Acenda a luz quando entrar

1590 Words
— Não me faça rir. Você deve ter realmente um parafuso frouxo. Porque eu sentiria ciúmes de você? Apenas não quero que brinque com os meus homens. Se eles fizerem algo com você, acabarei sendo forçado a fazer algo que não iria me deixar feliz. Se fizer o mesmo que faz comigo com eles e acabarem caindo na tentação. Eu terei que os punir, mesmo sabendo que foi você que incitou a atitude. — Hades explicou sem jeito. Não podia tirar a razão dele. Deve haver regras quanto a forma dos três patetas interagirem comigo, pelo que entendi do papo deles. — Não se preocupe. Sou assim apenas com você. Eu não irei passar dos limites com eles três. E também, já adianto, que os seus homens são bastante respeitosos e se preocupam muito em quebrar a sua confiança, parecem te respeitar bastante. Ao menos, foi o que pude observar nas poucas interações que tivemos. — Era verdade, eles nunca me faltaram respeito. Exceto uma vez... — Ah! Pode castigar eles. Me chamaram de gorda quando estavam me carregando como um saco de batata. Acredita que ousaram me chamar de pesada? Pode levar os três para o chicote. — Quer dizer que o desrespeito deles foi esse? — Hades gargalhou alto. Parecia se divertir bastante. — Você realmente é peculiar. E sim, eles são bons homens e confio muito neles dois. E então, acreditando que não seduziu os meus homens, o que aconteceu para acabarem na cozinha, quando deveria estar muito bem dormindo quietinha no seu quarto? Tenho certeza que não era desconfortável e não te faltava nada. — Faltava. Comida. Eu queria comer uma torrada, tentei explicar aos seus homens como fazia, mas eles não pareciam entender ou saber fazer. Não é complicado, mas acredito que não são bons na cozinha. — Expliquei. Era uma mentira deslavada, mas tirava a culpa dos três patetas. Não podia perder meus vigias desastrados. — E o que tinha de tão especial nessa torrada? — Hades perguntou — Embora não seja algo que os brasileiros tenham o hábito de comer. Não é extraordinário. Aqui não é costumeiro comer pasta de amendoim com geleia. Não sabia que no morro onde você mora, tinha esse tipo de tradição. — Hades de bobo não tem nada, mas finalmente eu tinha uma informação sobre Estér e o seu irmão, eles dois eram do morro. — Até onde investiguei sobre você, não tinha nenhuma informação de viagens para o exterior. — Ah... Isso... Eu fiquei sabendo assistindo os filmes de Hollywood. No café da manhã e lanche eles sempre comem essas torrada, né? Tentei tomar com leite, como eles, mas não gostei não. Mesmo assim, não posso negar que é bem gostosa. A mistura do doce, salgado e azedo. Como estou com saudade de casa, pensei que me sentiria melhor comendo um pouco de algo que me é confortável. Posso estar reagindo bem ao sequestro, mas ainda assim, não é uma situação tão boa para mim, não é? Espero que entenda. — Mentira, mas eu posso usar um pouco de compaixão que esse homem parece ter de sobra. — Sim, mesmo que você pareça louca, sua atitude calma e positivo, é ótima para manter essa situação mais confortável possível. Se tiver algo que eu possa fazer para ajudar nisso, ao menos, até o seu irmão aparecer, prefiro que tenhamos uma convivência pacífica e cordial. — Hades disse com toda a formalidade do mundo. Como se quisesse erguer um muro intransponível entre nós dois, mostrando os limites e a intenção dele. — Não prometo nada. Não costumo ser pacífica e muito menos cordial. Gosto do caos. Por mim, o mar pega fogo e eu como peixe frito. Entendeu? Mas se quer tanto me ajudar, como disse, não gosto de comer sozinha. Um trauma de infância, sabe como é? Que tal o senhor me fazer companhia em todas as refeições? Isso faria com que os meus dias aqui fossem muito mais alegres e confortáveis. A solidão não combina comigo. — Quando mais tempo eu tivesse com ele, mais informações eu poderia obter e ainda maior chance de conquistar o seu coração. Não vou mentir que também não gostava da ideia de ficar o dia inteiro sozinha trancada naquele quarto. — Será que poderá me ajudar dessa forma? Tenho certeza será um tempo de muita qualidade que passaremos juntos. O que me diz, senhor Hades? Olhei para Hades, mas seus olhos se voltaram para cima. Como se tivesse pensando em alguma coisa. Será que tinha alguma mulher na vida dele? Por isso sempre mantém distância? Ou será que está pensando no risco que seria para ele passar tanto tempo comigo? O silêncio dominou a sala de jantar por muito tempo, muito mais do que eu esperava. Fiquei pensando em forma de quebrar aquele clima estranho, mas não sabia como fazer sem parecer querer pressionar e deixar ele desconfortável. Por sorte, antes que eu precisasse falar, Hades parou de olhar para o teto, virou a sua atenção para mim. — Não posso prometer comer com você todos os dias. Há alguém que é prioridade em minha vida. Não perderia uma refeição ao lado dela, mas se puder atrasar o horário da sua refeição, eu posso fazer companhia. Eu espero que compreenda. — Hades explicou com cuidado, como se não quisesse me machucar, mas senti como um banho de água fria. Eu deveria ter imaginado que aquele homem tinha alguém em sua vida. Ele é bonito, educado e tem um charme fascinante. Espera! Mas eu não estou dando em cima dele porque quero, né? Sim, para minha fuga. Não posso me sentir culpada por isso. Ele afinal é o vilão aqui. O sequestrador. — Desculpa. Não sabia que havia uma mulher na sua vida. Retiro meu pedido. Não gosto de me meter e atrapalhar as pessoas. Isso é inconveniente. Terminei de comer. Podemos subir? — Não vou mentir que a minha fala teve um pouco de orgulho e indignação, por algo que nem consigo entender direito. Me levantei da cadeira, peguei os pratos e os copos, coloquei um em cima do outro e fui em direção da porta da cozinha, podia ouvir os passos de Hades atrás de mim em silêncio. Quando coloquei tudo na pia. Pensei em lavar, mas isso ia acabar com toda a cena que iria fazer. Achei melhor subir para o quarto. — Pensei que o chão estava frio e você estava descalça. Não quer leve você no braço até o quarto? — Hades perguntou. Me virei para ele, o surpreendendo. — Não, não será necessário. Calcei a minha raiva, em vez de frio, estou sentindo muito é calor. Como disse, não precisa se incomodar comigo. Irei apenas voltar para meu quarto. — Respondi antes de passar pela porta. — Quem diria, você com ciúmes. — Hades brincou enquanto eu subia a escada, ele sempre me acompanhando, andando atrás de mim com os braços cruzados. — Sou uma criança egoísta. Nunca gostei de dividir os meus brinquedos. Pode chamar de ciúmes, o que seja. Apenas sou egoísta, mas quando enjoou do brinquedo, abandono completamente, ainda mais, quando eles são defeituosos. — Respondi sem olhar para trás, continuei subindo as escadas. — Está me dizendo que eu sou um brinquedo defeituoso? — Hades disse rindo quando já estávamos no topo da escada. — Não sei. Eu não pude brincar. Não gosto muito de brincar com os brinquedos de outras pessoas. Sabe como é, não gosto que brinquem com os meus, também não quero brincar com o dos outros. Penso que foi a única coisa útil que a minha mãe me ensinou em toda a minha vida. Brincar com brinquedos dos outros é procurar sarna para se coçar. — Na verdade, a minha mãe dizia que era nojento os brinquedos das outras crianças e eu ia pegar doenças, mas achei melhor não contar os detalhes. Se já pensa que sou doida, se souber que a minha mãe é completamente louca, não vai restar dúvidas. — Você é mais inocente do que pensei. Pensei que me atacaria com dona ou não. Me surpreendeu um pouco. Já que você mais parece um jaguar, que fica na espreita esperando o momento certo para atacar. Mesmo assim, não precisa se preocupar. Não é o que imagina. De toda forma, farei como pediu. Venho todos os dias para trazer a sua refeição. Certo? Assim, mantenho você longe dos meus homens. Do jeito que você é, capaz de fazer eles de gato e sapato. Tenho que proteger eles de você. Sou um bom chefe, devo cuidar para que não acabem caindo nas suas garras, virem seu brinquedo e depois jogue fora. — Hades sorriu abrindo a porta para mim. — Te desejo uma boa noite. — Faça o que quiser. — Respondi antes de entrar e fechar a porta. Antes de fechar a porta. Eu vi um sorriso nos lábios de Hades. Me escorei na porta tentando conter a gargalhada, não podia deixar que Hades soubesse que gostei dele ter topado as refeições comigo. Ouvi a chave girando, estava novamente trancada e os passos se afastando da porta. Eu estava tão animada. Parecia um adolescente conhecendo a paixão. Era muito bom.A empolgação foi tanta, que esqueci de acender a luz. Assim mesmo, fui saltitando para cama, mas para minha surpresa, acabei tropeçando em algo no chão, cai com tudo próximo ao criado-mudo. — O que diabos? — Por sorte, eu estava perto do abajur. Acendi a luz e não pude acreditar no que tinha acabado de tropeçar.
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