Verônica: Refém por Acidente

Tudo termina em...

— Eu escolheria os dois. Iria sobreviver até ter a chance de viver novamente. Não iria desperdiçar a minha vida toda por alguns segundos de liberdade e felicidade. Depois de tanto tempo sendo oprimido, impedido de fazer o que eu queria, eu faria o meu melhor para obter a felicidade, com juros e correção monetária. Seria três vezes mais feliz, após tudo isso. Não faço a mínima ideia do tipo de situação que você viveu em sua vida que te fez pensar que viver alguns segundos era o suficiente, mas saiba que a vida é para ser vivida com abundância. — Hades chamou a minha atenção parando em minha frente.

— Entendo. Que tipo de vida onde eu vivi? Tive péssimos pais. Eles não se importavam em nada com as consequências na minha vida de cada decisão merda que tomavam. Apenas me faziam aceitar e engolir a seco. Bem estilo o que fez mais cedo. Onde não se importou nenhum pouco como uma criança de oito anos se sentiria ao ter armas apontadas para ela, sabia que é o tipo de coisa que uma criança jamais deveria passar? Pode acabar se tornando uma lembrança que jamais vai esquecer. — Eu deveria ter deixado isso de lado, mas era tão revoltante. Toda vez que me lembrava da cena, o ódio tomava conta de mim.

Hades suspirou coçando a cabeça, antes de retornar para cadeira onde estava sentando, se jogando parecendo não apenas culpado, mas completamente desnorteado, parecia realmente sentir o erro que havia cometido com aquilo.

— Eu não sei ser pai. Nunca esperei ser na minha vida. O relacionamento mais longo que tive foi com um celular e passei apenas seis meses antes de enjoar dele. Nunca tive que cuidar de nada em minha vida. Vivia cada dia da minha vida como eu bem queria. Rubi caiu na minha vida de paraquedas, completamente inesperada. Não sei como cuidar dela. O que pode ser feito ou não. Tenho ciência que errei mais cedo, agi antes de pensar nas consequências, só depois lembrei o quanto que ela poderia sair ferida de toda a história. De certa forma, por mais irresponsável que tenha sido da sua parte, tenho que agradecer. Ser pai está sendo a tarefa mais difícil da minha vida inteira. Cada dia sinto que estou lutando uma batalha diferente com uma criança de apenas oito anos de idade. E é absurdo, mas assim que me sinto. No fim do dia, sempre me sinto derrotado. — Hades estava desabafando para minha completa surpresa. Pensei que ele me chamou para falar da babá, mas era para agradecer?

— Você não sabia que era pai? — Aquilo me pegou realmente de surpresa. Explica a falta de foto e também porque Rubi e Hades não parecem ter uma relação tão harmoniosa, muito pelo contrário, parece completamente caótica.

— Não, faz pouco tempo que ela entrou na minha vida. Apenas alguns meses, no máximo. — Hades explicou olhando para o teto enquanto girava a sua cadeira. Parecia ter respondido automaticamente, enquanto estava tentando reorganizar os seus pensamentos.

— Espera! Quer dizer que por muito tempo você nem sabia que era pai e agora ela surgiu, fazendo se desdobrar para aprender como cuidar dela? Pensei que isso só acontecia em filme. Uma mãe que reaparece com uma filha anos depois para apresentar o pai e espera que eles se deem bem magicamente. — Eu não suspeitava disso, mas faz muito sentido. Não vejo Rubi chamar Hades de pai, também sei que ela quer ir embora desse lugar por alguma razão, talvez seja por não se conectar ao seu próprio pai? Entretanto, isso não explica o seu choro pedindo por sua mãe ou, porque a menina deseja ir embora da mansão. — Então você não tinha um relacionamento com a mãe de Rubi? Ela morreu? Abandonou a filha? Você fez algo com ela?

As peças começaram a se encaixar, mas ainda faltava muita para que eu conseguisse entender todo o cenário e quem era aquele homem realmente, ao menos, agora eu sei por onde eu devo começar a investigar. Seguindo por esse caminho, com toda a certeza encontrarei algumas das respostas de minhas perguntas.

— Como disse, não tenho relacionamentos, nunca tive muito tempo para isso. E sobre os detalhes da vida de Rubi, são pessoais, creio que já falei mais do que deveria, espero que também não traga esse assunto com a menina. É um tema bastante sensível e Rubi está cada vez mais reativa. Parece conseguir cara vez menos lidar com os seus sentimentos. Tenho certeza que ela continuará insistindo em te encontrar, eu querendo ou não, mas peço que tome cuidado para que não acabe em problemas. Talvez eu não seja tão benevolente com você da próxima vez. — Hades cortou o assunto. Pensei que ele finalmente estava se abrindo para mim, mas eu estava completamente enganada. Hades claramente, desde o começou sabia exatamente o que diria, não foi nada impulsivamente pelo ritmo da conversa. Ele realmente é uma pessoa inteligente.

Mesmo assim, estava claro que aos poucos ele está deixando com que eu entrasse, o meu tem que continuar, para que consiga conquistar o seu coração, preciso avançar. Se eu diminuir o ritmo, posso colocar tudo a perder, com toda a certeza não farei isso. Decidida que iria seguir com o meu plano. Levantei da cadeira, fui até onde Hades estava sentado, sentei na mesa, com a minha perna de frente para ele.

— Estér, o que pensa que está fazendo. A nossa conversa não acabou. Precisamos falar da cena que você fez ao pensar que tinha direito de julgar o comportamento de uma das minhas funcionárias e ainda aplicar um corretivo. Isso não faz qualquer sentido. Você é apenas uma refém. Eu sei que te custa entender, talvez esteja em negação, mas você não é nada além disso. Talvez eu tenha te dado mais conforto do que deveria e isso te faz esquecer completamente a realidade que te cerca. — Hades me alertou. Quando pensei que finalmente o seu muro estava indo abaixo e eu me aproximando, ele ergue novamente impedindo qualquer conversa.

— Eu estava um pouco entediada e chateada com a situação que ela colocou a menina. Talvez eu tenha exagerado um pouco e deveria ter deixado com você, mas quando soube, acabei sendo tomada pelo impulso. Na minha defesa, a sua vida não ficou em risco em momento algum, eu apenas ataquei a parte estética. Se ela passar a zero e colocar uma peruca, pode voltar à vida ao normal sem preocupação. — Não podia deixar as minhas regalias acabarem. Hades estava me dando tudo que eu podia e agora com Rubi ao meu lado, sei que é uma questão de tempo até conseguir escapar desse lugar, conquistando Hades ou fugindo dele.

— Entendi, mas não faça. Sei que tinha a melhor das intenções, mesmo assim, essa não é o tipo de atitude que quero que Rubi veja como normal. Pode parecer hipócrita depois do que fiz mais cedo, mas estou dando o meu melhor para não cometer erros assim. Quero que Rubi seja uma criança feliz e segura. Agora, sabendo que erro, por justiça e uma regra da casa. Tenho que escolher um castigo para você lidar. — Hades me informou. Nem sabia que tinha regras na casa que todos sentiam.

— Pode ficar em pé? Eu tenho uma ideia do que você pode fazer para me castigar. — Sorri. Era impossível não notar que meus pensamentos estavam sendo conduzidos para um lugar diferente do que o esperado.

— E o que a senhora pensa em fazer? — Hades questionou, ficando em pé de frente para mim.

— Mais perto. — Falei puxando a gravada de Hades, fazendo as nossas bocas ficarem próximas uma a outra. — Me beija que passar toda a sua raiva, até que não reste mais nenhuma fagulha de raiva sobre o que aconteceu comigo mais cedo.

Quando senti que Hades estava tentando se afastar de mim aos poucos, com medo do que eu estaria preparando para ele, para impedir a sua fuga, enrolei as minhas pernas na cintura dele e o puxei ainda mais perto, colocando os nossos corpos, dessa vez, os nossos lábios se tocaram antes de evoluir para um beijo incrivelmente intenso.