Dandara olhava com carinho para a criança no colo de Estela. Ela ainda estava surpresa pela dama da Fênix a estar tratando com tanto carinho. A sua vida sempre lhe trouxe tristeza, então era estranho receber um pouco de atenção de quem quer que seja.
_ Como conhece o Aurélio? - pergunta Estela depois de um tempo.
_ O padrinho me ganhou como p*******o de uma dívida. - diz ela com a maior simplicidade possível.
Os olhos de Estela arregalam-se, e olhando para a mulher a sua frente ela podia ver que ela não achava aquilo tão estranho, o que já deixava claro o tipo de mundo em que ela tinha vivido até pouco tempo.
_ Querida, você sabe que isso é crime, certo? - pergunta Estela de forma gentil.
_ A doutora Simone me disse isso, mas algumas coisas ainda são bem confusas. - responde um pouco sem graça.
_ Não precisa se envergonhar, - diz Estela tocando a sua mão. - Antes de conhecer o Ricardo eu também sofria abusos por parte do homem que achava ser meu pai.
_ Está falando do homem assustador que estava aqui? - pergunta ela e quando percebe o que disse olha assustada para Estela.
_ Sim, aquele é Ricardo meu marido. Ele pode ter aquela cara, mas seu coração é tão doce quanto um cubo de açúcar. - diz ela sorrindo.
_ Não parece. - responde Dandara.
_ Eu sei, mas isso é apenas para a família, as outras pessoas jamais veem isso vindo dele.
_ Está dizendo que ele é bom com você? - pergunta curiosa. Dandara pensava que se aquele homem assustador podia ser bom com a pequena mulher à sua frente, então haveria esperanças para ela e Calebe, por mais que ela não pensasse em se envolver com ele de forma íntima.
_ Sim. No começo eu pensei que ele fosse como todos os outros, apenas interessado em causar dor, mas Ricardo me mostrou que era diferente. - diz ela com um largo sorriso no rosto.
_ Você gosta dele. - constata Dandara.
_ É mais que isso, amo aquele homem com tudo que sou. - diz Estela de forma tranquila.
Era como se Dandara estivesse entrando num mundo totalmente diferente do que estava acostumado, a sua cabeça era difícil entender que havia uma vida diferente do que ela tinha tido até algum tempo atrás. Ver a forma que Estela falava do marido e da forma carinhosa que ela segurava a filha enchia o coração de Dandara de esperança, ela também queria ser feliz.
_ Como você e o seu marido se conheceram? - pergunta Estela curiosa.
_ Ele estava com o padrinho no dia que me acharão no porão. - responde com tranquilidade, mas ela podia ver o choque nos olhos de Estela.
_ Eu lamento por isso, querida.
_ Está tudo bem, o padrinho me casou com ele para me proteger, ao menos foi o que ele disse. - responde ela.
Estela entendia bem o plano de Aurélio, ela apenas precisava se lembrar dos olhos do soldado para saber que ninguém ousaria se aproximar de Dandara enquanto ele estivesse por perto.
_ Ele parece ser uma boa pessoa.
_ Ele é, me trata bem, e prometeu que nunca tocaria em mim se eu não quisesse. - aquelas palavras deixam Estela muito surpresa, se lembrando de Calebe ela não imaginava que ele fosse agir daquela maneira, mas saber daquilo a deixava bem mais feliz.
_ Isso quer dizer que ele a respeita e gosta de você Dandara. - explica Estela.
_ Gosta?
_ Sim, se ele não se importasse jamais diria isso. - responde ela.
A conversa delas se estende, havia muito que Estela queria explicar a Dandara, apesar dela já ser uma mulher os seus conhecimentos sobre algumas coisas ainda eram pequenos, ela dava graças aos céus por ela estar protegida pelo soldado de Aurélio, uma pessoa tão inocente quanto ela seria um alvo fácil solto no mundo.
_ Vocês vão dormir aqui. - diz Ricardo mostrando um quarto a eles. - Você fica com o outro ao lado Aurélio.
Eles se despedem rapidamente e entram, assim que os olhos de Dandara pousam na cama ela trava.
_ Não se preocupe, eu posso dormir no chão. - diz Calebe indo até o armário e retirando uma coberta a forrando ao lado da cama.
Dandara olhava curiosa a cena, ele movia-se em silêncio pelo quarto arrumando o lugar que iria dormir. Ela sentia-se grata por aquele gesto dele, e um pouco culpada por saber que ele dormiria no chão frio a noite toda.
_ Me desculpa. - diz ela em voz baixa.
Calebe para o que estava fazendo na mesma hora os seus olhos castanhos se fixando no rosto dela. Ele não gostava daquilo, sabia que Dandara estava tentando se recuperar de tudo o que ouve e não a culpava por ter que dormir no chão.
_ Não peça desculpas, - diz ele tocando o seu rosto, ele percebe quando ela se assusta e se afasta do seu toque, aquilo faz o seu peito arder, mas ele entendia o motivo dela o rejeitar. - Você não tem culpa de nada disso, e sempre durmo no chão quando saio em algumas missões.
Ela não acreditava no que ele estava dizendo, mas se sentia grata por ele não a odiar por aquilo.
Calebe pega a sua bolsa e vai até o banheiro, faz a sua higiene e toma um bom banho, ele precisava daqueles minutos a sós para esquecer tudo que se passava na sua cabeça. Ele sai do banheiro com a toalha na cabeça enquanto secava os cabelos e distraído acaba esbarrando em Dandara perdendo o equilíbrio e acaba caindo com ela sobre as cobertas que tinha arrumado para si.
Calebe segurava Dandara apertada contra si, ele havia caído de costas a segurando contra o seu peito. Calebe podia ver o olhar assustado de Dandara sobre si quando percebe que estava presa nos seus braços. Ele apenas olha de forma tranquila para ela sem fazer qualquer movimento que a assustasse, ele tentava construir uma relação de confiança com a mulher de olhos assustados à sua frente.