada sem graça —, te dei toda a i********e para me tratar do jeito que quiser. — Dereck, vamos voltar a ser como antes, empregada e patrão, por favor. Não importa o que diga, o que me ofereça, não vou me casar com você — ela soa tão decidida que não me resta outra opção a não ser lamentar. — Quero ir para casa. Quero ir agora. Jessi fica de pé, mesmo na penumbra, consigo ver a silhueta das suas pernas. Me sinto um t**o por tê-la levado até o clube, por ter a oportunidade de tocá-la e desperdiçar. Me sinto ridículo porque, mesmo que esteja tentando proteger meu coração a todo custo, ele está doendo como não doía há muitos anos. — É só o ego ferido — murmuro para mim mesmo, tão baixo que ela não entende. Ela não está partindo meu coração, não pode fazer isso quando eu não a permiti entrar nele, é só meu orgulho machucado por ter levado um fora. — O que disse? — ela pergunta, me olhando de cima, sem sequer imaginar que sua imagem, o que ela fez esta noite, vai me perseguir incansavelmente. — Nada — resmungo, me levanto e bato a areia que se acumulou na minha roupa, mas até isso sou capaz de afastar por completo. A sigo, evitando olhar para seu corpo, sabendo que se fizer isso só vai aumentar o que estou sentindo. Travo a mandíbula e fecho a cara, não consigo mais conversar, estou decepcionado demais para tentar ao menos ser simpático. Só me dou conta que estou sem camisa quando o vento frio me atinge no topo dos degraus, mas não vou pedir a peça de roupa de volta. Espero para apertar o botão para destravar o carro apenas quando chegamos até ele. Abro a porta para Jessi sem dizer uma palavra. — Quer a camisa de volta? — ela me questiona. Dou de ombros. Uma camisa não significa nada diante do que estou sentindo. Dou a volta no carro com os ombros murchos. Quero endireitar a postura, me empertigar e andar com a cabeça erguida, mas não tenho forças agora. Fito o nada quando entro no carro, segurando o volante, tentando focar os olhos à frente, sem conseguir. — Dereck, não aja como se tivesse levado um pé na b***a — ela diz ao me estender a camisa. — Você me deu um pé na b***a, Jessi— minha voz soa rabugenta, rouca, enquanto agarro a camisa sem me importar em olhar para ela. Não entendo de onde vem essa dor no peito, na boca do estômago e essa tristeza repentina, não é como se eu realmente quisesse me casar com ela, tipo, de verdade. — Não é bem assim — ela diz. — Era só um contrato. Sem sentimentos, né? — Sem nenhum sentimento — minha voz sai por entre os dentes. — Então por que parece que você está sentindo? — Jessi insiste, como se quisesse me humilhar mais um pouco. — Olha, eu já pedi desculpas por te trazer até o clube, podemos esquecer isso? Pelo canto do olho, a vejo fazer que sim com a cabeça. Por Deus, ela é tão linda que olhá-la de perto só piora as coisas. Me obrigo a dirigir, a focar na estrada, a pensar no projeto de um dos próximos prédios que minha construtora vai executar. A via costeira está quase vazia, é como se a noite tivesse nos dado uma oportunidade de nos acertar e uma cidade linda para desfrutar, chega a ser ridículo. De onde tirei a ideia de levá-la ao clube mesmo? Por que pensei que isso iria prestar? — Você vai procurar outra esposa? — Jessi me sonda quando me aproximo da Avenida, pegando o túnel ao lado do Arena. — Não sei — resmungo. — Isso importa? — Se você não arranjar uma, vai perder a empresa — ela observa, como se eu não soubesse, como se não estivesse morrendo de medo de isso acontecer. — Isso te importa? — pergunto, com o pior dos humores. — Não pode convencer seu pai a esquecer esse acordo i****a? — Jessi está insistindo nisso, o que me deixa ainda mais irritado. — Não conhece meu pai, não sabe o que Élio Foster é capaz de fazer quando coloca uma coisa na cabeça. E ainda mas quando tem a ver com a honra de sua palavra. — Está parecendo um menino mimado que não conseguiu comprar a amizade de alguém — ela me acusa. Aperto as mãos no volante porque, primeiro, Jessi está errada, posso não ter passado necessidade, mas nunca fui mimado, segundo, ela não me conhece e nem tem direito de dizer algo assim. Não respondo, não tenho força mental para continuar discutindo com ela, prefiro deixá-la pensar o que quiser de mim. Decido que me afastar nesse exato momento, cortar o m*l pela raiz, é a melhor opção a seguir, mas... nem esse pensamento faz a dor no peito passar.
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