Do outro lado da linha Hideo tinha um sorriso de canto, os seus traços asiáticos firmes no seu rosto. Ele não tinha uma personalidade fácil e a forma que ele franzia os lábios deixavam isso bem claro. Qualquer um que o olhasse diria que era um anjo.
Sim! Um anjo.
Um anjo saído das profundezas do inferno.
A beleza que ele possuía vinha da mãe, e se orgulhava disso. Desde pequeno odiava o pai por seus relacionamentos extra conjugais, para Hideo o casamento deveria ser respeitado a todo o custo, e justamente por causa daquele pensamento que ele continuava solteiro apesar da pressão dos conselheiros do seu pai.
Pensar em casamento o fazia se lembrar que Oksana estava na linha.
_ Ainda está aí? - pergunta ela estranhando a pausa na ligação.
_ Sim, apenas me distrai com algo. - diz ele suspirando.
_ Tenho algo para fazer, mas vamos tomar algo mais tarde. - diz ela de forma tranquila.
Hideo gostava daquilo em Oksana, aquela tranquilidade que ela sempre apresentava na sua voz, mas o grande motivo por ele ter se tornado amigo dela havia sido a sinceridade, a loira não escondia o que pensava e dizia na cara da pessoa sem nenhum medo. Na primeira vez que eles tinham se visto, Oksana o tinha chamado de todos os palavrões russos e j*******s que ela conhecia, ele se lembrava de ter ficado bravo, mas tinha algo nela que ele gostava e foi isso que o tinha feito rir da tentativa dela de insultá-lo.
_ Combinado princesinha, te vejo mais tarde. - responde ele já desligando.
_ Fique longe dela Hideo. - diz o seu pai entrando no escritório.
_ Por que eu deveria? - pergunta ele em desafio. Ele podia ver a cara do seu pai se fechar era sempre daquela forma, os dois brigavam diariamente e só não tinham se matado ainda por que a mãe o tinha feito jurar que não o faria.
_ Ela está noiva de Don Aurélio, e não quero que os meus carregamentos sejam incendiados por aquele maluco. - diz o velho frustrado passando a mão por seus cabelos brancos.
Apesar de considerar o pai um grande canalha por trair a sua mãe, Hideo tinha que admitir que o velho tinha honra. Desde que tinha feito o acordo com Ricardo o líder da Fênix ele não havia voltado na sua palavra, cumpria a risca o que prometia, e ele sabia que ele tinha tentado um acordo de casamento para ele com uma das suas irmãs, mas Ricardo era protetor e após saber como ele era, negou de forma veemente.
Ele não podia o culpar, tinha construido o seu nome em cima de muito sangue e morte, e as coisas que ele fazia com os seus inimigos estava além da barbárie. Ele não era misericordioso, e não gostava de bajulação, as coisas com ele eram preto ou branco, não havia um meio termo.
_ Não sabia que Aurélio estava se relacionando com ela. - responde ele.
_ Agora está, ele espancou dois pretendentes e ameaçou os outros, não tinham escolha a não ser abrir caminho para ele. - responde o velho com um sorriso.
_ Parece que você gosta disso.
_ Gosto de alguém que sabe o que quer. Não importa quantos me digam que Aurélio é louco, para mim ele apenas se esconde por trás daquela máscara. - responde ele com olhos sombrios.
Hideo tinha que concordar com aquilo, ele tinha feito algumas pesquisas sobre Aurélio e podia dizer com firmeza que poucas pessoas ousavam entrar no seu caminho, ele não mandava recado, entrava e saia sem precisar de autorização, ninguém o parava.
_ Não se preocupe, vou apenas tomar uma bebida com ela, sabe que não tenho interesse na princesinha. - responde ele de forma tranquila.
_ Acho bom mesmo, Aurélio é um grande trunfo para mim, não posso perdê-lo. - diz antes de sair.
A primeira vez que Hideo tinha visto Oksana pensou que poderia ser ela, a mulher que ele desejasse passar o resto dos seus dias, mas estava enganado. Por mais que tivesse muita afinidade com ela, ele não a via como um interesse amoroso, valorizava a amizade entre eles.
Ele levanta-se vai até o bar e pega uma bebida, ainda estava de manhã, mas podia sentir que o seu dia seria extremamente cheio. Nascer na máfia não era agradável, Hideo sentia na pele a cobrança que lhe era imposta, e não apenas isso, mas as várias tentativas de assassinato que tinha sofrido ao longo da vida, as vezes tudo o que ele queria era sumir sem deixar rastros e esquecer o mostro que era.
Num passado muito distante ele havia pensado em ser um artista, dominava uma flauta como ninguém, e até hoje saia as escondidas para tocar no silêncio da noite, a flauta o acalmava e dava-lhe paz, algo que ele não tinha no meio dos seus. O dia que o seu peito não queimava com um sentimento desconhecido era porque a sua mãe estava perto, ela gostava de o mimar, mesmo que o filho já tivesse se tornado um adulto.
A mente de Hideo viaja, talvez existisse uma lei não escrita onde todos os mafiosos deviam ser infelizes, porque ele não encontrava alegria ali. A morte o fascinava e ele gostava, se sentia completo quando devolvia alguém ao inferno, e não sabia como conciliar os dois lados da sua personalidade, sempre terminava se descontrolando e uma chacina acontecia. Aquele era ele, alguém que vivia de sangue.
Apertando o copo nas suas mãos ele o devolve no lugar, não poderia quebrar mais coisas ou a sua mãe ficaria brava, apesar de ser um adulto respeitava a autoridade que a sua mãe tinha sobre ele. Um sorriso curva os seus lábios ao pensar que uma pessoa tão pequena poderia causar tamanha destruição quanto a sua mãe.
Hideo nunca esqueceria o único dia que tinha sido desrespeitoso com ela, havia levado uma surra que nunca se esqueceria. Quando a sua raiva passou e ela apareceu no seu quarto com uma bandeja com a suas comidas preferidas, entendeu que aquilo era amor, não importava o quanto ele aprontasse ela sempre estaria a sua porta com um largo sorriso.