Os dias foram se passando, Nick foi morar com Alice, Edgar até tentou o convencer de que não fosse, mas aquilo só resultou em mais uma discussão, apesar daquela situação com seu pai o preocupar, estava feliz, vivendo o que por muitas vezes havia imaginado viver com Alice, as noites de prazer, acordar com ela seus braços, com gestos de carinho, como o café da manhã na cama que recebeu dela naquele dia.
— Nick, acorda. — disse ela baixinho para não assusta-lo, ele passou as mãos pelos olhos e os abriu a vendo sentada a seu lado.
— bom dia meu amor.
— bom dia, não queria te acordar, você estava tão lindo dormindo. — ele sorriu e logo em seguida a deu um abraço apertado.
— eu te amo mais que tudo nessa vida Alice.
— eu também te amo, trouxe café da manhã pra você. — Alice levantou e sob a cômoda pegou a bandeja e logo colocou sob o colo dele.
— você é incrível.
Em sua casa, Edgar se preparou para mais um dia de trabalho, foi até a cozinha tomar seu café da manhã por lá mesmo, não fazia sentido a enorme mesa da sala de jantar sendo que a dias só comia sozinho, Nick era a única família que tinha e sem ele Edgar havia ficado ainda mais solitário.
Já na empresa Edgar e Nick estavam a conversar sobre a contratação de uma nova modelo para uma campanha importante, aquilo não tardou muito, pelas fotos escolheram uma a que julgaram perfeita para o trabalho.
— ela tem todas as características que precisamos para a campanha, Mariah, vinte e cinco anos, um e setenta e cinco de altura, cabelos castanhos e olhos verdes — disse Nick que logo em seguida entregou uma foto a seu pai.
— também havia reparado nessa moça, já trabalhou conosco, mas o contrato foi só para algumas fotos, ela tem potencial, bom é ela, tem a cara da campanha.
— bom, então agora é só entrar em contato e passar o contrato, um ano não é isso? — questionou Nick.
— sim.
— ok, vou entrar em contato com ela agora mesmo, estamos com o tempo corrido — Nick levantou da cadeira a qual estava sentado e foi em direção a porta.
— filho, como estão as coisas?
— está tudo bem.
— você faz falta em casa.
— também sinto sua falta pai.
— talvez você tenha razão, eu não a conheço, espero que as coisas tomem seu rumo.
— vão tomar pai, o fato de ter mudado de ideia já é início. — Nick se aproximou e deu um abraço em seu pai, mas logo em seguida o celular dele tocou, era uma mensagem de voz, nela Alice disse que tinha algo importante para o contar, Edgar escutou o tom doce e suave, aquela voz o balançou mais uma vez. — vou indo, vou pedir que entrem em contato com a moça, logo ela deve dar o retorno.
Quase sete da noite, Edgar esperava pelo jantar que estava a ponto de ficar pronto, quando de repente o telefone tocou, como Magda não estava por perto para atender, ele mesmo se encarregou de atendê-lo.
— alô, quem fala?
— é da polícia, gostaria de falar com senhor Edgar Hader.
— sou eu mesmo.
— peço que tenha calma...
— vamos, diga o que houve, está me preocupando.
— ouve um engavetamento sob uma ponte em um rio, alguns carros despencaram da mesma, um dos carros retirados da agua está registrado no nome de Nickolas Hader é seu filho não é?
— sim — o coração de Edgar batia acelerado, o olhos estavam lacrimejando, o ar lhe faltando, mas reuniu forças e formulou uma frase.— e meu filho, onde está?
— senhor, o carro está em péssimo estado, o corpo não foi encontrado, provavelmente foi levado pela correnteza. — um silêncio se estabeleceu, mas logo foi quebrado pelo barulho do telefone caindo no chão.
— senhor, está tudo bem? — questionou Magda se aproximando.
— não, o Nick...ele, ele está morto. — disse Edgar em um tom de voz desesperado, não queria acreditar que aquele abraço que havia dado em seu filho a umas horas atrás seria o último.
— como, o que houve? — perguntou Magda já em lágrimas.
— o carro dele caiu de uma ponte, não encontraram ele Magda.
— se não encontraram ainda existe uma esperança.
— não sei...
— tenhamos fé.
Naquela noite mesmo se iniciaram as buscas, mas as esperanças de encontrarem Nick eram poucas, Alice ficou sabendo do ocorrido pela televisão, então seguiu atenta a ela na esperança de que boas notícias chegassem, mas ela não aguentava mais o medo, o desespero, então pela manhã decidiu ir até a casa de Edgar em busca de notícias. A campainha tocou, uma das empregadas da casa foi até a porta para abri-la, Edgar estava sentado no sofá da sala, mas não tinha ânimo para levantar.
— entre senhorita — assim que passou pela porta Alice o viu ali sentado, sem muito ânimo e coragem se aproximou.
— senhor Edgar.
— Alice...
— me diga que tem notícias.
— não, ainda não acharam nada.
— eu tenho esperança de que vão encontrá-lo bem.
— Alice, é quase impossível, amanhã as buscas serão encerradas. — disse Edgar, voz estava falha e soava sofrida.
— não, eu preciso dele aqui, eu estou...estou grávida.
— grávida? — ela apenas afirmou com a cabeça enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto. — muito conveniente não acha.
— que?
— meu filho morre e você logo em seguida aparece grávida e eu até cheguei a pensar que meus pensamentos sobre você estavam equivocados.
— acha que estou mentindo?
— saia daqui.
— mas...
— saia, ele a segurou pelo braço e a puxou até a porta com um tanto de brutalidade e logo depois de empurrá-la para o lado de fora da casa bateu a porta com força.
Em lágrimas Alice voltou pra casa, tudo que lhe restava era chorar e pedir a Deus que lhe trouxesse Nick de volta, mas Deus tem seus planos e por isso nem tudo que queremos nos é dado.
No dia seguinte, exatamente onze da manhã, deram por encerrada as buscas, Nick não foi encontrado, para desespero de Edgar e Alice, a dor lhes parecia estar levando um pedaço da alma, as muitas lágrimas não aliviavam o desespero e tampouco o trariam de volta, o sentimento de perda, impotência por não poder mudar o que havia acontecido passaram a ser os companheiros que restaram para eles.
— senhor, descanse um pouco, vai acabar doente — disse Magda.
— não posso, tenho um funeral para preparar.
— mas senhor...
— não diga nada Magda, eu preciso, preciso de ao menos um lugar para chorar, para deixar minhas homenagens , mesmo que o corpo dele não esteja lá, sei que de onde ele estiver vai ver o quanto o amo e seguirei amando — Magda assentiu, então saiu deixando Edgar sozinho.