Luna Taranto
Ele pensava que eu não via seus olhos de cobiça enquanto esmagava as uvas. Como não iria reparar? Um rosto lindo, um olhar intenso e safado junto ao sorriso genuinamente debochado. Tudo isso em cima de um belo corpo, trajado de calça jeans torneando seu belo traseiro, blusa social branca com os botões abertos, o estilo cafajeste, que dava para os olhos mais curiosos como os meus, ver perfeitamente seu tórax definido.
A prosa estava até boa, sua voz máscula era como música para os meus ouvidos. Geralmente quando aparecia um sebosinho de conversa mole, logo eu dava um passa fora. Mas me senti atraída por aquele homem, feito um ímã.
Era lindo demais para eu não aproveitar alguns minutos de conversa fora com ele. Logo o protetômetro de Antonella disparou e ela estava me arrastando como se o carinha fosse me devorar.
— Calma, Antonella! Está machucando meu braço. — Tentei frear suas mãos firmes no meu braço, depois era bem capaz de deixar uma marca ali.
— Você sabe muito bem o que esses caras de fora querem. Só desfrutar da sua beleza. Depois te descartam.
— Tenho 28 anos. Já parou para pensar que posso estar afim de desfrutar da beleza deles também? — vociferei minha frustração.
— Vamos falar com a mamãe e ver o que ela pensa disso. — Ela falou como se a aquela altura minha mãe ainda tivesse algum controle sobre mim.
— Fale o que quiser — esbravejei minha raiva — Não estava fazendo nada demais. Só conversando. Pare de achar que os homens de fora são uns monstros, pronto para papar moçoilas interioranas. Não sou uma i****a sonsa
O melhor que tinha para fazer, naquele momento, era ajudar minha mãe na barraca. Não estava com paciência para as paranoias da Antonella. A tenda estava lotada e dona Gioconda que nem uma louca sozinha, afinal, meu pai só servia para gastar o dinheiro que não tínhamos.
— Ainda bem que chegaram, meninas. — ela juntou as mãos como em uma reza.
— Senta um pouco, mãe. Antonella e eu assumimos agora.
Pedir para minha mãe desligar, era o mesmo que pedir a Antonella para ser tolerante. Duas coisas que nunca aconteceriam. Uma só parava de trabalhar quando dormia e a outra tinha uma amostra grátis de paciência.
Na província, todos se conheciam, até na festa da uva conhecíamos o rosto do pessoal da cidade vizinha que vinha para cá. Identificamos alguém de fora até pelo modo de se vestir diferente. O homem que se aproximava da tenda, pela vestimenta, era mais um homem da capital. Bonito! Bonito à beça, mas nem de longe era tão bonito como Dante Baldorini.
Chegou com um sorriso expansivo, o estilo que Antonella sempre falava — o famoso conquistador barato — mas ela apenas o olhava de soslaio, enquanto ele bancava o simpático para cima dela.
Essa eu pagaria para ver.
— O que vai querer? — perguntou seca, sem nenhuma simpatia para o cliente a sua frente. Ela não era do tipo que forçava simpatia, nem para uma boa venda.
O rapaz tinha rasgado na boca um sorriso branco.
— Boa tarde, bela senhorita! Gostaria de provar o prosecco Gemelli dos Taranto.
— A festa está lotada, imagina se todos resolvem experimentar antes de comprar a dose… — Quanta grosseria! Desse jeito ela jogava contra o próprio patrimônio. O que sabia de gerenciar, ela era péssima em vendas.
— Minha intenção não é comprar uma dose apenas e, sim, uma garrafa. Mas sem problemas — relatou levantando as mãos — Eu p**o a prova. — Já gostei dele.
— Tira esse cliente das mãos da sua irmã — sussurrou minha mãe ao pé do meu ouvido — Vai acabar espantando um freguês desse porte.
— Estou percebendo, mãe. Deixa comigo.
Me dirigi para o lado de Antonella e, com sutileza, tratei de jogá-la para escanteio.
— Nossa mãe quer falar com você.
— Ela aguarda, estou atendendo.
— Pode deixar que atendo o moço — sorri para o rapaz a minha frente — O que quer provar? Não é necessário pagar a prova. Temos tintos e brancos, suaves, secos e proseccos, fique à vontade. — Antonella saiu, mas não muito satisfeita.
— Todos — respondeu rápido — Em doses bem pequenas para que eu não fique bêbado só na prova.
— É pra já. — ouvi Antonella resmungar, o chamando de aproveitador. Ela nunca teve paciência. Julgava tudo com muita facilidade.
Nada de plástico, o cara tinha potencial de compra, peguei uma taça de vidro para impressionar e gotejei a primeira prova. Ele virou de uma só vez, apesar de ser pouco, era bom gargarejar o vinho para sentir melhor o sabor. Sempre começava pelos secos, se o cliente bebia algo adocicado e suave primeiro, os demais iriam descer queimando e era bem capaz de achar r**m.
Tudo que colocava no copo, ele dizia estar uma delícia, eu via o olhar de Antonella e, se minha mãe não a segurasse, minha irmã já teria expulsado o cliente.
Em meio a um papo amistoso, ou talvez um interrogatório sobre a minha vida e a cidade, o rapaz bonito levou 15 garrafas dos nossos vinhos mais caros. Até uma série ouro, produzida pelo meu tataravô, que custava 500 euros, ele comprou sem pechinchar.
Com jeitinho e um belo sorriso, empurrei quase todas as safras que tínhamos na tenda. Antonella ficou com a cara no chão e minha mãe vibrou com o dinheiro da venda que veio em boa hora. Iria nos tirar de alguns problemas financeiros mais urgentes.
Algo nele me deixou bastante intrigada. Enquanto Antonella se distraía com os outros clientes, o moço do sorriso bonito, tratava de me perguntar coisas bem intimistas sobre a vida dela.
Pensei que o rapaz era mais um a fim de comprar a vinícola. Porém, suas perguntas estavam voltadas para vida pessoal da minha irmã. Até a idade dela ele perguntou. Achei bem estranho, devia estar afim dela. Como gostaria que ela desse uma relaxada, quem sabe assim ficaria menos tensa, para não dizer chata. Mas sei que aquele ali estava fora de cogitação, minha irmã odiava homens de fora.
Ah, se a Antonella descobrisse que o forasteiro estava interessado nela...