Quando Aurélio entra em casa ele encontra a babá sentada no sofá o esperando. Ele suspira vai até ela e se deita no seu colo, como sempre fazia. Todo o carinho de uma avô ele encontrava nela. As suas mãos enrugadas acariciavam os seus cabelos em desordem com delicadeza.
_ Estava lá de novo, não é mesmo. - diz ela com um suspiro cansado. Ela sempre se preocupava com o seu menino, e principalmente com as coisas que ele fazia quando não estava em casa.
_ Sabe que sim babá. - responde ele com os olhos fechados, apenas apreciando o carinho dela.
_ Queria tanto que você não precisasse daquele lugar menino, o meu coração se parte sempre que sei que está lá. - ele acreditava nela, podia ouvir a sua voz tremer quando falava.
_ Você sabe por que faço isso babá, não tenho escolha. - diz ele frustrado.
_ Você tem amigos poderosos, ele poderiam te ajudar. - insiste ela.
Com um suspiro Aurélio se levanta do seu colo, os seus olhos fixos nos dela enquanto segurava com firmeza sua mão.
_ Sabe que não posso babá, se envolvê-los nisso ele saberá, e não posso colocar mais ninguém em risco. - diz ele dando um beijo nas suas mãos, os seus olhos demonstrava toda a impotência que ele vivia naquele momento.
Aurélio nunca quis aquilo, mas ele estava refém daquela situação, o seu mundo nunca foi o lugar mais saudável para se estar, mas nos últimos anos tinha piorado, e ele buscava como louco uma forma de se livrar de tudo o que vinha sofrendo ao longo dos anos. Pensar em tudo aquilo nunca o deixava m*l, a sua vida podia ser um completo inferno, mas jamais permitiria que alguém que amasse sofresse no seu lugar, e isso incluía os seus amigos mais queridos.
_ Menino. - diz a senhor com lágrimas no rosto.
_ Não se preocupe babá, - diz ele secando as lágrimas dela. - Em breve tudo isso terminará.
Aquela talvez tivesse sido a pior mentira que ele tinha contado para ela, e pela forma que os olhos dela o olhavam ele sabia que ela não acreditava. Dando um beijo na sua testa Aurélio se retira para seu quarto, não suportava mais ficar ali e fingir que nada estava acontecendo.
Tomando um bom banho ele cai na cama, ele não sonha, e sempre que isso acontecia ele ria ao pensar que sonhos eram para quem tinha alma, o que não era seu caso. Ao se levantar no outro dia ele corre para o banheiro e toma um longo banho, tinha muitas coisas para fazer naquele dia e precisava começar cedo.
Quando desce encontra Bernardo e Calebe na sala o esperando como de costume.
_ Bom dia Don. - diz Bernardo.
_ O que tem de bom? - diz Aurélio m*l humorado.
_ Pelo que vejo a sua noite não foi boa. - diz Bernardo ignorando o seu m*l humor. Calebe observava a conversa deles em silencio.
_ Não, e preciso de uma boa notícia para começar o meu dia. - diz ele com um sorriso sugestivo no rosto.
Bernardo bufa, ele sabia bem o que o seu chefe queria saber.
_ Foi feito Don, a essa hora ele deve estar se retratando com Yuri. - responde sorrindo.
_ Vou saber quando ele fizer isso. - Aurélio sabia que Yuri entenderia que tinha o dedo dele naquela história, assim que Fábio aparecesse na sua porta.
_ Se sente Calebe, - diz ao perceber que o soldado ainda estava de pé ao lado da mesa.
_ Não precisa Don. - diz ele serio sem olhar para Aurélio.
_ É uma ordem, se sente. - diz de forma firme. Relutante ele puxa a cadeira e se senta.
_ Me diga como estão as coisas com Dandara. - pede Aurélio. Fazia algum tempo que ele queria saber daquilo, afinal, ele desejava que eles fossem felizes.
_ Estão bem, ela está animada com as mudanças. - responde ele com satisfação.
_ Isso é bom, quero que sejam felizes. - diz antes de mudar de assunto. - Hoje temos algo para lidar.
_ Já imagino o que seja. - diz Bernardo tomando um gole do seu café.
_ Sim, hoje eu vou atrás do desgraçado que ousou interceptar um dos meus aviões. - diz ele com um sorriso de canto.
No submundo não havia alguém melhor que a máfia Donati para entregar mercadoria, e as outras organizações pagavam muito bem para isso. Em pouco tempo Aurélio tinha visto o seu lucro triplicar com aquele serviço, o que tinha lhe rendido um novo patamar no mundo dos negócios.
Mas fazer o que ele fazia tinha os seus riscos, uma da suas cargas poderiam ser roubadas já que utilizavam rotas arriscadas para driblar a lei, e tinha sido isso que havia acontecido. Quando um dos seus aviões tinha parado para abastecer ele havia simplesmente sumido do radar, e Aurélio iria atrás de quem tinha feito aquilo, queria a sua mercadoria de volta.
_ Tem certeza que quer fazer isso pessoalmente? Podemos mandar um dos nossos esquadrões. - diz Bernardo.
_ Eu vou, pretendo deixar bem claro para o ladrão o que acontece com quem ousa tocar no que é meu. - Bernardo suspira com as palavras dele, já imaginava o trabalho que teria para cobrir os rastros de Aurélio, ao seu lado Calebe segurava o riso.
_ Vou organizar os homens. - diz Calebe.
_ Faça isso, mas quero poucos, não desejo alertar o nosso ladrão da nossa presença. - Calebe apenas assente e se retira da mesa.
_ Organize tudo Bernardo, quero resolver isso rápido. - diz ele. Aurélio tinha muito o que fazer e quanto mais rápido ele lidasse com aquele problema melhor.
Aquela não era a primeira vez que ele era roubado, mas sempre que acontecia ele gostava de deixar bem claro a pessoa que fazia aquilo o preço que se pagava por pegar o que era dele. Poucas pessoas se atreviam a irritar Aurélio, e em breve o ladrão descobriria o porquê.